Princípios de Eletro fisiologia Cardíaca O fluxo de íons através das membranas celulares gera as correntes que formam os potenciais de ação cardíacos. Os fatores que derteminam a magnitude de cada corrente individual e a sua modulação por fármacos podem ser explicados nos níveis celulares e moleculares, Entretanto. O potencial de ação é uma entidade altamente integrada: ações em uma corrente quase que inevitavelmente produzem alterações secundarias em outras correntes. A maioria dos fármacos antiarrítmicos afeta mais de uma corrente iônica e muitos efeitos ancilares, como a modificação da contratilidade cardíaca ou a função do sistema nervoso autônomo. Assim, os fármacos antiarrítmicos exercem ações múltiuplicas e podem ser, em diferentes pacientes, benéficos ou prejudiciais( Rodem, 1994;priori et al., 1999). A Célula Cardíaca em Repouso: A Membrana Permeável ao K+ Os íons movem- se através das membranas celulares em resposta a gradiente elétricos e de concentração. Eles não cruzem a dupla camada lipídica, mas passam através de canais ou transportadores iônicos específicos.A célula cardíaca normal em repouso mantém um potencial transmembrânico, negativo com relação ao exterior , de aproximadamente 80 a 90mV;esse gradiente é estabelecido por bombas, especialmente a Na+, K+ -ATPase, e por cargas aniônicas fixas no exterior das células. Há um gradiente elétrico e um gradiente de concentração que poderiam deslocar os íons Na+ para o interior das células em repouso.Entretanto, os canais de Na+, que permitem aos íons Na+ mover- se ao longo desse gradiente estão fechados nos potenciais transmembrânicos negativos, de tal maneira que o Na+ não penetra as células cardíacas normais em repouso.Em contraste, um tipo especifico de proteína que serve de canal para o K+( canal de influxo regenerador) está em uma conformação aberta nos potenciais negativos. Por esse motivo , em potenciais negativos, o K+ pode mover- se através desses canais, cruzando a membrana celular em resposta a gradientes elétricos ou de concentração. Para cada íon individual, há um potencial de equilíbrio Ex, do qual não resultam quaisquer forças motrizes que desloquem o íon através da membrana. Ex pode ser calculado usando a equação de Nernst: Ex=61 log.([x])i/[x]o) Onde [x]o é a concenteração extracelular do íon e [x]i é a concentração intracelular. Para os valores típicos relativos ao K+, [k]o = 4mMe[k]i = 140 mM, o potencial de equilíbrio Ek, calculando para o K+ é de - 94mV. Não há assim forças remanescentes que movem os íons de K+ para o interior ou para fora das células quando o potencial transmembrânico é de – 94 mV, um potencial próximo ao de repouso. Se a [k]o é elevada para 10 mM, como pode ocorrer em doenças como insuficiência renal ou isquemia miocárdica, o Ek calculando se eleva para – 70 mV. Gradientes Elétricos e Químicos de Na+ e K+ em uma Célula Cardíaca em Repouso. Os canais de influxo regenerador de K+ estãoi abertos( á esquerda), permitindo que os íons K+ cruzem a membrana e que o potencial transmembrânico se aproxime do Ek. Em contraste, o Na+ não penetra na célula, apesar da grande força de impulso resultante, porque nas células em repouso as proteínas do canal de Na+ estão na conformação fechada(á direita) Situação, há uma excelente concordância entre as alterações do Ek teórico , devidas a mudanças da [K]o, e o potencial transmembrânico realmente medido, indicado que a célula normal em repouso é permeável ao K+( porque os canais de influxo regenerador estão abertos) e que a [K]o é a principal determinação de repouso. A Abertura do Canal de Na+ dá Inicio ao Potencial de Ação Se uma célula atrial ou ventricular em repouso é despolarizada acima de um potencial limiar, as proteínas do canal de Na+ alteram sua conformação, passando do estado fechado ( em repouso) para o aberto ( condutor), o que permite que até 10 7 íons de Na+ entrem em cada célula a cada segundo, deslocando o potyencial transmembrânico em direção ao ENa(+65 mV).Esse súbito movimento do íon Na+ dura apenas cerca de um milissegundo, após o que a proteina que serve de canal para o Na+ rapidamente altera sua conformação, passando do estado aberto para o inativado, não condutor. Mdir diretamente a corrente de Na+ é tecnicamente difícil; em alguns contextos experimentais, um substituto conveniente é a inclinação máxima do traço ascendente da fase 0 do potencial de ação, que é proporcional á corrente de Na+ . A visão tradicional é a de que os canais de Na+, uma vez inativados, não podem reabrir até que reassumam a conformação fechada técnicas eletrofisiológicas capazes de medir individualmente o comportamento das proteínas do canal iônico estão atualmente revelando os detalhes de alguns mecanismos dessas transições de estado, e os resultados obtidos estão modificando algumas concepções tradicionais, por exemplo, em algumas células, uma população de canais de Na+ continua a abrir – se durante o platô do potencial de ação. De fato, um defeito da proteína do canal de Na+, localizado em uma região da estrutura molecular que já foi implicada no controle da inativação do canal , causando uma forma de síndrome de QT longo congênita, uma doença associada a uma repolarização anormalmente longa e a sérias arritmias.Geralmente, entretanto, e á medida que a membrana move as proteínas do canal de Na+ de sua conformação inativada para a fechada. A relação entre a disponibilidade de canais de Na+ e o potencial transmembrânico é um importante determinante da condução e da refratariedade em muitas células. As alterações do potencial transmembrânico, geradas pela corrente de influxo de Na+, produzem , por seu turno, uma série de aberturas( em alguns casos seguintes de inativação) de outros canais.Por exemplo, quando