‘Recuperação na China será sutil’, diz economista Quando se fala de China, muitos estereótipos vêm à cabeça – a locomotiva do mundo é o mais famoso deles. Parece que a chama do carvão está mais branda do que se esperava. Como somos todos vagões, brasileiros em sexto na fila, também sentimos o impulso contido. Se a China cresceu muito nos últimos anos, é porque vendia muito o que produz mais rápido e mais barato; e comprava enlouquecidamente comida, aço, energia e tecnologia do resto do mundo. Essa barganha resfriada se autoalimenta e intensifica os efeitos negativos nas economias cambaleantes do mundo ocidental. Agora não é mais especulação: a China está crescendo abaixo dos 8%, considerado um piso que separava o mundo de um período mais longo de recuperação. Já que não vão poder contar com a demanda internacional, os chineses estão de olho no próprio mercado consumidor como compensação para sua economia. Aqui temos um segundo estereótipo – chinês não tem a cultura do consumo, eles são um povo poupador, muito por receio de um futuro carente. “Tenho cautela em dizer que o chinês não consome. Hoje metade da população já está nas cidades. Essas transformações são muito demoradas, mas elas já vêm acontecendo, os chineses estão consumindo mais. O maior risco de analisar a economia chinesa é rotular soluções ou problemas . Eles estão passando por uma mudança na composição do crescimento. Mas isso não explica o ciclo curto prazo do país”, diz a economista do banco Bradesco, Fabiana D’Atri, especialista em economia chinesa. O ciclo de curto prazo da China, segundo a economista, é de revisão dos investimentos feitos no país depois da crise de 2008/2009. Na época, o governo chinês colocou o país em obras para construir pontes, ferrovias, estradas, com foco na infraestrutura do país. “Esse investimento feito há quatro anos foi acelerado demais, até irresponsável. Isso está sendo corrigido, o país está há um ano e meio sem investir. Agora, é o investimento que volta como fator de ajuste na economia, mas ele está voltado para o social, na construção de escolas, hospitais, melhoria no transporte. Diminuindo essa despesa dos chineses, o governo abre espaço no orçamento das famílias para o consumo”, explica Fabiana D’Atri. A opção de reacelerar a economia via obras públicas no social faz mais sentido do que vender mais carros, compara a economista do Bradesco, fazendo analogia com a política de incentivo ao consumo aqui no Brasil. O cenário de risco não mudou porque o país ainda conta com o comércio exterior para crescer muito. Se a crise na Europa não se agravar, a economia da China pode se estabilizar num patamar superior ao de agora. “O segundo trimestre deste ano está sendo o vale da economia. No segundo semestre é possível, pelo menos, manter um ritmo de crescimento na margem. A importação deve continuar fraca mas estável, num cenário de acomodação. O pé atrás é que o ímpeto de aceleração também é dado pela confiança, que está atingida com a crise na Europa. A recuperação vai se dar em movimentos sutis”, ressalva a economista do Bradesco. FONTE: G1