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“OS DRAGÕES DA MENTE”
Este título lembra o livro “Os Dragões do Éden”, do conhecido escritor
de ficção, o americano Carl Sagan, autor da série “Cosmos”. Além de
consagrado escritor, Sagan foi, também, físico e biólogo. O seu Best
seller “Os Dragões do Éden”, foi lançado há alguns anos no Brasil e
traduz uma perfeita analogia dos processos cerebrais e mentais do
homem, com a conduta instintiva dos animais que nos precederam
durante a evolução das espécies, de acordo com a teoria evolucionista.
O grande escritor e cientista utilizou-se de convincentes comparações
entre o desenvolvimento do cérebro e da mente com as aquisições
neuronais dos nossos ancestrais irracionais, desde o aparecimento dos
seres vivos, há alguns bilhões de anos. Por ser mais conhecido como
ensaísta de ficção, o livro de Sagan não despertou na comunidade
científica o interesse que merecia, tendo sido considerado por alguns,
como mais uma de suas obras de ficção. A história do Homem está
contida em seu cérebro e o desenvolvimento deste exigiu, pelo menos,
um percurso de 500 milhões de anos. Para atingir a complexidade do
nosso órgão do pensamento, a natureza sacrificou um incontável
número de organismos, em infindáveis experiências de “ensaio-e-erro”.
Passamos por sucessivas etapas evolucionárias, desde as
macromoléculas, protozoários, celenterados, platelmintos e cordados.
Evoluímos para os vertebrados, passando pelos peixes, anfíbios, aves,
répteis e mamíferos. Continuamos, até atingir os primatas, em cuja
vizinhança encontramos hoje apenas os macacos, esses nossos parentes
mais próximos. Quando atingimos o estágio dos vertebrados, há
milhões de anos atrás, o cérebro ganhou o Córtex; a camada externa
de células (que lhe deu a cor cinza), proporcionando-lhe a capacidade
de analisar os estímulos do meio ambiente. O cérebro, assim
enriquecido, deixava de ser instintivo e impulsivo. Peixes, anfíbios,
répteis e aves, passaram a ter alguma “consciência” de seu habitat.
Foi nos mamíferos que a capacidade analítica mais evoluiu,
principalmente com os Primatas ( macacos e homens ), com uma nova
aquisição cerebral, que foi o novo cérebro (neocórtex), resultado do
espessamento daquela camada cerebral externa, efetuando assim, uma
verdadeira revolução no comportamento animal, em decorrência da
formação da consciência, principalmente nos humanos. O cérebro é o
resultado mais aprimorado da evolução biológica. Ele é o efeito mais
feliz desse aperfeiçoamento de bilhões de anos, cuja finalidade foi a de
preservar a vida em um ambiente cada vez mais hostil e competitivo.
Entretanto, como veremos a seguir, parece que houve um
desvirtuamento do projeto evolucionista; pois, infelizmente, muitos
humanos, hoje, continuam a se comportar de forma instintiva e
animalesca.
O cérebro tornou-se o maior causador da sua própria extinção e a do
seu meio ambiente, através da desestruturação da sua mente;
justamente esta que foi a mais extraordinária capacidade adquirida
pelos mamíferos quando desenvolveu o Neocórtex. O homem, a quem
cabe o peso da responsabilidade dessa destruição maciça e sistemática,
recebeu do seu neocórtex mais desenvolvido, o mais elevado nível de
consciência, dotando-lhe das faculdades do pensamento abstrato, da
razão, do raciocínio, da análise, da predição e do seu vasto potencial de
memória, estimado em cerca de 10 elevados a 30 bits de dados. A
mente se desenvolveu no homem a fim de melhor adequá-lo ao seu
planeta e, assim, viver bem consigo, com os demais seres e com o seu
meio ambiente. Entretanto, criou-se um paradoxo! É justamente a
mente que está em vias de destruir, não só o seu portador, como,
também, a própria terra, com todos os seres viventes. Os meios de
comunicação nos trazem com freqüência as notícias e as imagens da
destruição do homem pelo homem.
