Gravidez e Medicamentos

Propaganda
Gravidez e Medicamentos (psicotrópicos)
Diante de um profissional (ou o que é pior, um curioso ou parente ‘bem intencionado’) o qual
recomenda enfática e empafiamente que “não se deve consumir nenhum medicamento durante a gravidez
e lactação”, experimente perguntar em qual categoria de classificação de riscos se enquadra o
medicamento em questão. Pergunte em qual época da gestação “não se deve consumir nenhum
medicamento”, pergunte ainda, qual a poprcentagem da substância que atravessa a placenta ou aparece no
leite materno, pergunte, enfim, de onde essa pessoa tirou tais informações.
Você vai ver que ninguém, ou poucas dessas pessoas, entende sobre o assunto ou têm alguma
autoridade científica sobre ele. Essa negligência por omissão ou por ignorância científica, infelizmente, é
bastante observada entre ginecologistas, obstetras e pediatras. É muito mais fácil proibir tudo quando não
se conhece nada.
A gravidez é um momento de importante mudança emocional para a mulher, havendo um grande
aumento do estresse e da ansiedade. Com freqüência a medicação psicotrópica adequada pode ser
indispensável para o tratamento desses transtornos (McGrath, 1999), a despeito de a paciente estar
grávida.
O tratamento dos distúrbios psiquiátricos manifestados neste período pode apresentar dilemas difíceis,
devendo sempre envolver uma análise cuidadosa dos riscos e dos benefícios do tratamento. Por isso o
intercâmbio continuado entre obstetras e psiquiatras deve ser incentivado fortemente, a fim assegurar o
melhor resultado possível para a mãe e para o bebê.
Uma avaliação do Serviço de Salude Pública Frances sobre o uso de medicamentos durante a gravidez
em1.000 mulheres no sudoeste de Francia, mostrou que durante sua gravidez, 99% das mulheres
receberam pelo menos uma prescripção médica (Lacroix I, Damase-Michel C, Lapeyre-Merstre M,
Montastruc JL.- Prescription of drugs during pregnancy in France - The Lancet 2000; 356: 1735-1704). A
média foi de 13,6 medicamentos por mulher, sendo que 1,6% receberam uma ou mais prescrições de
medicamentos catalogados pela FDA (agência americana para controle de drogas e alimentos)como sendo
da categoria X, na qual os riscos para o feto são maiores que os benefícios.
Nessa mesma pesquisa viu-se que 59% das mulheres receberam prescrições de medicamentos
catalogados na categoria D (aqueles que têm riscos para o feto, mas os benefícios podem ser aceitáveis e
justificar o uso). Finalmente, 79% das mulheres estiveram expostas a medicamentos dos quais não se
dispõe informação sobre seu uso seguro durante a gravidez em animais ou em humanos.
Os dados mostraram que as grávidas francesas (acreditamos que, como as grávidas dos demais países)
estão freqüentemente expostas a medicamentos dos quais não se conhecem exatamente os efeitos
colaterais sobre o feto.
Isso pode significar que o uso indiscriminado desses medicamentos pode estar causando malefícios,
mas, igualmente grave, pode significar que a recusa generalizada e preconceituosa em prescrever
tratamentos pode ser igualmente ruim ou pior ainda.
“Não se deve consumir nenhum medicamento durante a gravidez e lactação” – Isso é mentira, omissão
e comodidade de alguns médicos despreparados. É muito mais fácil proibir tudo quando não se conhece
nada. Na realidade é uma informação extremamente demagógica, já que existe uma simpatia cultural pelo
natural, principalmente em se tratando de gravidez. Mas como fica o eventual sofrimento da mãe
portadora de qualquer transtorno médico simultâneo à gravidez? E se esse transtorno da mãe repercutir
diretamente sobre a saúde do feto e, posteriormente, da criança? Como fica a mãe esquizofrênica, que
apresenta sérios riscos de ferir ou mesmo matar seu filho?
