Como preparar uma empresa para adotar o Marketing como filosofia Adalberto João Ferreira de Oliveira Resumo Este artigo apresenta uma reflexão sobre as razões que uma empresa possui para adotar o marketing como filosofia, a partir das relações negociais entre vendedor e comprador, que desaguaram na percepção atual, em que o sucesso nos negócios não é mais determinado pelo produtor, mas pelo consumidor. Evidencia o papel do marketing nessa relação e coloca a indústria como um processo de satisfação de consumidores e não como um processo de produção de bens. Palavras-chave: Marketing, conceito de marketing, filosofia, empresa, organização, decisões organizacionais, planejamento. Abstract This article presents a reflection about the reasons that the company has to adopt the marketing as philosophy, starting from the relationships you negotiate among salesperson and buyer, that finished in the current perception, where the success in the businesses is not certain for the producer, but for the consumer. It clears the paper of the marketing in that relationship and it places the industry as a process of consumers' satisfaction and I don't eat a process of production of goods. Key words: Marketing, marketing concept, philosophy, company, organization, decisions of the organization, planning. Peter Drucker, um do mais importantes pensadores da administração, disse que o marketing, juntamente com a inovação, são as funções básicas de um negócio. Após a Revolução Industrial, a produção e o comércio de bens e de serviços começaram a apresentar as características e o comportamento que evoluiriam rapidamente (do ponto de vista da História) até alcançar os padrões observados na atualidade. No início dessa era industrial os esforços da indústria passaram a se concentrar também nas vendas. “Começaram a surgir os primeiros sinais de excesso de oferta. Os fabricantes desenvolveram-se e produziram em série. Portanto, a oferta passou a superar a demanda e os produtos acumulavam-se em estoques. Algumas empresas começaram a utilizar técnicas de vendas bem mais agressivas e a ênfase na comercialização das empresas dessa época era totalmente dirigida às vendas” (LAS CASAS, 1997). As matérias-primas eram abundantes e de baixo custo, relativamente aos dias atuais. Sequer havia forte preocupação ecológica. Altas chaminés jorrando nuvens escuras de fumaça eram forte sinal de progresso. Era como se ali tivesse um letreiro dizendo “aqui tem progresso”. Os produtos eram feitos para durar por muito tempo. Afinal, o preço era muito alto a distribuição (entrega) não era assim tão freqüente. Por outro lado, não havia perspectiva de renovação a curto prazo, decorrentes de inovação tecnológica, por exemplo. Segundo Drucker, até a década de 50, nos Estados Unidos, as empresas geravam um produto e o vendiam aos consumidores mediante um esforço de vendas. Ou seja, quem definia o que seria oferecido ao mercado era o vendedor. Os tempos mudaram... A industrialização cresceu, os mercados passaram a ser intensamente disputados, os consumidores passaram a reivindicar uma postura mais de agente e menos de reagente à oferta de produtos. As oportunidades de consumo se ampliam, o que torna o comprador mais exigente e seletivo em relação às ofertas do mercado. O sucesso nos negócios não é mais determinado pelo produtor, mas pelo consumidor. Quem define o que vai ser oferecido ao mercado é o próprio mercado. O conceito de Marketing Segundo Las Casas (1997), “A partir de 1950, os empresários passaram a perceber que vendas a qualquer custo não era uma forma de comercialização muito correta. As vendas não eram constantes. O mais importante era a conquista e a manutenção de negócios a longo prazo, mantendo relações permanentes com a clientela. Por isso, nessa época passou a existir uma valorização maior do consumidor. Todos os produtos deveriam ser vendidos a partir da constatação dos seus desejos e necessidades. O cliente passou a dominar o cenário da comercialização como um dos caminhos para a obtenção de melhores resultados. Estava determinado o conceito de marketing, em que o consumidor passava a ser considerado o ‘rei’”. O negócio é visto do ponto de vista de seu resultado final, ou seja do ponto de vista do cliente. Naturalmente que sempre está presente a necessidade de vender, mas “o objetivo do marketing é conhecer e compreender o consumidor tão bem que o produto ou serviço o atendem completamente e, em conseqüência, vendem-se sozinhos. Idealmente, o marketing deve resultar em um consumidor que está pronto para comprar. Tudo o que é preciso fazer é tornar disponível o produto ou serviço.” (Drecker) Para Teodore Levitt (apud [11] ), o primeiro negócio de qualquer negócio é continuar no negócio. Para tanto é preciso gerar e manter consumidores. E, sobre