ADMINISTRAÇÃO MERCADOLÓGICA MÓDULO 14 VISÃO SISTÊMICA DOS FATORES MERCADOLÓGICOS Índice 1. Visão sistêmica dos fatores mercadológicos .................. 3 1.1. Introdução ................................................................. 3 1.2. O comportamento do consumidor .................................. 3 1.2.1. Motivos e Necessidades .......................................... 4 1.3. Segmentação .............................................................. 6 1.3.1 Critérios de Segmentação ........................................ 7 2. Decisões de produto e marca ..................................... 7 2.1. O Ciclo de Vida do Produto ........................................... 8 2.2. Marcas ..................................................................... 10 2 Administração Mercadológica - Módulo 14: Visão sistêmica dos fatores mercadológicos 1. VISÃO SISTÊMICA DOS FATORES MERCADOLÓGICOS 1.1. INTRODUÇÃO O marketing é um componente da estratégia empresarial, que deve ser considerado pelo mundo dos negócios como uma área que propicia a organização uma interface com todos os setores e atividades organizacionais. Este fato se evidencia devido a visão sistêmica enfatizada nas teorias relacionadas ao estudo das ações gerenciais, tendo como suporte os conhecimentos oriundos da área de marketing. Assim, se compreende que o administrador seja qual for a sua formação básica, ou seja, sua habilitação necessita ter conhecimentos referentes às teorias que dão sustentáculo ao processo de desenvolvimento das estratégias mercadológicas. Desta forma, através deste artigo se podem evidenciar contribuições de diversas áreas do conhecimento tais como a psicologia, contabilidade, logística, etc., com a finalidade de ressaltar o enfoque holístico do marketing. 1.2. O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR O comportamento do consumidor é um dos campos mais complexos das teorias de marketing. Isso se deve ao fato de reunir contribuições provenientes de várias áreas do conhecimento, tais como a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia e a Economia. Embora a Economia tenha produzido as primeiras teorias formais do comportamento do consumidor, o desenvolvimento teórico deste campo de estudos tem-se produzido, nos últimos anos, no âmbito da abordagem das ciências comportamentais. Não se pode afirmar, na verdade, que exista uma única Teoria do Comportamento do Consumidor e é possível que isso nunca venha a acontecer. Tão pouco existe uma Ciência do Homem: as várias áreas do conhecimento humano ainda estão longe de explicar, de forma integrada e consistente, esse comportamento. Como se poderia então, esperar que as teorias do comportamento do consumidor - um aspecto peculiar do comportamento humano - se constituíssem um campo de estudos integrado? Existe, no entanto, um conjunto de teorias sobre o comportamento do consumidor, que permitem melhorar nossa capacidade de predizer o comportamento desse ente, o consumidor, sob uma variedade de aspectos: o da Psicologia Geral, o da Psicologia Social, o da Sociologia e o da Antropologia Social. 3 Administração Mercadológica - Módulo 14: Visão sistêmica dos fatores mercadológicos A contribuição mais abrangente e genérica é a da psicologia e, mesmo dentro do seu próprio âmbito de atuação, existem inúmeros posicionamentos diferentes e contribuições de diversas linhas de pensamento. Para efeito de simplificação, se apresenta um modelo básico que procura integrar os principais elementos psicológicos associados ao comportamento de compra. Figura2: Modelo psicológico do Comportamento do Consumidor 1.2.1. Motivos e Necessidades Cada indivíduo tem um conjunto de necessidades que precisam ser atendidas. Quando ele se defronta com uma necessidade não satisfeita, estabelece-se um estado de tensão, que gera desequilíbrio. O indivíduo é 4 Administração Mercadológica - Módulo 14: Visão sistêmica dos fatores mercadológicos internamente pressionado para resolver o problema, isto é, buscar uma solução que lhe permita atender àquela necessidade. Esse impulso para a ação, em busca do equilíbrio, chama-se motivação. Para explicar a motivação humana de uma forma sistematizada, adotaremos o modelo de Maslow, com sua hierarquia das necessidades humanas. Essas necessidades estariam organizadas de forma hierárquica, isto é, algumas apareceriam apenas quando outras estivessem pelo menos parcialmente satisfeitas. a. NECESSIDADES FISIOLÓGICAS: São consideradas as mais básicas fome, sede, sono, sexo, abrigo contra as intempéries, etc. Enquanto as necessidades fisiológicas não estiverem satisfeitas, o