uma célula do epicardio ou do sistema de condução de His- Purkinje é despolarizada pela corrente de Na+, canais de K+ de efluxo transitório alteram sua conformação de modo a entrar em um estado aberto, ou condutor. Como o potencial transembrânico no final da fase 0 é positivo em relação ao Ek, a abertura dos canais de efluxo tranitório resulta em uma corrente de efluxo ou repolarizante de K+ denominada/to), que contribui para o entalhe observado da fase dos potenciais de ação desde esses tecidos. Tal como os canais de Na+, os canais de K+ de efluxo transitório inativam – se rapidamente .Durante o platô da fase 2 de um potencial de ação cardíaco normal, correntes de influxo despolarizantes, que fluem primariamente através, de canais de Ca+, são equilibrados por correntes de efluxo primariamente através de canais de Ca+2, são equilibradas por correntes de efluxo, repolarizantes, que influem principalmente através de canais de K+(regenaração tardia).As correntes regeneradoras tardias( coletivamente denominadas/k) aumentam com o tempo, ao passo que as correntes de Ca2+ inativa – se ( e desse modo diminuem com o tempo); como resultado, as células cardiacas repolarizam varias centenas de milissegundos após a abertura inicial dos canais de Na+.Algumas mutações nos genes que modificam os canais de K+ repolarizantes são responsáveis pelas formas mais comuns as síndrome de QT longo congênita.A identificação desses canais específicos permitiu caracterizar mais precisamente os efeitos farmacológicos dos fármacos antiarrítmicos. Um mecanismo comum pelo qual os fármacos prolongam os potenciais de ação cardíacos e provocam arritmias é a inibição de uma corrente regeneradora tardia especifica, /Kr, gerada pela expressão do gene humano relacionado com o étera- GO- GO(Herg). A proteina do canal iônico gerada pela expressão do Herg difere dos outros canais iônicos em importantes aspectos estruturais que a tornam muito canais iônicos em importantes aspectos estruturais que tornam muito mais suscetível ao bloqueio por fármacos;entender essas restrições estruturais é um primeiro passo importante para a concentração de fármacos sem as propriedades bloqueadores da Kr/.Evitar o bloqueio do canal/Kr Herg tornou- se uma importante questão no desenvolvimento de novos fármacos antiarrítmicos. Diferentes Comportamentos do Potencial de Ação entre Células Cardíacas Essa descrição geral do potencial de ação e das correntes que o originam deve ser modificada em certos tipos celulares. Relação entre um Hipotético Potencial de ação do Sistema de Condução e o Curso Temporal das Correntes que o Geram. As magnitudes das correntes não estão em escala; a corrente de Na+ é ordinariamente 50 vezes maior do que qualquer outras corrente, embora a a parte que ainda presiste no platô seja pequena..Multiplos tipos de correntes de Ca2+, de correntes transitórios de efluxo (lto)e de correntes regeneradoras tardias(lk) já foram identificados.Cada uma representa uma diferente proteína que serve de canal, habitualmente associada a subunidades auxiliares( modificadoras da função).A4- AP( 4- aminopiridina) é um bloqueador de canais de K+ amplamente utilizado in vitro. A ltop2 pode ser uma corrente de Cl- em algumas espécies, Os componentes da lK foram separados com base na rapidez com que são ativados: lentamente(lK8) , rapidamente(lKr) ou ultrarapidamente(lKur). A corrente independente de tempo e ativada por voltagem pode ser produzida por Cl-( lCl) ou K+.Para todas as correntes monstradas aqui , os genes que codificam as principais proteínas formadoras de poros já foram clonadas. A taxa do disparo espontâneo é habitualmente mais rápida nas células do nodo sinusal, as quais , por esse motivo, atuam como marcapasso natural do coração.Canais de K+ especializados estão envolvidos na corrente do coração. A biologia molecular moderna e as técnicas eletrofisiológicas, com as quais se pode estudar em um fragmento isolado de membrana o comportamento das proteínas do canal para um determinado íon.Refinaram a descrição dos canais iônicos importantes para o funcionamento normal das células cardíacas e identificaram canais que podem ser particularmente importantes em condições patológicas.Por exemplo, sabemos agora que as correntes de influxo transitório e regenerados tardias resultam de múltiplas subtipos de canais iônicos e que a hiperpolarização evocada pela acetilcolina resulta da ativação de um canal de K+ formado pela heterooligomerização de múltiplas e distintas proteínas do canal.Compreender que diversos elementos moleculares diferentes servem á regulação do potencial de ação cardíaco é importante por que certos fármacos podem afetar seletivamente um subtipo de canal. Alem disso, proteínas auxiliares modificadoras da função ( que são produtos de diversos genes) já foram identificadas para a maioria dos canais iônicos .Além dos canais de Ca2+ habituais( do tipo L), um segundo tipo de canal de Ca2+, mais proeminente em potenciais relativamente negativos, os canais do tipo T, foram identificados em algumas células cardíacas .Os canais de cálcio do tipo T podem ser importantes em doenças como a hipertensão e podem ter um papel atividade marca-passo em algumas células.Um agente antihipertensivo seletivo para o tipo T, o mibefradil, esteve brevemente disponível no final da década de 1990, mas foi retirado do mercado por estar envolvido em muitas e serias interações medicamentosas indesejáveis.A clonagem molecular também identificou múltiplas isoformas, derivadas de genes distintos, na origem do canal de cálcio do tipo L. Canais específicos que transportam Íons Cl- resultam em correntes de repolarização já foram identificados em muitas espécies;alguns desses canais são identificados apenas