mariologia – aspectos fundamentais

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MARIOLOGIA – ASPECTOS FUNDAMENTAIS
(Karl Josef Romer– 06 03 2017)
A intenção desta apresentação1 é um delineamento de
questões básicas da mariologia e de sua importância na
Igreja. Colocaremos a piedade mariana popular sob a luz
da doutrina da Igreja. Questionaremos a mariologia no
conjunto global da teologia e seu conexo com questões
fundamentais da fé e conseqüentemente o seu princípio
fundamental. Como é que a relativa parcimônia de textos
marianos na Bíblia justifica o surgir dos tratados
sistemáticos sobre Maria?
1 Maria na fé viva da Igreja
O FATO:
Com amor piedoso, a Igreja celebra a mãe
de Deus. Na liturgia, seu nome está em pontos centrais: no
Credo e no Cânon da Missa. Muitas festas e dois meses no
ano são singularmente dedicados a ela. Semanas antes e
depois do Natal tematizam sua figura. Na arte, nota-se
uma impressionante riqueza de imagens, músicas e hinos.
Ordens, Cidades, Santuários têm seu nome. Lugares de
peregrinação mariana dão enorme força à fé do povo.
1
Como principal referência serve: CF. Leo Scheffczyk - Anton Ziegenaus, Katholische
Dogmatik, V Bd MM Verlag 1998.
2
O caráter da piedade mariana tem algo de alegre. Não
faltam temas de dor. Mas o caráter materno de Maria
alivia tudo. Em Maria a redenção não é só promessa, mas
cumprimento em forma humana.
SIGNIFICADO PASTORAL
O teólogo crítico Hans
Urs von Balthasar diz: “Sem Maria, o cristianismo,
despercebidamente, tende a tornar-se pura função, sem
alma, uma empresa estressante, ideologia, polêmica,
crítica, tudo amargo, sem humor e enfadonho. De uma tal
Igreja os homens fogem em massa (Klarstellungen,
Freiburg, ²1971,72). Na teol. Católica, Maria não pode
estar à margem. A Virgem-Mãe é o reflexo da constituição
divina-humana do Filho. Já Atanásio (+ 373) podia dizer:
o nascimento de uma Virgem é a prova mais evidente da
divindade de seu Filho (de incarn. 18).
2)
A
MARIOLOGIA
NO
CONJUTNO
DA
TEOLOGIA
MARIA e CRISTO
A
verdadeira
divindade
e
verdadeira humanidade e sua substancial unidade são
fixadas no Concílio de Éfeso (431) pelo título de
“Theotókos”, mãe de Deus. Este título mariano é, de
o. c. p. 14).
3
modo admirável, uma fórmula sintética da Cristologia.
Calcedônia deu a grandiosa formulação: O nascimento
duplo são duas colunas da fé. ”Nós ensinamos em total
concordância que Jesus Cristo deve ser confessado como o
único e o mesmo; o mesmo é perfeito em sua divindade; o
mesmo é perfeito em sua humanidade; o mesmo é
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem... O
mesmo foi gerado pelo Pai antes de todos os tempos e,
segundo sua natureza humana, no fim dos tempos e por
nossa salvação gerado de Maria, a Virgem” (DH 301; FC
4017).
MARIA - IGREJA
Maria tem também relação íntima
com a Igreja. Segundo Ambrósio (+ 397), ela é “typus
Ecclesiae”, por sua fé, seu amor e sua perfeita união com
Cristo (Expos. Lc III,7; PL 15,1555; cf. Vat II, LG 63).
Sem mácula ela recebeu, e sem reserva ela acolheu a
Palavra de Deus. Ela é a cela original da Igreja. “Maria é o
fruto mais sublime da redenção. Nela, a Igreja vê, como
numa imagem, aquilo que ela deseja e espera ser” (SC
103).
M. Schmaus (Kath. Dogmatik, Bd 5,1955,7) conclui:
„Na mariologia convergem... quase todas as linhas
o. c. p. 14).
4
teológicas,
as
cristológicas,
as
eclesiológicas,
as
antropológicas e as escatológicas. Por isso, na mariologia,
acontecem
opções/decisões
teológicas
que
são
significativas e decisivas para o todo de nossa fé.
