CARACTERÍSTICAS DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS BRANCOS, DE CLASSE MÉDIA ACERCA DO SISTEMA DE COTAS PARA NEGROS EM UNIVERSIDADES FEDERAIS Amanda Castro; Dr. Leandro Castro Oltramari (orientador); Drª Deise Maria do Nascimento (orientadora). Introdução: Ao analisarmos o passado brasileiro é possível verificar que ao negro, sobretudo por uma razão histórica, foi relegado o trabalho, considerado inferior, e mesmo após a abolição da escravatura este não encontrou apoio social para conseguir melhores condições de trabalho ou estudo. Partindo dessa situação sócio-histórica surgem as políticas afirmativas como a das cotas para negros em Universidades Federais. Conhecer as características das representações sociais de jovens de classe média sobre o sistema de cotas para negros proporcionará à sociedade identificar possíveis mudanças no padrão estabelecido em relação ao sentimento de hierarquização de brancos sobre negros e verificar a preocupação destes com o desenvolvimento social, viabilizando a reflexão acerca de novas medidas interventivas. Objetivo: a)Verificar qual a compreensão de jovens brancos de classe média acerca do sistema de cotas para negros no ingresso em Universidades Federais; b)Identificar o que jovens brancos de classe média atribuem como motivo para o reduzido número de negros em Universidades Federais; c)Comparar as diferentes representações sociais dos alunos entrevistados acerca da reserva de vagas para alunos negros em Universidades Federais. Palavras-chave: representações sociais, cotas para negros, preconceito Métodos: Esta pesquisa é caracterizada como exploratória e de caráter qualitativo. Foi utilizado como delineamento o estudo de campo e como forma de coleta de dados o grupo focal. Para a coleta de dados foram realizados dois grupos focais compostos por seis membros cada um. Os participantes desta pesquisa foram 12 jovens que cursam a graduação em Instituições particulares, com idades entre 18 a 30 anos. Para registro dos dados apresentados no grupo foi utilizada uma filmadora. A coleta de dados com os alunos realizou-se nos espaços de uma Universidade localizada em Palhoça. Os participantes assinaram um termo de consentimento para a autorização de sua participação na pesquisa, bem como um termo para autorização da gravação. Foram entregues em uma folha impressa alguns tópicos para debate acerca das cotas para negros em Universidades Federais. A discussão ocorreu de forma pacífica, de modo que as opiniões divergentes tiveram espaço para exposição. O grupo A teve duração de 40 minutos e o grupo B teve duração de 46 minutos. Após resgatar as filmagens, as informações foram transcritas pela pesquisadora que, posteriormente, seguiu na realização da análise com base nos dados obtidos, realizando a análise de conteúdo. 2 Resultados de discussão: As representações sociais do sistema de cotas para negros em Universidades Federais apresentadas por cinco participantes da pesquisa parecem indicar as cotas como um privilégio que vai contra o sistema voltado à meritocracia. Entretanto, quatro participantes da pesquisa as definem como um dever social. De acordo com o relato de dois participantes as cotas para negros em Universidades Federais podem estar vinculada à minimização de desigualdade. O sistema de cotas para negros foram relacionadas também como indicativo de problemas nos ensino público. O pequeno percentual de negros em Universidades brasileiras não é justificado por três participantes da pesquisa, pois para os mesmos os negros possuem iguais possibilidades de ingresso em Universidades Federais em relação aos alunos brancos. No entanto, outros participantes afirmam que o menor poder aquisitivo é a causa do reduzido número de negros em universidades federais. Em relação ao reduzido número de negros em Universidades Federais há atribuições de falta de empenho do negro para ingressar na Universidade. Desse modo, ainda não há um consenso no meio científico ou no meio social acerca da validade da implantação do sistema de cotas e tais dados justificam a relevância do desenvolvimento de pesquisas que envolvam esta mesma temática. Conclusões: As representações sociais acerca da reserva de vagas para alunos negros em Universidades Federais muitas vezes parecem contraditórias. Enquanto alguns participantes referem-se às cotas como um dever social, outros afirmam que a política de cotas vai contra o sistema voltado à meritocracia, estando vinculada à característica de privilégio. Em grupo focal tal discussão foi encerrada sem a busca de um consenso, evidenciando as diferentes representações. Tais dados parecem demonstrar o motivo pelo qual o sistema de cotas para negros em Universidades Federais tem atraído muitas discussões em torno da desigualdade (Guimarães, 2003; Pereira, 2003; Zanitelli, 2004). A implantação da política de cotas para negros em Universidades Federais ocasionou importantes discussões no meio científico, discussões essas ampliadas e projetadas também para o senso comum. Considerando que o objetivo do grupo focal é a sinergia entre as pessoas e não o consenso, a utilização de grupos focais viabilizou a identificação das referidas representações que parecem ser contraditórias. Sendo possível verificar que ainda não há um consenso no meio científico ou no meio social acerca da validade da implantação do sistema de cotas, o que justifica a relevância do desenvolvimento de pesquisas que envolvam esta temática. Referências GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Acesso de Negros ás Universidades Públicas. Temas em Debate, Caderno de Pesquisa, n.118, (p.256) março /2003. MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978 PEREIRA, Amauri Mendes (2003). “Um raio em céu azul”. Reflexões sobre a política de cotas e a identidade nacional brasileira. Estudos Afro-Asiáticos, Ano 25, no 3, 2003, pp. 463-482. Disponível em: http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=514932. Acesso em: 08 mar. 2010. ZANITELLI, Leandro Martins. Acesso à Universidade, cotas para negros, e o projeto de lei no 3.627/2004. Brasília, 2005.