MARIOLOGIA – ASPECTOS FUNDAMENTAIS (Karl Josef Romer– 06 03 2017) A intenção desta apresentação1 é um delineamento de questões básicas da mariologia e de sua importância na Igreja. Colocaremos a piedade mariana popular sob a luz da doutrina da Igreja. Questionaremos a mariologia no conjunto global da teologia e seu conexo com questões fundamentais da fé e conseqüentemente o seu princípio fundamental. Como é que a relativa parcimônia de textos marianos na Bíblia justifica o surgir dos tratados sistemáticos sobre Maria? 1 Maria na fé viva da Igreja O FATO: Com amor piedoso, a Igreja celebra a mãe de Deus. Na liturgia, seu nome está em pontos centrais: no Credo e no Cânon da Missa. Muitas festas e dois meses no ano são singularmente dedicados a ela. Semanas antes e depois do Natal tematizam sua figura. Na arte, nota-se uma impressionante riqueza de imagens, músicas e hinos. Ordens, Cidades, Santuários têm seu nome. Lugares de peregrinação mariana dão enorme força à fé do povo. 1 Como principal referência serve: CF. Leo Scheffczyk - Anton Ziegenaus, Katholische Dogmatik, V Bd MM Verlag 1998. 2 O caráter da piedade mariana tem algo de alegre. Não faltam temas de dor. Mas o caráter materno de Maria alivia tudo. Em Maria a redenção não é só promessa, mas cumprimento em forma humana. SIGNIFICADO PASTORAL O teólogo crítico Hans Urs von Balthasar diz: “Sem Maria, o cristianismo, despercebidamente, tende a tornar-se pura função, sem alma, uma empresa estressante, ideologia, polêmica, crítica, tudo amargo, sem humor e enfadonho. De uma tal Igreja os homens fogem em massa (Klarstellungen, Freiburg, ²1971,72). Na teol. Católica, Maria não pode estar à margem. A Virgem-Mãe é o reflexo da constituição divina-humana do Filho. Já Atanásio (+ 373) podia dizer: o nascimento de uma Virgem é a prova mais evidente da divindade de seu Filho (de incarn. 18). 2) A MARIOLOGIA NO CONJUTNO DA TEOLOGIA MARIA e CRISTO A verdadeira divindade e verdadeira humanidade e sua substancial unidade são fixadas no Concílio de Éfeso (431) pelo título de “Theotókos”, mãe de Deus. Este título mariano é, de o. c. p. 14). 3 modo admirável, uma fórmula sintética da Cristologia. Calcedônia deu a grandiosa formulação: O nascimento duplo são duas colunas da fé. ”Nós ensinamos em total concordância que Jesus Cristo deve ser confessado como o único e o mesmo; o mesmo é perfeito em sua divindade; o mesmo é perfeito em sua humanidade; o mesmo é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem... O mesmo foi gerado pelo Pai antes de todos os tempos e, segundo sua natureza humana, no fim dos tempos e por nossa salvação gerado de Maria, a Virgem” (DH 301; FC 4017). MARIA - IGREJA Maria tem também relação íntima com a Igreja. Segundo Ambrósio (+ 397), ela é “typus Ecclesiae”, por sua fé, seu amor e sua perfeita união com Cristo (Expos. Lc III,7; PL 15,1555; cf. Vat II, LG 63). Sem mácula ela recebeu, e sem reserva ela acolheu a Palavra de Deus. Ela é a cela original da Igreja. “Maria é o fruto mais sublime da redenção. Nela, a Igreja vê, como numa imagem, aquilo que ela deseja e espera ser” (SC 103). M. Schmaus (Kath. Dogmatik, Bd 5,1955,7) conclui: „Na mariologia convergem... quase todas as linhas o. c. p. 14). 