De outro lado, cristologia, eclesiologia e graça têm
seu efetivo reflexo ma mariologia. Nela cristaliza-se a
auto-compreensão do ser cristão”.
O Concílio Vaticano II resume o significado
mariológico para toda a teologia nestas palavras: “Maria,
como entrou intimamente na história da salvação, une em
si e irradia os supremos mistérios da teologia” (LG 65).
Eventuais Críticas
De fato existe não raro certa restrição contra essa
eminente posição de Maria na teologia e na fé. As razões
de tal atitude negativa encontram-se antes de tudo em uma
insegurança na cristologia, onde se põe em dúvida a eterna
Filiação de Cristo e sua encarnação. Então, evidentemente,
a maternidade divina fica sem fundamento. Depois, certas
possíveis interrogações sobre textos bíblicos a respeito da
infância de Jesus levam alguns a duvidar da concepção
virginal de Maria e de sua virgindade perpétua. Também
o. c. p. 14).
5
há um questionável respeito ecumênico que tenta diminuir
o que a Bíblia fala sobe Maria. Outros ainda argumentam
que hoje existem temas mais candentes do que a piedade
mariana: Deus, Jesus Cristo, o homem com suas
interrogações. Alegam Unitatis Redintegratio do Concílio
Vat. II que fala da “hierarquia das verdades”.
Alguns tentam reduzir Maria a um simples “modelo” do
“tipo” de homem piedoso e aberto para Deus. A
virgindade é reduzida a uma generosa abertura diante do
divino. O resto, dizem, é questão biológica e sem
importância. A assunção é só o modelo para a esperança
de todos nós (Assim Hans Küng, Christ sein, Mü
1974,449).
Vários desses temas devem ser tratados nos
respectivos assuntos teológicos.
Aqui queremos sublinhar um aspecto de eventual
oposição à mariologia: “A hierarquia das verdades”. O
próprio Concílio Vaticano II, que criou essa expressão,
define-a de modo claro: “segundo o diverso modo de
conexão com o fundamento da fé cristã” (UR 11). No
o. c. p. 14).
6
entanto, Jesus é o fundamento e o centro da fé, e Maria
está-lhe ligada por ordem íntima.
A Igreja pode existir sem um Francisco de Assis, sem
uma Teresa de Ávila; ela já existia um milênio antes. Sem
Maria, porém, a Igreja não existe. Por seu Sim, Maria
torna-se mãe do Redentor. Sendo ela assim pressuposição
para a encarnação e redenção.
Quanto ao argumento que Maria parece ocupar o
lugar que pertence unicamente ao Cristo, centro e causa da
salvação, devemos dizer que Maria jamais ocupa o lugar
de Jesus, mas realiza a mais radical abertura para ele e
para o plano de Deus. Assim, a piedade mariana sadia
sempre leva radicalmente a Jesus. É impressionante a
respeito o testemunho de John H. Newman: “Não são as
comunidades marcadas por grande piedade mariana que
deixaram de adorar Jesus; mas isto aconteceu naquelas
comunidades que deixaram de venerar Maria”. Para nossa
grande surpresa, Lutero faz exatamente a mesma
constatação: cf. Scheffczyk... V p 10, nota 18.
o. c. p. 14).
7
3) Da Bíblia até um tratado completo de mariologia
Sem explorar, aqui, os dados bíblicos, pretendemos
partir dos marcantes textos escriturísticos, dispersos na
Bíblia,
para
passar
pela
crescente
descoberta
da
importância da figura de Maria no conjunto da fé, e chegar
à formulação dos tratados marianos nos manuais da
teologia.
De fato, existe um silêncio em grande parte do NT.
No entanto, há textos de surpreendente densidade, que
colocam Maria no centro da obra soteriológica de Jesus.
Quando Marcos se ateve à vida pública de Jesus, Mt e
Lc acham indispensável abrir a perspectiva para dentro da
história da infância de Jesus. Exatamente na história da
infância de Jesus, eles veem, de modo condensado, a
presença da história salvífica. Identificam, na íntima
ligação de Maria com a obra salvadora, as condições reais
dentro das quais Deus opera a salvação. Não só
afetivamente, mas objetivamente, Maria está intimamente
ligada ao agir soteriológico de Deus.
o. c. p. 14).
