UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ECONOMIA Curso de Extensão: Formação de Professores – O Mundo do Trabalho e o Currículo Integrado na Formação de Trabalhadores Jovens e Adultos ESTUDOS DIRIGIDOS I 1º e 2º semestre de 2011 Disciplina: Desenvolvimento Econômico e o Mundo do trabalho Parte I – Aula 1 Roteiro de Estudos Orientados Texto 1 HOBSBAWM, Eric – “Uma Economia mudando de marcha”, in: A Era dos Impérios: 1875-1914. 3ª edição. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1988. Apresentação O livro A Era dos Impérios completa a trilogia que Eric Hobsbawm organizou para discutir o que ele mesmo chama de “o longo século XIX”. Os dois volumes anteriores, A Era das Revoluções: 1789-1848; e a Era do Capital: 1848-1875 completam a trilogia. Neste último volume Hobsbawm discute as transformações ocorridas no mundo do final dos oitocentos até a eclosão da Grande Guerra em 1914. No capítulo escolhido como base para a aula o autor discute as transformações ocorridas dentro da economia mundial. Os pontos fundamentais que norteiam sua investigação são os seguintes: aumento acentuado da produção mundial, com crescimento vertiginoso do comércio mundial; Difusão do processo de industrialização para outros paises e não só restrito à Inglaterra. Esta difusão está ligada principalmente a grande revolução nos transportes que foi o surgimento da ferrovia que estreitou as distâncias, aumentou a velocidade do deslocamento das pessoas e das mercadorias, e enfim, unificou ainda mais o mundo. Ocorrência da II Revolução Industrial que modificou profundamente a matriz enérgica mundial, bem como inovações tecnológicas que permanecem até hoje vinculadas à vida das pessoas surgiram. Outro ponto fundamental ocorreu com a mudança na estrutura da economia capitalista, na medida em que o caráter concorrencial desta começa a se transformar em disputas de caráter monopolista, onde a proeminência do Estado nas atividades econômicas aos poucos vai tomando forma. O surgimento da grande indústria, da grande empresa e por fim da grande corporação financeira (os grandes bancos) vão dando forma a grandes complexos econômicos que passam a dirigir a economia capitalista. Conseqüência deste arranjo foi uma grande onda protecionista na maior parte dos países industrializados. Este protecionismo se justifica na medida em que defender a economia nacional passou a ser o grande embate entre as nações mais industrializadas do mundo à época. No que diz respeito ao impacto destas transformações na vida das pessoas tem relevância para o autor o surgimento do mercado de consumo de massas, fazendo com que as classes menos abastadas, principalmente os proletários e moradores das cidades tivessem acesso ao consumo de produtos até então inacessíveis à sua renda. Este fato deveu-se a expansão do credito ao consumidor por parte dos bancos. Uma grande modernização agrícola aumentou vertiginosamente a produtividade da agricultura, o que levou a uma diminuição do número de trabalhadores na agricultura e o aumento da oferta de alimentos, além de uma queda brusca no preço dos mesmos. Questões: 1) Relacione as transformações de caráter tecnológico da II revolução industrial com o surgimento da grande indústria 2) Como o capital financeiro foi decisivo na consolidação de uma estrutura monopolista na economia capitalista no final do século XIX e começo do século XX? 3) Relacione as transformações na estrutura produtiva da economia com o surgimento do mercado de consumo de massas. Texto 2 ABENDROTH, Wolfang – “A expansão dos partidos trabalhistas nacionais e dos sindicatos no continente europeu”, in: A História Social do Movimento Trabalhista Europeu. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. 