em condições fisiopatológicas.Alguns canais K+ são quiescentes quando as reservas intracelular de trifosfato de adenosina(ATP) são normais e ativamse quando essas reservas sofrem depleção.Esses canais K+ inibidos por ATP podem assumir particular importância nas células em repolarização durante estados de estresse metabólico, como a isquemia mio cárdia. Manutenção da Homeostase Intracelular A cada potencial de ação, o interior da célula ganha íons Na+ e perde íons K+.Para manter a homeostase intracelular, um mecanismo , ou bomba , de troca de Na+ -K+ dependente de ATP é ativado na maioria das células.Essa Na+, K+ - ATPase expele três íons de Na+ para cada dois íons K+transferidos do exterior para o interior da célula;conseqüentemente, o bombeamento resulta, por si só em uma corrente de influxo( repolarizante). Normalmente , o Ca2+ intracelular é mantido em niveis muito baixos .Em miócitos cardíacos, a entrada de Ca2+ na celula durante cada potencial de ação é um sinal para que o reticulo sarcoplasmático libere suas reservas de Ca2+.O resultante aumento do Ca2+ intracelular desencadeia então processos contráteis dependentes de Ca2+.A remoção do Ca2+ intracelular é feita por uma bomba de Ca2+ dependente ATP (que move os íons Ca2+ de volta para os seus locais de armazenamento no reticulo sarcoplasmático) e por um mecanismo de troca eletrogênica Na+ - Ca2+ na superfície celular, que troca três íons Na+ do exterior por cada íon Ca2+ expelido.A regeneração anormal do cálcio intracelular, caracterizada por disfunção contrátil, tem sido cada vez mais bem descrita na insuficiência cardíaca e também pode contribuir para arritmias nesse contexto .A elevação inicial do Ca2+, que serve para desencadear a liberação de Ca2+ das reservas intracelulares, resulta da abertura dos canais de Ca2+ na membrana celular ou da entrada de Ca2+através da troca Na+ - Ca2+. Em resposta á entrada de Na+ na fase0, dos canais de Ca2+ é muito menor que a corrente de Na+ nos átrios, ventrículos e sistema de condução subendocárdico.Esse atraso na condução permite a concentração atrial impelir o sangue para i interior do ventrículo assim o debito cardíaco. Um avez tenham deixado o nodo AV, os impulsos entram no sistema de condução, onde as correntes de Na+ são maiores que em qualquer outro tecido.A isso corresponde uma propagação mais rápida , que chega a 0,75 m/s longitudialmente e se manifesta á medida que os impulsos disseminam – se do endocárdio epiocardio e estimulam a concentração ventricular coordenada, pelo complexo QRS no ECG. A repolarização ventricular na onda T do ECG. O ECG pode ser usado como um guia simples de algumas propriedades do tecido cardíaco a freqüência cardíaca reflete o automatismo do nodo sinual.a duração do QRS reflete o tempo de condução nos ventrículos e o intervalo QT é uma medida da duração do potencial de ação ventricular. Propagação do Impulso e Eletrocardiograma Afigura mostra os potencias de ação de diferentes regiões do coração. Em cada painel, o tecido despolarizado. Diferença Qualitativas nas Respostas dos Tecidos de Resposta Rápida e Lenta aos Estímulos Prematuros. Quando o estímulos prematuro é aplicado muito precocemente no tecido de resposta rápida, não há traço ascendente , pois todos os canais de Na+ estão ainda no estado inativo .Á medida que o potencial de ação se repolariza, os canais de Na+ se recuperam do estado inativado e assumem o estado de repouso, a partir do qual a abertura pode ocorrer. A inclinação da ascensão da fase 0 dos potencias de ação prematuros é maior com os estímulos mais tardios., porque a recuperação da inativação é dependente da voltagem.Relação entre o potencial tranmembrânico e o grau em que os canais de Na+ se recuperam da inativação.A maioria dos fármacos que bloqueiam o canal de Na+ deslocam essa relação para esquerda.Em tecidos de resposta lenta, os estímulos prematuros estão deprimidos, mesmo quando liberados após a plena repolarização do potencial de ação; a recuperação do estado de inativação é dependente de tempo.Se o estimulo ocorrer durante a fase 3 do potencial de ação, a magnitude da corrente de Na+ resultante dependerá do numero de canais de Na+ já recuperados , o que por seu turno, dependerá da voltagem com que o estimulo extraordinário foi aplicado.Assím nas células atriais , ventriculares e do sistema His-Purkinje( células de resposta rápida), o que determina a refrataeiedade é a recuperação dos canais de Na+ dependente da voltagem,desde a inativação.A refratariedade é frequentemente medida verificando se aplicação de estímulos prematuros a propagações de tecidos (ou ao coração inteiro) resultanta na propagação de impulsos.Embora a magnitude da corrente de Na+ seja propagação de impulsos.Embora a magnitude de corrente de Na+ seja importante determinante dessa propagações multicelulares.Ordinariamente, cada célula faz conexões com muitas células vizinhas, de modo que o impulso disseminam- se rapidamente e o coração age como uma única grande célula, ou seja como um sincício. Entretanto se o arranjo geométrico é tal que uma única célula deve suprir a corrente de despolarização a muitas células vizinhas, a condução pode falhar. O período refratário efetivo(ERP) é o mais curto intervalo de tempo em que um estimulo prematuro resulta em uma resposta propagada e frequentemente usado para descrever os efeitos de um fármaco no tecido intacto. A situação é diferente no tecido dependente de canais de Ca2+(resposta lenta).Como o nodo AV. Oprincipal fator a controlar a recuperação desde a inativação dos canais de Ca2+ é o tempo.Assim mesmo que um potencial de ação dependente de canal de Ca2+ já se tenha repolarizado para o seu potencial de repouso inicial, nem todos os canais de Ca2+ estão