8
Sob o crescente contato com heresias, já o NT
formula cada vez mais, ao lado da Cruz e Ressurreição, o
mistério da encarnação.
Paulo, que tanto exalta a Cruz e a Ressurreição, fala
com solenidade em Gl 4,4: “Quando veio a plenitude do
tempo, Deus mandou o seu Filho, nascido de uma mulher,
posto sob a lei, para salvar os que estavam sob a lei”.
Assim, São João (1,14) diz, não apenas de modo
genérico que o Verbo se fez homem, mas afirma com
insistência: “O verbo se fez carne”. A carta aos Hebreus
tematiza com palavras radicais a realidade da humanidade
de Jesus, “que em tudo foi provado como nós, com
exceção do pecado” (4,15).
Os Padres apostólicos, numa grande experiência da
fé, vêem as ameaças, pelas crescentes heresias, às
verdades fundamentais da fé a respeito de Jesus Cristo.
Esta radical defesa da Cristologia só é possível se existe
clareza sobre Maria, mãe e virgem.
Desde o ano70 (aproximadamente), Inácio é Bispo
de Antioquia e, entre 1112 e 116, morrerá o martírio em
o. c. p. 14).
9
Roma. Ele enfrenta dois grandes perigos que surgem para
o cristianismo:
- o judaísmo, que nega, dentro da Igreja, a divindade
de Jesus,
- a Gnose grega, penetrada na Igreja pela conversão
de grandes pensadores gregos, nega a integridade da
humanidade de Jesus.
Inácio acentua a (dupla) origem de Jesus, “de Deus” e
“de Maria”. Contra os hereges, “cães raivosos que
mordem traiçoeiramente”, ele escreve:
“Um é o médico, em carne e em espírito, gerado e
não gerado, aparecendo na carne como Deus, na
morte vida verdadeira,tanto de Maria como de
Deus..., Jesus Cristo Senhor Nosso” (Ign. Eph 7,2).
Com isso, Inácio de Antioquia esboça “in nuce” a
futura doutrina mariológica em sua dimensão de íntima
orientação para a cristologia e soteriologia. Formula a
cristologia e soteriologia em contexto mariano. O nascer
de Virgem está no centro de seu pensar.
Justino (+165), ilustre filósofo grego, convertido ao
cristianismo, apresenta-se como grande defensor do
nascimento da Virgem, e é o primeiro a elaborar o
o. c. p. 14).
10
paralelismo Eva – Maria, atribuindo a Maria uma função
tão universal para a salvação do mundo como a Eva para a
perda da graça.
Irineu (+202) formou-se na convivência com
Policarpo que, por sua parte, tinha sido amigo de Inácio de
Antioquia. Destarte, em Irineu, a linha apostólica tem sua
expressão alta. Ele luta, sob
duas vertentes, contra
inúmeras heresias:
‘- os ebionitas (os “pobres”, nome dos cristãos já em
Rm 15,26; Gl 210). Eram judeu-cristãos, que negavam a
divindade de Jesus. Afirmavam-no como filho de Maria e
de José, embora adotado por Deus como filho adotivo.
- contra Marquion, eminente gnóstico que aceitava
somente o Evangelho de Lucas, embora purificado, isto é
sem a história da infância de Jesus. Marquion nega o
nascimento de Jesus, que apareceu como homem jovem.
Nesta mesma linha, Irineu enfrenta muitos gnósticos, aos
quais é comum a inimizado ao corpo e ao matrimônio.
Admitem em Jesus um corpo só aparente (docetismo).
Maria é vista como “canal”, pelo qual passou o ser de luz
do céu. Maria pode ser Virgem, mas não é mãe. Irineu diz
o. c. p. 14).
11
que “nenhum herege ensina que “o Verbo se fez carne”.
Para Irineu, a humanidade de Jesus, intimamente
ligada à maternidade de Maria, é verdade central. O
“nascido da virgem Maria” torna-se centro e síntese da
cristologia:
- “nascidol” indica a natureza humana;
- “da Virgem Maria” indica a divindade de Jesus, que
só nasceu do Pai eterno, e não de pai humano (José).
Surge aqui uma interrogação: se Jesus nasce sem pai
terrestre então parece não ser um homem normal.