A todo o momento tomamos conhecimento das atrocidades praticadas
por aquele que se auto-rotulou, vaidosamente, de “sapiens sapiens”;
isto é, sábio em dobro! A ferocidade do homem contra o seu
semelhante não tem limites. Cada vez mais agride a sua própria
espécie com requinte crescente de bestialidade. Não é só contra a sua
própria espécie que ele investe com fúria e insanidade. Todo o
ecossistema é vítima deste seu furor destrutivo. Além disso, o “animal
racional” está levando a destruição a outros planetas, gastando somas
incalculáveis com delírios paranóicos de dominar o Cosmo; enquanto
muitos milhões de seus semelhantes sofrem e morrem por lhes faltarem
um mínimo de alimento.
Por que o homem age de maneira tão irracional, praticando toda
espécie de crueldade com os demais seres? Por que é ele capaz de
realizar feitos grandiosos como dar a vida por seu semelhante,
sacrificar-se por ideais nobres, compor as mais belas sinfonias,
escrever os mais emocionantes poemas e erigir as maiores obras de
arte? Muito embora, na atualidade, quase não existem mais pessoas
capazes destas façanhas; cremos que ainda há um punhado dessas
pessoas de espírito nobre (os heróis estão quase todos mortos e não há
mais motivação para sê-los!). A incoerência tem sido marcante no
comportamento humano. O dualismo afetividade-agressividade tem
sido uma constante no seu modo de vida. Consciência e inconsciência
se alternam periodicamente na conduta dos humanos, desde que
evoluiu dos insetívoros, há cerca de 100 milhões de anos. Antes, era
somente instintivo, impulsivo e agressivo; tal como muitos dos seus
progenitores. O neocórtex foi capaz de frear seus instintos animalescos,
através de um controle vertical de seus neurônios, sobre as estruturas
subcorticais embaixo dele no encéfalo.
Com o desenvolvimento do nosso cérebro, as suas partes inferiores
pertencentes aos nossos ancestrais ferozes, como cobras, lagartos,
jacaré, leões, lobos, hienas, etc., foram sendo recobertas pelas camadas
evolucionárias mais recentes, sendo totalmente envolvidas pelo enorme
tamanho dos dois hemisférios e o seu envoltório cortical. Como já
falamos acima, este foi o estágio final até os nossos dias. O cérebro, no
decurso da evolução, modificou-se crescendo e se estruturando de
dentro para fora e de baixo para cima, por meio da superposição de
camadas e estruturas neuronais. Podemos afirmar que ele é hoje a
somatória das estruturas dos cérebros das espécies animais que nos
precederam.
As estruturas internas responsáveis pelo comportamento daqueles
seres animalescos continuam ainda em atividade dentro de cada um de
nós, controladas pelos neurônios do neocórtex, através de impulsos
elétricos de cima para baixo. De baixo para cima, dentro do encéfalo
humano, as estruturas primárias (arcaicas) enviam impulsos para o
alto, alcançando a camada neuronal pensante (camada recente), a fim
de fazer valer seus instintos irracionais, muitos deles geneticamente
programados. Quase sempre esses impulsos são rechaçados ou
neutralizados, dissipando desejos inconvenientes e negativos que iriam,
caso fossem postos em prática, causar prejuízos ao seu portador e aos
demais. Somos seres impulsivos e racionais ao mesmo tempo. Ora nos
comportamos como irracionais, quando somos compelidos pelos
impulsos dos “dragões” que residem enjaulados em nosso inconsciente
e ora nos conduzimos como seres humanos, pela lógica presente em
nosso córtex consciente.
