Iniciação científica: Transformações no paradigma trabalhista por Albert Moreira "O mais brutal resultado dessas transformações é a expansão, sem precedentes na era moderna, do desemprego estrutural, que atinge o mundo em escala global”. Ricardo Antunes (Adeus ao Trabalho, p. 41) O universo do trabalho vem sofrendo grandes mudanças. Especialmente em 1980, década na qual os avanços tecnológicos foram ainda mais pertinentes, segmentos como automação, microeletrônica e robótica adentraram as fábricas, proporcionando aumento de capital e otimização como um todo, além da melhoria das relações fabris. Modos de produção clássicos, como o fordismo e o taylorismo mesclaram ou até mesmo substituíram novos conceitos, resultados de novas experiências, sobretudo a “Terceira Itália”. A idéia de produção em série foi um pouco mais deixada de lado, dando lugar a uma flexibilização e uma busca por novas formas de aperfeiçoamento do índice produtivo. Sabel e Piore criam uma tese com base na especialização flexível, derivada do modelo decorrente na Itália, singular pelo desenvolvimento tecnológico e produção nas pequenas e médias empresas. Segundo eles, o modelo estritamente pragmático inviabiliza a utilização da criatividade. Em contrapartida, autores como Clarke críticas a essa tese, alegando que não se trata de um conceito aplicável em todos os casos. Produção em massa e instabilidades na economia são alguns dos aspectos mais contundentes no que diz respeito às fraquezas desse modelo. Como conseqüência dessas duas correntes de pensamento, Harvey, um autor mais moderado, criou a idéia da acumulação flexível, que se baseia em objetivar o crescimento contínuo, explorar o trabalho vivo no processo produtivo e, por fim, sempre ter em mente que o capitalismo tem a característica nata de constante metamorfose nas organizações e na tecnologia. A introdução do Toyotismo no ocidente não é necessariamente o fim dos problemas que existiam nos modelos anteriores, aliás, partindo do ponto que é um modelo criado no oriente, não vá se adequar perfeitamente, seja por fatores geográficos, seja por fatores humanos. A classe trabalhadora japonesa possui outros valores, baseados estritamente na produção de mercadorias, criação e valorização do capital. Dentre os fatores intrínsecos às transformações do mundo trabalhista o desemprego estrutural, aquele que independentemente da conjuntura econômica e do desempenho do nível de atividades, decorre da substituição da mão-de-obra pela tecnologia e do enxugamento dos recursos humanos como fator de competitividade, é o mais relevante. Segundo Antunes, a diminuição do proletariado nas indústrias foi notável em vários países, como Itália, onde a quantidade de postos de trabalho diminuiu de 40% para 30%. Lado a lado com essa tendência, a “economia informal” se faz presente, através das formas de trabalho temporário, parcial, terceirizado e outros. O aparecimento feminino em vários setores, incluindo indústria microeletrônica e serviços, compõe outro marcante fator. Preconceitos que outrora existiram com muito mais intensidade, já são amenos, não excluindo a existência. A mulher provou que tem toda capacidade de ocupar lugar do homem, principalmente nas tarefas mentais. Tudo que foi citado condensa o conceito de classe trabalhadora como algo complexo, diverso e heterogêneo. Os sindicatos também sofreram grandes mudanças. O crescimento desta instituição no setor do médio assalariado foi significativo. Além disso, a tendência neocorporativa se fez mais presente no sentido de querer manter estáveis os interesses do proletariado, o qual se mantém vinculado ao sindicato e que é contra a “economia informal”. As greves ocorrem com menor freqüência, em decorrência da dificuldade de aglutinar os trabalhadores “estáveis” dos “terceirizados”. Essa situação diminui a união entre os estes, acarretando o fortalecimento de movimentos racistas, xenofóbicos, entre outros. No livro Adeus ao Trabalho?, o autor lança mão de teses que explicam e exemplificam o fenômenos que são inerentes à crise do universo trabalhista que, diga-se de passagem, são diversos. As idéias convergem para a conclusão de que ao contrário das preconizações do fim da luta de classes, é importante lembrar que existe a diferença entre o capital social total e a totalidade do trabalho, mesmo que os elementos diferenciadores sejam geográficos, socioeconômicos ou culturais. O caso do Toyotismo, por exemplo, só pode ser utilizado com sua “máxima força” se for repensado em alguns pontos. O mesmo acontece com os sindicatos: existem particularidades presentes nos países desenvolvidos que compõem o modelo de instituição diferente dos países emergentes e subdesenvolvidos. Enfim, as metamorfoses no paradigma trabalhista são preponderantes do micro ao macro, ou seja, do proletariado aos sindicatos. REFERÊNCIAS: ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. Campinas: Cortez /Unicamp, l997;