4 teológicas, as cristológicas, as eclesiológicas, as antropológicas e as escatológicas. Por isso, na mariologia, acontecem opções/decisões teológicas que são significativas e decisivas para o todo de nossa fé. De outro lado, cristologia, eclesiologia e graça têm seu efetivo reflexo ma mariologia. Nela cristaliza-se a auto-compreensão do ser cristão”. O Concílio Vaticano II resume o significado mariológico para toda a teologia nestas palavras: “Maria, como entrou intimamente na história da salvação, une em si e irradia os supremos mistérios da teologia” (LG 65). Eventuais Críticas De fato existe não raro certa restrição contra essa eminente posição de Maria na teologia e na fé. As razões de tal atitude negativa encontram-se antes de tudo em uma insegurança na cristologia, onde se põe em dúvida a eterna Filiação de Cristo e sua encarnação. Então, evidentemente, a maternidade divina fica sem fundamento. Depois, certas possíveis interrogações sobre textos bíblicos a respeito da infância de Jesus levam alguns a duvidar da concepção virginal de Maria e de sua virgindade perpétua. Também o. c. p. 14). 5 há um questionável respeito ecumênico que tenta diminuir o que a Bíblia fala sobe Maria. Outros ainda argumentam que hoje existem temas mais candentes do que a piedade mariana: Deus, Jesus Cristo, o homem com suas interrogações. Alegam Unitatis Redintegratio do Concílio Vat. II que fala da “hierarquia das verdades”. Alguns tentam reduzir Maria a um simples “modelo” do “tipo” de homem piedoso e aberto para Deus. A virgindade é reduzida a uma generosa abertura diante do divino. O resto, dizem, é questão biológica e sem importância. A assunção é só o modelo para a esperança de todos nós (Assim Hans Küng, Christ sein, Mü 1974,449). Vários desses temas devem ser tratados nos respectivos assuntos teológicos. Aqui queremos sublinhar um aspecto de eventual oposição à mariologia: “A hierarquia das verdades”. O próprio Concílio Vaticano II, que criou essa expressão, define-a de modo claro: “segundo o diverso modo de conexão com o fundamento da fé cristã” (UR 11). No o. c. p. 14). 6 entanto, Jesus é o fundamento e o centro da fé, e Maria está-lhe ligada por ordem íntima. A Igreja pode existir sem um Francisco de Assis, sem uma Teresa de Ávila; ela já existia um milênio antes. Sem Maria, porém, a Igreja não existe. Por seu Sim, Maria torna-se mãe do Redentor. Sendo ela assim pressuposição para a encarnação e redenção. Quanto ao argumento que Maria parece ocupar o lugar que pertence unicamente ao Cristo, centro e causa da salvação, devemos dizer que Maria jamais ocupa o lugar de Jesus, mas realiza a mais radical abertura para ele e para o plano de Deus. Assim, a piedade mariana sadia sempre leva radicalmente a Jesus. É impressionante a respeito o testemunho de John H. Newman: “Não são as comunidades marcadas por grande piedade mariana que deixaram de adorar Jesus; mas isto aconteceu naquelas comunidades que deixaram de venerar Maria”. Para nossa grande surpresa, Lutero faz exatamente a mesma constatação: cf. Scheffczyk... V p 10, nota 18. o. c. p. 14). 7 3) Da Bíblia até um tratado completo de mariologia Sem explorar, aqui, os dados bíblicos, pretendemos partir dos marcantes textos escriturísticos, dispersos na Bíblia, para passar pela crescente descoberta da importância da figura de Maria no conjunto da fé, e chegar à formulação dos tratados marianos nos manuais da teologia. De fato, existe um silêncio em grande parte do NT. No entanto, há textos de surpreendente densidade, que colocam Maria no centro da obra soteriológica de Jesus. Quando Marcos se ateve à vida pública de Jesus, Mt e Lc acham indispensável abrir a perspectiva para dentro da história da infância de Jesus. Exatamente na história da infância de Jesus, eles veem, de modo condensado, a presença da história salvífica. Identificam, na íntima ligação de Maria com a obra salvadora, as condições reais dentro das quais Deus opera a salvação. Não só afetivamente, mas objetivamente, Maria está intimamente ligada ao agir soteriológico de Deus. o. c. p. 14). 