1 Apresentação O texto de Abendroth traça um panorama sobre o surgimento e expansão dos partidos trabalhistas nacionais e dos sindicatos. No capítulo indicado, seu ponto de partida é a recomendação da Associação Internacional de Trabalhadores (internacional socialista) para que se constituam partidos trabalhistas nacionais. De forma geral o autor concebe a expansão dos partidos e dos grandes sindicatos conforme os paises por ele citado se industrializam na onda de industrializações da segunda metade do século XIX. Uma característica ressaltada pelo autor é a forma como se dará o embate entre os partidos e os governos. Abendroth enfatiza uma preocupação por parte dos governos em organizar um a legislação trabalhista e de direitos sociais que diminuísse, e muito, o caráter de irrupção revolucionária por parte das classes trabalhadoras. Estando 1848 distante da memória dos trabalhadores, a comuna de 1871 em Paris demonstrou a possibilidade de organização da população para a derrubada da ordem governamental. Outro ponto de destaque no texto é que a intervenção governamental no campo social, associada ao forte movimento trabalhista no campo político e sindical abre a possibilidade de garantir uma melhor situação econômica contra os embates conjunturais. Por fim a discussão remete aos destinos ideológicos dos sindicatos e partidos operários, onde estão desde anarco-sindicalistas, passando por marxistas e chegando a social democracia operária, possivelmente a corrente mais numerosa dos movimentos operários. Questões: 1) Relacione o surgimento da grande empresa monopolista e os grandes sindicatos operários. 2) Reflita sobre a seguinte questão: em 1914, para desespero das grandes organizações socialistas da Europa, os trabalhadores, ao invés de empunhar a bandeira do internacionalismo operário, “preferiram” empunhar a bandeira da pátria? 3) Como podemos entender a questão dos direitos sociais e da legislação trabalhista como uma forma de aumentar o poder de disputa por parte dos movimentos operários? Texto 3 MAZZUCCHELLI, Frederico – “A oficina do mundo e o livre-câmbio: notas sobre a ordem liberal burguesa”, in: Os anos de chumbo: economia e política internacional no entreguerras. Campinas; Edições Facamp/Unesp. 2009. Apresentação O texto do professor Mazzucchelli faz uma síntese da hegemonia inglesa ao longo do século XIX, do seu apogeu à sua decadência, que coincide, segundo o autor, com a eclosão da Grande Guerra em 1914. Ao discorrer sobre o pioneirismo inglês na I Revolução Industrial e a forma como se organizou a economia mundial sobre o predomínio inglês, o autor mostra como uma ordem liberal burguesa, ou seja, uma ordem econômica onde a livre concorrência e o livre fluxo financeiro possibilitaram que demais países pudessem posteriormente adentrar ao processo de industrialização. Foi mediante este contexto que foi deflagrada uma disputa desenfreada para competir no mercado mundial, conquistando espaço dentro da lógica econômica capitalista. Esta desenfreada disputa fez com que paises como Estados Unidos e Alemanha principalmente, aproveitassem o grande fluxo de capitais ingleses, bem como o grande desenvolvimento ferroviário e pudessem ao final do século XIX sobrepujar industrialmente a Inglaterra. Esta por sua vez, ao perder a titularidade de “oficina do mundo”, consolidou-se como centro financeiro mundial e grande exportadora de capitais. Também seu grande domínio colonial na África e na Ásia contrabalançava seus déficits econômicos com o resto do mundo. Mazzucchelli chama a atenção para o seguinte aspecto: Na medida em que a concorrência econômica sai do âmbito puramente empresarial e passa para a órbita dos Estados Nacionais, e que o grau de monopolização da economia aumenta, o desaguadouro destas tensões será através das rivalidades militares. Entre outros componentes importantes, Mazzucchelli destaca a forma como a economia mundial foi mudando ao final do século XIX, com os paises industrializados, excetuando-se ai os Estados Unidos, tentavam aumentar seus espaços de influência tanto econômica como política. É deste grande processo que eclodirá a Grande Guerra em 1914, colocando fim a epopéia liberal-burguesa. Questões: 1) Destaque as diferenças entre as etapas concorrencial e monopolista da economia capitalista ao longo do século XIX? 2) Como podemos relacionar as tensões no campo político e econômico entre as nações desenvolvidas e a Grande Guerra em 1914? 2