a distinção entre marketing e vendas, disse: “A diferença entre marketing e vendas é mais do que semântica. Vendas têm seu foco nas necessidades do vendedor, marketing nas do comprador. Vendas preocupam-se com a necessidade do vendedor de converter seu produto em dinheiro; marketing preocupa-se com a idéia de satisfazer as necessidades do consumidor com o produto. Até mesmo a produção do lendário Ford T, preto, idealizado por Henry Ford, foi, na visão de Levitt, uma decisão de marketing. “Em um certo sentido, Ford foi ao mesmo tempo o mais brilhante e o mais insensato homem de marketing da história americana. Ele foi insensato porque se recusou a oferecer ao consumidor outra coisa que não um carro preto. Ele foi brilhante porque forjou um sistema de produção desenhado para atender às necessidades de mercado. Nós habitualmente celebramos Ford pela razão errada: a sua genialidade em produção. A sua real genialidade era em marketing. Nós pensamos que ele foi capaz de cortar o seu preço de venda e em conseqüência vender milhões de carros a 500 dólares, por que a sua invenção da linha de montagem tinha reduzido custos. Na verdade, ele inventou a linha de montagem porque concluiu que a 500 dólares ele poderia vender milhões de carros. Produção em massa foi a conseqüência e não a causa de seus preços baixos.” Preparar uma empresa para adotar o marketing como filosofia é, fundamentalmente, preparar a empresa para o novo foco dos negócios. “É vital para todos os homens de negócio a visão de que a indústria é um processo de satisfação de consumidores e não um processo de produção de bens. Uma indústria começa com o consumidor e suas necessidades, não com uma patente, com a matéria-prima ou com talento para vendas.” (Levitt) Os conceitos que fundamentam o marketing não são novos. Pelo contrário, a idéia central desses conceitos foi estabelecida na década de 50 e vários dentre os textos que os fundamentaram foram escritos na década de 60. O Marketing, como filosofia empresarial, coloca a satisfação dos desejos e necessidades dos clientes como o objetivo maior de uma organização. O Marketing, como filosofia empresarial, se renova a cada vez que a concorrência de acirra, a cada vez que os consumidores se tornam mais exigentes, e sempre que os recursos financeiros se mostram mais raros e caros. Vantagens da organização orientada para a filosofia do Marketing A sobrevivência da empresa, no longo prazo, será determinada por sua capacidade de atrair e reter clientes. As empresas que adotarem a filosofia voltada para o marketing terão, dessa forma, maiores possibilidades de sobreviver e serem mais lucrativas, mesmo em ambiente caracterizado por turbulências do mercado onde atuam, ou caracterizados pela intensidade da competição ou por mudanças tecnológicas de alta intensidade. Rocha e Christensen (1999), citam dois exemplos de organizações brasileiras que fracassaram, basicamente por falta de orientação voltada para o marketing: “Em 1992, os fabricantes de eletrodomésticos lideravam na insatisfação dos consumidores brasileiros. Em uma pesquisa 71% dos consumidores indicaram ser essa categoria de produtos que mais problemas apresentava. Nos anos seguintes, muitas dessas empresas, em dificuldades, foram adquiridas por multinacionais. “A insatisfação dos consumidores com algumas empresas estatais prestadoras de serviços levou a que a população aceitasse a decisão governamental de privatizá-las. Apelos nacionalistas contra a privatização não surtiram efeito: os consumidores, insatisfeitos, voltaram as costas às empresas e a seus funcionários, que não se haviam preocupado em atender as suas necessidades.” Em quais decisões da organização é importante a presença do marketing como filosofia Praticamente todas as decisões de uma empresa estão voltadas para a conquista ou a manutenção de clientes (Levitt), logo, em praticamente todas as decisões é importante a presença do marketing como filosofia. Porém, Rocha e Christensen (1999) afirmaram, com muita propriedade, na publicação “Marketing teoria e prática no Brasil”, ser importante não confundir o uso de instrumentos de marketing com a adoção da filosofia de marketing. “Marketing é servir, satisfazer; não enganar, falsificar, mentir, tirar vantagem”. Na mesma publicação as autoras exemplificam um caso onde a confusão foi feita e a empresa envolvida pensava estar aplicando, quando estava justamente negando, o conceito, a filosofia, de marketing. O caso relatado foi o seguinte: “Uma empresa telefônica dispunha de um estoque de terminais telefônicos e desejava vendê-los antes de anunciar uma medida que aumentaria em muito o preço dos serviços. Nas palavras de um executivo da empresa, ‘tínhamos de fazê-lo o mais rápido possível, para procurar vender o máximo antes de