8 Sob o crescente contato com heresias, já o NT formula cada vez mais, ao lado da Cruz e Ressurreição, o mistério da encarnação. Paulo, que tanto exalta a Cruz e a Ressurreição, fala com solenidade em Gl 4,4: “Quando veio a plenitude do tempo, Deus mandou o seu Filho, nascido de uma mulher, posto sob a lei, para salvar os que estavam sob a lei”. Assim, São João (1,14) diz, não apenas de modo genérico que o Verbo se fez homem, mas afirma com insistência: “O verbo se fez carne”. A carta aos Hebreus tematiza com palavras radicais a realidade da humanidade de Jesus, “que em tudo foi provado como nós, com exceção do pecado” (4,15). Os Padres apostólicos, numa grande experiência da fé, vêem as ameaças, pelas crescentes heresias, às verdades fundamentais da fé a respeito de Jesus Cristo. Esta radical defesa da Cristologia só é possível se existe clareza sobre Maria, mãe e virgem. Desde o ano70 (aproximadamente), Inácio é Bispo de Antioquia e, entre 1112 e 116, morrerá o martírio em o. c. p. 14). 9 Roma. Ele enfrenta dois grandes perigos que surgem para o cristianismo: - o judaísmo, que nega, dentro da Igreja, a divindade de Jesus, - a Gnose grega, penetrada na Igreja pela conversão de grandes pensadores gregos, nega a integridade da humanidade de Jesus. Inácio acentua a (dupla) origem de Jesus, “de Deus” e “de Maria”. Contra os hereges, “cães raivosos que mordem traiçoeiramente”, ele escreve: “Um é o médico, em carne e em espírito, gerado e não gerado, aparecendo na carne como Deus, na morte vida verdadeira,tanto de Maria como de Deus..., Jesus Cristo Senhor Nosso” (Ign. Eph 7,2). Com isso, Inácio de Antioquia esboça “in nuce” a futura doutrina mariológica em sua dimensão de íntima orientação para a cristologia e soteriologia. Formula a cristologia e soteriologia em contexto mariano. O nascer de Virgem está no centro de seu pensar. Justino (+165), ilustre filósofo grego, convertido ao cristianismo, apresenta-se como grande defensor do nascimento da Virgem, e é o primeiro a elaborar o o. c. p. 14). 10 paralelismo Eva – Maria, atribuindo a Maria uma função tão universal para a salvação do mundo como a Eva para a perda da graça. Irineu (+202) formou-se na convivência com Policarpo que, por sua parte, tinha sido amigo de Inácio de Antioquia. Destarte, em Irineu, a linha apostólica tem sua expressão alta. Ele luta, sob duas vertentes, contra inúmeras heresias: ‘- os ebionitas (os “pobres”, nome dos cristãos já em Rm 15,26; Gl 210). Eram judeu-cristãos, que negavam a divindade de Jesus. Afirmavam-no como filho de Maria e de José, embora adotado por Deus como filho adotivo. - contra Marquion, eminente gnóstico que aceitava somente o Evangelho de Lucas, embora purificado, isto é sem a história da infância de Jesus. Marquion nega o nascimento de Jesus, que apareceu como homem jovem. Nesta mesma linha, Irineu enfrenta muitos gnósticos, aos quais é comum a inimizado ao corpo e ao matrimônio. Admitem em Jesus um corpo só aparente (docetismo). Maria é vista como “canal”, pelo qual passou o ser de luz do céu. Maria pode ser Virgem, mas não é mãe. Irineu diz o. c. p. 14). 11 que “nenhum herege ensina que “o Verbo se fez carne”. Para Irineu, a humanidade de Jesus, intimamente ligada à maternidade de Maria, é verdade central. O “nascido da virgem Maria” torna-se centro e síntese da cristologia: - “nascidol” indica a natureza humana; - “da Virgem Maria” indica a divindade de Jesus, que só nasceu do Pai eterno, e não de pai humano (José). Surge aqui uma interrogação: se Jesus nasce sem pai terrestre então parece não ser um homem normal. Responde-se a essa objeção que também Adão é sem pai humano, e, todavia homem por excelência. Justino, Irineu e Tertuliano desenvolvem o paralelismo Eva // Maria. Textos de Tertuliano e Irineu descrevem a vitória de Deus pela Virgem que crê e se abandona, realizando-se assim o início da recuperação do mundo destruído pela virgem - Eva, que acolheu a palavra de Satanás. (cf Scheffczyk... p. 14). Aliás, já o NT foi levado pelas heresias nascentes a incentivar o mistério da encarnação. o. c. p. 14). 