Como fica a mãe depressiva que pode desenvolver Psicose Puerperal ou Depressão Pós-Parto e
igualmente prejudicar irreversivelmente seu filho? Nessas questões os “naturalistas” não se aventuram
com a mesma arrogância demagógica com que dizem “não se deve consumir nenhum medicamento
durante a gravidez e lactação”. Alguns medicamentos não são indicados durante a gravidez e
amamentação, outros são indiferentes e, outros ainda, são extremamente necessários. Hoje em dia
convivemos com algumas tiranias culturais. Uma delas e, parece, a mais incômoda para a psiquiatria, tem
sido o culto ao "natural". Trata-se de uma postura tão hipócrita quanto atraente. Não fosse hipócrita, todos
andaríamos à pé, muito natural, e não de automóveis. Não usaríamos óculos, telefones celulares, televisão,
perfume... e assim por diante.
Um dos tipos de "tirania do natural" é a contra-indicação absoluta de medicação em geral e, em
particular, de qualquer psicotrópicos para grávidas e mães que amamentam. Acontece que, para grande
número de obstetras e clínicos, tem sido muito trabalhosa a tarefa de informar-se e atualizar-se
continuadamente a respeito das relações de produtos farmacêuticos e gravidez (ou lactação). Então é
muito mais fácil contra-indicar tudo. Essa postura é facilitada pelo discurso agradável e politicamente
correto de apelar ao "natural", ao "fora drogas!" e assim por diante.
Mas, o que esses profissionais pouco esclarecidos e muito opinantes não sabem e não querem saber, é
sobre os efeitos extremamente danosos que os transtornos emocionais proporcionam para a qualidade de
vida da gestante, do cônjuge, da família e/ou do bebê depois do parto.
Apesar da alta freqüência da depressão em mulheres grávidas, as informações das pessoas, pacientes e,
infelizmente, dos médicos generalistas e obstetras sobre o tratamento psiquiátrico durante a gravidez são
muito limitadas (Wisner, 1999). Atualmente já dispomos de significativos dados de pesquisa para o uso de
antidepressivos tricíclicos (ADT) e de alguns inibidores seletivos de recaptação da serotonina mais novos
(ISRS) - mais freqüentemente para a fluoxetina – em pacientes grávidas e amamentando. A maioria dos
autores tem concluído que a exposição a estes agentes não aumenta o risco para a morte intra-uterina ou
para defeitos congênitos ao nascimento. Medicamentos usuais que devem ser evitados.
A natureza foi, como sempre, extremamente sábia em relação à chamada Fase Embrionária da
gravidez, que corresponde aos 20 primeiros dias da concepção. Os medicamentos administrados nessa
fase podem causar apenas 2 efeitos; ou matam o feto ou não o afetam em absoluto.
Isso pode aliviar as gestantes que estão em uso de algum medicamento mas não sabem ainda que estão
grávidas. Há tempo suficiente para interromper o uso de algum medicamento, reconhecidamente danoso à
gestação, sem que tenha havido tempo para causar malformações.
Depois dessa fase embrionária vem a Fase da Organogênese, que vai da 3ª à 8ª semana. Esse sim é um
período crítico em relação às possibilidades de malformações. Os medicamentos administrados depois da
Fase da Organogênese, ou seja, durante ol 2º e o 3º trimestres, pouco provavelmente produzirão
malformações, ainda que alguns possam alterar o crescimento normal de órgãos fetais.
De modo geral, pelo que se sabe atualmente, os medicamentos (ou fármacos) que devemos evitar na
gravidez, especialmente durante o chamado período da organogênesis (entre a 3ª e a 8ª semana de
gestação), sob o risco de produzir malformações graves ou outros problemas de crescimento e
desenvolvimentos fetais.
Medicamentos
quimioterápicos
(para
o
câncer)
Talidomida
(para
enjoo)
Isotretinoína
e
etretinato
(contra
a
acne).
Hormônios:
androgênios
e
tiroideanos.
Medicamentos
antitiroideanos.
Anticonvulsivantes
(alguns).