disponíveis para recitação.Portanto, um estimulo extraordinário aplicado logo após ter- ser completado a repolarização gera uma corrente de Ca2+ reduzida, que pode propagar – se lentamente para as células adjcentes antes de extinguir- se.Um estimulo extraordinário aplicado mais tarde resultará em uma corrente de Ca2+ maior e de propagação mais rápida. Assim, em tecidos dependentes de canais de Ca+2, que incluem não apenas o nodo AV, mas também tecidos cujas características intrínsecas foram alteradas por fatores como isquemia miocárdio, a refratariedade é dependente de tempo e propagação ocorre lentamente .A condução que exibe tal dependência do momento em que são aplicados os estímulos prematuros é denominado momento em que são aplicados os estímulos prematuros é denomino decremental. Em contraste, a velocidade de condução nos tecidos de resposta rápida permanece independente da prematuridade até o momento em que o estimulo é aplicado antes do fim do período refratário efetivo, caso em que a condução falha complementa mente (resposta tudo ou nada). A condução lenta no coração, um fator critico na gênese das arritmias reentrantes, também pode ocorrer quando as correntes de Na+ estão deprimidas por doenças ou pela despolarização da membrana, o que resulta em menor disponibilidade de canais de Na+ no estado de equilíbrio. Mecanismos das Arritmias Cardíacas Ocorre arritmias quando há uma perturbação da seqüência normal de iniciação e propagação do impulso.Um defeito na iniciação do impulso pode resultar em freqüências cardíacas baixas (bradiarritmias), nas quais a incapacidade do impulso em propagar se normalmente do átrio para o ventricular resulta na omissão de batimentos ou em bloqueios cardíaco, o que habitualmente reflete uma anormalidade no nodo AV ou no sistema de His-Purkinje. Essas anormalidades podem ser causadas por fármacos ou doença estrutural; no ultimo caso, pode ser necessário um marca- passo cardíaco permanente. Ritmos cardíacos anormalmente rápidos(taquiarritmias) são problemas clínicos comuns, que podem ser tratados com fármacos antiarrítmicos.Três principais mecanismos subjacentes já foram identificados: a intensificação do automatismo, o automatismo desencadeado e reentrada. Arritmias Cardíacas Induzidas por Fármacos Em cada desses casos , são obrigatórios o reconhecimento do fármaco agressor e a interrupção do tratamento. Pós- Despolarizações e automatismo Desencadeado Sob certas condições fisiopatológicas, um potencial de ação cardíaco normal pode ser interrompido ou seguido por uma despolarização anormal.Se alcança o limiar, essa despolarização anormal pode, por seu turno, dar origem atraços ascendentes secundários que podem propagar – se e criar ritmos anormais.Esses traços ascendentes secundários anormais ocoreem apenas após um traço ascendente normal inicial ou desencadeante e também são chamados ritmos desencadeados. No primeiro caso, sob condições de sobrecarga intracelular de Ca2+ isquemia miocárdica, estrsse adrenérgico, intoxicação por digital ou insuficiência cardíaca.Um potencial de ação normal pode seguir- se de pós despolarização alcança limiar, um ou mais batimentos desencadeados secundários podem ocorrer .A amplitude da PDT aumenta invitro mediante a aceleração do marca- passo e as arritmias clinicas tidas como correspondentes aos batimentos desencadeados mediados por PDT são mais freqüentes aos batimentos desencadeados mediadores por PDT. São mais freqüentes quando a freqüência cardíaca basal é rápida.No segundo tipo de atividade desencadeada, a anormalidade fundamental é um notável prolongamento do potencial de ação cardíaco.Quando isso ocorre, a repolarização de fase 3 pode ser interrompida por uma pós despolarização precoce.Os ritmos desencadeados mediados invitro pelas PDP e as Reentrada Reentrada definida anatomicamente. Pode ocorrer reentrada quando os impulsos se propagam por mais de uma via entrada dois pontos do coração e quando essas vias tem propriedade eletrofisiológicas heterogêneas.Paciente com síndrome de Wolf-ParkinsonWhite(WPW) tem conexões acessórias entre átrio e o ventrículo.A cada despolarização do nodo sinusal, os impulsos podem excitar o ventrículo através das estruturas normais(o nodo AV) ou através das vias acessórias.Entretanto, as propriedades eletrofisiológicas do nodo AV e das vias acessórias diferem: as vias acessórias habitualmente consistem em tecido de resposta rápida, ao passo que o nodo AV compõe- se de tecidos de resposta lenta.Assim, quando ocorre um batimento prematuro, a condução pode falar nas vias acessórias e continuar, embora lentamente , pelo nodo AV e depois pelo sistema de His-Purkinje; nesse ponto , o impulso em propagação pode encontar a extremidade ventricular da vida acessória quando ele não está mais em estado refratário.A probabilidade de que a via acessória não mais esteja refrataria aumenta á medida que a condução pelo nodo AV se torna mais lenta.Uma vez de volta ao átrio o impulso pode então reentrar no ventrículo através do nodo AV, reentrar no átrio através da via acessória e assim sucessivamente.A reentrada deste tipo, denominada taquicardia reentrante AV, é determinada pela presença de um circuito anotomicamente definido, pela heterogenidade da refratariedade entre as regiões do circuito e pela condução lenta em uma parte do circuito.Reentradas anatomicamente definidas semelhantes ocorren na região do nodo AV(taquicardia rwwntrada do nodo AV) e no átrio ( flutter atrial).Taquicardia supraventricular paroxística( TSVP) inclui a reentrada do nodo AV, que compartilham muitas manifestações clinicas. Em alguns casos, agora é possível identificar e proceder á ablação de porções criticas das vias reentrantes(( ou dos focos automáticos).Curando