12 No século segundo, isto chegou a formulações solenes, que seriam norma e modelo para o futuro. A afirmação do nascer de Maria (de Inácio a Irineu) e o paralelismo Eva // Maria evidenciaram a centralidade da mariologia em Cristo. A Virgem – Mãe tem uma função única e incomparável: mostra a unidade divino-humana do Redentor. Maria, concebendo (de Deus, pelo Espírito) e gerando, colabora frontalmente com a redenção universal. Por sua fé, Maria é intercessora e, por sua obediência e abandono, “redime” a desobediência de Eva, virgem pecadora. É até chamada “causa de salvação”, aquela que “abre (desata) o nó”; ela é antítipo ativo contra a primeira Eva. Nela opera-se o novo início; ela é, para toda a humanidade, mãe da estirpe nova. Assim diz o Prefácio da Assunção de Maria: “pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou, de modo inefável, vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida”. O paralelismo Eva // Maria é decisivo para toda a mariologia. Numa certa evolução do pensamento, no século II, começa-se a aplicar à Igreja o paralelismo com o. c. p. 14). 13 Eva (2Clem 14; cf. Ef 5,29-32). Tertuliano chama a Igreja “Eva nova” (De carne Christi, 17). Daí resulta a analogia Igreja – Maria. No início do séclo IV, a partir de Niceia (325) insiste-se no título “Theotokos”(grego tokeús: aquele, aquela que gera: pai, mãe), especialmente contra Apollinarius, para afirmar que Deus tomou a forma toda, em corpo e alma, de homem. A real maternidade torna-se o argumento principal contra os arianos, contra Apollinarius e contra Nestórianos. Novas perguntas para a mariologia surgem com a eclosão , no ocidente, da pergunta pelo pecado original. Agostinho desejaria – propter honorem Domini – afirmar em Maria a liberdade do pecado original, mas não sabia colocar isso em harmonia com a necessidade universal de redenção. A partir do século VII, acentua-se no oriente a assunção de Maria ao céu, “por causa da divina maternidade”. Prova da importância de Maia na fé do povo e da Igreja em geral, o acelerado surgir, a partir do século 4º/ 5º, de preces e ricos hinos a Maria (Efrém + 373); o. c. p. 14). 14 Ildefonso de Toledo escreve verdadeiros tratados marianos. Depois do ano 1000 iniciam-se no Leste, e depois também no Oeste, tratados sistemáticos. Após o ano 1100 retoma-se a questão da Imaculada, a partir da sua cooperação com o Redentor e a partir da (crescente) certeza da Assunção. – Antigamente só Orígenes e Damasceno escreviam sistematicamente sobre o conjunto da fé. Agora, após 1100, Maria é colocada nesta visão sistemática e global. Pedro Canísio escreve, no século 16º, cinco volumes “De Maria Virgine incomparabili et Dei genetrice” (Ingolstatt 1577). As lendas antigas, que animavam a piedade popular, precisavam de orientação teológica. Desde o séc. 2º existiam lendas e escritos apócrifos, por exemplo sobre “transitus” etc. 1670 publicava a Religiosa franciscana Maria de Agreda, em Madrid, 4 volumes de supostas visões. Narra a vida de Maria no seio da mãe Ana, descreve os anos de infância... Surgiam escritos que descrevem a cor do rosto de Maria e de seus cabelos, ou até a beleza da veste do anjo Gabriel. o. c. p. 14). 