Vacinas
com
vírus
vivos
(por
exemplo
para
rubéola)
Antidiabéticos
orais
Alguns
analgésicos.
Alguns antibióticos (tetraciclinas, estreptomicina, gentamicina, cloramfenicol, sulfas). As
penicilinas
parecem
ser
seguras.
Anticoagulantes orais. A heparina, por sua vez, não atravessa a placenta e é o anticoagulante
de escolha durante a gravidez.
Os medicamentos e substâncias foram, de modo geral, classificados pela FDA (Federal Drugs and
Foods Administration) em 5 categorias (A, B, C, D e X), crescentemente, de acordo com o grau de riscos
à gestação, tomando por base, predominantemente, o primeiro trimestre da gestação. São elas:
Categoria A – A categoria A se refere à medicamentos e substâncias para as quais os estudos
controlados em mulheres não têm mostrado risco para o feto durante o primeiro trimestre e a
possibilidade de dano fetal é bastante remota.
Categoria B – Na categoria B, os estudos realizados em animais não indicam que a substância
oferece riscos para o feto, mas não há estudos controlados em humanos que mostrem efeitos
adversos sobre o feto. Também se aplica aos medicamentos nos quais os estudos em animais
mostraram efeitos adversos sobre o feto, mas os estudos controlados em humanos não
demostraram riscos para o feto. Podemos considerar os medicamentos e substâncias incluídos
nessas duas categoria de prescrição com Cautela.
Categoria C - Os estudos em animais têm demonstrado que esses medicamentos podem
exercer efeitos teratogênicos ou é tóxico para os embriões, mas não há estudos controlados em
mulheres ou não há estudos controlados disponíveis em animais nem em humanos.
Podemos considerar os medicamentos e substâncias incluídos nessas duas categoria de
prescrição
com
Risco.
Categoria D – Na categoria D já existe evidência de risco para os fetos humanos, mas os
benefícios em certas situações, como por exemplo, nas doençass graves ou que põem em risco
a vida e para as quais não existe outra alternativa terapêtica, podem fazer com que o uso
durante a gravidez esteja justificado, apesar dos riscos. Podemos considerar os medicamentos e
substâncias incluídos nessas duas categoria de prescrição como sendo de Alto Risco.
Categoria X – Finalmente vem essa categoria X, onde os estudos em animais ou humanos têm
demonstrado que o medicamento causa alterações fetais ou há evidência de aumento no risco
para o feto com base na experiência em humanos ou ambos. O risco supera claramente
qualquer possível benefício. Podemos considerar os medicamentos e substâncias incluídos
nessas duas categoria de prescrição como sendo de Perigo. Assim sendo, diante de um
profissional (ou o que é pior, um curioso ou parente ‘bem intencionado’) o qual recomenda
enfática e empafiamente que “não se deve consumir nenhum medicamento durante a gravidez
e lactação”, experimente perguntar em qual categoria se enquadra o medicamento em questão.
Verá que ninguém, ou poucas dessas pessoas, entende sobre o assunto ou têm alguma
autoridade científica sobre ele. Essa negligência por omissão ou por ignorância científica,
infelizmente, é bastante observada entre ginecologistas, obstetras e pediatras. (Veja as tabelas
de medicamentos classificados em A, B, C, D e X)
Os Transtornos
A gravidez é um período de mudanças emocionais bastante conhecido, que não só afeta ao curso das
doenças afetivas prévias, como por exemplo o Transtorno Bipolar, senão que também influi sobre a opção
terapêutica escolhida. Diminuir os riscos das conseqüências de exposição do feto ao s fármacos, bem
como di minuir os riscos de una doença psiquiátrica materna deve ser o objetivo principal do tratamento
psiquiátrico da gestante.