anunciar a medida, porque, obviamente, esta seria um fator de desestímulo à compra’. A empresa telefônica, como muitas outras, julgava estar aplicando marketing simplesmente porque havia desenvolvido uma campanha promocional para vender rapidamente os telefones antes de o consumidor tomar conhecimento do aumento dos custos”. A filosofia do Marketing deve estar presente, por exemplo, nas seguintes decisões (MINADEO, 1996, adaptado): pesquisas, alterações dos produtos, marcas, embalagens, preço e descontos, canais de distribuição, propaganda, venda pessoal, merchandising, promoção de vendas, relações públicas e publicidade, atendimento pós-venda e nível de serviço prestado ao consumidor. Pesquisas A decisão sobre pesquisa poderá recair sobre um levantamento de mercado, sobre a eficácia de uma campanha promocional, sobre testes de preferência de produtos, sobre previsão de vendas, sobre força de venda (medir a capacidade de persuasão dos vendedores), sobre preço (avaliação de nível de preço adequado), sobre a embalagem e sobre formas de distribuição, dentre outros. Para Marcos Cobra (1997), “a pesquisa de mercado é entendida por muitos autores de marketing como sendo qualquer esforço planejado e organizado para obter fatos e conhecimentos novos que facilitem o processo de decisão de mercado. Ou, ainda, a coleta, o registro e a análise de todos os fatos referentes aos problemas relacionados à transferência e venda de mercadorias e serviços, desde o produtor até o consumidor. Alterações dos produtos A alteração de um produto poderá se dar no sentido de melhorar a sua qualidade, que significa aumentar o desempenho (resistência, durabilidade, confiabilidade, velocidade, sabor, precisão, etc.). É possível superar o concorrente pelo acréscimo de qualidade ao produto que o torna “melhorado”, como exemplo, poderemos citar determinada marca de maionese, que será lançada “com mais limão”. A alteração do produto poderá se voltar para o acréscimo de características que expandem a versatilidade, segurança ou conveniência do produto. Kotler (1998) cita o exemplo dos cortadores de grama manuais que passaram a ser fabricados com motor elétrico, facilitando a tarefa do usuário. Melhorar características pode trazer vantagens, como a construção de imagem de empresa empreendedora, conquista da lealdade do cliente. Novas características poderão ser adotadas ou eliminadas com facilidade, podendo tornar-se opcionais para o comprador. A alteração do produto poderá se dar pela melhoria de estilo (aumento do apelo estético do produto), a exemplo das variações de cores e texturas nas embalagens de alimentos. A mudança (melhoria) no estilo pode conferir identidade exclusiva ao produto. Há também o risco das pessoas não gostarem do novo estilo, provocando descontinuidade do estilo do produto. Marcas Provavelmente reside na marca a característica mais diferenciadora de uma empresa ou organização. Para Kotler (1998), “marca é um nome, sinal, símbolo ou combinação dos mesmos, que tem o propósito de identificar bens ou serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e de diferenciá-los de concorrentes”. Uma marca encerra um conjunto próprio de características, benefícios e serviços aos compradores, que serão entregues pela empresa, em geral embutindo uma “garantia de qualidade”. Mas as marcas trazem consigo um conjunto mais amplo de significados, que são os atributos (produtos Bayer associados a alta qualidade), os benefícios (aplicando produtos Bayer terei bons resultados), os valores (uma marca poderá estar associada à preservação do ambiente), a cultura (Mercedes representa a cultura alemã, organizada, eficiente e de alta qualidade), a personalidade (o “Rols-Royce” sugere personalidade de chefe de estado) e o usuário (aqueles que se relacionam com os valores, cultura e personalidade do produto). Embalagens Na linguagem de Marketing, é a “embalagem” que “vende” o produto. Quando o marketing entrega os produtos aos consumidores, é importante “embrulhar” o produto de forma atraente. É preciso pensar o produto como um presente para os clientes. Todavia, a embalagem deverá revelar a identidade daquilo que ela contém e não escondê-la (nesse particular, a embalagem de um presente para um amigo se difere de uma embalagem para o marketing, pois a embalagem do presente deverá “esconder” o produto (presente)). O produto e o “embrulho” (embalagem) tornamse uma única coisa na mente do consumidor. Em geral, a embalagem apresenta o produto ao consumidor, pois a maioria das decisões de compra são tomadas no ponto de compra, onde o consumidor está além do alcance das influências de marketing, exceto em relação a embalagem. Adotar a filosofia do marketing é adotar a filosofia da conquista e retenção de clientes, ou consumidores. A embalagem