O equilíbrio psicofísico encontra-se na capacidade de o consciente
(córtex cerebral) controlar os impulsos instintivos inconscientes
emanados das estruturas profundas do sistema nervosos central. Sob o
prisma evolutivo, proposto pelo notável neurocientista Mac Lean ,em
1970, o cérebro humano mantém três estratificações neuronais,
pertinentes ao dos répteis, dos primeiros mamíferos e dos mamíferos
atuais. O estrato mais antigo, o cérebro reptiliano, é representado em
nós pela porção alta do tronco encefálico e os gânglios de base. Engloba
partes como a formação reticular e mesencéfalo. O cérebro dos répteis
coordena comportamentos tais como o acasalamento, a procriação, a
vida gregária, a predação, etc. Estas estruturas primitivas respondem
também pela fisiologia de nosso organismo, bem como pela regulação
do sono e da vigília. Este primeiro cérebro é programado pelas
instruções dos genes, tal como ainda programam o cérebro dos répteis
atuais.
Com o correr de milênios, uma nova estratificação veio cobrir o
cérebro dos répteis. Sobre ele, a evolução acrescentou uma camada que
lhes deu as características dos mamíferos. Em conseqüência disso,
apareceram os primeiros animais que dependiam da amamentação.
Nessa nova estrutura cerebral, surgiram porções encefálicas
responsáveis pelo comportamento emocional, como o sistema límbico,
representado em nós pelo giro cíngulo, istmo, hipocampo, hipotálamo e
outros, além do comportamento emocional, o sistema límbico importa
nas funções da memória. Por último, na evolução do cérebro dos
mamíferos inferiores até ao homem, foi-lhe acrescido o cérebro dos
mamíferos superiores. Nesta última porção desenvolveram-se nos
humanos, de forma exuberante, os dois hemisférios (telencéfalos)
cerebrais que praticamente cobriram todas as demais estruturas
“subalternas”. Soma-se a isto uma maior espessura do córtex
formando o neocórtex, as áreas de associação mais desenvolvidas na
frente do cérebro (córtex frontal e pré-frontal) e a imensa rede de
intercomunicação entre os neurônios.
Estas inovações deram ao homem a capacidade ímpar da linguagem
articulada, do raciocínio lógico e da abstração, capazes de fazê-lo
lembrar-se do passado, analisar o presente e planejar o futuro
(previdência), modificando-os conforme os seus interesses e
necessidades vitais. Adquiriu ele a capacidade de controlar os instintos
e através de sua inteligência deixou de ser dirigido por seus impulsos
bestiais e cegos. A Razão e a Inteligência passaram a ser a sua
característica principal, distinguindo-o dos demais animais que o
precederam na Evolução. Com a descoberta da escrita, o homem
revolucionou a Vida, transmitindo aos seus descendentes e aos demais,
o conhecimento que ia adquirindo. Agora, não era mais necessário que
cada um aprendesse isoladamente e “quebrando a cabeça”, o que o
outro ia aprendendo. Não mais precisava aprender com a repetição dos
erros do seu passado vivenciado com sofrimento, dores e riscos; tal
como ainda o fazem os outros animais ( e muitos de nós). Entretanto, a
maioria dos homens vem apresentando um comportamento que
contradiz essa extraordinária evolução cerebral, conduzindo-se ora,
como verdadeiras Bestas; ora, como Homens Racionais! É notória a
conduta paradoxal dos seres humanos. Preocupam-se com a sorte de
algumas baleias encalhadas, unindo-se para salvá-las e gastando
fortunas; enquanto permanecem insensíveis ao sofrimento crônico de
milhões de outros de sua própria espécie. É incontável o número das
vítimas do homem.
O comportamento deste animal racional com relação ao seu irmão e o
seu meio ambiente tem sido cada vez mais pautado por violência
crescente que chega a ser um ultraje aos bichos, compará-lo a um
irracional. Porque se comporta assim, se é dotado de inteligência,
consciência e razão ? Porque destrói, sistematicamente a si, aos demais
e o seu habitat? Alguns afirmam que o homem nasce “bom”, a
sociedade é que o corrompe. Outros dizem que já nascemos “maus”,
sendo o homem perverso por natureza, por imposição genética. Ambas
as afirmações são ingênuas, com traços de veracidade. A ingenuidade
está nos conceitos de “mau” e “bom”, que têm conotação de avaliação
moral. O cérebro não é bom e nem mau; ele é apenas fisiológico. Se as
suas estruturas anatômicas e o seu funcionamento estão dentro dos
parâmetros da normalidade biológica, ele é sadio e normal, prestandose às expectativas para as quais foi desenvolvido. Caso escape dessas
exigências naturais biológicas, ele é doente e anormal.
