O Globo, 12 de outubro de 2015 Britânico Angus Deaton leva Nobel de Economia Professor de Princeton de 69 anos analisa relação entre consumo e pobreza por O GLOBO / Com agências internacionais ESTOCOLMO - O economista britânico Angus Deaton, de 69 anos, levou o Prêmio Nobel de Economia, informou a Academia Real de Ciências da Suécia nesta segundafeira. Professor da renomada Universidade de Princeton, ele foi laureado por seu trabalho de análise do consumo relacionado à pobreza. Segundo a academia, Deaton se destacou por suas descobertas em três questões fundamentais: como consumidores distribuem seus gastos; quanto da renda de uma sociedade é gasta e quanto é poupada; e como medir e analisar melhor o bem-estar e a pobreza. “Para formular políticas que promovam o bem-estar e reduzam a pobreza, precisamos primeiro entender as escolhas de consumo individuais”, disse o corpo de jurados no anúncio do prêmio. “Mais do que ninguém, Angus Deaton melhorou esse entendimento”. Em entrevista por telefone logo após o anúncio, o economista disse que seu trabalho tem uma tendência otimista. Em 2013, Deaton lançou o livro "The Great Escape" ("A Grande Fuga"), que, entre outras análises, avalia o processo de saída da pobreza de milhões de pessoas no mundo em desenvolvimento. — Minha mensagem geral, minhas mensurações tendem a mostrar que as coisas estão ficando melhores, mas ainda há muito trabalho a ser feito. Fiquei surpreso e encantado. Foi incrível ouvir as vozes de meus amigos no comitê — disse Deaton. ANÁLISE DA DEMANDA DO CONSUMO O britânico é um dos responsáveis pelo chamado sistema de demanda quase ideal, que ajuda a analisar melhor o comportamento dos consumidores. Segundo o economista Aloísio Araújo, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), esse tipo de trabalho ajuda a calcular melhor políticas públicas, como os sistemas de transferências de renda. — É um excelente economista. O trabalho dele teve um imenso impacto. Através do consumo das famílias mais pobres, por exemplo, cria-se políticas para redução de itens da cesta básica — afirmou. Luiz Carlos Prado, professor do Instituto de Economia da UFRJ, acredita que a escolha do nome de Danton mostra que a Academia Sueca está mais preocupada com questões que afetam diretamente a economia real. — Nos últimos anos, autores que apresentam contribuição em vários campos – portanto, influenciam o debate acadêmico, mas também a formulação de políticas, têm sido preferidos na escolha Nobel em economia. É interessante que Deaton não é apenas um economista acadêmico, mas também dá insights interessantes sober determinados aspectos que podem contribuir para políticas públicas e para o debate econômico — destacou Prado. O anúncio do Nobel de Economia encerra a semana de premiações em homenagem a Alfred Nobel. Ao ser premiado, Deaton leva para casa 8 milhões de coroas suecas, equivalente a US$ 978 mil. Diferente das outras láureas, o Nobel de Economia não foi criado pelo próprio Alfred Nobel. A premiação foi lançada em 1969, para festejar os 300 anos do Banco Central da Suécia. Desde então, se uniu às demais condecorações. Foram 46 premiações ao longo de quase 50 anos, para 75 condecorados. A decisão é tomada por um comitê de cinco membros escolhido pela Academia Real de Ciências. Entre indicações, consultas com especialistas e a escolha final o processo leva um ano. Os nomes indicados - e não escolhidos - não podem se tornar públicos por um prazo de 50 anos. No ano passado, o vencedor foi o economista francês Jean Tirole, escolhido por seus estudos em economia da regulação, que serviram de referência para modelos de regulação em vários países, inclusive o Brasil. Entre as apostas para o Nobel de Economia de 2015 estavam Avinash Dixit, da Universidade de Princeton, Robert Barro, da Universidade de Harvard, e Bengt Holström, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Para quem acompanha o noticiário econômico, dois nomes mais conhecidos estavam na lista: o ex-economistachefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).