UMA ECONOMIA A SERVIÇO DA SOCIEDADE Marcus Eduardo de Oliveira (*) Qual é o melhor tipo de economia que se conhece? A resposta a essa recorrente indagação é única: a melhor economia é a que funciona. No entanto, a mesma pergunta permite desdobramentos: funciona para quem e de que forma? Uma economia só funciona a contento quando agrada a maioria. Agrada aos empresários se o tipo de economia praticada for capaz de apontar caminhos que levam a um retorno em curto prazo. Agrada ao governo (na figura do executivo) quando a economia ajuda na reeleição, ou quando esse executivo, impedido de disputar as eleições, consegue fazer seu sucessor. E, por fim, agrada as pessoas quando a economia possibilita a cada um de nós à possibilidade de prosperarmos. É certo, todavia, que os economistas, isolados em seus modelos matemáticos, não conseguem fazer com que as pessoas prosperem como num passe de mágica; mas, a economia que os economistas desenham pode muito ajudar cada um a encontrar um bom termo na vida. Logo, um tipo de economia que seja feita para servir a sociedade, obrigatoriamente, precisa colocar as pessoas em primeiro lugar. Parte daí a coerente e sensata afirmação do economista chileno Manfred Max-Neef que reitera em seus escritos que “a economia está para servir as pessoas e não as pessoas para servir a economia”. A concretização dessas palavras nos parece ser o modelo ideal de economia a ser praticada caso queiramos desenhar um novo papel para uma ciência social que pode ajudar no progresso da humanidade. Para tanto, é imprescindível se pensar num novo jeito de fazer economia. Os processos econômicos – em suas diversas manifestações – não podem mais ser analisados e pensados apenas em termos econômicos. A frieza de raciocínio que marca, essencialmente, a economia envolvida em gráficos, taxas e indicadores matemáticos, fazendo subir e descer o ambiente monetário-financeiro frente a qualquer espirro diferente dos mercados, precisa ser pensada sob outras escalas: principalmente sob a perspectiva de valorizar o cidadão, e não o dinheiro. Não nos esqueçamos, para tanto, que o objetivo central da economia – para desespero de alguns – não é o dinheiro, mas sim as pessoas; não é o mercado e nem a mercadoria, mas sim os desejos e incentivos de cada um de nós. O interesse que deve nortear essa ciência tipicamente social é o indivíduo; e não o acúmulo mercantil. É por isso que as questões sociais devem permear o universo da economia. Antes de existir o dinheiro, já existia a vida; já existiam necessidades sociais, já existiam seres humanos desejosos de prosperarem. Nada mais justo então que a economia, enquanto disciplina social, se coloque no nobre intento de atender as necessidades humanas. Quais necessidades? Essas são conhecidas: ser, ter, estar e fazer. São a esses parâmetros que cabe à economia lidar estabelecendo trade-offs peculiares; afinal, deve-se fazer o melhor possível – para todos - visando atender essas necessidades de preferência no menor tempo possível. A propósito, o tempo – entendido aqui como uma variável – é muito valioso para o bom desempenho da economia. A razão? Tudo parece apontar para as realizações em curto prazo. Talvez tenha sido por isso que o economista mais brilhante da segunda metade do século XX - J. M. Keynes -, tenha dito que “no longo prazo todos estaremos mortos”. A economia precisa responder de imediato aos interesses da sociedade. Com isso, Keynes, lá no fundo, talvez tenha desejado chamar a atenção para a necessidade de se fazer hoje (naquele tempo) uma economia capaz de suprir as necessidades humanas. Em matéria de economia, esperar pelo amanhã nem sempre é a melhor decisão; principalmente quando essas decisões envolvem aquilo de mais valioso que se conhece: a vida humana. Definitivamente, uma economia a serviço da sociedade é, antes de tudo, uma economia que afirma positivamente a vida humana. Disso não tenhamos dúvidas. Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP). Colunista dos sites “O Economista” e do “Portal EcoDebate”. Contribui ainda com a Agência Zwela de Notícias (Angola), com o Notícias Lusófonas (Portugal) e com o Diário Liberdade (Galiza, Europa). e-mail - [email protected]