Texto 13 - complementar

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ÉTICA E PROFISSÃO
* JAYME PAVIANI
Não restam dúvidas de que a profissão de um homem marca profundamente sua
existência, especialmente quando ele se integra no trabalho com toda sua inteligência e
efetividade. O homem não pode agir como um autômato, sem intenções e sem interesses. A
autenticidade ou inautenticidade de suas atitudes e do seu discurso tem uma íntima relação com
o exercício profissional. Não é possível libertar-se dessa condição humana. Mesmo os
profissionais que alegam agir independentemente do mundo pessoal e familiar acabam
escolhendo este dualismo entre o trabalho e a vida particular. Mesmo na omissão, o homem
continua escolhendo. Mesmo os que agem por simples hábito, mecanicamente – sem assumir as
exigências da consciência profissional – optam pro uma atitude alienada e eticamente dúbia. De
qualquer maneira, separar a profissão da vida pessoal e social é uma espécie de tentativa de
negação do humano que somente se realiza e atinge seus fins na ação, na atividade lúdica e
produtiva.
Só o homem pode profissionalizar-se. A profissão, aqui, entendida como ato de
professar, de exercer publicamente uma função ou modo de ser habitual, torna efetiva e visível a
nossa condição social. Pois a profissão antes de ser um emprego, uma atividade especializada
de caráter permanente, implica um compromisso social e encerra vínculos tanto de aspecto
jurídico como existencial. A profissão hoje, sem dúvida, é uma das modalidades importantes do
existir humano.
A relação entre o ético e a ética profissional remonta à distinção aristotélica que
considerou como ético aquilo que é relativo às virtudes práticas, ao comportamento do homem
virtuoso, e ética, em conseqüência, a ciência que investiga os problemas éticos. Deste modo, a
ética profissional, a partir de pressupostos éticos gerais e básicos, tenta legitimar princípios
morais aceitos em determinada comunidade como sendo de validade comum.
A ética profissional estuda códigos de ética específicos a cada área de aplicação e
que na realidade seriam mais códigos morais, pois se limitam a normas que possibilitam um
melhor relacionamento interpessoal. Mas, ao mesmo tempo que é preciso reconhecer os limites
de tais normas, dependentes de uma situação social e histórica, também é preciso reconhecer o
problema genuinamente filosófico presente na tentativa de fundamentar o ético e nele os
sistemas sociais e políticos.
Vivemos numa situação em que, tanto no plano do discurso como no plano da
realidade, a ética está em crise. Em qualquer tipo de relação, os valores consagrados e os
princípios norteadores da vida social e pessoal estão sendo superados por interesses que
contradizem o bem comum e os direitos fundamentais do homem. Mas, se de um lado não
possuímos uma resposta definitiva à pergunta sobre a natureza do bem e do mal, sobre o melhor
modo de agir e sobre os valores que podem determinar um verdadeiro padrão de
comportamento etc., por outro lado, ainda tentamos buscar uma solução para o problema ético,
apesar de se perceber que ele consiste essencialmente numa experiência de ambigüidade.
Dito de outro modo, a crise ética e uma experiência universal, isto é, de todos os
homens, de todas as classes sociais e profissões, em todas as épocas. Ninguém pode se livrar
do ético, isto é, da constante necessidade de escolher, de decidir, do deve ser, do agir ou do
saber prudencial.
* PAVIANI,Jaime. IN: PROBLEMAS DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO. 6.ed. Petrópolis: Vozes,
1991. p.107-109.
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