Os distúrbios emocionais que ocorrem durante a gravidez ou puerpério (pós-parto) podem aparecer
como uma primeira manifestação psiquiátrica ou, como parece ser mais freqüente, como agravamento ou
recaída de alguns transtornos emocionais prévios. Independente da origem, a ocorrência de distúrbios
psiquiátricos durante este período pode ter implicações muito profundas, não só para a saúde mental da
mãe mas, sobretudo, para seu relacionamento com a criança e com outros membros da família. Também
se constatam sérios prejuízos no desenvolvimento dos filhos de mães emocionalmente problemáticas
(Veja Efeitos da Depressão Pós-Parto na Relação Mãe-Filho em PsiqWeb).
Tendo em mente que a gravidez é um período bastante perigoso para mulheres com Transtorno
Depressivo Recorrente e para sua família, é importante determinar o risco dos vários tratamentos para tais
transtornos. O acompanhamento pré-natal é onde pode haver melhor oportunidade para detectar pacientes
de risco emocional, bem como oferece melhores condições de tratamento e prevenção (Stocky, 2000).
Os números de pacientes tratados para transtornos do humor têm sido cada vez mais crescentes. Uma
grande proporção destes pacientes, particularmente com o diagnóstico da depressão maior (ou grave), são
mulheres
grávidas
(Gold,
1999).
No período do pós-parto, as mulheres com Transtorno Afetivo Bipolar apresentam um risco
excepcionalmente elevado para manifestação de crises; sejam de euforia (mania), de depressão ou de
ambas. Nesse último caso, quando a ocorrência de ambas formas de crises (maníacas e depressivas) for
quase simultânea, falamos em pacientes rápidos cicladores.
Nas crises de depressão ou de euforia graves, as pacientes podem desenvolver um quadro com
sintomas psicóticos e, desta feita, comprometer profundamente seu relacionamento com o bebê, não
raramente colocando em risco a segurança dele.
Um dos desafios clínicos principais nas mulheres com Transtorno Afetivo Bipolar (antiga PMD), é o
manejo clínico dos casos que apresentam ciclos rápidos (euforia e depressão). O tratamento deve ser
conduzido durante a gravidez e a continuar do tratamento no período pós-parto. Entre pacientes com
Transtorno Afetivo Bipolar com características de rápidas cicladoras, o tratamento da depressão é
particularmente problemático.
A dificuldade do tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar está no fato dos antidepressivos,
normalmente empregados nas crises de depressão, poderem facilmente precipitar crises de mania nos
pacientes considerados rápido cicladores (Leibenluft, 2000). Os estabilizadores do humor mais prescritos
para essa finalidade têm, geralmente, efeitos antimanícos mais potentes do que efeitos antidepressivos,
mas devem ser usados com a máxima cautela durante a gravidez.
Opções
Diante de qualquer situação que envolva tratamento à gestante, as decisões devem sempre ser tomadas
pela paciente e pelos familiares, depois de receberem toda informação sobre as conseqüências da doença
psíquica sem tratamento e dos eventuais efeitos dos fármacos sobre o feto.
1. Quando se opta por concepção planejada.
a) Em mulheres com poucos e isolados episódios de moderada severidade ou naquelas com
Transtorno Bipolar Tipo II (onde prevalecem episódios de euforia), devemos ir retirando a
medicação
progressivamente
(Alexis,
1998;
Adele,
2000).
Nunca o tratamento deve ser interrompido de forma brusca devido ao aumento do risco de
recaídas. Caso a paciente toma lítio, este deve ser retirado em 3-5 dias depois do teste de
gravidez
positivo.
b) Em casos de Transtorno Bipolar com episódios graves ou em casos de pacientes rápidas
cicladoras, deve manter-se a medicação com as mínimas doses efetivas. Quando possível,
devemos
optar
pela
monoterapia
(um
só
medicamento).
Nas pacientes que utilizam estabilizadores do humor deve realizar-se ecografias a cada 16-18
semanas para avaliar o desenvolvimento do coração e da coluna do feto. Além disso, devem
ser monitorados os níveis de medicação a cada mês e medidos os eletrólitos no sangue, bem
como os hormônios tireoideanos.
