Administração de Empresas Administração Financeira II 6º Semestre Decisões de Investimentos e Orçamento de Capital Prof. Msc. Rogério Pousa 2009 1.3 Análise de Investimentos 1.3.1 Investimento Incremental Suponha-se a existência de dois projetos de investimentos A e B, com escalas de investimentos diferentes, nas seguintes condições: Investimentos mutuamente excludentes Recursos disponíveis: $ 350,000,00 Taxa de atratividade: 15% a.a. Fluxo de caixa dos projetos: Projetos A B Investimento Inicial (150.000) (350.000) Benefícios líquidos de caixa Ano 1 Ano 2 Ano 3 55.000 80.000 100.000 120.000 180.000 220.000 Com base no fluxo de caixa dos projetos, tem-se os seguintes dados: Projetos A B IL 1,1605 1,1003 TIR 23,53% a.a 20,38% a.a VPL $ 24.069 $ 35.107 A melhor alternativa de investimento é o projeto B, pois apesar de apresentar o IL e a TIR menores do que a alternativa A, apresenta o VPL maior. Para melhor compreender esse efeito, pode-se extrair o fluxo de caixa incremental (diferença entre o maior e o menor valor do projeto) do projeto B e calcular a sua TIR. Se o fluxo de caixa dos projetos A e B for igualado, qualquer método (IL, TIR ou VPL) aplicado apresentará os resultados idênticos para os dois projetos. Fluxo de caixa incremental: Projeto B-A Investimento Inicial (200.000) Benefícios líquidos de caixa Ano 1 Ano 2 Ano 3 65.000 100.000 120.000 O fluxo de caixa incremental apresenta a TIR de 17,98% (maior do que q taxa mínima de atratividade) e VPL de $ 11.038,00. Se se somar esse VPL ao VPL da outra parte do fluxo de caixa do projeto B, ter-se-á o VPL de $ 35.107,00 Se fosse implementado o projeto A, ele geraria o VPL de $ 24.069,00. Os $ 200.000,00 de recursos ociosos seriam aplicados no mercado financeiro à taxa de 15% a.a. Se se descontar o fluxo de caixa gerado por essa aplicação financeira à taxa de atratividade de 15% a.a., ter-se-á exatamente o valor presente de $ 200.000,00 que somado ao investimento inicial produzirá um VPL nulo. A soma do VPL do projeto A com o VPL da aplicação financeira será, então, de $ 24.069,00 1.3.2 Projetos com Durações Diferentes Sejam os projetos: Projetos A B Investimento Inicial (100.000) (100.000) Benefícios líquidos de caixa Ano 1 Ano 2 Ano 3 55.000 80.000 30.000 40.000 80.000 2 As TIRs e os VPLs dos projetos são: Projetos A B TIR 21,07% a.a. 19,50 % a.a. VPL $ 8.318 $ 8.934 Os dados são conflitantes. Pela TIR, o projeto A é melhor, porem o VPL do projeto B é maior. Quando existem dois ou mais projetos de investimentos com durações diferentes, podem ser utilizados diversos critérios para equalizar suas vidas úteis. Critério 1: Re-investimento do VFL da alternativa A com a taxa de atratividade Esse critério pressupõe que a empresa consegue reinvestir o VFL auferido pelo projeto A a uma taxa idêntica à taxa de atratividade até o ano 3. No final do ano 2, ter-se-á o seguinte VFL: Ano 0 1 2 VFL (ano 2) Valores correntes (100.0000) 55.000 80.000 Em valor do ano 2 (132.250) 63.250 80.000 11.000 Se se reinvestir o VFL de $ 11.000, à taxa de 15% a.a., ter-se-á $ 12.650 no ano 3. Assim, tem-se: Projetos A B TIR 21,07% a.a. 19,50 % a.a. VPL $ 12.650 $ 13.588 Os resultados calculados significam que o final do ano 3 ter-se-á $ 12.650 (em valor do ano 3) se for implementado o projeto A. Se for implementado o projeto B, nessa mesma data, ter-se-á o valor de $ 13.588, que é superior a outro. Critério 2: Re-investimento do fluxo de caixa dos projetos pelo período do MMC Esse critério parte da premissa de que a empresa consegue reinvestir em ativos similares, com a suposição de que os ciclos de cada projeto se repetirão até atingir o prazo calculado pelo mínimo múltiplo comum (MMC). MMC = 6 anos, pois o projeto A ocorre três vezes, enquanto o projeto B ocorre duas vezes no período comum. 