Portal EXAME | 11.05.2009 | 14h05 Mundo ainda não chegou à metade da crise, avaliam nobéis reunidos por EXAME Stiglitz, Mundell e Prescott afirmam que recuperação será lenta; para Delfim Netto, Brasil pode voltar a crescer ainda neste ano A pior crise financeira desde a Grande Depressão de 30 ainda não chegou à sua metade, segundo os três prêmios Nobel reunidos na EXAME Fórum nesta segunda-feira (11/5). “Se eu tivesse de me expressar em números, diria que passamos por dois quintos da crise”, afirmou o economista Robert Mundell. Já para Joseph Stiglitz, “estamos no fim do começo” da crise. E Edward Prescott condicionou a recuperação ao corte de impostos para o setor produtivo. Contudo, o economista mostra-se cético quanto à possibilidade de o governo de Barack Obama reduzir a carga tributária. “Estou pessimista”, disse. Para Stiglitz, a trajetória da crise não seguirá o desenho usual dos teóricos, como um “V” ou um “U”, isto é, um momento de forte queda, seguido por uma fase no fundo do poço, e uma retomada rápida. Para o ganhador do Nobel de 2001, o caminho da crise será mais parecido com uma “raiz quadrada de ponta-cabeça”. Para o economista, haverá uma fase de recuperação e, após um pico, um certo recuo, até que o mundo se estabilize em um novo patamar. “É muito difícil ter certeza, mas é possível que continuemos sentido esse mal estar, essa recuperação lenta”, disse. O desemprego continua crescendo em várias regiões do planeta, o preço dos imóveis ainda não se estabilizou, e os lucros das empresas ainda não voltaram a crescer. Por isso, Mundell avalia que a recuperação ainda vai demorar. E, da mesma forma que os países sentiram o impacto da crise em momentos distintos, a recuperação também virá em fases. Mundell afirma que “os Estados Unidos estão começando a chegar ao fundo do poço, para, daí, iniciar a recuperação”. O mesmo, porém, ainda não ocorre com a Europa. “Não vejo a Europa saindo da recessão agora. Talvez isso ocorra no final do ano, mas não é certeza”, afirma o economista. Corte de impostos Para os economistas, o corte de impostos sobre a produção e o lucros seria uma medida necessária para assegurar o retorno do crescimento e dos investimentos. Segundo Mundell, a próxima fase das políticas públicas de combate á crise deveria envolver o corte de impostos. O economista lembrou, por exemplo, que a Alemanha recentemente cortou a alíquota do imposto sobre lucro de 38% para 15%. “Foi um grande passo para a recuperação”, afirmou. Prescott também condiciona a velocidade da recuperação ao corte dos impostos. “A única coisa que vai levar a economia real a se recuperar é a queda dos impostos”, disse. O economista, porém, mostra-se descentre de que essa medida seja adotada pelo presidente americano, Barack Obama, ou por outros países. “Estou pessimistas”, disse. Brasil O Brasil foi tratado pelos economistas como um dos mais preparados para enfrentar a crise. “O Brasil vai se dar bem; os fundamentos estão aqui”, afirmou Prescott. “Fico feliz em saber da posição do Brasil. O país está bem mais preparado para enfrentar a crise”, disse Mundell, acrescentando que visitou o país, pela primeira vez, em 1967. Já para o ex-ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, responder quando o Brasil sairá da crise é uma questão de referências. “O que é terminar a crise? Para o Brasil, é voltarmos a sentir algum conforto”, disse. Delfim reforçou o coro dos Nobel presentes ao EXAME Fórum, e destacou a atual resistência do país. O economista argumentou que, ao contrário de eventos passados, esta crise não destruiu o sistema produtivo. O relatório Focus, do Banco Central, indica que, na média, o mercado espera que o país enfrente uma recessão de 0,30% do PIB neste ano. Para Delfim, se sair da crise significar voltarmos a um patamar de expansão de 3,5% do PIB, a recuperação será rápida. “Isso é coisa para os próximos 12 meses”, disse. Mas, se sair da crise for o mesmo de voltar aos patamares de expansão anteriores à sua eclosão, então “vamos demorar muito”. “Não podemos perder a esperança de voltar àquele patamar, mas temos de lembrar que estamos num mundo em crise”, afirmou. O EXAME Fórum reuniu pela primeira vez, no Brasil, três Nobel de Economia. O evento discutiu as origens e as saídas para a atual crise econômica mundial. O encontro foi realizado em São Paulo, e contou com a presença de alguns dos mais importantes homens de negócios do Brasil. Para Stiglitz, o futuro da economia será "sombrio" Ganhador do Prêmio Nobel de Economia acredita em "década perdida" ou, no melhor