assim o paciente e evitando a necessitada de de tratamento farmacológico a longo prazo. A ablação por meio de radiofreqüência é levada a cabo através de um cateter introduzido no coração e implica convalescença mínima. Reentrada definida funcionalmente. Também pode ocorrer reentrada na ausência de uma via atomicamente definida.Por exemplo, as alterações do acoplamento célula a célula que ocorrem após infarto agudo do miocárdio em cães resultam em taquicardia ventricular (VT) reentrante cujos circuitos dependem não apenas da cicatrização pósinfarto mas também das propriedades de condução longitudial rápida e de condução transversa lenta do tecido cardíaco.Se ocorrem isquemia e outras perturbações eletrofisiológica em uma área de condução suficientemente lenta no ventrículo, os impulsos que deixam a área podem encontrar o restante do miocárdio em estado reexcitavel, ao que pode seguir- se uma fibrilação,. A fibrilação ventricular e a fabricação atrial são um componente extremo de reentrada funcionalmente definida( ou de circuito condutor), as células são reexcitadas tão logo estejam suficientemente repolarizadas para permitir que um numero suficiente de canais de Na+ se recupere da inativação nesse contexto, não há padrões organizados nem atividade contrátil coordenada. Mecanismo de Ação dos Fármacos Antiarrítmicos Tratamento Antiarrítmico conforme o mecanismo da arritmia O tratamento medicamentoso imediato é administrado por via intravenosa; o tratamento a longo prazo implica o uso oral. Bloqueio do Canal Iônico Dependente do Estado Quatro modos de reduzir a freqüência de descargas espontâneas nos tecidos com automatismo. Fundamentos do mecanismo de ação de drogas Farmacologia é a ciência voltada para o estudo das drogas sob todos os aspectos, desde as suas origens até os seus efeitos no homem. Droga pode ser definida como qualquer substância capaz de promover alterações fisiológicas ou farmacológicas ou, ainda, modificação de quadros patológicos, com ou sem a intenção de beneficiar o indivíduo. Segundo a OMS, o conceito de droga restringe-se às substâncias usadas no homem para diagnóstico, prevenção e tratamento das doenças. O conceito de medicamento ou fármaco é mais limitado, pois diz respeito, unicamente, a drogas de ação preventiva ou de ação paliativa ou curativa no organismo doente. Contudo, por ser habitual no meio médico, os termos droga, fármaco e medicamento serão usados como sinônimos, nesta revisão. Sendo o campo da farmacologia muito vasto, justifica-se a sua divisão em vários capítulos. A farmacologia clínica, capítulo destinado a estudar a eficácia e segurança dos medicamentos, é, sem dúvida, um capítulo de grande importância para a prática clínica. Contudo, não menos importantes são os capítulos da farmacocinética e da farmacodinâmica que oferecem o suporte imprescindível ao bom entendimento da farmacologia clínica. A farmacocinética estuda o caminho percorrido pelo medicamento no organismo, desde a sua administração até a sua eliminação. Pode ser definida, de forma mais exata, como o estudo quantitativo dos processos de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação dos fármacos "in natura" ou dos seus metabolitos. Quando uma droga, em seu trajeto por meio dos diversos compartimentos orgânicos, alcança a biofase e interage com os sítios com os quais mantém afinidade, resulta uma cadeia de eventos que determina, em última análise, o seu efeito. Entende-se por biofase o espaço diminuto que circunda as imediações da estrutura alvo. A farmacodinâmica estuda a inter relação da concentração de uma droga entre a biofase e a estrutura alvo, bem como o respectivo mecanismo de ação. Os conhecimentos sobre o local e o mecanismo de ação de fármacos têm crescido graças à intensificação das pesquisas bioquímicas e farmacológicas nesse campo. No que concerne ao mecanismo de ação, os fármacos podem ser classificados em dois grandes grupos. 1. Fármacos estruturalmente inespecíficos, cuja atividade resulta da interação com pequenas moléculas ou íons encontrados no organismo. As ações dessas drogas dependem, em última análise, de suas propriedades físico-químicas tais como a solubilidade, o pKa, o poder oxiredutor e a capacidade de adsorção. As drogas desse grupo não apresentam como prérequisito uma relação estrutura-atividade e necessitam de concentrações relativamente altas para se mostrarem efetivas. 2. Fármacos estruturalmente específicos, cuja atividade resulta da interação com sítios bem definidos apresentam, portanto, um alto grau de seletividade. As drogas desse grupo também apresentam uma relação definida entre sua estrutura e a atividade exercida. Como conseqüência, drogas de estrutura similar podem exercer o mesmo tipo de atividade. Esses fármacos atuam em concentrações muito baixas, por meio de interações com enzimas, proteínas carregadoras, ácidos nucleicos ou receptores farmacológicos. 