Caso Clínico 4 Internato de Pediatria  Internos Bruno Goretti Paulo Ricardo Limonge Renan Fiorotti Vicente Vanessa Barone Virgínia Cozendey Anamnese Identificação  JGP, masculino, negro, 8 anos, natural e morador do Fonseca-Niterói. Mãe: RGP, 32 anos, negra, trabalha em serviços gerais. Queixa Principal  “Inchaço e xixi escuro” HDA O escolar vem se queixando nas últimas 48 horas de cefaléia holocraniana e cansaço aos médios esforços. Mãe notou que o menino encontra-se “inchado” e que tem urinado pouco (há 12 horas não urina nada), sendo a coloração da urina escurecida. Nega febre e demais sintomas. HPP Apresenta frequentemente impetigos, já tendo feito uso de Penicilina Benzatina, a última vez há 4 meses. Episódio de amigdalite há um ano, tratada com o mesmo antibiótico. Nega outras doenças, internações, alergias medicamentosas. História Gestacional  G II P II A 0.  Pré-natal a partir do terceiro mês com 7 consultas ao total.  Sorologias maternas negativas.  Demais exames sem anormalidades.  Não houve intercorrências. História do Nascimento  Parto normal a termo.  Peso 3 Kg, Estatura 52 cm, PC 38 cm.  Alta com 2 dias, em aleitamento materno exclusivo.  Apgar 8/9. História Alimentar Desmame aos 4 meses, com introdução de leite de vaca in natura e papa de legumes. Atualmente com alimentação variada, mas pobre em legumes. História do Desenvolvimento  Sentou aos 6 meses, andou com 1 ano e 2 meses, primeiras palavras com 1 ano e 6 meses  Sem intercorrências no desenvolvimento de linguagem  Controle diurese e evacuação aos dois anos.  Cursa 3o ano do ensino fundamental com rendimento mediano. História Vacinal  Cartão vacinal completo História familiar  Pais tabagistas. Pai com HAS e doença renal crônica. Irmão de 10 anos com asma e enurese noturna. História social  Mora em casa de alvenaria com três cômodos, água e esgoto encanados. Um cachorro saudável. Exame Físico  Escolar adinâmico, hipocorado +/4, afebril, acianótico, eupneico. FR 30; FC 130 bpm, PA 144 X 96 mmHg  Cabeça e pescoço: sem alterações  AR: estertores crepitantes leves em bases,  ACV: RCR 2T, bulhas normofonéticas e sopro sistólico ++/6 mais audível em foco mitral. Exame Físico  Abdôme: globoso, sem ascite, com fígado palpável a 2 cm do RCD, algo doloroso  MMII: edema +++/4, com cacifo e sem sinais flogísticos.  Pele: cicatrizes hipocrômicas de 0,5 cm de diâmetro. Lista de Problemas  Fatores de risco: menino na faixa escolar (pp para         GNDA pós faringoamigdalite) Cefaléia Holocraniana Cansaço aos médios esforços Episódios frequentes de Impetigo Faringoamigdalite há 1 ano Urina escura Anúria há 12 horas Edema de MMII (3+/4) com cacifo Hepatomegalia dolorosa Lista de Problemas  Hipertensão arterial (PA 144x96)  Taquicardia  Estertores crepitantes leves bibasais  Sopro sistólico ++/6 mais audível em foco mitral  Hipocorado +/4  História familiar para HAS, doença renal crônica e enurese noturna  Desmame aos 4 meses  Dieta pobre em legumes  Pré-natal iniciado no 3º mês SÍNDROME NEFRÍTICA  Também denominada Glomerulonefrite difusa aguda (GNDA), é um processo inflamatório agudo que pode ocorrer de forma idiopática (como doença primária dos rins) ou secundária a alguma doença sistêmica (como infecções ou colagenoses).  A Síndrome Nefrítica clássica tem como protótipo a Glomerulonefrite estreptocócica (GNPE). pós- SÍNDROME NEFRÍTICA  PATOGENIA  70% dos casos de GNDA são decorrentes da deposição glomerular de Imunocomplexos (contendo imunoglobulinas e fatores do complemento).  