Demências e depressão em idosos Emylucy Martins Paiva Paradela MD, MPH, PhD Professora Visitante - Disciplina de Geriatria Departamento de Medicina Interna Faculdade de Ciências Médicas Universidade do Estado do Rio de Janeiro Cuidado Integral à Pessoa Idosa Universidade Aberta da Terceira Idade Serviço de Geriatria Prof Mario A. Sayeg Policlínica Piquet Carneiro Laboratório de Pesquisa em Envelhecimento Humano - GeronLab Demências e depressão em idosos Na velhice ocorre uma estabilidade da personalidade Durante a vida vão se acumulando perdas e incapacidades, doenças e limitações Mesmo assim a maioria dos idosos está satisfeita com a vida Peggy McAlpine A centenária Peggy McAlpine faz sinal de positivo ao voar de parapente no Monte Kyrenia, no Chipre, a uma altura de 762m vôo foi para celebrar o aniversário de 100 anos Envelhecimento neurológico Durante o processo de envelhecimento ocorrem diversas alterações macro e microscópicas no encéfalo: Diminuição peso e volume Giros mais delgados e sulcos mais alargados Perda neuronal 10 a 25% entre 80 e 100 anos MEMÓRIA E ENVELHECIMENTO Queixa de esquecimento é comum Envelhecimento acarreta uma lentificação dos processos cognitivos de uma maneira geral Idoso tem menos habilidade de armazenar novas informações, conserva-la por algum tempo e recuperá-la depois de um intervalo de tempo maior Isto não impede novos aprendizados O acervo de conhecimentos continua a ser enriquecido com o passar do tempo Vocabulário tende a aumentar com a idade Cognição A palavra latina cognitione : aquisição de um conhecimento através da percepção e julgamento através do raciocínio para soluções de problemas Funções cognitivas Atenção Orientação Percepção Memória Raciocínio Juízo Linguagem Demências Uma síndrome clínica Critério diagnóstico de demência segundo o DMS-IV 1. comprometimento da memória 2. um (ou mais) dos seguintes distúrbios cognitivos a. Afasia b. Agnosia c. Apraxia d. transtorno de funções executivas Os défices cognitivos dos critérios causam significativo comprometimento nas funções social e ocupacional e representam um declínio a partir de um nível prévio de funcionamento. Os défices não devem ocorrer exclusivamente durante o curso de delirium. Descrição geral de demência de acordo com CID-10 (OMS) Não há obnubilação da consciência. Os comprometimentos da função cognitiva são comumente acompanhados ou precedidos, por deterioração no controle emocional, no comportamento social ou na motivação. Descrição geral de demência de acordo com CID-10 (OMS) Na avaliação de uma demência deve-se evitar identificação falso-positiva na concomitância de depressão, associada a lentidão motora e fraqueza física geral Causas de demências Doenças neurodegenerativas Vasculares Traumáticas Infecções Metabólicas Associadas à hipóxia Carenciais Neoplasias Medicamentosas Auto-imune Hidrocefalia Demências neurodegenerativas Doença de Alzheimer Demência por Corpúsculos de Lewy Síndromes degenerativas do lobo frontal: Demência frontotemporal Demência semântica Afasia progressiva não fluente Doença de Pick Degeneração corticobasal Paralisia supranuclear progressiva Demência associada à Doença de Parkinson Doença de Huntington Demências transmissíveis Doenças causadas por Príons – Encefalopatias Espongiforme transmissíveis: Doença de Creutzfeldt-Jakob – esporádica, familiar Encefalopatia Bovina Espongiforme – Doença da Vaca Louca Kuru Encefalopatia pelo HIV – Complexo Aids.demência Diagnóstico diferencial da alteração cognitiva x demência Depressão Delirium Drogas Epilepsia Encefalopatia hepática Uremia Transtorno cognitivo leve Diagnóstico sindrômico de demência Anamnese História clínica Com paciente Com informante confiável Aspectos importantes na história: instalação e progressão do défice cognitivo Indagar sobre habilidades complexas do cotidiano sintomas neuropsiquiátricos Pesquisar sintomas associados: Depressão, distúrbio do sono, incontinências quedas, tremores Anamnese Inventário das condições clínicas pré-existentes Revisão dos medicamentos – prescritos ou não Pesquisa de fatores de risco: História social – escolaridade, ocupação, suporte familiar dislipidemia, tabagismo, abuso de alcool Doenças pregressas: AVC Cirurgia cardíaca Convulsões TCE História familiar Exame físico Aparência Atenção Nível de compreensão Discurso Humor Exame cardiovascular Arritmias Sopros carotídios Palpação dos pulsos Exame neurológico: Força muscular Coordenação Marcha Tonus muscular – rigidez? Disturbio de movimento- tremores? Reflexos profundos Sensibilidade Pares cranianos Avaliação cognitiva MEEM Testes rápidos de rastreio TDR Teste de