2.1. Drogas que interagem com enzimas: o exemplo mais expressivo de drogas que interagem com enzimas é dado pelos anticolinesterásicos que, de forma reversível ou irreversível, inativam a acetilcolinesterase. Essa enzima, que biotransforma a acetilcolina, apresenta dois sítios ativos: o sítio aniôntico, ao qual se liga o grupo trimetilamônio da acetilcolina, e o sítio esterásico, ao qual se liga a carboxila desse neurotransmissor. O edrofônio, a neostigmina e a piridostigmina inativam a enzima de forma reversível, ainda que por interações diferentes do ponto de vista químico. O edrofônio prende-se ao sítio aniôntico da enzima por meio de uma ligação eletrostática e ao sítio esterásico por meio de uma ponte de hidrogênio. Já a neostigmina e a piridostigmina transferem para a enzima o grupo carbamato que forma com o sítio esterásico uma ligação covalente. Somente após hidrólise da ligação carbamato-enzima, esta torna-se novamente disponível para metabolizar a acetilcolina. Os anticolinesterásicos irreversíveis são representados pelos organofosforados que atuam por fosforilação do sítio esterásico, condicionando uma regeneração extremamente lenta da enzima. Os anticolinesterásicos são usados, rotineiramente, na reversão farmacológica do bloqueio neuromuscular, sendo também empregados em oftalmologia, no tratamento da "miastenia gravis" e de síndromes colinérgicas. Outros exemplos de drogas que atuam inibindo sistemas enzimáticos são apresentados a seguir. Os inibidores da enzima conversora de angiotensina, representados pelo captopril, pelo enalapril e pelo lisinopril, atuam, basicamente, impedindo a formação da angiotensina II a partir da angiotensina I, por inibirem a peptidil-dipeptidase, enzima responsável por essa reação. As sulfonamidas inibem a diidropteroato-sintetase, enzima responsável pela incorporação do ácido para-aminobenzóico no processo de síntese do ácido fólico. Por isso, somente são sensíveis às sulfonamidas os microorganismos que não conseguem utilizar o ácido fólico préformado. A trimetropina, agente antifolínico que vem sendo incorporado às sulfonamidas, em especial ao sulfametoxazol, em alguns produtos comerciais, inibe uma redutase que catalisa a transformação do ácido diidrofólico para o ácido tetraidrofólico, passo essencial para a síntese do DNA. A penicilina e as cefalosporinas inibem a transpeptidase, enzima essencial à síntese do peptidoglicam, substância indispensável para a formação da parede bacteriana Por esse mecanismo exercem um efeito bacteriostático. Os agentes antiinflamatórios não esteróides têm como mecanismo de ação mais importante a inibição das ciclo-oxigenases, enzimas que catalisam o processo de síntese das prostaglandinas. Um grupo de antidepressivos exerce sua atividade inibindo a monoamino-oxidase, enzima responsável pela desaminação oxidativa de aminas neurotransmissoras, tais como a noradrenalina, dopamina e serotonina. A acetazolamida, por ser um inibidor da anidrase carbônica, exerce efeito diurético e reduz a pressão intra-ocular nos casos de glaucoma. A explicação mais provável para a ação inotrópica dos digitálicos é uma inibição da enzima Na+ K+ Atepase. Alterando a configuração dessa enzima, os glicosídeos cardíacos interferem com a bomba de Na+ e, conseqüentemente, com o transporte desse íon para fora da célula. 2.2. Drogas que interagem com proteínas carregadoras: a competição com diversas substâncias, na interação com proteínas carregadoras que facilitam o transporte através da membrana celular, é o mecanismo de ação de várias drogas pertencentes a grupos farmacológicos distintos. São exemplos as anfetaminas, a clorpromazina e os antidepressivos tricíclicos que bloqueiam, por esse mecanismo, a captacão de noradrenalina no terminal adrenérgico. Os antidepressivos tricíclicos intensificam a ação de aminas biogênicas no sistema nervoso central bloqueando a captação dessas aminas nos respectivos terminais nervosos. As ações simpatomiméticas da cocaína também são determinadas belo bloqueio de captação da noradrenalina e, em menor grau, da adrenalina. Os diuréticos de alça, representados pela furosemida e pelo ácido etacrínico, atuam interferindo com o transporte de Na+/K+/Cl- nas células epiteliais dos túbulos renais, no nível do ramo ascendente da alça de Henle. 2.3. Drogas que interferem com os ácidos nucleicos: alguns antibióticos, como as tetraciclinas, os aminoglicosídeos, o cloranfenicol e a eritromicina, interferem com a síntese proteica, ao nível dos ribossomas, dificultando a tradução da informação genética. Outros interferem com a síntese do RNA, como a rinfanpicina, ou com a síntese do DNA, como a mitomicina, a azacerina, a porfiromicina, a feomicina e a edeína, inibindo, respectivamente, o RNA polimerase e DNA polimerase. Os agentes antineoplásicos, de forma mais extensa do que os antibióticos, atuam nas diversas etapas da cadeia que culmina com a síntese proteica, interferindo com a síntese dos ribonucleotídeos e dos deoxirribonucleotídeos (mercaptopurinas, tioguanina, N-fosfoacetil-Laspartato e metrotexato), com a formação do DNA e do RNA (bleomicina, dactinomicina, doxorrubicina, mitomicina e fármacos alquilantes) ou com a fase final da síntese proteica ( Lasparginase). 2.4. Drogas que interagem com receptores: a ativação ou o bloqueio de receptores desempenha um papel de extrema importância no mecanismo de ação de drogas. O conceito de receptor teve sua origem quando Paul Ehrlich apresentou a hipótese de que o protoplasma apresentava expansões nas quais se acoplavam drogas, toxinas e antígenos. Langley ampliou as idéias de Ehrlich ao propor que a ação da acetilcolina era conseqüente a sua fixação numa "substância receptiva" e que o curare tinha a capacidade de bloquear uma "área receptiva" do músculo esquelético ao estímulo promovido pela nicotina. Genericamente, receptor pode ser compreendido como componentes macromoleculares funcionais do organismo com o qual a molécula da droga se combina para produzir um efeito. Os receptores eram, inicialmente, uma entidade conceitual e passaram a ser uma realidade concreta depois de serem isolados e caracterizados, graças ao desenvolvimento de novas técnicas, como marcação com ligantes radioativos, clonagem de genes e procedimentos imunológicos. Do ponto de vista de sua localização, os receptores podem ser classificados em citoplasmáticos e superficiais, sendo estes também denominados por Schwinn de proteínas excitáveis transmembrana. Os primeiros são representados pelos receptores de esteróides e de hormônios tiroideanos. Entende-se que estejam