30% dos casos não cursam Imunocomplexos na biópsia = Pauci-imune com SÍNDROME NEFRÍTICA  CAUSAS  Síndrome Pós-infecciosa  Pós-estreptocócica  Não pós-estreptocócica (Bacterianas – endocardite, sepse – ; Virais – hepatite B e C, mononucleose - ; Parasitárias – toxoplasmose)  Por doenças multissistêmicas   LES; Síndrome goodpasture Primária do glomérulo  Doença de Berger SÍNDROME NEFRÍTICA  CLÍNICA HEMATÚRIA OLIGÚRIA EDEMA é o sinal mais característico e mais comum da síndrome Nefrítica, vista no sedimento urinário – EAS. As hemácias apresentam dismorfismo eritrocitário. Presença de cilindros hemáticos no EAS indicam lesão glomerular HIPERTENSÃO ARTERIAL - Obs: Pode, também, ser caracterizada por proteinúria subnefrótica ( menor que 3,5g em 24 horas). SÍNDROME NEFRÍTICA – Dismorfismo eritrocitário SÍNDROME NEFRÍTICA – Edema facial SÍNDROME NEFRÍTICA – Formação dos cilindros hemáticos SÍNDROME NEFRÍTICA – Cilindros hemáticos e leucocitários GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  Sequela renal tardia de uma infecção por cepas nefritogênicas de Estreptococos betahemolíticos do grupo A (Streptococcus pyogenes).  Cepas nefritogênicas podem estar:   Piodermite estreptocócica = impetigo crostoso ou erisipela Faringoamigdalite GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  O risco de GNDA após estreptococcia está em torno de 15%  Período de incubação (infecção-nefrite):   Orofaringe = entre 7 e 21 dias Via cutânea = entre 15 e 28 dias GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  EPIDEMIOLOGIA  GNPE é tipicamente doença de crianças e adolescentes (mas pode acometer qualquer idade) = Mais freqüente entre 2 e 15 anos.    Piodermite = mais acometidos pré-escolar (2-6 anos) Infecção orofaringe = mais adolescentes (6-15 anos) Masculino 2:1 GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  CLÍNICA     Sinais e Sintomas clássicos de uma Síndrome Nefrítica. Hematúria (urina cor de coca-cola) = Macroscópica (em 30% dos casos). Muitas vezes é apenas microscópica Oligúria = em 50% dos pacientes Edema = Em 85% dos casos. Inicialmente periorbitário e matutino e pode evoluir para anasarca Hipertensão Arterial = em 70% casos. Pode evoluir para Encefalopatia hipertensiva (510% dos casos). GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  CLÍNICA  Edema agudo de Pulmão  Hipercalemia = Hipoaldosteronismo hiporreninêmico  Proteinúria Subnefrótica = comum. De 5-10% evoluem para Proteinúria Nefrótica (>3,5g/24h) que evidencia superposição das duas síndromes, principalmente durante resolução da nefrite. GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  DIAGNÓSTICO  Anamnese e exame físico = procura de uma etiologia específica  Algoritmo diagnóstico da GNPE  Dosagem dos anticorpos contra Estreptococos (para confirmar GNPE)  Pós-Faringoamigdalite = ASLO ou ASO (80 a 90% dos casos), seguido pelo anti-DNAse B (75% casos)  Pós-Impetigo = anti-DNAse B (60 a 70% dos casos). ASLO frequentemente negativo.  Queda do complemento (C3)  Biópsia? = Não necessário para pacientes que apresentem clínica e laboratório compatíveis com pósinfecção por Estreptococos. GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  DIAGNÓSTICO  Quando biopsiar?  Oligúria por mais de 1 semana  Queda do complemento por mais de 8 semanas  Proteinúria nefrótica  Evidência de doença sistêmica  Evidência de glomerulonefrite rapidamente progressiva = anúria, aumento acelerado das escórias nitrogenadas. GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  DIAGNÓSTICO Diferencial Doenças que cursam com Síndrome Nefrítica + Hipocomplementenemia:  Outras glomerulonefrites pós-infecciosas (ex: endocardite bacteriana subaguda)  Glomerulonefrite lúpica  Glomerulonefrite membranoproliferativa ou mesângiocapilar (proliferação das células mesangiais). Excluir por proteinúria nefrótica e hipocomplementenemia por > 8 semanas. Pode ocorrer após infecções estreptocócicas em crianças.  GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  IMPORTANTE!!!  Manifestações renais que ocorrem durante uma infecção, geralmente representam a exacerbação de uma glomerulopatia crônica pré-existente  As exacerbações são geralmente caracterizadas por surgimento de proteinúria ou hematúria, no curso de uma infecção, sem que haja um período de incubação compatível. GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  TRATAMENTO        Apenas de suporte Restrição hidrossalina (fundamental) Diuréticos de alça (furosemida, ácido etacrínico) Nifedipina, Captopril. Vasodilatadores (hidralazina) Nitroprussiato de sódio (encefalopatia hipertensiva) Diálise (congestão volêmica grave, encefalopatia hipertensiva, refratários) GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  Está indicado o uso de antibiótico na GNPE?  