está na linha de frente na luta por essas conquistas. Preço e descontos Kotler (1998), ao se referir ao preço, chama a atenção para o fato de o preço ser o único elemento do composto de marketing que produz receita. Os outros elementos geram custos. O preço é também um dos elementos mais flexíveis do composto de marketing porque pode ser rapidamente modificado. O estabelecimento de preço e a concorrência de preço são os principais problemas enfrentados por muitos executivos de marketing. Hiam (1999) observa que “o preço é onde você obtém aquilo que é seu, onde se dá o reconhecimento por todas aquelas coisas ótimas que você faz pelos clientes. Na hora do preço, você precisa se certificar de que sua empresa recebe aquilo que merece. Ninguém lhe pagará mais que aquilo que você cobra, por isso tenha o cuidado de não se atribuir um subpreço. Descontos e ofertas especiais são incentivos temporários para fazer os clientes comprarem com base no preço ou em fatores ligados a preços. Oferecem aos consumidores (ou intermediários) uma oportunidade de conseguir o produto por menos (enquanto a oferta durar, pelo menos). Hiam (1999) faz a seguinte pergunta: Se você acha que o preço deveria ser menor, por que simplesmente não cortá-lo de forma permanente? A resposta é que cortar preços é algo fácil de fazer mas difícil de reverter. O desconto ou a oferta especial permite que você corte o preço temporariamente enquanto mantém o preço de lista em seu nível antigo. Quando a oferta termina, o preço de lista continua o mesmo, sem se abrir-mão de nada de forma permanente. Dentre as diversas situações que levam a empresa a reduzir preços estão a capacidade ociosa, o declínio da participação no mercado ou como estratégia para dominar o mercado através de custos menores. Há fatores que também determinam o aumento de preços, tais como a inflação de custo e o aquecimento da demanda (quando não for possível atender a demanda a empresa aumenta preços, corta pedidos, ou adota ambas as providencias). Canais de distribuição “Uma empresa que tenha o melhor sistema de distribuição e o melhor serviço ganhará todas as partidas, porque não se pode manter, por muito tempo, uma vantagem em outras áreas” (Lee Iacocca, apud [3] ). A distribuição visa levar fisicamente o produto do fabricante ao consumidor final, através dos canais de distribuição, tornando o produto disponível e fácil de ser comprado. Segundo a American Marketing Association, canal de distribuição é a trilha percorrida pelo produto, do produtor ao consumidor, com participação ou não de intermediários. "Estrutura formada por unidades organizacionais dentro da empresa e pelos agentes e clientes que se encontram fora dela (atacadistas e varejistas) através dos quais se distribui uma mercadoria, produto ou serviço. Propaganda A propaganda “é o conjunto de atividades pelas quais determinadas mensagens são transmitidas a um público-alvo, usando meios de comunicação de massa pagos pelo anunciante, com o propósito explícito de informar, motivar e persuadir os membros do público-alvo a adotar produtos, serviços ou idéias, sob o patrocínio de uma organização” (ROCHA E CHRISTENSEN, 1999). A propaganda pode ser utilizada para provocar vendas rápidas, ou para criar imagem de produto, no longo prazo. Pelo seu caráter público, confere legitimidade ao produto e fixa uma imagem positiva sobre o tamanho, poder e sucesso da empresa que vende o produto. Atinge numerosos compradores geograficamente dispersos. A simples existência da propaganda poderá surtir efeito sobre as vendas, pois o consumidor tende a acreditar que uma marca fortemente divulgada deve oferecer um bom produto ou serviço (se não fosse “bom” por que se gastaria tanto na promoção?). Venda pessoal Para a maior parte das empresas, particularmente as pequenas e médias, é a venda pessoal o principal meio de comunicação com os compradores. Provavelmente, os gastos totais com venda pessoal superem os gastos totais com propaganda e promoção. Qual a diferença entre venda e venda pessoal? Para Rocha e Christensen (1999), venda pessoal é o conjunto das atividades realizadas pelo vendedor com o propósito de informar, motivar e persuadir o cliente a adquirir um produto ou serviço da empresa, podendo incluir ou não a concretização da venda propriamente dita. A venda é a concretização do negócio entre o vendedor e o comprador. A venda pessoal possui alguns benefícios, quando comparada com a propaganda (KOTLER, 1999): “a venda pessoal envolve relacionamento vivo, imediato e interativo entre duas ou mais pessoas. Cada parte está em condições de observar as necessidades e as características da outra para chegar a bom termo e fazer os ajustes imediatos. A venda pessoal permite todos os tipos de relacionamentos duradouros, desde o destinado