3 Por esse critério, tem-se: Projetos A B TIR 21,07% a.a. 19,50 % a.a. VPL $ 19.362 $ 14.808 Conclusão: Se os projetos não forem mutuamente excludentes, considerando-se a taxa mínima de atratividade de 15% a.a., os dois poderiam ser implementados. Pelos cálculos demonstrados, nota-se que a avaliação pelo método do VFL (ou pelo método do VPL) é tecnicamente superior ao método TIR, quando os projetos que estão sendo avaliados não apresentam a mesma duração. O critério de re-investimento do fluxo de caixa dos projetos pelo período de MMC apresenta como projeto com melhor retorno em termos de TIR e de VPL o projeto A. Esse resultado é valido, desde que a empresa consiga efetivamente “repetir” o fluxo de caixa dos projetos. Esse critério pode ser utilizado, em alguns casos, para períodos curtos (de alguns meses ou semanas), pois a previsibilidade das condições econômicas e financeiras é bem maior. 1.3.3 Substituição de Equipamentos Foram adquiridos dois equipamentos de informática por $ 50.000 cada, há dois anos. Esses equipamentos apresentam uma vida útil estimada em cinco anos e o valor residual de $ 5.000 cada ao final da vida útil. Os custos operacionais de processamento são orçados em $ 36.000 por ano para os dois equipamentos. A empresa recebe uma proposta de substituição dos equipamentos antigos por um novo equipamento, cujo preço é de $ 80.000 e tem vida útil estimada de quatro anos e o valor residual de $ 15.000. A vantagem do novo equipamento PE que um único modelo substitui os dois equipamentos antigos e, portanto, os custos operacionais ficam reduzidos para $ 14.000 por ano. Para concretizar o negocio, o vendedor aceita comprar os dois equipamentos antigos pelo preço total de $ 20.000. A decisão de substituição pode ser tomada com base em valor uniforme equivalente (VUE), considerando a taxa de atratividade de 15% a.a. 4 Equipamento antigo Continuando com os equipamentos antigos, ter-se-ão, ainda, os seguintes custos operacionais e o valor residual. Como os custos operacionais estão expressos em VUE, primeiramente, transforme-se o valor residual em VUE, utilizando as seguintes teclas das calculadoras financeiras: N = 3 (do ano 2 até o ano 5) i = 15% a.a. VF = $ 10.000 (valor residual) PMT ? Fornecendo três variáveis, obtém-se o PMT de $ 2.880 Em VUE, tem-se o seguinte custo operacional liquido: Custo operacional anual: ............... $ 36.000 Valor residual: ............................... ($ 2.880) Custo operacional anual líquido ..... $ 33.120 Equipamento Novo O equipamento novo vai gerar o seguinte fluxo de caixa, durante sua vida útil: Podem-se calcular de uma só vez os VUEs do investimento inicial líquido e do valor residual. E somá-los com o novo custo operacional anual de $ 14.000,00 N=4 i = 15% a.a. VP = $ 60.000 VF = $ 15.000 PMT ? Ter-se-á, então o seguinte custo operacional anual liquido: $14.000 + $18.012 = $32.012. Caso se façam os cálculos individualmente para o investimento inicial liquido e para o valor residual, ter-se-ão os seguintes números: Custo operacional anual: ............... $ 14.000 Investimento inicial: ....................... $ 21.016 Valor residual: ............................... ($ 3.004) Custo operacional anual líquido ..... $ 32.012 5 Conclusão: A substituição do equipamento gera uma ligeira redução do custo operacional anual liquido. Note-se que, no caso do equipamento antigo, não é considerado o fluxo de caixa ocorrido até o instante da troca, pois os eventuais dispêndios ou benefícios de caixa ocorridos até esse instante não podem ser afetados pelas decisões tomadas a partir desse instante. 1.3.4 Limitações do Método da TIR O método da TIR tem limitação para avaliar investimentos, pois considera que a taxa de juros da aplicação financeira é a mesma do financiamento. A TIR do seguinte projeto de investimento é 8,84% a.a., o que significa que é aplicada a taxa de juros de 8,74% a.a., tanto para o financiamento como para a aplicação financeira. Ano Fluxo de Caixa Líquido 0 1 2 3 4 5 (20.000) 60.500 41.000 50.000 (62.000) 19.500 Portanto, o VPL (ou VFL) desse fluxo de caixa é zero, à taxa de retorno de 8,84% a.a., mas a taxa de juros de aplicação financeira é, via de regra, menor do que a taxa de financiamento. Suponha-se que a taxa de financiamento seja de 8.84% a.a., mas a taxa de