Ser economista, hoje

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SER ECONOMISTA, HOJE
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Adayr da Silva Ilha2
Domingo, dia 13, foi comemorado o “Dia do Economista” e quero, como
professor do Departamento de Ciências Econômicas da UFSM e integrante do
Corpo Técnico da Fundação Regional de Economia, fazer uma retrospectiva de
sua formação no Brasil, bem como explicitar o que se pretende venha a ser esse
profissional, hoje. Parece-me um tema oportuno, sem dúvida.
Na verdade, até a Segunda Guerra Mundial a formação do economista se
confundia com a de outras áreas afins, como o Direito, a Contabilidade e a
Administração.
As profundas transformações ocorridas após aquele conflito geraram, no
Brasil, a implantação de um novo currículo, onde foram incluídas disciplinas
como “Desenvolvimento e Crescimento Econômico”, “Relações Internacionais”,
“Evolução da Conjuntura Econômica“e ”Valor e Formação de Preços“. (Apesar
disso significar um avanço, no sentido de ”individualizar“o ensino da Economia,
ainda
permaneciam
matérias
da
área
jurídica,
da
administração
e
da
contabilidade, refletindo a origem de parte considerável dos professores de
então).
Só a partir da metade dos anos 60 é que se operou uma nítida separação
entre os Cursos de Ciências Contáveis e Ciências Atuareis. É, também, o
momento em que passa a haver uma separação entre o “ciclo básico” e o “ciclo
de formação profissional”.
O novo currículo mínimo de Ciências Econômicas, aprovado em 1984 pelo
Conselho Federal de Economia, ainda hoje em vigor, trouxe significativas
modificações, pautadas em quatro diretrizes.
Primeiro, o Curso deve estar voltado para a realidade social, política e
econômica, que compõe a realidade brasileira. Supõe, por isso, sólida formação
teórica, histórica e metodológica.
Segundo, sua estrutura curricular deve contemplar todas as correntes do
pensamento em economia. Isto significa que os vários paradigmas científicos,
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Artigo publicado no Jornal A Razão, do dia 15 de agosto de 1995.
Doutor, Professor Adjunto do Departamento de Ciências Econômicas da UFSM.
das várias correntes do pensamento econômico, devem ser postos ao alcance do
estudante, para que ele se familiarize com as diferentes visões que se
antepõem.
Terceiro, que seja reintegrada a Economia Política. Afinal, é através do seu
estudo que se compreende o processo de produção, circulação e repartição da
riqueza gerada.
Por último, o curso deve prover o senso crítico e ético, norteador da
responsabilidade social de que o profissional deve investir-se. (O ideal, aliás, é
que esses princípios sejam permeados nos conteúdos de todas as disciplinas do
currículo).
Nestes onze anos de vigência do currículo mínimo muitas e grandes
transformações ocorreram no mundo. Eis porque o economista de hoje tem que
se capacitar, para compreender a natureza das rápidas e constantes mutações
do mundo contemporâneo.
O mercado de trabalho, igualmente, mudou muito. O setor público que, até
o início dos anos 80, empregava uma grande parcela dos economistas, já não
mais o faz.
As universidades brasileiras têm que buscar um novo perfil de economista.
Não se trata, porém, de uma questão de “mais prática e menos teoria”, pois não
há nada mais prático que uma boa teoria.
O profissional em que se está pensando deve estar capacitado a traçar um
diagnóstico correto das realidades locais, regionais e internacionais. Não pode
ser, apenas um refinado matemático, formulador de modelos econométricos.
Deve ser, sobretudo, um competente cientista social.
O profissional das Ciências Econômicas que se quer, que a Fundação
Regional de Economia imagina, para hoje e para o futuro, não pode ser um mero
conhecedor de uma “ciência” discursiva, desarticulada e inconsciente. Tampouco
pode ser um “adorador” de abstrações numéricas, dispostas em modelos
matemáticos computadorizáveis.
Busca-se, e defende-se, um profissional que seja capaz de encontrar o
enlace do econômico com o social, na promoção do especificamente humano!
Parabéns, colegas.
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