apenas à venda, até a uma amizade pessoal mais profunda. Normalmente, os vendedores eficazes manterão o interesse de seus clientes se desejarem relacionamentos a longo prazo. A venda pessoal faz o comprador sentir-se obrigado a ouvir a explanação do vendedor. O comprador tem maior necessidade de atender e responder, mesmo que a resposta seja um educado muito obrigado”. Merchandising O merchandising é pouco abordado nas publicações de marketing, embora muito se tenha empregado o termo no Brasil. Há certa confusão em torno de seu significado e em diversas ocasiões o merchandising é confundido com a promoção de vendas. Para Wilson (apud COBRA, 1997), compreende um conjunto e operações táticas efetuadas, no ponto de venda, para se colocar no mercado o produto ou serviço certo, na quantidade certa, no preço certo, no tempo certo, com o impacto visual adequado e na exposição correta. Envolve a embalagem, displays, técnicas de preços e ofertas especiais. As operações podem ser executadas, sem o auxílio do vendedor, por promotores ou demonstradores ou por uma ação conjunta desses no ponto de venda, ou através de televisão, cinema, revista etc. É basicamente cenário do produto no ponto de venda.” Promoção de vendas As maneiras de fazer promoções de vendas são diversas: distribuição de cupons, ofertas a preços mais baixos, concursos e prêmios, patrocínio, etc. Um exemplo associado a prêmios, é o que ocorre freqüentemente nos shoping centers brasileiros, particularmente em datas especiais (dia dos namorados, dia dos pais, dia das mães, Natal, dentre outros). Há grande investimento em prêmios para o público, para estimular a visita e a compra do consumidor. O prêmio mais comum é o automóvel. Alguns livros de marketing consideram que há dúvidas quanto à eficácia dessa maneira de premiar. Particularmente, somos inclinados a entender que a própria repetição da “formula” é um indicador do êxito da mesma. As ferramentas de promoção de vendas possuem características distintas (KOTLER, 1998). Comunicação: atraem a atenção dos consumidores e, geralmente, fornecem informações que podem levá-los ao produto; incentivo: incorporam alguma concessão, estímulo ou contribuição que oferece valor ao consumidor; convite: incluem convite para uma transação imediata. Geralmente a promoção de vendas está associada à criação de resposta mais forte e mais rápida, sendo os seus efeitos de curto prazo e não eficazes para desenvolver preferência de longo prazo. Relações públicas e publicidade Para Hiam (1999), publicidade é a cobertura de seu produto ou empresa na parte editorial de qualquer mídia de atualidades. O seu produto se for objeto de um artigo que o elogia como o melhor da categoria isto é publicidade. Se, por outro lado, o seu produto é noticiado como suspeito de causar acidentes isto também é publicidade. No primeiro caso, uma publicidade boa, no segundo caso uma publicidade ruim. Relações públicas são a busca ativa de publicidade para finalidades de marketing. Relações públicas é o que você faz para gerar boa publicidade ou tentar minimizar a publicidade ruim. Em geral, as empresas não dedicam grande atenção às relações públicas, quando muito, consideram relações públicas como complementar a outras formas de promoção. Poderá ser de extrema eficiência uma maior atenção às relações públicas dentro do composto promocional de marketing. Alguns compradores que evitam anúncios e não suportam a presença de vendedores não se furtarão a acatar a mensagem, do produto ou da empresa, quando apresentada na forma de notícia e não como comunicação claramente destinada a venda. Além disso, a veiculação de mensagem relativa ao produto ou à empresa via relações públicas tende a conferir maior credibilidade. Atendimento pós-venda e nível de serviço prestado ao consumidor De extrema importância são os setores industriais de produtos, que devem fornecer um “pacote” de serviços a seus consumidores. Esses serviços estão se tornando o principal fator para a obtenção de vantagem competitiva. Algumas empresas obtêm mais de 50% de seus lucros dos serviços de apoio ao produto. As empresas que fabricam um bom produto mas fornecem serviços de apoio ruins por parte de revendedores estão em séria desvantagem. A maioria das empresas adota uma série de estágios progressivos na estratégia de produtos pósvenda: Primeiro estágio: Os fabricantes dirigem os departamentos de peças e serviços. Os fabricantes necessitam ficar próximos dos equipamentos e conhecer os seus problemas. O treinamento de pessoas fora da empresa custa caro e é demorado. Eles podem ganhar mais dinheiro dirigindo a operação e, até, tirar vantagens ao cobrarem mais caro pelas peças. Segundo estágio: os fabricantes transferem a maioria dos serviços de manutenção e consertos para distribuidores