situados no interior da célula, uma vez que esses hormônios, sendo lipossolúveis e não ionisados, atravessam facilmente a membrana celular. O complexo esteróide-receptor controla o RNA-polimerase e, em conseqüência, a produção de RNAm. Embora essa ação se desenvolva em minutos, o efeito decorrente somente se manifesta depois de várias horas. As proteínas excitáveis transmembrana podem ser classificadas em canais voltagem- dependentes, receptores acoplados diretamente ao canal iônico e receptores vinculados às proteínas G. Os canais voltagem-dependentes são representados pelos canais de sódio, de potássio e de cálcio. Operacionalmente eles são concebidos como poros ou túneis que podem ser atravessados por íons. Fica assegurada, dessa forma, a transferência desses elementos para o interior da célula, contornando a dificuldade que eles têm de atravessar a estrutura lipoproteica que forma a membrana celular, por não serem lipossolúveis. Esses canais são seletivos, e recebem a denominação do íon para o qual é mais permeável. A estrutura de todos eles é semelhante, embora cada um deles apresente peculiaridades. São constituídos de várias subunidades proteicas, das quais a denominada subunidade alfa é a mais importante no que concerne a formação do túnel. Essa subunidade é uma glicoproteína constituída por um número variável de aminoácidos que formam seis hélices transmembrana. A quarta hélice é a mais importante, já que parece ser o sensor de voltagem do canal. Tanto os canais de Na+ quanto os de K+ são ativados por despolarização da membrana. Os canais de Na+ apresentam algumas diferenças em função da espécie animal. No homem, estudos realizados nesta década em canais retirados do cérebro e corretamente purificados revelaram uma mega subunidade alfa (260,000 a 300,000 Dalton) e uma pequena subunidade beta (30,000 a 36,000 Dalton). A função primária do canal de Na+ é promover um potencial de ação rápido. Quando ativado, ele propicia um fluxo de Na+ para o interior da célula, o que gera uma corrente elétrica detectável por processo eletrofisiológico. Os anestésicos locais bloqueiam a propagação do impulso nervoso por se ligarem a um sítio localizado no interior do canal de sódio. Os canais de K+ são mais heterogêneos do que os canais de Na+ e, como corolário, são responsáveis por funções mais diversificadas. Assim, alguns desses canais, com alta condutância, são responsáveis pelo potencial de repouso da membrana. Outros estão envolvidos no processo de repolarização e são bloqueados, seletivamente, pelo tetraetilamônio. Um terceiro tipo deve estar envolvido com a excitabilidade neuronal, sendo bloqueado, seletivamente, pela 4-aminopiridina. Quando esse bloqueio ocorre, o limiar de excitabilidade do neurônio é reduzido e descargas repetitivas podem ser observadas. Deve ser esclarecido que há canais de Ca+ controlados por neurotransmissores acoplados às proteínas F. Os canais de Ca++ voltagem-dependentes se diferenciam em três tipos fundamentais: T, L e N. Os do tipo T têm um tempo de abertura muito rápido e uma condutância baixa, enquanto os do tipo L têm um tempo de abertura relativamente prolongado. Os do tipo N, encontrados principalmente ao longo dos neurônios, têm características intermediárias entre os dois primeiros. Mais recentemente, foi identificado um quarto tipo de canal de Ca++, que recebeu a designação de P por estar situado primordialmente na rede de Purking que é ativado por voltagem mais elevada do que os demais e cuja inativação se processa lentamente. Há, também, uma discriminação farmacológica desses receptores. Os chamados bloqueadores dos canais de Ca++, principalmente os do grupo das diidroperidinas, representados pela nifidipina, bloqueiam, seletivamente, os canais do tipo L, não exercendo, praticamente, nenhuma atividade nos canais dos tipos T, N ou P. Essa discriminação é importante do ponto de vista terapêutico, dada a abundância desse tipo de canal no músculo cardíaco e na musculatura lisa vascular. O amiloride, embora seja usado como diurético por interferir com o transporte de Na+ no nefrom terminal (Goodman), bloqueia, seletivamente, os canais do tipo T. Os canais do tipo N são bloqueados pela w-cronotoxina, oriunda de um molusco marinho, e os do tipo P por uma toxina extraída da teia de aranha. Deve ser também ressaltado que, recentemente, foram apresentadas evidências de uma possível ativação dos canais de Ca++, mediada por proteínas G, seja diretamente ou por meio de um segundo mensageiro. A importância dos canais de Ca++ deve ser ressaltada em função do papel fisiológico desse íon na contração, quer dos músculos lisos quer dos músculos esqueléticos, na liberação de neurotransmissores e na regulação da excitabilidade neuronal. Os receptores ligados diretamente ao canal iônico são constituídos por macromoléculas contendo várias subunidades que, pelo modo como se distribuem, formam um canal central (ionoforo). Em pelo menos uma dessas subunidades encontra-se o local de reconhecimento de ligantes ou de fármacos. Conceitua-se como ligantes substâncias endógenas, tais como neurotransmissores e hormônios. Esses receptores participam da transmissão sináptica rápida, mediada por neurotransmissores. A ligação do neurotransmissor ao local de reconhecimento abre o canal iônico, permitindo a migração de íons . Os principais neurotransmissores que se ligam a esse tipo de receptores são: a acetilcolina (receptores nicotínicos), o ácido g aminobutírico (GABAA), a glicina e o aspartato-glutamato (NMDA e AMPA). Várias drogas exercem suas ações farmacológicas atuando como agonistas ou antagonistas desses receptores. Assim, as substâncias ansiolíticas e hipnóticas, extensivamente utilizadas em clínica, interferem com a transmissão