A antibioticoterapia precoce frente a um quadro de infecção estreptocócia (faringite ou dermatite) previne o aparecimento de GNPE?  Existe benefício posterior do uso de antibióticos (na época da infecção) para um quadro de GNPE?  Está indicado o tratamento com antibióticos para aqueles que se apresentam com GNPE? GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica) A antibioticoterapia não previne nem influencia o andamento de uma GNPE, mas deve ser indicada com o intuito de eliminar da orofaringe ou da pele as estreptococos, reincidência futura cepas evitando nefritogênicas uma do possível GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  Existe, assim como na febre reumática, necessidade de utilizarmos antibioticoterapia profilática periódica para todos os que já desenvolveram algum dia GNPE?  Não há maior predisposição dos indivíduos a desenvolver novos quadros.  A GNPE não deixa sequelas. Novos quadros teriam a mesma morbidade que o primeiro. GNPE (Glomerulonefrite pós-estreptocócica)  PROGNÓSTICO  90% dos pacientes recuperam completamente o volume urinário em até 7 dias  A tendência é haver melhora substancial dos sintomas congestivos (edema, HA) em 1-2 semanas  A hematúria e proteinúria persistem por até 6-12 meses e até 2-5 anos, respectivamente  Minoria: 1-5% evoluem para GNRP (Rapidamente Progressiva), proteinúria crônica, glomeruloesclerose focal e insuficiência renal crônica. Resumindo...  Oligúria: até 7 dias  Hipocomplementenemia: até 8 semanas  Hematúria microscópica: até 6-12 meses  Proteinúria subnefrótica: até 2-5 anos GNRP (Rapidamente Progressiva)  Paciente com Síndrome Nefrítica, independente da causa, que evolui para falência renal de curso acelerado e fulminante.  Sem tratamento, evolui em muito pouco tempo para esclerose de quase todos os glomérulos com fibrose tubulointersticial generalizada, quadro irreversível.  Clínica: oligúria, anúria, síndrome urêmica até sinais de falência renal, indicativos de diálise de urgência, como: encefalopatia, pericardite, gastropatia e sangramento urêmico. GNRP (Rapidamente Progressiva)  Biópsia renal: crescentes em mais de 50% dos glomérulos renais irreversível) (causam perda glomerular  A biópsia renal classifica a GNRP em 3 padrões: LINEAR (depósitos de ac anti-membrana basal glomerular), GRANULAR (glomerulonefrites por imunocomplexos) e POUCO ou NENHUM depósito imune (glomerulonefrites pauci-imunes).  Tratamento: Deve-se tratar cada causa. Caso contrário, somente diálise ou transplante renal. Síndrome Nefrótica Primária Conjunto de sinais e sintomas secundários ao aumento da permeabilidade dos glomérulos às proteínas. •Proteinúria (>50mg/kg/24h) •Hipoalbuminemia •Edema •Hiperlipidemia/ Lipidúria Síndrome Nefrótica Primária  A Nefropatia por Lesão Mínima é a lesão é responsável por 80% de todas as causas de Sd. Nefrótica em crianças (2 a 6 anos).  Mais comum em meninos.  História de recidivas  Tratamento : dieta hipossôdica e hipolipídica diurético corticóide imunossupressor (na forma “recidivante frequente”) Síndrome Nefrótica Primária Complicações  Predisposiçao para fenômenos tromboembólicos : a perda de Antitrombina III resulta em um estado de hipercoagulabilidade.  Susceptibilidade à infecções : a perda urinária de IgG, predispõe à infecçoes por bactérias encapsuladas, especialmente o Pneumococo. Síndrome Nefrótica Primária Biópsia Renal na Sd. Nefrótica na infância Pelo fato da Doença po Lesão Mínima ser responsável por 80% dos casos na infância não há necessidade de biópsia renal de rotina, só nos casos não responsivos à corticoterapia e nos pacientes com mais de 8 anos de idade. Diagnóstico Diferencial Bibliografia - BEHRMAN,Richard E. ;KLIEGMAN,Robert; JENSON,HAL B. :Nelson Tratado de Pediatria.17°ed.Editora Elsevier.2005 - HARRISON′S. Principles of Internal Medicine. 16ª Edição. McGraw-Hill, 2005. 23 - Site www.uptodate.com