Responde-se a essa objeção que também Adão é sem pai
humano, e, todavia homem por excelência.
Justino,
Irineu
e
Tertuliano
desenvolvem
o
paralelismo Eva // Maria. Textos de Tertuliano e Irineu
descrevem a vitória de Deus pela Virgem que crê e se
abandona, realizando-se assim o início da recuperação do
mundo destruído pela virgem - Eva, que acolheu a palavra
de Satanás. (cf Scheffczyk... p. 14).
Aliás, já o NT foi levado pelas heresias nascentes a
incentivar o mistério da encarnação.
o. c. p. 14).
12
No século segundo, isto chegou a formulações
solenes, que seriam norma e modelo para o futuro.
A afirmação do nascer de Maria (de Inácio a Irineu) e
o paralelismo Eva // Maria evidenciaram a centralidade da
mariologia em Cristo. A Virgem – Mãe tem uma função
única e incomparável: mostra a unidade divino-humana do
Redentor. Maria, concebendo (de Deus, pelo Espírito) e
gerando, colabora frontalmente com a redenção universal.
Por sua fé, Maria é intercessora e, por sua obediência e
abandono, “redime” a desobediência de Eva, virgem
pecadora. É até chamada “causa de salvação”, aquela que
“abre (desata) o nó”; ela é antítipo ativo contra a primeira
Eva. Nela opera-se o novo início; ela é, para toda a
humanidade, mãe da estirpe nova. Assim diz o Prefácio da
Assunção de Maria:
“pois preservastes da corrupção da morte aquela que
gerou, de modo inefável, vosso próprio Filho feito
homem, autor de toda a vida”.
O paralelismo Eva // Maria é decisivo para toda a
mariologia. Numa certa evolução do pensamento, no
século II, começa-se a aplicar à Igreja o paralelismo com
o. c. p. 14).
13
Eva (2Clem 14; cf. Ef 5,29-32). Tertuliano chama a Igreja
“Eva nova” (De carne Christi, 17). Daí resulta a analogia
Igreja – Maria. No início do séclo IV, a partir de Niceia
(325) insiste-se no título “Theotokos”(grego tokeús:
aquele, aquela que gera: pai, mãe), especialmente contra
Apollinarius, para afirmar que Deus tomou a forma toda,
em corpo e alma, de homem. A real maternidade torna-se
o
argumento
principal
contra
os
arianos,
contra
Apollinarius e contra Nestórianos.
Novas perguntas para a mariologia surgem com a
eclosão , no ocidente, da pergunta pelo pecado original.
Agostinho desejaria – propter honorem Domini – afirmar
em Maria a liberdade do pecado original, mas não sabia
colocar isso em harmonia com a necessidade universal de
redenção. A partir do século VII, acentua-se no oriente a
assunção de Maria ao céu, “por causa da divina
maternidade”.
Prova da importância de Maia na fé do povo e da
Igreja em geral, o acelerado surgir, a partir do século 4º/
5º, de preces e ricos hinos a Maria (Efrém + 373);
o. c. p. 14).
14
Ildefonso
de
Toledo
escreve
verdadeiros
tratados
marianos. Depois do ano 1000 iniciam-se no Leste, e
depois também no Oeste, tratados sistemáticos. Após o
ano 1100 retoma-se a questão da Imaculada, a partir da
sua cooperação com o Redentor e a partir da (crescente)
certeza da Assunção. – Antigamente só Orígenes e
Damasceno escreviam sistematicamente sobre o conjunto
da fé. Agora, após 1100, Maria é colocada nesta visão
sistemática e global. Pedro Canísio escreve, no século 16º,
cinco volumes “De Maria Virgine incomparabili et Dei
genetrice” (Ingolstatt 1577).
As lendas antigas, que animavam a piedade popular,
precisavam de orientação teológica. Desde o séc. 2º
existiam lendas e escritos apócrifos, por exemplo sobre
“transitus” etc.
1670 publicava a Religiosa franciscana Maria de
Agreda, em Madrid, 4 volumes de supostas visões. Narra a
vida de Maria no seio da mãe Ana, descreve os anos de
infância... Surgiam escritos que descrevem a cor do rosto
de Maria e de seus cabelos, ou até a beleza da veste do
anjo Gabriel.
o. c. p. 14).