dos cenários, em um crescimento muito baixo para os Estados Os indícios de recuperação da economia global nas últimas semanas não convenceram o professor Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e um dos palestrantes do EXAME Fórum, que acontece nesta segunda-feira em São Paulo. Stiglitz acredita que o futuro da economia será "sombrio", com uma "década perdida" nos Estados Unidos ou, no melhor dos cenários, um longo período de crescimento muito baixo. Stiglitz afirmou que os sinais de que a economia americana não estava bem já podiam ser observados bem antes da crise. "A maioria dos americanos já vivia pior do que em 1999 ou 2000.", Segundo ele, economistas como Kenneth Rogoff, Jeffrey Sachs e Paul Krugman previram o estouro da bolha imobiliária porque a economia americana vinha crescendo com base no forte endividamento do consumidor. Empréstimos ruins dos bancos, mecanismos equivocados de redução de riscos e o pensamento de curto prazo das empresas levaram à quebra do banco Lehman Brothers, que certamente tornaram a crise mais abrupta. Para ele, a reação também é equivocada. O governo está gastando muito dinheiro para tirar os Estados Unidos da crise - e gastando da maneira errada. Além disso, em breve será necessário começar a cortar gastos. "Agora a fonte de demanda acabou desaparecendo. A tempestade está apenas começando." Para ele, a economia não poderá contar com o aumento do consumo devido ao aumento do desemprego, nem com as exportações, porque a demanda mundial desabou. "Estamos aumentando o índice de poupança. O investimento será fraco, não teremos boas exportações como em 2008. Na verdade estamos em um círculo vicioso, com a economia fraca, o desemprego em alta e o aumento da inadimplência." A situação ruim, segundo ele, já está se espalhando para os demais países por meio dos mercados financeiros, dos preços das commodities e das remessas de recursos para os EUA. "Mesmo os países como o Brasil, que fizeram tudo certo, também estão sendo afetados e vão sofrer com o declínio do comércio." Para Stiglitz, a grande vantagem do Brasil é que, ao contrário do mundo desenvolvido, ainda há muito espaço para o Banco Central baixar os juros e até mesmo para o governo gastar mais e incentivar a economia. Propostas O economista disse que a visão do governo Bush de que a crise foi causada apenas pela construção exagerada de casas é muito simplista. Para ele, os bancos tomaram riscos demais. "Foram estruturas de incentivos ruins que levaram a esse pensamento de curto prazo. Havia problemas de governança corporativa. Havia bancos grandes demais. Havia incentivos para a tomada de risco porque os contribuintes pagariam a conta das eventuais perdas." Ele também culpou as agências de classificação de risco por avaliarem bem os papéis hipotecários que os bancos estavam vendendo a investidores, sem que houvesse a regulamentação necessária para evitar esse tipo de postura das instituições financeiras. "As agências de risco acreditavam que era possível converter chumbo em ouro, transformaram hipotecas subprime em títulos de classificação A, permitindo que eles fossem vendidos aos fundos de pensão." Stiglitz disse que o plano de socorro do sistema financeiro do presidente Obama é falho e obriga os contribuintes a pagar a conta pelos erros dos bancos. "Nossa dívida vai crescer devido a esse resgate financeiro. A crise será mais longa e profunda do que poderia ter sido, com consequências globais." Mas o que é preciso fazer agora? "Precisamos de uma segunda rodada de estímulo",afirmou. "Mas há um consenso de que mesmo um grande estímulo não vai cuidar do problema. Quando acabar a recessão entraremos num período de desconforto, e não de forte crescimento." Ele também propõe outras medidas: 1) criar políticas para evitar a existência de bancos grandes demais para quebrar no futuro; 2) aumentar a regulamentação do sistema financeiro; 3) usar os DES (direitos especiais de saque, a moeda do FMI) como moeda global; 4) implementar uma rede de proteção financeira para os países emergentes por meio do acúmulo de reservas globais; 5) aumentar o poder dos países emergentes no sistema financeiro global com a reforma do G20; e 6) estabelecer uma política monetária focada na estabilidade financeira. Por último, ele defende que o governo tenha maior papel na economia. "As instituições que criamos na primeira metade do século 20 não estão preparadas para o século 21. Precisamos de uma nova estrutura para o sistema financeiro após a crise. Temos que achar um equilíbrio entre o mercado e o