indivíduo não será motivado por nenhum outro nível de necessidades; b. NECESSIDADES DE SEGURANÇA: Uma vez satisfeitas, pelo menos parcialmente, as necessidades fisiológicas, manifestam-se as de segurança. O indivíduo busca segurança física e psicológica. A segurança pode ser representada pela necessidade de rotina e repetição, pela posse de bens (imóveis, títulos, ouro), pela aquisição de diferentes modalidades de seguro (vida, saúde), pela adesão a filosofias ou religiões etc.; c. NECESSIDADES DE AMOR E AFEIÇÃO (SOCIAIS): Superadas basicamente as necessidades de segurança, passam a dominar as necessidades de participação e afeição - amor, amizade, laços que ligam o indivíduo a outros. Símbolos de sua realização são o matrimônio, a paternidade, o pertencer a uma “turma” etc.. Cabe observar que é nesse nível que se situa a maior parte dos apelos dos produtos de consumo. Um estudo realizado no Brasil entre 1975 e 1981, analisando o conteúdo dos anúncios de revista dirigidos à mulher, verificou que as promessas do produto à usuária configuravam apelo às necessidades de participação e afeição que o uso dos produtos ajudaria a preencher. Casos típicos de produtos voltados para esse tipo de necessidades são desodorantes, pastas de dentes, cosméticos, vestuário, bronzeadores etc.; d. NECESSIDADES DE ESTIMA E EGO: Quando o indivíduo se sente seguro em seu relacionamento afetivo, ele passa a buscar aprovação externa, que se expressa em prestígio, reputação, status. Existe uma série de produtos dirigidos ao atendimento das necessidades de estima do indivíduo - determinadas marcas de carros, relógios, uísque etc.. Através do uso dos produtos, o indivíduo se identifica como pertencente a determinado grupo ou classe social. São eles os símbolos externos de seu status social; e. NECESSIDADES DE AUTO-REALIZAÇÃO: Finalmente o indivíduo seria motivado para a aquisição de novos conhecimentos, satisfação estética etc.. É o impulso interno do indivíduo no sentido de realizar plenamente todo seu potencial. Maslow sugere que os comportamentos orientados para as necessidades de estima e auto-realização aparecerão mais quando a sociedade viver tempos de estabilidade, e os níveis inferiores de necessidade serão mais intensos em épocas de instabilidade e turbulência ambiental (depressão, recessão, guerra). 5 Administração Mercadológica - Módulo 14: Visão sistêmica dos fatores mercadológicos Figura3: Hierarquia das necessidades humanas de Maslow 1.3. SEGMENTAÇÃO A segmentação de mercado é um conceito originário da Economia, embora os economistas clássicos a vissem apenas como uma forma de maximizar os lucros a partir da sensibilidade do consumidor a preços. Os primeiros estudiosos do marketing, por sua vez, já se preocupavam com o fato de que nem todos os indivíduos pareciam ser clientes em potencial para determinado produto. Na verdade, a noção de que algumas pessoas estariam mais dispostas do que outra a comprar um produto é intuitiva para qualquer homem de negócios ou executivo experiente. No entanto, existem sérias dificuldades, conceituais e operacionais, para determinar quem são esses consumidores, para os quais determinado produto oferece interesse especial, e para orientar a estratégia e os programas de marketing para atingir os segmentos-alvo. Segmentar significa, em última análise, reconhecer os desdobramentos do lado da demanda, promovendo um ajuste racional e mais preciso do produto e do esforço de marketing às exigências do consumidor. Segmentação significa de uma forma conceitual a divisão de um mercado total em subconjuntos caracterizados por similaridade e demanda. Portanto, se compreende que um segmento é um subgrupo caracterizado pela avaliação comum das funções de utilidade um produto ou produto serviço. Com base neste entendimento, fica fácil entender que o processo de segmentação pode se iniciar em duas etapas que buscam: → Agrupamento de pessoas com as mesmas avaliações de funções de utilidade; e → Rotulação ou identificação dos segmentos. 