e revendedores autorizados. Esses estão mais próximos dos consumidores e podem oferecer serviços mais rápidos e até melhores. Os fabricantes lucram com a venda de peças originais e deixam o lucro dos serviços com os intermediários. Terceiro estágio: os serviços de manutenção e consertos são realizados por empresas independentes e fora dos revendedores autorizados. Tipicamente, oferecem preço menor ou serviço mais rápido do que os do fabricante ou revendedor autorizado. Quarto estágio: o cliente assume a responsabilidade pela manutenção e serviços de conservação de seus próprios equipamentos. Isto tem surgido ultimamente, para casos particulares de alguns grandes clientes. Essas empresas negociam preços especiais com os fabricantes, uma vez que ficarão responsáveis pelos serviços. Assim, uma empresa com centenas de microcomputadores, impressoras e equipamentos, por exemplo, poderá constatar que é mais barato ter seu próprio pessoal de manutenção. Quando da escolha de um fornecedor o comprador leva em conta alguns fatores, tais como freqüência de avaria (quebra) do produto, demora do conserto e custos envolvidos nos serviços de conserto e manutenção. Participação dos Serviços na Economia Mundial Inúmeros estudiosos defendem que o mundo ocidental está vivenciando uma sociedade de serviços, ou uma economia de serviços. Essa economia é caracterizada pelo fato de mais da metade do produto interno bruto ser produzido no chamado setor de serviços. Segundo Zeithaml e Bitner, a economia mundial está cada vez mais dominada pelo setor de serviços: esse segmento representa, no PIB dos Estados Unidos, França, Inglaterra, Canadá e Japão, 72,3%, 54,3%,62,9%, 62% e 56,8%, respectivamente (1996, p.XV). Para Grönroos (1995), existe um grande setor oculto de serviços, uma vez que serviços produzidos pelos fabricantes de bens no chamado setor industrial não estão incluídos nas estatísticas que definem o setor de serviços. Por exemplo, se os serviços e a manutenção de elevadores forem produzidos por uma empresa independente, eles são considerados parte da produção de serviços. Mas se esses mesmos serviços forem prestados por um fabricante de elevadores, é o produto interno bruto do setor industrial de fabricação que apresenta esse crescimento. Fatores de crescimento da área de serviços Entre os fatores que explicam esse grande crescimento no setor de serviços, encontram-se: a. uma maior demanda por serviços que os consumidores costumavam fazer por si próprios, tais como cuidados com gramado, limpeza de tapetes e carpetes e outros; b. aumento no tempo médio dedicado ao lazer, gerando maior demanda por esportes de inverno, agências de viagens, cidades de veraneio e cursos para educação de adultos; c. alto percentual de mulheres na força de trabalho; d. expectativa de vida mais longa aumentando a demanda por serviços de saúde e assistência a idosos; e. maior complexidade dos produtos; f. maior complexidade da vida, gerando maior demanda por profissionais para o imposto de renda, aconselhamento de casais, consultoria legal e serviços relacionados a empregos; g. desenvolvimento da computação, que aumentou a produtividade média e aumentou as possibilidades de compartilhamento de informações. Considerações finais O marketing e seus compostos estão presentes em todas as etapas do planejamento de uma empresa. Poderíamos dizer que não são atividades dissociadas a preparação da empresa para atuar no mercado e no ambiente e a preparação da empresa para adotar o marketing como filosofia. Indistintamente, todas as empresas ou, mais genericamente, todas as organizações, estão utilizando e aplicando a filosofia do marketing, sejam empresas de micro porte ou grandes conglomerados. Se pegarmos para observação uma pequena mercearia ali na esquina, de “meia porta”, veremos que diversos compostos do marketing estarão presentes, a partir da simples adoção do nome (marca) do estabelecimento. Percebemos que, hoje em dia, até a chamada economia informal já não prescinde dos cuidados com o marketing. Uma pequena barraca que vende frutas no Setor Bancário em Brasília se preocupa em se distinguir dos concorrentes pela originalidade dos serviços, pelo uniforme de seus empregados (membros da “família”), pela eficaz distribuição, etc. O planejamento pode ser considerado uma forma de garantir que todos os fatores que influenciam os elementos do composto de marketing se combinem da melhor maneira possível para atingir determinados objetivos, considerando um meio ambiente qualquer. O planejamento pode ser feito formal ou informalmente. O planejamento levará à elaboração do plano de marketing. Não existe regra rígida para a elaboração do plano de marketing, uma vez que cada empresa tem característica própria; no entanto, alguns passos parecem ser comuns: levantamento de informações, lista de problemas e oportunidades, determinação de objetivos, desenvolvimento da estratégia, determinação do orçamento e projeção de vendas e lucros. Referências e Fontes 1. BERRY, Leonard L. e PARASURAMAN, A. 