governo. As sociedades no mundo todo estão repensando isso, reconhecendo que uma economia mais próspera e justa exige esse equilíbrio com o governo." Mundell defende corte de impostos para empresas americanas Nobel também recomenda a criação de uma moeda mundial para transações entre países Se o governo de Barack Obama decidir aumentar os impostos das empresas para equilibrar as contas públicas, cometerá um grande erro. A avaliação é do economista americano Robert Mundell, prêmio Nobel de 1999. Mundell defende uma forte redução de impostos para as companhias americanas – dos atuais 35% para 15%. “Se isso acontecer, as empresas dirão ‘oba’ e o índice Dow Jones vai se recuperar rapidamente” afirmou, durante o EXAME Fórum, realizado pela Revista EXAME nesta segunda-feira (11/5), em São Paulo. No entanto, Mundell assinala que Obama parece inclinado a tomar o outro sentido. “Obama está indo na direção errada em relação aos impostos. Este é o maior erro do programa de recuperação”, disse. Para o economista, isto vai retardar a reação americana. Para Mundell, o problema atual das companhias é de “deficiência de lucro” e, por causa disso, os investimentos demorarão a voltar. E podem ser ainda mais retardados se os impostos sobre as pessoas jurídicas subirem ou, pelo menos, se mantiverem no mesmo patamar. “As perspectivas para a economia americana são moderadas. Provavelmente, a recuperação não será forte”, disse. Mundell não acredita que o mercado imobiliário ou o setor automotivo terão a mesmo força que tinham antes da crise para ajudar a expandir a economia dos Estados Unidos. “Maior erro” Mundell também lembrou a falência do Lehman Brothers como “o grande erro do Fed (banco central americano) e do Tesouro dos Estados Unidos”. Segundo o economista, a instituição era grande demais para falir. Para ele, a quebra da instituição americana cortou um incipiente processo de recuperação que parecia se desenhar após a intervenção no Bear Stearns. “O Lehman Brothers era quatro vezes maior”, afirmou. Mundell lembrou que os bancos centrais de todo o mundo já haviam injetado bilhões de dólares no sistema financeiro, antes que o Lehman ruísse. A escassez de liquidez havia se transformado em uma crise de inadimplência, mas, quando o banco americano faliu, a demanda por recursos voltou a explodir. Mundell comparou a falência do Lehman à situação de um marinheiro embriagado que, em vez de cair no mar, foi atirado pelo seu capitão. “O capitão do Fed o jogou na água; ele não caiu sozinho”, diz. Moeda comum Para Mundell, a retomada do crescimento passa pela estabilização da paridade dólar/euro. Segundo o economista, se essa relação for estável, poderá servir como uma âncora para o sistema econômico mundial. “Se você não tiver uma taxa fixa, não terá nada, porque terá de conviver com flutuações de 40% para cima ou 50% para baixo, por exemplo”, diz. Mundell afirma que “pode ser um pouco tarde” para adotar um sistema de paridade. Mas acredita que será necessária uma nova rodada de programas de recuperação mundial. E, então, isso poderia ser discutido. Ele sugeriu a participação de outros países, como a China e o próprio Brasil, na criação de uma espécie de moeda mundial, que serviria de referência para o comércio. Mundell reconheceu a resistência dos europeus em abrir mão de sua moeda em prol de uma nova divisa, mas afirmou que não se trata de “sucatear o euro”, mas de criar uma opção. Do mesmo modo que o inglês é o segundo idioma de qualquer um que queira negociar no mercado global, essa moeda internacional seria usada fora das fronteiras. “É importante que os emergentes discutam isso”. Brasil pode ser dar bem com a crise, diz Edward Prescott País tem bons fundamentos, mas precisa se abrir mais e incentivar novas multinacionais brasileiras, diz Nobel de Economia O Brasil pode ser um dos maiores beneficiados pela crise que sacode o mundo atualmente. A avaliação é do economista Edward Prescott, prêmio Nobel de Economia de 2004 e um dos participantes do EXAME Fórum, nesta segunda-feira (11/5). “Eu acho que o Brasil vai se dar bem. Para que a essência está aqui, os fundamentos estão aqui”, afirmou durante sua apresentação. Para Prescott, se o Brasil seguir o atual ritmo de recuperação, poderá alcançar as nações industriais em curto prazo. Mas o economista observou que o governo ainda precisa melhorar suas políticas. Entre as medidas aconselhadas por Prescott para acelerar a recuperação brasileira, estão a descentralização dos pólos econômicos, estimulando a competição entre os estados. Prescott reconheceu