Seminário 5 – Doença Renal (parte 1) Prof: Manoel Ricardo Sara Raoux – 2015 Pulei a parte de fisiologia renal. No medcurso está bom e objetivo. Síndromes Glomerulares Síndrome Nefrítica; Síndrome Nefrótica; Síndrome Mista. A) Síndrome Nefrítica: Depósito de imunocomplexos na maior parte das vezes. Ex.: infecção cutânea por Streptococcus; os imunocomplexos formados são depositados na região subendotelial, ativando inflamação com quimiotaxia de macrófagos e neutrófilos nesta região, que está em contato com a corrente sanguínea. A FTG estará reduzida devido à barreira inflamatória formada hipertensão (menor filtração de Na+); edema (pelo aumento da pressão hidrostática capilar), primariamente manifestado nas regiões com menor pressão hidrostática tecidual, as pálpebras, sendo principalmente matutino; piúria (leucocitúria), hematúria (com dismorfismo eritrocitário, característico de síndrome glomerular, tipicamente, glomerulonefrite); consumo do complemento (pois a inflamação está em contato com o sangue). Pode haver proteinúria (tipicamente < 3,5 g/24h, ou seja, subnefrótica). Pode haver insuficiência renal. B) Síndrome Nefrótica Doenças que afetam a permeabilidade do glomérulo (aumento da mesma), particularmente para proteínas. Pode ocorrer por depósito de imunocomplexos, doenças metabólicas (como DM), amiloidose (depósito de proteína amiloide, que destrói o glomérulo), fusão dos podócitos (com alteração da carga elétrica); situações em que há aumento da permeabilidade capilar. Se o depósito de imunocomplexos ocorrer na membrana basal, não haverá contato com a circulação, não ativando complemento e não promovendo quimiotaxia de células inflamatórias. O aumento da permeabilidade gera, principalmente, proteinúria (>3,6 g/24h, ou seja, proteinúria nefrótica). Se há perda de proteína, haverá hipoalbuminemia (o aumento da produção hepática de albumina não é suficiente para repor a perda da mesma), o que reduz a pressão coloidosmótica do sangue, gerando edema (costuma ser muito mais importante que o da síndrome nefrítica, podendo levar a derrame pleural, ascite e anasarca). Ocorre perda de lipoproteínas na urina, gerando alterações no metabolismo dos lipídeos, e o paciente terá tendência a dislipidemias (hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia). Haverá também lipidúria. A síndrome nefrótica, por si só, não gera hipertensão (não há retenção anormal de Na+), a não ser que haja uma síndrome mista (comumente causada por lúpus). A) Síndrome Nefrítica: A.1) Glomerulonefrite Difusa Aguda (GNDA): É o protótipo de síndrome nefrítica Causa mais comum: pós-estreptocócica. Após infecção por Streptococcus, pode haver reação cruzada gerando imunocomplexos que se depositam na região subendotelial dos glomérulos, gerando a síndrome nefrítica. Cerca de 2 – 3 semanas após o contato com a bactéria, a síndrome começa a se manifestar. Haverá proliferação celular difusa nos glomérulos. Haverá síndrome nefrítica clássica: hipertensão, edema moderado matutino palpebral, hematúria ao EAS, piúria e proteinúria subnefrótica (< 3,5). Pode haver outras causas: abscessos por Staphylococcus, lúpus, endocardite. Microscopia: alças comprimidas pela inflamação, glomérulo hipercelular. A.2) Glomerulonefrite Mesangial: A proliferação de células no mesângio também pode gerar uma síndrome nefrítica, embora não tão pura quanto à GNDA. O paciente pode ter hematúria dismórfica. É a doença por IgA (doença de Berget): Paciente relata sintomas de gripe (virose respiratória) e cerca de 1 ou 2 dias depois, hematúria macroscópica (urina com cor de coca-cola). É comum que estes pacientes sejam alérgicos. Na maioria das vezes, a doença de Berget evolui de forma benigna, regredindo rapidamente. Em alguns pacientes, o depósito é feito de forma tão intensa que pode gerar síndrome nefrótica associada, evoluindo para insuficiência renal (hipertensão e proteinúria são, portanto, sinais de mal prognóstico). Lupus também pode causar glomerulonefrite mesangial. A.3) Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva: Algumas vezes, a reação inflamatória da síndrome nefrítica pode ser tão intensa, que