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Nível de qualidade dos serviços bancários no ambiente digital. Florianópolis: UFSC, 2001, p.- 21-25. Dissertação de mestrado em Engenharia da Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, 1999 Parte do Capítulo DOIS PASSEIO HISTÓRICO: TODAS AS ESTRADAS LEVAM AO CLIENTE Para Fred Van Raaij (1993) a sociedade está em um período de transição entre a sociedade industrial e a pós-industrial. A sociedade industrial é aquela onde é possível proceder planejamento e conhecer o valor do tempo. Já a sociedade pós-industrial, por sua vez, pode ser reconhecida pela desmassificação, fragmentação, individualização e uma crescente velocidade de mudanças. Esta transição está acontecendo rapidamente e entre suas principiais causas estão as sociais – individualização, fragmentação e justaposições paradoxais – e as tecnológicas – hiperrealidade, a complexidade e a realização de valor. Fitzsimmons (2000) aponta que, nesta transição, as mudanças sociais e tecnológicas acontecem simultaneamente com o desenvolvimento natural da prestação de serviços. Dentro dessa ótica, a prestação de serviços passou a ter um lugar de destaque onde a orientação para o cliente e o atendimento aos seus anseios e às suas necessidades são fundamentais para que uma empresa seja vencedora neste mundo em transformação. “Isto é o que se acostumou a ser chamado de marketing” (Kotler, 1998). O DESPERTAR DAS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS As primeiras experiências de empresas voltadas para as práticas de marketing iniciaram-se à partir de 1750, na Grã-Bretanha, e em 1830, nos Estados Unidos (Fullerton, 1988). Em 1937, surgiu a American Marketing Association (American Marketing Association, 1999). Di Nallo (1999:33) afirma que nos primeiros 50 anos de vida do marketing, encontram-se três escolas de pensamento dominantes: “[1] a Commodity School, que preocupa-se com a classificação dos diferentes produtos segundo suas características [aqui a tônica é, principalmente, para os aspectos físicos] e os comportamentos de compra correspondentes dos consumidores; [2] a Functional School, onde o fundamental é a função comercial e o centro de interesse passa para a transferência dos bens do produtor ao consumidor (...); e [3] a Institucional School, que por sua abordagem de tipo estruturalista deriva da economia empresarial”. Nas três correntes é comum a consideração do marketing como economia aplicada. De fato, segundo Di Nallo (1999:34) “o marketing surgiu após a era das vendas, na década de 50, e um marco foi a publicação do livro “The Practice of Management”, de Peter Drucker, em 1954”. Assim escrevia, Drucker (apud Di Nallo, 1999:34): “O cliente é o fundamento de uma empresa. (...) Sendo seu objetivo a criação de um cliente, cada empresa comercial tem duas – e somente estas duas – funções fundamentais: o marketing e a inovação. O marketing não é somente muito mais amplo que a venda. Não é absolutamente uma atividade especializada. Ele é a empresa inteira, do ponto de vista de seu resultado final, ou seja, do ponto de vista do cliente”. Esta afirmação repropondo um princípio há muito tempo aceito no negócio de sucesso, ou seja, um novo modelo mental, onde o cliente é a razão de ser e o fim (be-all and end-all) da saúde de uma organização, representa a elevação do marketing a uma posição de fundamental importância, onde o cliente passa a ser o centro das atenções das organizações, que passam a enxergar sob o ponto de vista do cliente. Tabela 2.1. As orientações para o marketing sob uma perspectiva histórica. Orientação Produção Venda Mercado 1920-1930. 1930-1950. Desde 1950. Período Produto a preço baixo, Pressão de venda, Necessidade do consumidor, Foco ênfase em produtos. ênfase em produtos. ênfase em produtos. Marketing mix: produto, preço, Instrumento Tecnologia produtiva. Comunicação e venda. praça e promoção (McCarthy,1960). Demanda superior à Oferta superior à Disponibilidade de renda oferta e alto custo do demanda e fraca e discricionária e mercados Condições produto impedindo a indecisa demanda de complexos e segmentados. expansão do mercado. bens e serviços. Fonte: Adaptado de DI NALLO (1999:37) A Tabela 2.1 mostra como o marketing, no decorrer dos anos, foi recebendo orientações diferentes, conforme as condições da oferta e demanda alteravam-se, tornando as relações cada vez mais complexas e difíceis para as empresas. Naturalmente, o foco das atenções foi evoluindo para as necessidades dos clientes. AS RECENTES EXPERIÊNCIAS Segundo Belk (1995:58), “o desenvolvimento de uma disciplina acadêmica do comportamento do consumidor, nos departamentos das escolas de comércio e economia, começou nos anos 50”. Se na época de Drucker (década de 50), a questão era aumentar o nível de consumo, “criando consumidores”, agora não se trata mais de estimular uma demanda que aparece em crescimento contínuo, mas de satisfazer as exigências que as sustentam. Tabela 2.2. A história recente do marketing Período Principais argumentos 1936-1945 Iluminar princípios e conceitos de marketing. Melhorar as funções do marketing e a produtividade dos 1946-1955 sistemas. 