15
Bernardo de Claravale, que muito promovia a
mariologia, manifesta certo desequilíbrio em um ponto:
Jesus Juiz divino representa a justiça; Maria, porém, é a
misericórdia divina.
Por isso, Pedro Canísio quer ater-se às fontes bíblicas
(com alguma exceção sobre a infância de Maria).
Os grandes teólogos da Escolástica, Alberto Magno
(+1286). Boaventura (+ 127r4), Tomas (+ 1274), Duns
Sctus (+ 1308) sabem unir a mariologia disciplinada por
uma sadia teologia com a íntima piedade mariana.
Diante da verdade de ser Jesus o Salvador universal,
Tomas e Alberto Magno não conseguem integrar em sua
visão a Imaculada Conceição. Mas começam a acentuar
mais e mais a união operante de Maria com Jesus: a
intimidade filial de Jesus com Maria, a mais profunda
união do filho com a mãe, a única e inefável comunhão de
Maria com Jesus, por ser sua mãe.- Fala-se que Maria,
embora sem estar sob a maldição de Eva, deve ter morrido
como Jesus. Percebe-se, cada vez mais, que não basta
exaltar isoladamente, uns sublimes privilégios de Maria. É
necessário procurar a sua unidade orgânica com o
o. c. p. 14).
16
conjunto da fé. Em Scheffczyuk... V, 22-26 encontramos
indicações ricas sobre a superação do racionalismo nos
séculos 18 até 20.
4) O princípio fundamental: a destinação pessoal de Maria
O princípio fundamental mão é uma idéia, da
qual com lógica matemática, se pudesse deduzir o agir e o
ser de uma pessoa. O princípio fundamental não é
resultado de uma abstração, mas é o refletir sobre a
vocação e o lugar na história salvífica, para assim chegar,
das afirmações concretas da Bíblia, a um significado
central e para levar os fieis à compreensão do plano de
Deus. Este princípio deixa entender profundamente as
afirmações concretas.
M.
J.
Scheeben
(+
1888)
tem
mérito
extrqaordináio na elaboração do “princípio fundamental”
da mariologia. Fala em sua dogmática de três volumes de
modo penetrante de Maia. Ela elabora a unidade da
mariologia pela identificação de um “caráter sobrenatural
pessoal”
de
Maria.
Este
caráter,
pela
eleição
predestinação eternas, é inseparável de sua pessoa.
o. c. p. 14).
e
17
A Bíblia reconhece alta importância a esta
eleição e predestinação divina sobre a nossa existência.
Sl 139 (138),13-24: 13 “Fostes vós que
plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me
tecestes no seio de minha mãe. 14 Sede bendito
por me haverdes feito de modo tão maravilhoso.
Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis
até o fundo a minha alma. 15 Nada de minha
substância vos é oculto, quando fui formado
ocultamente, quando fui tecido nas entranhas
subterrâneas. 16 Cada uma de minhas ações
vossos olhos viram, e todas elas foram escritas
em vosso livro; cada dia de minha vida foi
prefixado, desde antes que um só deles existisse.
17
Ó Deus, como são insondáveis para mim
vossos desígnios! E quão imenso é o número
deles!.... Perscrutai-me, Senhor, para conhecer
meu coração; provai-me e conhecei meus
pensamentos. 24 Vede se ando na senda do mal, e
conduzi-me pelo caminho da eternidade.”
Jer 1,4-5: 4 “Foi-me dirigida nestes termos a
palavra do Senhor: 5 Antes que no seio fosses
formado, eu já te conhecia; antes de teu
nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia
designado profeta das nações”.
Is 44,24-45,6: 24 Eis o que diz o Senhor, teu
Redentor, que te formou desde o seio de tua
mãe: Sou eu, o Senhor, que fiz todas as coisas,
sozinho estendi os céus. Firmei a terra: quem
o. c. p. 14).
18
estava comigo?... 27 Digo ao abismo: Seca-te,
vou estancar tuas torrentes. 28 Digo de Ciro: É
meu pastor, executará em tudo a minha vontade.
Falando de Jerusalém: Que seja reedificada! E
do templo: Que seja reconstruído!