causa ruptura da capsula de Bowman células inflamatórias começam a comprimir o tufo capilar: lesão tipo “crescente” na microscopia. Esses pacientes farão uma insuficiência renal aguda muito rapidamente. Qualquer síndrome nefrítica pode evoluir para a glomerulonefrite rapidamente progressiva. Se a compressão do tufo capilar não for revertida nas primeiras horas (com pulsoterapia), o paciente evolui rapidamente para cronicidade. Padrões dos anticorpos nas glomerulonefrites rapidamente progressivas à Imunofluorescência Indireta (IFI): Granular: Doenças por imunocomplexos (pós-estreptocócicas, lúpus IV); Linear: Glomerulonefrite rapidamente progressiva; Ac contra a membrana basal glomerular entra em contato com a circulação: é a doença de Goodpasture (o AC, além de contra a membrana basal glomerular, é também contra a membrana basal alveolar, gerando a síndrome pulmão-rim) Sem depósito de anticorpos à IFI: Vasculites (anticorpo anticitoplasma – ANCA); Wegener é o mais associado. B) Síndrome Nefrótica: B.1) Doença de Lesão Mínima: À microscopia óptica, o glomérulo é normal; o diagnóstico é feito com a microscopia eletrônica. Faixa Etária mais comum: crianças; Responde bem a corticoides: começar a tratar precocemente, já que, normalmente, síndrome nefrótica em crianças é por lesão mínima; Síndrome nefrótica clássica – proteinúria (urina espumosa), edema, anasarca, lipidúria, dislipidemia, hipoalbuminemia. Ocorre fusão dos podócitos, o que altera a carga do endotélio (passa a ser positiva), gerando uma proteinúria seletiva (só passa albumina). Doenças sistêmicas que podem dar lesão mínima: linfoma de Hodgkin. B.2) Glomerulonefrite Membranosa: Costuma ser síndrome nefrótica pura; O depósito de imunocomplexos ocorre na membrana basal da região subepitelial aumento da permeabilidade, o que gera a síndrome nefrótica pura; Maioria idiopática; Doenças sistêmicas que podem cursar com glomerulonefrite membranosa: síndrome paraneoplásica (paciente > 50 anos que desenvolve glomerulonefrite membranosa, fazer biópsia renal deve-se descartar CA, principalmente de pulmão, TGI e mama, que podem apresentar, como uma síndrome paraneoplásica, uma síndrome nefrótica com glomerulonefrite membranosa); Lúpus V também pode causar glomerulonefrite membranosa, além de infecções como hepatite B e C, sífilis e medicamentos como iECA; Ocorre espessamento da membrana basal, o que pode ser visto na microscopia óptica. B.3) Glomerulosclerose Segmentar e Focal (GESF): É a mais comum no adulto; Ocorre esclerose extramesangial com compressão dos tufos capilares, gerando aumento da permeabilidade e proteinúria; Pode ser causado por HIV (gera um tipo colapsante), uso de heroína, doença de refluxo vesico-ureteral, hiperfiltração (pode ser causada por nefrectomia na infância, que gera hiperfiltração do rim remanescente, causando esclerose); Como há esclerose, em alguns casos mais raros, pode haver hematúria e hipertensão associadas não é nefrótica pura! Pode ser um pouco nefrítica também, embora seja muito mais nefrótica. Diz-se “focal” porque acomete alguns glomérulos, estando os outros normais. C) Síndrome Mista (Nefrótica e Nefrítica): C.1) Glomerulonefrite Membranoproliferativa: Depósito de imunocomplexos na membrana basal e na região subendotelial: há aumento da permeabilidade a proteína, além de inflamação; É o paciente com síndrome nefrótica associada a baixo complemento, hematúria, piúria... Pode ser idiopática ou causada por lúpus (muito comum), Hepatite C ou esquistossomose, por exemplo. C.2) Glomerulonefrite Lúpica: O rim é o órgão mais acometido no lúpus; Normalmente, gera uma síndrome nefrítica E nefrótica (embora nem sempre cause ambas). Classes da glomerulonefrite lúpica: Classe I sem lesão renal; Classe II glomerulonefrite mesangial; Classe III proliferação de alguns glomérulos (proliferativa focal); Classe IV proliferativa difusa (é a mais grave, que evolui para glomerulonefrite rapidamente progressiva se não tratada, levando a insuficiência renal); Classe V glomerulonefrite membranosa (nefrótica apenas); Classe VI esclerose glomerular difusa (insuficiência renal irreversível).