fluência verbal Testes neuropsicológicos: CAMCOG Avaliação funcional Índice de Katz Escala de Lawton Escalas das atividades avançadas de vida diária IQCode Exames complementares Exames laboratorias: Hemograma completo Eletrólitos Enzimas hepáticas Perfil lipídico Função tireoidiana Vitamina B12 Folato VDRL EAS e urinocultura Exames de imagem TC crânio RNM crânio Outros Punção lombar EEG Anti HIV SPECT PET Doença de Alzheimer É a causa mais comum de demência no idoso, responde por cerca de 60% de todas as demências com apresentação clínica e patológica bem definidas Fatores de risco Idade Sexo feminino História familiar positiva Etiologia Ainda desconhecida, excetuando-se os raros casos familiares, de início precoce, nos quais encontra-se mutação genética específica Os fatores genéticos parecem ser muito relevantes, sabe-se que uma história familiar positiva para DA é o único fator sistemático associado à doença, excetuando-se a idade Outros Fatores Traumas cranianos repetidos, especialmente os com perda da consciência no passado Processos inflamatórios cerebrais “stress oxidativo” podem estar envolvidos na causa da doença Níveis elevados de colesterol DIAGNÓSTICO DSM-IV Comprometimento da memória e de pelo menos uma outra função cognitiva Afasia (linguagem ) Agnosia (percepção) Apraxia (habilidade motora) Funções executivas Comprometimento de atividade social e ocupacional Exame físico Alterações dos reflexos Sinais extrapiramidais 35% Bradicinesia e a rigidez Sinal de Babinski positivo Mioclonias em 7 a 10% dos casos Estereotipias motoras. Exames complementares Não há nenhum de rotina, que de modo inquestionável confirme o diagnóstico de doença de Alzheimer. A investigação complementar é muito mais informativa, no que diz respeito à exclusão de outras causa de demência do que diagnóstica. Diagnóstico definitivo Análise histopatológica do tecido cerebral post-mortem. As alterações histopatológicas incluem perda neuronal nas camadas piramidais do córtex cerebral e degenerações sinápticas intensas, tanto em nível hipocampal quanto neocortical DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Demências potencialmente reversíveis Depressão Hipotireoidismo Reação adversa a drogas Deficiências vitamínicas Hematoma sub-dural Hidrocefalia de pressão normal Tumor cerebral Apresentação clínica Nos estágios iniciais da doença: Dificuldade em pensar com clareza, tende a cometer lapsos e a se confundir facilmente Observa-se tendência ao esquecimento de fatos recentes e dificuldade para registrar novas informações. Evolução À medida que a doença progride, o paciente apresenta queda em seu rendimento funcional nas tarefas complexas (finanças, gerência) Depois tem dificuldade nas tarefas mais simples, como utilizar utensílios domésticos, vestir-se, cuidar da própria higiene e alimentar-se Evolução Nos estágios terminais: Marcantes alterações do ciclo sono-vigília Alterações comportamentais, como irritabilidade e agressividade Sintomas psicóticos Incapacidade de deambular, falar e realizar cuidados pessoais. Evolução O óbito geralmente advém após 10 a 15 anos de evolução, como complicação de comorbidades clínicas ou quadros infecciosos, em indivíduos que se tornaram progressivamente fragilizados pela doença crônica Neuroimagem Os exames subsidiários convencionais na DA permitem não apenas a exclusão de causas reversíveis, como também a detecção de parâmetros compatíveis com os diferentes estágios clínicos da doença, tais como atrofia cortical, alterações hipocampais e temporais mesiais Ressonância nuclear magnética Redução volumétrica dos hipocampos Na espectroscopia: aumento da relação mio-inositol/creatina (Mi/Cr) e redução da relação N-acetil-aspartato/creatina (Naa/Cr) PET scan:Tomografia por emissão de pósitrons Iniciais do inglês: Positron Emission Tomography Técnica de Medicina Nuclear semelhante às cintilografias Eletroencefalograma EEG com mapeamento cerebral – Quando comparados aos controles normais os pacientes com DA tem mais atividade lenta (teta) e diminuição nas faixas alfa e beta DA de início precoce A foi associada, até o momento, a mutações em genes que codificam para a proteína precursora da b-amilóide, presenilina 1 e presenilina 2 As mutações nesses genes são responsáveis por aproximadamente 40% dos casos de DA com início precoce Marcadores genéticos Ainda não têm finalidade diagnóstica, exceto na determinação de mutações específicas associadas a formas raras da doença. As alterações genotípicas, tais como a presença de apolipoproteína e4 e outros polimorfismos, que contribuem para a avaliação do risco de doença, também não têm, no