6 Administração Mercadológica - Módulo 14: Visão sistêmica dos fatores mercadológicos 1.3.1 Critérios de Segmentação SEGMENTAÇÃO GEOGRÁFICA: geográficos ou geopolíticos; Baseada em critérios puramente SEGMENTAÇÃO DEMOGRÁFICA: Considera os consumidores em grupos com características semelhantes baseada em critérios de idade, sexo, renda, tamanho da família, escolaridade, nacionalidade etc; SEGMENTAÇÃO PSICOGRÁFICA: A segmentação psicográfica atua como complemento para a geográfica. Estabelece padrões de características de personalidade dos consumidores, enquadrando-os em categorias distintas consumista, exibicionista, utilitarista, moderado, racional, integrado, independente, conservador, contestador, moderno etc.; SEGMENTAÇÃO POR BENEFÍCIO: Embora alguns autores considerem-na uma variante da segmentação psicográfica, a segmentação por benefício atende muito mais efetivamente às análises mercadológicas, pois busca definir qual o benefício que o consumidor busca em cada produto e, portanto, versa sobre o atendimento de necessidades. Os benefícios podem ser classificados em racionais, que traduzem as características funcionais dos produtos, sua compra e uso efetivo, e as psicológicas, que se referem a fatores com status, percepção estética etc. 2. DECISÕES DE PRODUTO E MARCA Para que se possa prosseguir na discussão, devemos entender o significado do termo marketing mix. O marketing mix, ou composto de marketing, é o conjunto de instrumentos controláveis pelo profissional de marketing, através dos quais ele pode obter melhor ajustamento entre a oferta que sua empresa faz ao mercado e a demanda existente. O marketing mix é composto por quatro conjuntos de varáveis que se costuma identificar como “os quatro Ps”*: * no original em inglês: product, price, place and promotion. a. PRODUTO: Características, qualidade, design, embalagem etc.; b. PREÇO: Preço básico, descontos, prazos de pagamento, crediário etc.; c. PRAÇA: Canais armazenamento etc.; de distribuição, distribuição física, transporte, d. PROMOÇÃO: Venda Pessoal, propaganda, promoção de vendas, publicidade, relações públicas etc. Ao fazer referência ao produto no contexto do marketing mix, se esta falando de algo mais do que o simples produto físico (produto específico) que o comprador irá consumir e utilizar. Estáse falando, na verdade, de um conjunto de características, algumas tangíveis, outras intangíveis, que constituem o produto, tais como: garantias, serviços, embalagem, acessórios de qualquer tipo, etc. (produto genérico) O produto, para o marketing, transcende sua forma externa. Isto ocorre porque o produto que a 7 Administração Mercadológica - Módulo 14: Visão sistêmica dos fatores mercadológicos organização oferece deve ser visto não como ele é para a organização, mas a partir do que ele significa para o consumidor. 2.1. O CICLO DE VIDA DO PRODUTO Os produtos, como os seres vivos, nascem, crescem, amadurecem e envelhecem, até o desaparecimento, que é a morte. Essas fases distintas da vida dos produtos são descritas como pioneira ou de introdução, desenvolvimento ou expansão, maturidade ou estabilização e declínio. Há no entanto, produtos que atingem a maturidade e permanecem nesse estágio sem entrarem em declínio. É o caso de alguns produtos alimentícios de origem animal, como o salame, que existe como tal à cerca de 400 anos. a. FASE DE INTRODUÇÃO OU PIONEIRA: É caracterizada pela presença de poucas empresas no mercado, e como a produção é pequena, os custos de desenvolvimento do produto irão estabelecer seu preço alto. Muitas empresas, ao contrário, adotam nessa fase a política de preços de penetração, com o objetivo de assegurar rápida participação no mercado. Essa política, adicionada aos custos do desenvolvimento do produto e aos custos mercadológicos do lançamento do produto, acarreta baixa lucratividade nessa fase; b. FASE DE CRESCIMENTO OU EXPANSÃO: Inicia-se quando a demanda para o novo produto começa a crescer rapidamente. Os consumidores inovadores que adotam o produto ainda em sua fase pioneira, ao repetirem suas compras, estimulam outros a comprarem. O mercado passa a expandirse rapidamente, e com isso há um estímulo ao crescimento do número de concorrentes do produto. A entrada da concorrência força os preços praticados para baixo. Com o aumento das vendas, surge a economia de escala de produção, que reduz os custos de fabricação com base na chamada Curva de Experiência, e com isso, o lucro aumenta; c. FASE DA MATURIDADE OU ESTABILIZAÇÃO: O número de concorrentes e o volume de compras estabilizam-se, e isso desestimula a concorrência, sobretudo a predatória, que se estabeleceu para tirar vantagem de um mercado em expansão. Os preços continuam a cair, numa tentativa de manter-se no mercado. O lucro também cai; d. A FASE DO DECLÍNIO: As preferências do consumidor alteram-se, surgem novas tecnologias de produto no mercado, restam poucos concorrentes nessa fase. Os preços se estabilizam em níveis baixos. Os consumidores leais continuam comprando o produto, mas graças a um esforço promocional intenso. Os lucros diminuem e deixa de constituir uma atratividade a fabricação desse produto. Surgem novas oportunidades de investimento em novos produtos. 