Cérebro anormal gera uma mente desestruturada, pois esta se regula
pela organização anatômica e bioquímica dos conteúdos daquele. São
inúmeros os fatores que danificam o cérebro e a mente, quer de forma
passageira ou permanente. Microorganismos, traumatismos físicos e
psíquicos, hábitos negativos de vida,ausência de conhecimentos , falta
de cultura, poluição,genética,alimentação,educação,condicionamentos,
etc. Relembrando a evolução do cérebro, desde os primeiros neurônios
surgidos há muitos milhões de anos até o nosso cérebro atual; vimos
que as velhas estruturas cerebrais de nossos antepassados ferozes ou
mansos, foram sendo encobertos por novas estratificações de células
nervosas, até atingir o estágio atual,onde o crescimento de baixo para
cima e de dentro para fora, deu o enorme tamanho e complexidade ao
cérebro do homem. É importante sabermos que as suas camadas
inferiores, que são os substratos genéticos daqueles animais, não foram
desativados ou isolados dentro do nosso encéfalo. Pelo contrário, elas
continuam ativas, gerando os seus impulsos eletroquímicos, nem
sempre condizentes com o comportamento social humano. Essas
estruturas subcorticais (embaixo do córtex ou neocórtex) estão
estreitamente ligadas às demais partes encefálicas; desta forma a
filogenia se comunica intensa e intimamente com a ontogenia.
O cérebro é todo interligado e os seus neurônios formam uma rede tão
intensa de comunicação através de seus fios condutores (axônios e
dendrites) que, dizem alguns autores, se forem colocados em linha reta,
em forma de fita, perfazeriam a distância de ida e volta da Terra à
Lua. A quantidade de ligações dentro de um só cérebro é de
aproximadamente 10X10 elevados a nona potência. Imaginemos este
número fantástico de comunicação entre neorônios representativos de
homens, cobras, ratos, lagartos, leões, gorilas, cachorros, gatos, hienas,
coelhos, cavalos, urubus, toupeiras, tubarões, porcos, etc.! É
extremamente desconfortante sabermos que não somos tão angelicais
como pensamos. A evolução do cérebro está bem esquematizada, na
sua evolução ontogenética, pelo gênio de Ernst Haeckel (1834-1919).
Esse sábio biólogo alemão soube destacar as transformações no
cérebro da criança, durante a sua gestação, no ventre materno.
Em sua época ele chamou a atenção para a grande semelhança do feto
humano, em suas fases de crescimento, com o desenvolvimento das
diversas espécies que nos precederam na evolução biológica. É legítimo
supor que, aparentemente, a ontogênese recapitula a filogênese.
Durante o desenvolvimento embrionário do homem (como também dos
outros mamíferos) a natureza repete os estados anteriores evolutivos,
passando o embrião pelos estágios cerebrais dos peixes, anfíbios,
répteis, aves, etc. De fato, quem já viu os fetos de alguns desses
animais, no início da gestação, e comparou-os com o do homem, no
mesmo período, notará tão extraordinária semelhança. As diferenças
entre eles só irão surgir na metade em diante na gestação,
principalmente no feto humano, quando os grandes hemisférios
cerebrais, com o seu espesso córtex, cobrirão os cérebros desses outros
animais. O que vai prevalecer no homem é esse “último cérebro’, que
nos distancia, a passos largos, de todos os nossos antecessores
irracionais.
É nossa tese, proposta em 1989, que este cérebro recente, que
caracteriza os humanos e que lhes dá a consciência e a inteligência
superior, está perdendo a sua principal finalidade evolutiva que é a de
contrapor-se ao cérebro antigo ( vide o nosso livro “ A Implosão do
Homem, Ed.Interlivros, B.Hte.MG,1986 ). Explicamos melhor:
baseando-nos em conhecimentos da Antropologia, Biologia, Psicologia,
Paleontologia e da História, acreditamos que a maioria dos cérebros
atuais vem sofrendo um processo involutivo, já há algumas décadas.