2. Quando a concepção não foi planejada.
Quando se decide interromper a medicação, é bom evitar fazê-la de forma brusca. Deve suspender o
tratamento em 3-5 dias para evitar recaídas. O índice de recaídas nos 6 meses depois da interrupção do
lítio é em torno de 50%. Entretanto, o lítio poderá ser reintroduzido no último trimestre da gravidez (Lee,
1998).
A decisão de se interromper ou não a medicação deve levar em conta a historia clínica da paciente,
bem como valorizar o risco/benefício da suspensão do tratamento. As conseqüências de uma recaída
podem promover uma acentuada diminuição dos cuidados pessoais, um abandono do pré-natal e
acompanhamento médico da gravidez, impulsividade e consumo de álcool e tóxico, suicídio, etc.
Para usarmos psicofármacos durante a gravidez, devemos levar-se em conta quando o risco do
abandono da medicação supera os riscos que apresenta o feto pela exposição aos fármacos. De qualquer
forma, os psicofármacos devem ser evitados durante o primeiro trimestre. Nos casos de Transtornos
Afetivos
neste
período,
a
ECT
o
método
mais
indicado.
Ainda assim, nenhuma decisão está livre de riscos. Um plano individualizado de tratamento diminuirá
esses riscos, tanto para a mãe como para o feto. Neste plano deve se incluir a necessidade ou não de
internação hospitalar nos caso da paciente se encontrar gravemente doente.
Quando a paciente está em uso de estabilizadores do humor (carbonato de lítio, carbamazepina,
valproato ou divalproato), devemos aconselhar sobre o uso de algum método anticoncepcional. Os pais
devem ainda ser aconselhados sobre os riscos genéticos dos transtornos emocionais e, principalmente,
sobre o alto risco de recaída de transtornos emocionais durante a gravidez e no período pós-parto.
Interromper o lítio durante a gravidez pode ser a regra, porém, pode-se continuar o tratamento com
outros estabilizadores em doses baixas. O lítio, entretanto, deve reintroduzido imediatamente depois do
parto. Neste caso, se desaconselha terminantemente a amamentação. A amamentação será possível no
caso de um tratamento estabilizador alternativo ao lítio.
Gravidez
e
Depressão
(Gravidez e Medicamentos - 2)
O diagnóstico de depressão tem aumentado na população geral e, com isso, os problemas relacionados
aos tratamentos antidepressivos também são maiores. Um dos dilemas que enfrenta o clínico nessas
questões, é quando a paciente apresenta depressão e engravida, já está grávida ou amamentando.
Em relação à prescrição de medicamentos para grávidas, uma revisão conduzida por Schou (1998)
considerou que o tratamento à base de lítio, de antidepressivos tricíclicos (ADT), e de inibidores seletivos
de recaptação da serotonina (ISRS), estão justificados antes, durante e após a gravidez, sempre que for
requerido; quer como tratamento de crises, quer como preventivo para pacientes de constatado risco
emocional. Refere ainda, que nenhum outro tratamento curativo e profilático tem um risco mais baixo e
uma melhor relação custo-benefício. A maioria dos pesquisadores são concordantes com Schou quanto
aos antidepressivos tricíclicos (ADT) e ISRS mas, em relação ao Lítio, outros autores têm opinião
diferente, contra-indicando esse produto durante a gravidez.
É comum ouvirmos, da tal “sabedoria popular”, das interpretações psicodinâmicas mais ousadas, e até
dos tipos alternativos de abordagem humana, que o estado emocional da mãe, durante a gestação, influi no
futuro bem estar emocional da criança que vai nascer ou, outras vezes, determinar até a interrupção da
gravidez.
De fato isso parece ter procedência científica, não tão romântica como alguns querem fazer crer,
sugerindo uma verdadeira transmissão de sentimentos intra-útero ou o abortamento emocional, mas sim
claramente bioquímica. Estudos retrospectivos em seres humanos (Weinstock, 2001) sugerem que o
estresse materno crônico, durante a gravidez, se associa com os níveis elevados de Hormônio Liberador de
Corticotrofina (corticotropin-releasing hormone - CRH), de Hormônio Adreno-Córticotrófico (ACTH) e
de Cortisol.