GABAérgica, modulando essa transmissão ao nível dos receptores GABAA. Derivados fenciclidínicos, como a quetamina, são antagonistas dos aminoácidos excitatórios nos receptores NMDA. Os bloqueadores neuromusculares e os bloqueadores ganglionares exercem seus efeitos competindo com a Ach ao nível dos receptores nicotínicos. Os receptores vinculados às proteínas G, quando ativados, desencadeiam um processo de transdução e amplificação, cujo resultado final resulta de uma ativação em cascata de sistemas enzimáticos. Os principais neurotransmissores que atuam por intermédio desses receptores são a acetilcolina (receptores muscarínicos), adrenalina, noradrenalina, dopamina, serotonina e os neuropeptídeos. A estrutura dos receptores acoplados às proteínas G já foi convenientemente estudada tomando-se, como modelo, os adrenorreceptores. Foi evidenciada a presença de sete colunas helicoidais de aminoácidos hidrofóbicos que se estendem transversalmente ao longo da membrana e a ultrapassam, interna e externamente. Essas colunas são interconectadas por três alças, também constituídas de aminoácidos, nos dois lados da membrana. No extremo externo da seqüência de aminoácidos encontra-se um radical amina e na extremidade do prolongamento interno um radical carboxila. Como o prolongamento carboxílico é ancorado na superfície interna da membrana, forma-se uma quarta alça voltada para o interior da célula. A seqüência dos aminoácidos permite identificar os diversos receptores. Quando se comparam subtipos, a identidade na seqüência de aminoácidos supera 75%. Já, quando se comparam tipos diferentes de receptores, como um receptor adrenérgico com um receptor colinérgico muscarínico, essa identidade gira em torno de 35%. Para o acoplamento com as proteínas G são identificadas como regiões importantes a terceira alça intracelular, maior que as demais, e o término carboxílico. As proteínas G são assim denominadas graças a sua ligação com nucleotídeos guanínicos (GDP-GTP) . Elas são responsáveis pela transdução do sinal. Entende-se por transdução o processo pelo qual um impulso é conduzido e amplificado para gerar uma resposta adequada. O impulso é desencadeado pelo acoplamento do ligante ou da droga ao receptor. As proteínas G promovem a transdução e as enzimas ativadas exercem o papel de amplificador. O segundo mensageiro, que surge como resultado dessa cascata de eventos, promove uma resposta adequada, geralmente por meio de reações de fosforilação. As proteínas G são heterotrímeros e suas três subunidades já foram purificadas e clonadas. A subunidade a, ao contrário das subunidades b e g - caracterizadas pela homologia -, é capaz de diferenciar-se permitindo, desse modo, distinguir as diversas proteínas G que desencadeiam atividades estimulantes ou inibitórias. Essas proteínas têm a propriedade de se ligarem aos nucleotídeos guanílicos (guanosina difosfato-GDP/guanosina trifosfato-GTP) por meio da subunidade a. O GDP encontra-se ligado a essa subunidade quando a proteína G está em repouso. Uma vez ativada, graças ao acoplamento de um ligante ou droga com o receptor, o GDP é substituído pelo GTP. Esse evento promove a dissociação da subunidade a do complexo bg. A subunidade a, que representa a forma ativada da proteína G, vai, por sua vez, promover a ativação de sistemas enzimáticos, cujo resultado é o surgimento dos segundos mensageiros. Esses segundos mensageiros, ativando cinases proteicas, promovem reações de fosforilação em canais iônicos, determinando a abertura ou o fechamento dos mesmos. Quando o GTP, na subunidade a, é hidrolisado graças à atividade GTPásica dessa subunidade, a aGDP é reconstituída e volta a associar-se ao conjunto bg. Assim sendo, a hidrólise da GTP é o evento que limita a duração do ciclo. Um importante ponto a ser considerado nos ciclos das proteínas G é o processo de amplificação. O acoplamento de um agonista a um único receptor desencadeia a ativação de inúmeras proteínas G podendo cada uma delas, por sua vez, gerar numerosos segundos mensageiros. Muitas são as drogas que exercem a sua ação por meio de receptores acoplados às proteínas G. Podem ser citados, como exemplos, os opióides (34), os agonistas adrenérgicos, dentre os quais se destacam, pelo uso clínico, as aminas vasopressoras, em especial a dopamina e os alfa2 agonistas, destacando-se a clonidina. Deve ser levado em conta que muitos fármacos promovem dois ou mais efeitos por mecanismos de ação diferentes. Um exemplo a ser dado é o da quetamina, cujo efeito analgésico se deve ao bloqueio do MNDA e a uma possível interação com receptores de opióides, enquanto os efeitos circulatórios são explicados por bloqueio de captação do neurotransmissor adrenérgico e, possivelmente, por um aumento da concentração de Ca++ intracelular, justificando, pelo menos no rato, um efeito inotrópico positico. Por outro lado, há medicamentos que exercem duas ou mais ações voltadas para um mesmo efeito. Esse caso pode ser exemplificado com a aminofilina, que não só inibe as fosfodiesterases como competem com os receptores da adenosina exercendo, por esses mecanismos, seus efeitos estimulantes sobre o sistema nervoso central. Em outros medicamentos um efeito adverso importante é explicado por um mecanismo de ação distinto daquele responsável pelo efeito principal. No caso do etomidato, por exemplo, o bloqueio da síntese de corticosteróides se deve à inibição da 11-betahidroxilase, enquanto o efeito hipnótico, que justifica a indicação clínica, é conseqüente a sua ação nos receptores GABAA. Como pode ser facilmente deduzido, pelo exposto, o conhecimento básico do mecanismo de ação das drogas se constitui num suporte importante para o emprego correto dos medicamentos na prática clínica.