Leia o artigo de Hélio Duque na Integra

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O Nobel e a economia política
Hélio Duque
Alvíssaras! O ganhador do Prêmio Nobel da Economia, outorga
patrocinada pela Academia Real de Ciências da Suécia, demonstra a
importância da economia política. O economista Angus Deaton, professor de
Economia e Relações Internacionais da Universidade de Princeton, nos
EUA, tem a sua obra alicerçada no desenvolvimento com bem-estar social.
No seu livro “A Grande Fuga: Saúde, Riqueza e as Origens da
Desigualdade”, analisa o desenvolvimento ao longo de dois séculos. Ao
receber a notícia da premiação, sua fala foi sobre a desigualdade entre
pessoas e países, também traduzida atualmente na crise de refugiados que
invade a Europa. Afirmando: “O que estamos vendo agora é o resultado de
centenas de anos de desenvolvimento desigual nos países ricos, deixando
boa parte do mundo para trás. Essas pessoas deixadas para trás querem
uma vida melhor, e isso está colocando uma pressão enorme nas fronteiras
entre os mundos rico e pobre”.
Não é um tecnocrata da economia para quem a macro e a
microeconomia deve servir apenas a produção da riqueza concentradora da
renda. O economista Angus Deaton entende que o sistema econômico é
constituído por um conjunto de grupos sociais e amplos setores produtivos
interligados entre si. Resgata a essencialidade da economia política desde
os tempos pré-capitalistas. Daí o professor Tyler Cowen, economista da
Universidade George Mason, dos EUA, assim se referir ao ganhador do
Prêmio Nobel: “Pensem em Deaton como um economista que olha de perto
o que os lares pobres consomem para ter uma ideia melhor de seus padrões
de vida e de possíveis caminhos para o desenvolvimento econômico. Penso
nisto como um prêmio para o empirismo, a importância do desenvolvimento
econômico, e indiretamente como um prêmio para a história econômica”.
Infelizmente, a partir do pós-guerra, a economia política foi
rebaixada para ser vista como apenas economia, considerada Ciência
Econômica. Nada mais equivocado. Ela é uma ciência social e não, como
querem fazer entender, uma ciência exata. A inflexão da suposta exatidão
tem na matemática, na econometria, na estatística e matérias afins,
ministradas nos cursos de economia, instrumentos para a análise da
realidade quantificável. Só isso. Enquanto a economia política enfoca, como
faz o Nobel de Economia, a sobrevivência humana, valorizando as relações
sociais, entendendo que a economia, além da produção, deve ocorrer a
distribuição dos bens pelos quais o ser humano atende as suas
necessidades básicas. Traduzindo: produção e distribuição constitui a base
do processo econômico.
Em 1615, no auge da Revolução Comercial, ao escrever “Traité
de d’économie Politique”, o francês Antoine Montchrestien, fundamentava a
relação na sociedade das classes detentoras de capital, os proletários e os
latifundiários. Defendia que não se deveria separar o adjetivo política do
substantivo economia. Anos depois, nos primórdios da Revolução Industrial,
quando Adam Smith lançou “A Riqueza das Nações”, produziria a grande
obra de economia política, fundamentada na tese da estar a justiça social
diretamente vinculada ao progresso econômico, sendo o mercado o principal
regulador na construção e geração da riqueza nacional.
A história, a sociologia e a teoria política são partes da
economia política, compondo a estrutura da vida em sociedade, no Estado e
na própria cidadania. Ao laurear o economista Angus Deaton, com o Nobel
de Economia, a academia sueca clarifica que a economia tecnocratizada,
despida de preocupação social, é falsificadora da realidade. Os brasileiros
estão, nos dias atuais, conhecendo as falácias perversas do que é a
burocracia estatal da economia tecnocratizada.
Helio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade
Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de
vários livros sobre a economia brasileira.
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