aplicação, de 7,5% a.a. Na pratica, como os juros são calculados sobre o saldo acumulado (devedor ou credor) do período anterior, se calcularmos os juros com a taxa de 7,5% a.a. para a aplicação e de 8.84% a.a. para o financiamento, teremos o VFL negativo de $ 2.542, o que indica que o retorno do projeto está abaixo da taxa de retorno desejada, pois ao final do projeto a empresa teria que “tapar o buraco”, no valor de $2.542, em valor do ano 5, conforme o fluxo de caixa: Ano 0 1 2 3 4 5 Fluxo de caixa líquido (20.000) 60.500 41.000 (50.000) (62.000) 19.500 Juros 0 (1.768) 2.905 6.198 2.913 (1.790) Saldo acumulado (20.000) 38.732 82.637 38.835 (20.252) (2.542) Taxa de juros 8.84% 7,50% 7,50% 7,50% 8.84% A avaliação de um investimento deve levar em consideração as diferentes taxas de juros para a aplicação e para o financiamento, utilizando o método do VPL ou do VFL. No exemplo apresentado, o saldo acumulado inicial é negativo, pois houve saída de dinheiro. A cobertura do saldo de caixa negativo se dá por meio de empréstimo, pois o saldo de caixa nunca será negativo, na pratica. Portanto, no ano 1, paga-se juro sobre o empréstimo de $ 20.000 captado no ano 0. Com a entrada liquida de $ 60.500, paga-se o empréstimo de $ 20.000 e juro de $ 1.768 (8,84% a.a.), restando $ 38.732, que renderá juro de $ 2.905 (7,5% a.a.), no ano seguinte, e assim por diante. 6 1.4 Exercícios a) O Sr. José possui recursos no valor de R$ 400.000, que pretende investir a longo prazo. Caso aplicasse o dinheiro no mercado financeiro, receberia 20% a.a., mas ele tem a alternativa de investir em dois projetos (A e B), aparentemente interessantes. No papel de consultor financeiro, avalie os investimentos e oriente o Sr. José para investir em alternativa mais rentável, calculando a taxa interna de retorno (TIR) dos projetos. Ano Projeto A Projeto B Investimento inicial 1 2 3 4 5 Total (150.000) 38.000 47.500 72.000 54.500 58.000 120.000 (150.000) 24.500 28.000 53.000 72.000 97.500 125.000 b) O Sr. José deseja saber em quanto tempo cada um dos projetos (A e B, do exercício anterior) dará retorno do capital. Responda após calcular os benefícios líquidos de caixa em valor presente, descontando os valores correntes com a taxa de atratividade de 20% a.a. c) Continuando com os dados do exercício anterior, suponha que exista mais um projeto (projeto C), com o investimento inicial no valor de R$ 350.000, que apresenta taxa de retorno de 20,7% a.a. O projeto parece interessante, pois apresenta taxa de retorno maior que a taxa de atratividade, de 20% a.a., mas não seria possível investir simultaneamente nos dois projetos (A e C), pois sua soma seria superior ao valor dos recursos de que o Sr. José dispõe. Portanto, os projetos A e C são mutuamente excludentes. Oriente novamente o Sr. Jose a fazer a melhor escolha, analisando os investimentos pela TIR e pelo VPL, utilizando a técnica de investimento incremental, sabendo-se que as entradas liquidas de caixa em valores correntes estimadas são de R$ 114.000, R$ 118.000, R$ 108.000, R$ 120.000 e R$ 144.000, respectivamente, para os anos 1 a 5. d) Agora, revisando o cenário econômico dos próximos anos, chegou-se a conclusão de que a rentabilidade média das aplicações financeira dos próximos cinco anos dificilmente ultrapassará 18% a.a., enquanto os projetos de investimentos poderiam gerar o fluxo de caixa liquido originalmente projetado. Em função do novo cenário econômico, avalie novamente os projetos A e C, do exercício anterior, utilizando a nova taxa de atratividade. e) Considerando os dados do exercício anterior, caso o Sr. José optasse pelo investimento no projeto A e, em conseqüência dessa decisão, aplicasse o valor excedente de R$ 200.000 no mercado financeiro, à taxa de juros de 18% a.a., qual seria a soma dos VPLs do projeto A e aplicação financeira? 1.5 Bibliografia HOJI, Masakasu. Administração Financeira. Uma abordagem prática. 5ª edição. São Paulo: Atlas, 2006. GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 10ª edição. São Paulo: Perarson, 2006. 7