15 Bernardo de Claravale, que muito promovia a mariologia, manifesta certo desequilíbrio em um ponto: Jesus Juiz divino representa a justiça; Maria, porém, é a misericórdia divina. Por isso, Pedro Canísio quer ater-se às fontes bíblicas (com alguma exceção sobre a infância de Maria). Os grandes teólogos da Escolástica, Alberto Magno (+1286). Boaventura (+ 127r4), Tomas (+ 1274), Duns Sctus (+ 1308) sabem unir a mariologia disciplinada por uma sadia teologia com a íntima piedade mariana. Diante da verdade de ser Jesus o Salvador universal, Tomas e Alberto Magno não conseguem integrar em sua visão a Imaculada Conceição. Mas começam a acentuar mais e mais a união operante de Maria com Jesus: a intimidade filial de Jesus com Maria, a mais profunda união do filho com a mãe, a única e inefável comunhão de Maria com Jesus, por ser sua mãe.- Fala-se que Maria, embora sem estar sob a maldição de Eva, deve ter morrido como Jesus. Percebe-se, cada vez mais, que não basta exaltar isoladamente, uns sublimes privilégios de Maria. É necessário procurar a sua unidade orgânica com o o. c. p. 14). 16 conjunto da fé. Em Scheffczyuk... V, 22-26 encontramos indicações ricas sobre a superação do racionalismo nos séculos 18 até 20. 4) O princípio fundamental: a destinação pessoal de Maria O princípio fundamental mão é uma idéia, da qual com lógica matemática, se pudesse deduzir o agir e o ser de uma pessoa. O princípio fundamental não é resultado de uma abstração, mas é o refletir sobre a vocação e o lugar na história salvífica, para assim chegar, das afirmações concretas da Bíblia, a um significado central e para levar os fieis à compreensão do plano de Deus. Este princípio deixa entender profundamente as afirmações concretas. M. J. Scheeben (+ 1888) tem mérito extrqaordináio na elaboração do “princípio fundamental” da mariologia. Fala em sua dogmática de três volumes de modo penetrante de Maia. Ela elabora a unidade da mariologia pela identificação de um “caráter sobrenatural pessoal” de Maria. Este caráter, pela eleição predestinação eternas, é inseparável de sua pessoa. o. c. p. 14). e 17 A Bíblia reconhece alta importância a esta eleição e predestinação divina sobre a nossa existência. Sl 139 (138),13-24: 13 “Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe. 14 Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis até o fundo a minha alma. 15 Nada de minha substância vos é oculto, quando fui formado ocultamente, quando fui tecido nas entranhas subterrâneas. 16 Cada uma de minhas ações vossos olhos viram, e todas elas foram escritas em vosso livro; cada dia de minha vida foi prefixado, desde antes que um só deles existisse. 17 Ó Deus, como são insondáveis para mim vossos desígnios! E quão imenso é o número deles!.... Perscrutai-me, Senhor, para conhecer meu coração; provai-me e conhecei meus pensamentos. 24 Vede se ando na senda do mal, e conduzi-me pelo caminho da eternidade.” Jer 1,4-5: 4 “Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: 5 Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações”. Is 44,24-45,6: 24 Eis o que diz o Senhor, teu Redentor, que te formou desde o seio de tua mãe: Sou eu, o Senhor, que fiz todas as coisas, sozinho estendi os céus. Firmei a terra: quem o. c. p. 14). 18 estava comigo?... 27 Digo ao abismo: Seca-te, vou estancar tuas torrentes. 28 Digo de Ciro: É meu pastor, executará em tudo a minha vontade. Falando de Jerusalém: Que seja reedificada! E do templo: Que seja reconstruído! 45.1 1 Eis o que diz o Senhor a Ciro, seu ungido, que ele levou pela mão para derrubar as nações diante dele, para desatar o cinto dos reis, para abrir-lhe as portas, a fim de que nenhuma lhe fique fechada: 2 Irei eu mesmo diante de ti, aplainando as montanhas,... 