momento, indicação diagnóstica. Genética Os cromossomos implicados, até o momento, nos subtipos genéticos são o 14, 21, e 19 No entanto, inúmeros estudos apontam para papel importante de outros genes, fortalecendo a hipótese de uma doença poligênica e multifatorial Interação genética + ambiental Prevenção Pesquisas sugerem que quanto maior o número de anos de educação formal que uma pessoa tem, menor é a chance dela ou dele desenvolver a doença quando for idoso Alguns estudos sugerem que manter uma atividade intelectual e física pode reduzir a probabilidade de se adquirir a doença Prevenção Não há uma vacina disponível para a doença Estudo recente concluiu que a administração de estrógeno em conjunto com progesterona aumentou o risco da doença em duas vezes quando comparada com o grupo que não fez uso da medicação. Depressão em idosos Depressão Distúrbio psiquiátrico mais comuns em idosos Está relacionada à perda da independência e ao agravamento de quadros patológicos preexistentes Idosos deprimidos têm mais incapacidades físicas e cognitivas que os não deprimidos Prevalência Depressão maior 3% dos idosos na comunidade 11% dos idosos hospitalizados 12% dos idosos em casas de repouso DEPRESSÃO-SOMATIZAÇÃO (DEPRESSÃO MASCARADA) DOR NÃO JUSTIFICADA CLINICAMENTE FADIGA ANOREXIA ALTERAÇÃO DO PADRÃO DE SONO DEPRESSÃO COM DISTÚRBIO COGNITIVO (PSEUDODEMÊNCIA) DIMINUIÇÃO DA MEMÓRIA DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE DE CONCENTRAÇÃO DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE INTELECTIVA MELHORAM COM TRATAMENTO ANTIDEPRESSIVO ATENÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE DEMÊNCIA Diagnóstico História e exame físico Uso de escalas de rastreamento Critérios do DSM ou CID 10 Questões acerca de suicídio Anamnese Buscar episódios anteriores Perdas recentes/ viuvez Avaliação clínica completa Busca ativa dos sintomas Mania/hipomania Particularidades da mania nos idosos Menos fuga de idéias Mais disforia/irritabilidade Menos agitação psicomotora Menos hipersexualidade Sintomas psicóticos são comuns Exames laboratoriais Rotina básica de sangue que inclua: hemograma, íons, função renal, glicemia, hormônios tireoidianos, função hepática, sorologia para sífilis Urinálise TCC Eletrocardiograma (antes de usar tricíclicos) Diagnóstico Diferencial Demência em fase inicial - apatia Anemia Diabetes Hipotireoidismo Tumores cerebrais Manifestações clínicas –Expectativas negativas –Falta de esperança –Aumento na dependência nas AVDs –Pensamentos recorrentes de morte –Ideação suicida Manifestações somáticas –Retardo psicomotor e fadiga –Agitação –Anorexia e perda de peso –Insônia Manifestações psicóticas – Delírios (falsas crenças) – Falta de valor e culpabilidade – Saúde ruim – Delírios de pobreza – Alucinações visuais, auditivas e olfatórias Critérios diagnósticos: DSM-IV Cinco ou mais dos seguintes sintomas presentes durante o período de duas semanas que representassem uma alteração a partir do funcionamento anterior pelo menos um dos sintomas necessariamente deveria ser HUMOR DEPRIMIDO Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (por ex., sentese triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora muito) ANEDONIA Interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por outros). APETITE Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso corporal em um mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias. SONO Insônia ou hipersonia quase todos os dias Fadiga ou perda de energia quase todos os dias ALTERAÇAO PSICOMOTORA Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento) INUTILIDADE Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente autorecriminação ou culpa por estar doente) DESATENÇAO Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros) PENSAMENTOS DE MORTE Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer) , ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. IMPACTO FUNCIONAL Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Tratamento Psicoterapia Farmacoterapia Eficácia Tolerabilidade Uso anterior Custo/benefício Tratamento Medicamentoso Tricíclicos Inibidores seletivos da recaptação da serotonina Inibidores da recaptação da serotonona e noradrenalina Inibidor seletivo da recaptação da noradrenalina e dopamina Inibidores da monoaminoxidase DURAÇÃO RECOMENDADA PARA TRATAMENTO EPISÓDIO DURAÇÃO PRIMEIRO………………………………. SEGUNDO………………………………. SEGUNDO COMPLICADO……………. TERCEIRO……………………………… 6 – 9 MESES 4 – 5 ANOS INDEFINIDAMENTE INDEFINIDAMENTE Eletroconvulsoterapia Casos graves e refratários Risco de suicídio Depressão Maior psicótica Desnutrição grave Vamos descansar