que o país está mais inserido no comércio internacional, mas destacou que “ele deve se integrar ainda mais”. “É preciso exportar mais bens de alta tecnologia, ter mais multinacionais brasileiras”, disse. Segundo o economista, à medida que isso ocorrer, mais empresas estrangeiras também serão encorajadas a trazer sua tecnologia ao país, alimentando o ciclo. Prescott acrescentou que o número de países industrializados ricos não deve parar de crescer, e demonstrou confiança em relação à capacidade de o Brasil entrar para o clube. “Não é mais uma questão de se, mas de quando”, afirmou. Estados Unidos Lembrando o exemplo do Japão – que, para muitos analistas, pode ser o caminho que os americanos seguirão nesta crise -, Prescott afirmou que um dos motivos do atraso da recuperação japonesa foi que o governo impediu a falência de alguns bancos. “Eram bancos zumbis. Os clientes pagavam os juros para que não declarassem as dívidas como impagáveis. Houve um subsídio à ineficiência”, disse. Para o economista, isso tem implicações diretas no modo como o país reage na fase pós-crise. Os americanos estão numa situação difícil, mas Prescott não acredita que uma depressão profunda os afete. “Não vamos ter uma grande depressão”, afirmou. Isso não quer dizer, contudo, que o economista preveja um cenário tranqüilo para o país. Para Prescott, “Os Estados Unidos perderão uma década de crescimento, como aconteceu com o Japão”. Após uma fase de queda, a renda per capita do país estagnará. Para o economista, a reação virá quando, em algum momento, o governo cortar tributos para estimular a economia. Para o Nobel, a causa da atual crise financeira mundial foi a aposta de banqueiros e consumidores americanos de que o preço dos imóveis continuaria a subir sem interrupção. Ele lembrou a facilidade com que os americanos, mesmo sem uma renda estável, conseguiam um financiamento imobiliário – o que fomentou a bolha do subprime americano. Prescott também criticou os modelos de previsões que sustentavam a economia do país. “Os modelos falharam. Qualquer que fosse a imperfeição, as histórias não são consistentes”, afirmou. Brasil voltará a crescer neste ano, diz Delfim Netto Ex-ministro da Fazenda diz que o Brasil poderia até ter uma expansão maior neste ano caso o BC não tivesse demorado tanto para agir O ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto acredita que a economia brasileira voltará a crescer com algum vigor no quarto trimestre deste ano, mas que o país só voltará a ter uma expansão de 4% em 2010. Durante palestra no EXAME Fórum, promovido pela revista EXAME nesta segunda-feira em São Paulo, ele disse que o país poderia até mesmo registrar um crescimento de 2%, 3% ou 4% em 2009 caso o Banco Central não tivesse demorado tanto para agir. Delfim disse que, quando a crise estourou, em setembro do ano passado, o BC tinha 200 bilhões de dólares em reservas internacionais e também ganhou acesso a um linha do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) de 30 bilhões de dólares. Além disso, o país vinha de um crescimento de 6% ao ano, a primeira expansão acima da média mundial dos últimos 25 anos. O terceiro motivo para uma atuação mais enérgica do BC seria a baixa representatividade das exportações brasileiras em relação ao PIB. "Naquele momento poderíamos ter dado algum conforto ao setor exportador", disse ele. "O BC sempre agiu na direção certa, mas sempre com sete meses de atraso e sempre com doses homeopáticas. Não usou sua musculatura para que a economia caísse para 2%, 3% ou 4% de crescimento", disse ele. Outro erro do BC, segundo Delfim, foi ter dado um melhor tratamento para os bancos grandes e para os bancos estatais. "O BC desenvolveu a teoria de que banco grande é melhor que banco pequeno e de que banco público é melhor do que banco privado." Outro participante do EXAME Fórum, o professor Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, havia dito, pouco antes, que ao menos a crise vai permitir que o Brasil baixe a taxa básica de juros para um patamar mais próximo da média mundial. Delfim foi irônico e afirmou que isso não adianta nada em um momento em que a economia brasileira passou de uma situação ótima para uma muito pior. "A política monetária errada nos deu a oportunidade baixar os juros, mas trocamos uma Brigitte Bardot de 18 anos por uma de 81", afirmou. O peru da farofa Delfim também usou a ironia ao comentar a recente alta da Bovespa. O ex-ministro disse que não é possível avaliar se a alta foi exagerada, mas explicou o movimento do mercado com as qualidades