4 É por amor de meu servo, Jacó, e de Israel que escolhi, que te chamei pelo teu nome, com títulos de honra, se bem que não me conhecesses. 5 Eu sou o Senhor, sem rival, não existe outro Deus além de mim. Eu te cingi, quando ainda não me conhecias, 6 a fim de que se saiba, do levante ao poente, que nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem rival; Ef 1,3-4: 3 “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, 4 e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos”. o. c. p. 14). 19 Se isto vale para Jeremias, para Kyrus (Ciro), João Batista, Paulo, e para todo cristão, tanto mais isto vale para a mulher que está destinada a ser mãe do eterno Filho de Deus. O eterno destino da parte de Deus, é o princípio fundamental da mariologia. O Concílio Vaticano II, LG 55, pensando na divina predestinação de Maia, declara que Maria é “insinuada profeticamente na vitória sobre a serpente”, referindo-se ao Proto-evangelho Gn 3,15. Pio IX, na definição da Imaculada, e Pio XII no dogma da Assunção: Munificentissimus (DH 3902) realçam essa fonte bíblica de Gn 3,15 como ponto de referência ao princípio unitivo de toda a mariologia. Hoje, na procura do “organicamente todo” da mariologia, há duas tendências: - a cristologia: Maria no mistério de Jesus - a eclesiologia: Igreja o. c. p. 14). Maria, modelo, protótipo da 20 Quando falamos, no plano de Deus, da maternidade divina de Maria, é importante observar que não se pode tratar da maternidade em um sentido ocasional e simples, da concepção até a formação do jovem. Trata-se daquilo que determina o todo de Maria. Esta maternidade deve ser vista na destinação de Maria para a história salvífica. Seu ser mãe e virgem, são a característica essencial de todo o seu ser. Para Scheeben, o íntimo caráter pessoal de Maria é dado por sua destinação para uma única e singular participação na história salvífica. A íntima raiz de sua pessoa, no plano de Deus, é marcada por este destino para Cristo, em Cristo e com Cristo. Em protestantes que aceitam a divindade de Jesus, a maternidade de Maria atinge só a função da conceição até a formação do jovem. A Imaculada não é considerada, nem a virgindade perpétua. Seguindo a inspiração de Scheeben, queremos acentuar que a maternidade de Maria não é apenas uma função vital e singular, mas ela define e predestina a pessoa toda, em todo o seu ser, como destinada ao plano o. c. p. 14). 21 de salvação, isto é ao plano da encarnação e redenção. Maria, em todo o seu ser é caracterizada por sua “maternidade de esposa divina”, ou pela “esponsalidade divina da mãe” [“gottesbräutliche Mutterschaft”, ou “gottesmütterliche Brautschaft”]: cf. Scheffczyk... V, p.35). A esponsalidade significa a integral pertença recíproca de duas pessoas (“matrimonium divinum / connubium Verbi”). O caráter de “Esposa divina” juntamente com “mãe divina” é então a chave de toda a mariologia. A maternidade de Maria acontece pelo “Fiat” esponsal. Tornou-se mãe de Deus, porque tinha que ser protótipo (Urbild) da Igreja: esposa do Logos (Verbo divino). Nesta esponsalidade ela é modelo de todo cristão. Na p. 42 o livro de Scheffczyk... resume de modo luminoso que a maternidade tem em si algo de esponsal, porque não é só um receber, mas é disposição humana positiva operante, é contribuição ativa, desde o momento do conceber. Além disso, Maria não é mãe apenas de uma pessoa indivídua, mas pelo plano salvífico de Deus, ela é mãe da (pessoa que é) cabeça. E assim no plano de Deus ela é mãe do corpo. o. c. p. 14).