Queremos dizer que a maioria dos seres humanos vem se
desestruturando mentalmente nas últimas três décadas. A mente
consciente, que acreditamos ser gerada pelos neorônios do neocórtex,
vem encontrando grande dificuldade para neutralizar, controlar e
lidar com o crescente número de impulsos nervosos provenientes dos
neurônios das estruturas inferiores do encéfalo, como os do diencéfalo,
tronco cerebral e medula, justamente os remanescentes dos animais
irracionais que nos antecederam na evolução das espécies.
Estas estruturas nervosas inferiores são responsáveis, a nosso ver,
pelos atos inconscientes de uma pessoa. Quanto mais mentalmente
desestruturada estiver, mais se comportará movida pelos impulsos
elétricos dessas estruturas primitivas, conduzindo-a a modos
inadequados de viver. Diríamos que o Consciente cerebral (neocórtex)
é o responsável pelo comportamento social do indivíduo e o
Inconsciente cerebral é o encarregado das funções orgânicas das
pessoas. Em casos de necessidade, o inconsciente cerebral, criando a
mente inconsciente, assume o controle total do Ser, a fim de manter a
sua integridade, como por exemplo, quando alguém se encontra no
estado sonâmbulo, no sono profundo, nos estados alterados da
consciência, como no coma, ou mesmo na embriaguês acentuada, nos
estados de cólera intensa, etc. o inconsciente pode também assumir
momentaneamente o controle das pessoas, quando por exemplo,
empurra-se alguém para frente, de surpresa, e a pessoa tem uma forte
reação para trás, equilibrando-se repentinamente do impulso recebido.
Diversos fatores negativos atuam nas estruturas conscientes, tornandoas frágeis e dificultando, ou mesmo anulando a sua capacidade de
manter o controle sobre o inconsciente. Esses fatores podem ser
químicos, biológicos, psíquicos e físicos. Os fatores químicos mais
comuns são as drogas psicoativas e as alterações nos compostos
bioquímicos do cérebro, com neurotransmissores, enzimas, hormônios,
toxinas microbianas, etc.; os fatores biológicos são caracterizados pelas
distorções anatômicas no encéfalo, de origem genética, tumores,
desnutrição na infância, invasões bacterianas e outros. Os fatores
psíquicos, são aqueles gerados pelos impactos emocionais aflitivos,
decorrentes quase sempre de traumatismos mentais na infância,
quando o córtex cerebral está ainda insuficientemente maduro para
controlar as forças do inconsciente, nas inúmeras dificuldades
existenciais e outros eventos negativos. Finalmente, os fatores físicos
que deterioram o consciente são os provenientes de traumas físicos
cerebrais, como os acidentes vasculares e os impactos mecânicos no
crânio. Quando o consciente é atingido por estes fatores, debilita-se o
seu poder de controle sobre o inconsciente, como já frisamos acima,
dando oportunidade à intromissão indevida do inconsciente no
comportamento social e fisiológico do indivíduo.
A atuação do inconsciente pode ser passageira, quando a pessoa se
restabelece de uma injúria cerebral sofrida, como, por exemplo, ao se
recuperar de uma intensa discussão com outra pessoa; após o estado de
embriaguês; ao sair do estado de coma, do sono ou do sonambulismo,
etc. Nesses casos, o consciente volta a atuar e a pessoa terá a sua
personalidade reestruturada, através do uso da razão, do bom senso e
da inteligência; isto, se a pessoa já possuía estes atributos antes. Em
outras palavras, volta a ser um “humano” novamente, após ter se
comportando como um animal irracional, em virtude de ter
permanecido, transitoriamente, sob o comando dos neurônios
subcorticais ( do inconsciente), que são os mesmos que comandam o
comportamento irracional dos cérebros das
serpentes,cães,gatos,leões,gorilas ou dos mansos coelhinhos.