da bolsa brasileira e com a provável capacidade do país de sair da crise. Neste ano, até 4 de maio, a bolsa brasileira subiu 36% em dólares, o que, descontados os impostos e as taxas, leva a um ganho de 25% em pouco mais de quatro meses. "O Brasil é o grande peru da farofa mundial. (...) Imagina o que vai acontecer quando o [George] Soros descobrir isso." O ex-ministro lembrou, entretanto, que o ingresso de recursos estrangeiros na bolsa brasileira contribui para a valorização do real e que é preciso prestar atenção no efeito "devastador" disso sobre o sistema produtivo. Delfim, no entanto, enumerou motivos para o Brasil se recuperar da crise: 1) É o único Bric com uma democracia constitucional em funcionamento; 2) Não há problemas de língua, fronteiras e étnico-religiosos, o que é um sinal de adaptabilidade e tolerância; 3) Tem muita energia renovável e o petróleo do pré-sal; e 4) A redução da relação dívida/PIB, a menor exposição cambial dos débitos e as reservas internacionais afastaram a possibilidade de uma crise das contas externas; "Provavelmente não vamos ter uma falta de energia ou uma crise no balanço de pagamentos. Então o Brasil vai sair dessa crise, tem condições para construir uma estrada de concreto, uma Autoban alemã para os próximos 25 anos", afirmou. "Mas sem um estado isso não é possível. O estado tem seus defeitos, mas precisa ser inteligente para ajudar o setor privado nesse caminho." BC deveria ter baixado juros em até 4 pontos de uma só vez, diz Serra Governo teme que os juros ainda altos provoquem um novo ciclo de valorização do real O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), acredita que o Banco Central deveria ter aproveitado a crise para derrubar a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) em 3 ou 4 pontos percentuais logo no início da crise, de uma só vez e sem avisar ninguém por antecedência. Durante o encerramento do EXAME Fórum, promovido por EXAME nesta segunda-feira em São Paulo, o governador e provável candidato à Presidência da República em 2010 pelo PSDB afirmou que a lentidão do BC em reduzir os juros já está criando um novo ciclo de valorização do real Para Serra, o governo tomou algumas medidas acertadas após o início da crise, como a redução dos depósitos que precisam ser recolhidos pelos bancos junto ao BC (os compulsórios) e a criação de linhas de crédito em dólar para os exportadores. O governador acredita que um efeito positivo da crise foi a desvalorização do real sem a aceleração da inflação -como foi visto no passado. No entanto, Serra disse que, como o Brasil continua com os juros reais mais altos do mundo, muitos investidores estrangeiros têm tomado empréstimos nos países desenvolvidos, onde as taxas foram derrubadas para reaquecer a economia, e utilizado esse dinheiro para investir em títulos públicos ou na bolsa brasileira. Esse movimento ajudou a dólar a recuar para o atual patamar de 2,06 reais, atingido nesta segunda-feira. "A minha preocupação é voltar à mesma ciranda anterior na economia em um momento que não temos a ameaça inflacionária", disse Serra para uma plateia de empresários. Somente na última semana o Banco Central enxugou do mercado cerca de 7 bilhões de dólares como forma de tentar conter esse movimento de apreciação do real. "Mas isso não se sustenta, porque está entrando muito dinheiro no Brasil", disse Serra. O governador também teme que os primeiros sinais de estabilização da economia mundial façam o BC parar de baixar os juros. "Não vejo motivo nenhum para o BC não baixar os juros em 1 a 1,5 ponto em junho." Na área fiscal, Serra criticou o governo por continuar a aumentar os gastos correntes - como com funcionários públicos, por exemplo - ao invés de priorizar investimentos nesse momento de crise. O tucano disse que, no Brasil, 70% dos investimentos públicos são feitos por estados e municípios. No entanto, a Lei de Responsabilidade Fiscal impede que governadores e prefeitos elevem o déficit ou emitam papéis para financiar políticas anticíclicas. Como o governo federal também reduziu os repasses de verbas após a crise ter efeito na arrecadação de impostos, o investimento do setor público teve que ser drasticamente reduzido. Serra afirmou que o estado de São Paulo conseguiu se diferenciar por ter obtido receitas para manter a maior taxa de investimentos da história. Os recursos vieram da venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil, da concessão do Rodoanel e de cinco trechos de rodovias paulistas à iniciativa privada e de financiamentos externos e do BNDES.