8 Administração Mercadológica - Módulo 14: Visão sistêmica dos fatores mercadológicos Existem diversas estratégias que visam proporcionar o prolongamento do ciclo de vida de um produto ou de um produto serviço. Um exemplo clássico é o de promover o uso mais freqüente do produto entre os consumidores habituais. É o caso típico, num passado não muito distante, da meia de náilon para mulheres. O obsoletismo da meia de náilon, por desfiar ou pelo surgimento de novos modelos, levou as mulheres a um consumo prolongado e repetitivo do produto. Incentivar através da apresentação ao consumidor da versatilidade do produto ou do produto serviço, de modo que este perceba a sua utilização das formas mais variadas além da tradicionalmente usada. A Nestlé, com sua linha Maggi de caldos, ou a Refinações de Milho Brasil, com seus caldos e sopas Knorr, ao promoverem seus concentrados não só para sopas, mas também para o preparo de molhos e ingredientes para o preparo de massas, carnes, peixes etc., são um exemplo de uso mais variado do produto e versátil. Criar desejos e necessidades em potenciais clientes, fazendoos consumir produtos ou produtos serviços já existentes através de uma estratégia de expansão do mercado, mediante o surgimento de um novo segmento. A empresa Johnson & Johnson com a sua linha de xampu infantil e boa parte de sua linha de higiene infantil, trabalhou no de forma estratégica a criação de um novo mercado consumidor, através de uma campanha publicitária que enfatizava: o que é bom para crianças é bom também para adultos. Descobrir para produtos ou produtos serviços novas formas de usos, tem se tornado a grande meta das empresas. Para isso, se faz necessário identificar novas maneiras de evidenciar nos atributos do produto ou produto serviço os mecanismos sejam estes tangíveis ou intangíveis capazes de agregar valor ao consumidor mediante a percepção de um valor subjetivo. Um exemplo que ao longo dos tempos vêem buscando novas formas de uso são as empresas que fabricam relógios, buscando sempre através da tecnologia agregar ao relógio de pulso alarme, cronômetro, minicalculadora, mini-rádio, jogos e até minitelevisão. Tudo isso única e exclusivamente com a finalidade de conquistar o cliente através da satisfação de suas necessidades e desejos. 9 Administração Mercadológica - Módulo 14: Visão sistêmica dos fatores mercadológicos O estudo cuidadoso do ciclo de vida dos produtos ou produtos serviços poderá constituir-se um valioso guia para definição das estratégias de marketing. Os principais elementos a serem definidos, e que deverão ter uma orientação diferenciada em função da fase em que o produto se encontra são:. A. Estratégia Promocional B. Estratégia de Distribuição C. Estratégia de Preços D. Estratégia de Planejamento do Produto 2.2. MARCAS Uma conhecida definição da AMA - American Marketing Association, conceitua marca como “um nome, termo, sinal, símbolo ou desenho, ou uma combinação dos mesmos, que identifique os bens e serviços oferecidos por um vendedor ou grupo de vendedores e os diferencie dos demais concorrentes”. A marca tem uma função importantíssima no processo de compra. Essa função é a de identificar o produto diante do consumidor. Está claro que a marca será mais importante em alguns casos do que em outros. Quando o consumidor pode constatar os benefícios que o produto oferece, suas qualidades intrínsecas, no ato da compra, a marca perde muito de sua importância. No entanto, quando estas mesmas qualidades e benefícios só podem ser percebidos no consumo ou uso do produto, após a compra, então a marca assume importância fundamental como elemento de redução de risco. O valor relativo do produto e a frequência da compra são, também, elementos que influem no grau de importância da marca. Finalmente, o grau de diferenciação dos produtos concorrentes e o estágio no desenvolvimento da marca desses produtos também devem ser considerados. Os primeiros exemplos conhecidos de uso de marcas ocorreram, provavelmente, nas artes, quando pintores e escultores pintavam ou gravavam o nome em suas obras. A partir do final do século XIX, porém, o uso de marcas se expandiu consideravelmente, chegando a ponto de hoje quase se vender qualquer produto com marca. Com relação às políticas de marca a serem adotadas pela empresa, existem pelo menos três questões básicas a serem definidas: a - Quantas marcas usar e em que produtos; b - Quando usar o nome da empresa como marca; c - Usar-se a marca do fabricante ou do distribuidor. 10 Administração Mercadológica - Módulo 14: Visão sistêmica dos fatores mercadológicos