1956-1965 1966-1985 1985-1996 Metáfora dominante Economia aplicada. Atividade empresarial. Ciência do comportamento (Behavorial Science). Ciência da decisão Profissionalizar as estratégias de mercado e de marketing. (Decision Science). Ciência integrada Identificar as contingências do mercado e do marketing. (Integrative Science). Descobrir os processos organizacionais e de compra. Fonte: adaptado de Di Nallo (1999:60) Na década de 80, um dos expoentes é Tom Peters que trabalha as idéias de competição e concorrência. Ele estabelece que para uma estratégia ser vencedora deverá basear-se na comunicação, colaboração e qualidade. Fazendo coro, ainda, Robert Wasserman Jr reforça a importância da qualidade e do serviço (Di Nallo, 1999:51). Esta preocupação com a qualidade e serviços, inspirou e atraiu muito pesquisadores acadêmicos. Mccabe et al. (1998) cita os gurus da escola de TQM — Total Quality Management: Crosby, 1979; Juran, 1988 e Deming, 1986. Ele destaca, também, a Scandinavian School (Grönroos, 1982; 1984; 1995) e a American School (Berry et al., 1985; 1988; 1990; Parasuraman et al., 1988; 1985; Zeithaml et al., 1990), ambas, desenvolveram técnicas, métodos e abordagens para a administração de serviços. Ainda nos anos 80 e 90, Michael Porter publica “Competitive Strategy” (1980), “Competitive Advantage” (1985) e “Competition in Global Industries” (1990), três obras que influenciaram a maneira de pensar em marketing. Porter introduz o conceito de Vantagem Competitiva. A idéia fundamental é que “a concorrência está na base do sucesso ou da falência de uma empresa”. Para Porter (1986:125) existem duas maneiras fundamentais de ampliar a escolha dos compradores. A primeira é aumentar o valor agregado que a empresa proporciona ao comprador e a outra, é redefinir o modo de pensar do comprador sobre a função do produto. Estabelecer e ampliar este valor econômico para o cliente é, para Porter (1986:125), o mesmo que estabelecer uma vantagem competitiva: “Esta nasce do valor que uma empresa é capaz de criar para seus compradores, que forneça resultados superiores à despesa enfrentada para criá-lo. O valor é aquele que os consumidores estão dispostos a pagar: o valor superior deriva portanto de oferecer os preços mais baixos da concorrência por vantagens equivalentes ou de fornecer vantagens únicas que compensem abundantemente um preço maior.” Em tempos de mudanças imprevisíveis e escolhas explosivas, onde o cliente é a pedra angular do mercado, o marketing de serviços torna-se imperativo empresarial. É preciso desenvolver meios e ferramentas apropriadas para enfrentar a diversidade de escolhas e conseguir desenvolver e valor e entregá-lo aos clientes. Referências e Fontes 1. BELK, R.W. Studies in the New Consumer Behaviour, em D. Miller (ed.), Acknowledging Consumption, Routledge, London, 1995. 2. BERRY, Leonard L.; ZEITHAML, V.A.; PARASURAMAN, A. Quality counts in services too. Business Horizons, v. 28, n. 3, p. 44-52, mai./jun. 1985. 3. DI NALLO, Egeria. Meeting Points: soluções de marketing para uma sociedade complexa. São Paulo: Cobra, 1999. 240 p. 4. DRUCKER, Peter. The Practice of Management. Butterworth Heinemann. Oxford, p. 35-36, 1954. 5.ESTADOS UNIDOS. American Marketing <http://www.ama.org/pubs> Acesso em: 10 jan. 2001. Associaton: AMA, 1999. Disponível em: 6. FULLERTON, R. How Modern is Modern Marketing? Marketing’s Evolution and the Myth of the “Production Era”. Journal of Marketing, USA, n. 52, p.108-125, jan. 1988. 7. KOTLER, Philip. Administração de Marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1998. 725 p 8. McCABE, Darren; KNIGHTS, David; MORGAN, Glenn; WILLMOTT, Hugh. Making sense of “quality?”: toward a review and critique of quality initiatives in financial services. Human Relations. London, vol. 51, n 3, p. 389-411, mar. 1998. 9. Parasuraman A. SERVQUAL: a multiple-item scale for measuring consumer perceptions of service quality. Journal of Retailing, v. 64, n. 1, p. 12-40, spring 1988. 10. ZEITHAML, Valarie A.; PARASURAMAN A.; BERRY L. L. Delivering quality service: balancing customer perceptions and expectations. New York: The Free Press, 1990. 226p.