RESUMO A glomerulonefrite difusa aguda (GNDA) é uma afecção glomerular que, em geral, apresenta-se como síndrome nefrítica, sendo esta caracterizada pelo aparecimento súbito de hematúria, edema e hipertensão, com graus variáveis de proteinúria e redução da taxa de filtração glomerular, embora nem todas estas manifestações precisem estar presentes. A glomerulonefrite pós-estreptoccócica (GNPE) e vista como protótipo deste tipo de glomerulopatia, sendo o estreptococo beta hemolítico do grupo A de Lancefield o seu agente etiológico causador. Vale salientar, entretanto que as glomerulonefrites difusas agudas podem ter diversas outras causas, infecciosas ou não. No dia a dia do médico, e comum utilzar-se a denominação GNDA como sinônimo de GNPE, embora a glomerulonefrite difusa aguda corresponda de fato a um aspecto morfológico comum a várias glomerulonefrites agudas, inclusive GNPE. Nas crianças, o agente causador mais comum da GNDA é o estreptococo, substituído pelo estafilococo nos idosos. Quanto a evolução,vale salientar que não há muita informação publicada quanto ao seguimento de adultos com glomerulonefrites agudas e poucos são os estudos envolvendo um número considerável de pacientes, mesmo quando incluídas apenas em criança. No entanto, de uma maneira geral a GNDA e GNPE em crianças tem uma evolução benigna, com resolução rápida e espontânea da síndrome nefrítica de modo que a maioria dos trabalhos revela uma progressão para insuficiência renal crônica em 1% dos casos.Já nos adultos, alguns autores relataram progressão para uremia, em 10 anos, em 20% dos casos. Há que se considerar que os estudos de longa duração e que envolvem um grande número de pacientes com GNDA são relativamente escassos e a maioria deles não apresenta dados de biópsia renal, uma vez que o diagnóstico de GNDA e GNPE se baseia sobretudo em dados clínicos e laboratoriais inespecíficos, como a ocorrência da síndrome nefrítica, níveis baixos de complemento sérico (principalmente C3) e diagnóstico de infecção pregressa. Assim, o diagnóstico é frequentemente presumido e, usualmente confirmado com base na evolução clínica da doença. Por tais motivos, o diagnóstico de GNDA muitas vezes é subestimado, uma vez que não é confirmado e notificado. O diagnóstico da ocorrência de GNDA em idosos é ainda mais difícil.Vários motivos contribuem para isso, principalmente o número de morbidades que apresentam, os quais passam a ser fatores que confundem a suspeita diagnóstica, como por exemplo: alterações urinárias crônicas, uso contínuo de medicamentos, entre outros.Motivos estes que, diante de um paciente com insuficiência renal aguda, mascaram e dificultam o diagnóstico de glomerulopatia.Além disso,embora não haja contra-indicação formal, muitos ainda consideram riscos maioresde morbimortalidade para esta faixa etária, não sendo realizada a biópsia. Dessa forma, diante de um caso de insuficiência renal aguda com evolução rápida para diálise, muitas vezes o diagnóstico correto da patologia renal não é confirmado e as glomerulonefrites rapidamente progressivas não são notificadas.Dessa maneira, perde-se a oportunidade de instituir tratamento específico. Relatamos um caso de uma paciente idosa que chega ao Hospital do Servidor Público Municipal com insuficiência renal aguda secundária a glomerulonefrite difusa aguda e a despeito do tratamento específico para tal, evolui para insuficiência renal aguda terminal e diálise. Tal diagnóstico só foi possível pela possibilidade de biópsia renal. O objetivo de relatar o caso de uma paciente idosa (idade maior que 60 anos) que apresentou uma manifestação atípica da GNDA com evolução ruim é de enfatizar a importância de uma investigação renal com biópsia renal para diagnóstico, tratamento e prognóstico.