Pessoas que sofreram a infelicidade de terem seccionadas as ligações
(os nervos) entre algumas partes do seu córtex, isolando-as das
estruturas inferiores, tiveram os seus comportamentos alterados,
tornando-se agressivas, apáticas e pouco inteligentes. Em primatas
não-humanos, como os chimpanzés, normalmente dóceis, cujo cérebro
é quase idêntico ao do homem, ao se extirpar o seu córtex cerebral eles
se tornam extremamente agressivos e perigosos. Muitos são os fatos e
pesquisas que apontam ser o córtex a sede da consciência, da
inteligência e do controle sobre os impulsos agressivos e sexuais. Sem o
córtex (neocórtex no homem) , seríamos simulacros de homem,
verdadeiras bestas sem inteligência e consciência, provavelmente com
forte propensão a devorar,literalmente, os nossos vizinhos,parentes,
amigos e agregados.
A destruição sistemática do homem pelo homem, através da
competição desenfreada e pela violência insana é resultado da fraqueza
dos conscientes da maioria dos seres humanos e,concomitantemente,da
prevalência cada vez mais acentuada dos inconscientes cerebrais das
pessoas, a nível individual e social. As tensões que o cérebro consciente,
da maioria das pessoas, recebem diariamente, são cada vez maiores e
tendem a se agrava com as inúmeras dificuldades que a vida atual
impõe a todos. Fome, insegurança, superpopulação, competição,
poluição, injustiça social, etc., causam diretamente tensões e conflitos
mentais que sobrecarregam química e eletricamente os neurônios do
córtex cerebral, que cada vez mais ficam impotentes para conterem as
“feras” do inconsciente de cada um de nós. Mesmo a mais calma e
equilibrada das pessoas, acabará por perder o domínio sobre esses
“dragões” do cérebro inferior (inconsciente). A ascensão dessa
poderosa força desintegradora dos impulsos animalescos, preocupamnos muito como neuropsicólogo e terapeuta, pois somos testemunhas
diárias do flagelo das doenças mentais através das famílias que
procuram o tratamento clínico mental.
As doenças mentais, como as neuroses e psicoses tornaram-se, podemos
dizer, endêmicas entre os humanos; sem falarmos da generalização das
enfermidades psicossomáticas. É o maior ou menor afastamento da
realidade ambiental que caracteriza a doença mental. Quanto mais
desestruturada está uma pessoa, mais distante da realidade se encontra
e mais se agrava a sua patologia. Entre neurose e psicose acentuam-se
as distorções do real, e a fantasia enganadora prepondera. Quanto
mais o consciente cede aos impulsos elétricos do inconsciente, mais
distorcida ficará para o cérebro e a mente, a realidade que cerca o
indivíduo. Desta maneira, podemos encarar os distúrbios mentais
como resultantes da “guerra” entre o inconsciente e o consciente,
travada entre os impulsos arcaicos e impulsos modernos. Vencerá
quem “bombardear” mais o outro com rajadas elétricas disparadas
por seus neurônios. É uma luta constante entre o “civilizado” e o
animalizado feroz e inadequado.
Só podemos falar de doenças ou desestruturação mental, quando o
inconsciente cerebral está negativo e,ao dominar o consciente, impõe os
seus instintos prejudiciais à própria pessoa ou ao social. Alguém cujos
órgãos dos sentidos captaram para dentro de seu cérebro estímulos
negativos em demasia, provenientes de decepções, medos, perdas,
frustrações, contrariedades, etc., estará estruturando, de forma
patológica o seu inconsciente que irá repercutir danosamente em seu
comportamento futuro;principalmente se tais estímulos nocivos
incidiram na fase da gestação,infância e puberdade. Nestas etapas da
vida o consciente (córtex) não está apto a exercer controle sobre o
inconsciente, devido à imaturidade de suas estruturas nervosas. Sendo
social, o consciente é afetado diretamente pelas mudanças políticas,
ecológicas, sociais e econômicas. Enquanto que o inconsciente é mais
biológico e só indiretamente recebe as influências do meio ambiente.