45.1 1 Eis o que diz o Senhor a Ciro, seu ungido,
que ele levou pela mão para derrubar as nações
diante dele, para desatar o cinto dos reis, para
abrir-lhe as portas, a fim de que nenhuma lhe
fique fechada: 2 Irei eu mesmo diante de ti,
aplainando as montanhas,... 4 É por amor de meu
servo, Jacó, e de Israel que escolhi, que te
chamei pelo teu nome, com títulos de honra, se
bem que não me conhecesses. 5 Eu sou o Senhor,
sem rival, não existe outro Deus além de mim.
Eu te cingi, quando ainda não me conhecias, 6 a
fim de que se saiba, do levante ao poente, que
nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem
rival;
Ef 1,3-4:
3
“Bendito seja Deus, Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos
abençoou com toda a bênção espiritual em
Cristo, 4 e nos escolheu nele antes da criação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis,
diante de seus olhos”.
o. c. p. 14).
19
Se isto vale para Jeremias, para Kyrus (Ciro), João
Batista, Paulo, e para todo cristão, tanto mais isto vale
para a mulher que está destinada a ser mãe do eterno Filho
de Deus. O eterno destino da parte de Deus, é o princípio
fundamental da mariologia.
O Concílio Vaticano II, LG 55, pensando na divina
predestinação de Maia, declara que Maria é “insinuada
profeticamente na vitória sobre a serpente”, referindo-se
ao Proto-evangelho Gn 3,15.
Pio IX, na definição da Imaculada, e Pio XII no
dogma da Assunção: Munificentissimus (DH 3902)
realçam essa fonte bíblica de Gn 3,15 como ponto de
referência ao princípio unitivo de toda a mariologia.
Hoje, na procura do “organicamente todo” da
mariologia, há duas tendências:
- a cristologia: Maria no mistério de Jesus
- a eclesiologia:
Igreja
o. c. p. 14).
Maria,
modelo,
protótipo
da
20
Quando falamos, no plano de Deus, da maternidade
divina de Maria, é importante observar que não se pode
tratar da maternidade em um sentido ocasional e simples,
da concepção até a formação do jovem. Trata-se daquilo
que determina o todo de Maria. Esta maternidade deve ser
vista na destinação de Maria para a história salvífica. Seu
ser mãe e virgem, são a característica essencial de todo o
seu ser.
Para Scheeben, o íntimo caráter pessoal de Maria é
dado por sua destinação para uma única e singular
participação na história salvífica. A íntima raiz de sua
pessoa, no plano de Deus, é marcada por este destino para
Cristo, em Cristo e com Cristo.
Em protestantes que aceitam a divindade de Jesus, a
maternidade de Maria atinge só a função da conceição até
a formação do jovem. A Imaculada não é considerada,
nem a virgindade perpétua.
Seguindo a inspiração de Scheeben, queremos
acentuar que a maternidade de Maria não é apenas uma
função vital e singular, mas ela define e predestina a
pessoa toda, em todo o seu ser, como destinada ao plano
o. c. p. 14).
21
de salvação, isto é ao plano da encarnação e redenção.
Maria, em todo o seu ser é caracterizada por sua
“maternidade
de
esposa
divina”,
ou
pela
“esponsalidade divina da mãe” [“gottesbräutliche
Mutterschaft”, ou “gottesmütterliche Brautschaft”]: cf.
Scheffczyk... V, p.35).
A esponsalidade
significa a
integral
pertença
recíproca de duas pessoas (“matrimonium divinum /
connubium Verbi”). O caráter de “Esposa divina”
juntamente com “mãe divina” é então a chave de toda a
mariologia. A maternidade de Maria acontece pelo “Fiat”
esponsal. Tornou-se mãe de Deus, porque tinha que ser
protótipo (Urbild) da Igreja: esposa do Logos (Verbo
divino). Nesta esponsalidade ela é modelo de todo cristão.
Na p. 42 o livro de Scheffczyk... resume de modo
luminoso que a maternidade tem em si algo de esponsal,
porque não é só um receber, mas é disposição humana
positiva operante, é contribuição ativa, desde o momento
do conceber. Além disso, Maria não é mãe apenas de uma
pessoa indivídua, mas pelo plano salvífico de Deus, ela é
mãe da (pessoa que é) cabeça. E assim no plano de Deus
ela é mãe do corpo.
o. c. p. 14).
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