Nota-se que progressivamente as forças dos inconscientes estão sendo
liberadas de formas inadequadas e com elas, as “feras” contidas nos
genes dos seus neurônios estão nas ruas a nos devorarem. A
agressividade, a violência, a competição brutal, a imaturidade, as
doenças mentais e psicossomáticas, se fazem presentes,
acentuadamente, nas sociedades contemporâneas. Poucas chances
existem para se atenuar essa tendência desumanizadora e brutalizante.
As dificuldades de vida em nosso País, por exemplo, para a maior
parte da população, são as causadoras maiores da liberação dos
“animais ferozes” de nosso inconsciente, principalmente entre aqueles
mais sofridos e injustiçados.
É muito perigosa para todos nós a liberação desses “bichos”; são eles
que já estão aí,por todos os lados nos atacando, roubando, agredindo e
matando-nos de forma cruel, crescente e penetrantes em todos os
setores das sociedades mundiais. Já se nota o risco que todos
corremos, na criminalidade e na violência reinantes. Milhões de
famintos, miseráveis e injustiçados estão libertando de suas jaulas as
suas feras demasiadamente sedentas do sangue. Os principais
responsáveis pelo predomínio comportamental do inconsciente entre
nós, é a televisão, a internet, alguns meios de comunicação, os maus
políticos, governantes, líderes sociais, comerciantes e industriais
inescrupulosos que estão levando a maioria dos brasileiros a um
crescente confronto entre as forças instintivas de sobrevivência animal
(do inconsciente) e as forças do bom senso e da razão (do consciente)
são eles os maiores causadores indiretos da liberação para as ruas,
avenidas, praças e rodovias de uma variada fauna, aprisionada a
milhões de anos nos porões de nossos inconscientes.
Tomara que esses irresponsáveis e insensatos criem juízo e também
tenham medo, pois serão imolados, aniquilados e destruídos tanto
quanto nós, por mais que eles se escondam por detrás do ilusório
manto protetor da riqueza, do poder, da impunidade, e da vaidade.
Finalizando, repetimos o que já afirmamos em dezenas de Trabalhos
publicados em jornais,revistas,anais e livro : para que se possa atenuar
a barbaria da “guerra” dos Inconscientes x Conscientes entre os
humanos é necessário que os Conscientes dos homens que dirigem os
destinos das pessoas, em todos os setores da vida, a nível mundial;
assumam o comando de seus cérebros e mentes,proporcionando a
cultura,conhecimento,educação e a saúde psicofísica de suas
populações, para que as pessoas se tornem cultas,sábias e mais
humanas, com os seus Conscientes fortes e saudáveis a fim de
vencerem as Forças Brutas do Mau e se comportem como Seres
Humanos Verdadeiros.
Mas, será isto ainda possível, na atual conjuntura mundial? Cremos
que não! Não existe mais campo ou terreno propício ao cultivo do
“Bem”. A Televisão, as Revistas, os Jornais, o Teatro, a barulheira
infernal chamada de “música”, os Noticiários, a Internet e outros
“Sinais dos Tempos”, nos indicam que não há mais chance para o
“Bem”. Tudo está Consumado (Consummatum est), disse-nos o
Redentor, no alto da Cruz, no momento final de Sua agonia, quando
por nós foi assassinado, ao tentar nos resgatar do que hoje estamos
presenciando,vivenciando e, sendo assassinados também!
O Autor agradece a valiosa e despretensiosa colaboração da Srta.
Hellen Caroline de Morais, por ter resgatado do esquecimento este
trabalho, pesquisado e publicado em junho de 1989, remontando-o e
digitando-o, pacientemente, para esta sua nova e mais aprimorada
reapresentação pública.
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Carleial. Bernardino Mendonça
Psicólogo-Clínico pela Universidade Católica de Minas Gerais;
Estudante de Direito da Faculdade de Direito Estácio de Sá-BH;
Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito.
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