Esses hormônios podem aumentar a probabilidade do nascimento de prematuros, de atrasos no
desenvolvimento infantil e anormalidades comportamentais nas crianças. As anormalidades de
desenvolvimento e de comportamento nos filhos poderiam ocorrer devido a sensibilidade do cérebro
fetal à esses hormônios maternos aumentados pelo estresse, assim como à ação danosa no cérebro do
feto pelos glicocorticóides e neurotransmissores envolvidos pelas grandes tensões emocionais da mãe.
São cada vez mais claras e inequívocas as pesquisas sobre os efeitos danosos da depressão da mãe
durante a gestação sobre as futuras funções maternas no momento do parto e no período neonatal. A
começar pela maior incidência de necessidade de analgesia em pacientes previamente deprimidas.
Chung (2001) mostrou que as mulheres que tiveram níveis elevados de sintomas depressivos durante o
terceiro trimestre, mais provavelmente necessitavam de anestesia peridural e maior incidência de
partos cirúrgicos.
Chung viu ainda que as crianças dessas mães deprimidas, eram também mais prováveis de
admissões em unidades de cuidados intensivos de recém nascidos. Tais resultados sugerem um
possível relacionamento causal entre alterações psicológicas maternais na gestação e pré-parto, e
complicações obstétricas e neonatais.
Por outro lado, também de acordo com a tal “sabedoria popular” e interpretações psicodinâmicas,
tem procedência científica o tão propalado “espírito materno”, que se abate sobre gestantes de modo
geral, tal qual um sopro mágico. Ocorrem no cérebro, grandes alterações no metabolismo, secreção e
sensibilidade de receptores de ocitocina, um neurotransmissor elaborado inicialmente pela hipófise.
Essa ocitocina de liberação central (no Sistema Nervoso Central) é o elemento bioquímico
atualmente mais relacionado à expressão e comportamento maternal (Russell, 2001). Isso ocorre, digase de passagem, nos ser humano e nos animais, os quais parecem também ser envolvidos pelo espírito
mágico da maternidade. Outras mudanças nos diversos sistemas neuroendócrinos estão igualmente
ligadas à lactação, à supressão da ovulação, ao apetite aumentado, e demais modificações gravídicas.
Assim sendo, considerando verdadeira a sensata hipótese de Monk, a preocupação em
diagnosticarmos se a Depressão que apresenta uma mulher seria um caso de Tristeza Materna ou de
Depressão Pós-Parto (veja artigo), pensando nesses diagnósticos como se tratassem de doenças
psiquiátricas diferentes, vamos entender a questão como sendo transtornos depressivos tradicionais, de
graus variados (leve, moderado ou grave) com a única diferença de terem sido oportunistas e
comórbidos com a gravidez. Portanto, o correto seria considerar o quadro como Depressão na
Gravidez e não da gravidez.
Depressão na Gravidez
As constantes e periódicas mudanças hormonais, as alterações orgânicas da reprodução, da
puberdade, o uso prolongado de contraceptivos orais, as alterações orgânicas e existenciais do pósparto e da menopausa contribuem, significativamente, para que as mulheres tenham duas vezes mais
depressão que os homens (Parry, 2001).
Na clínica diária tem sido comum algumas pacientes se queixarem ter apresentado depressão
depois do nascimento de seus filhos e que, mesmo estando eles com até 3 anos de idade, a depressão
continuava. Isso tem, de fato, uma confirmação em pesquisas. Avaliadas por McLennan (2001), 24%
de parturientes manifestavam depressão 17 semanas depois do parto e até 17% delas continuavam
deprimidas 35 meses depois (três anos).
Um dos fatores que favorecem a depressão durante a gestação está o fato da gravidez não ter sido
desejada. E essa depressão da gravidez persiste depois do parto (como veremos adiante, nada parece
confirmar que exista maior incidência de depressão depois do parto que durante a gravidez). Dessas,
36% tinha história de gravidez não desejada. O estado afetivo dessas mães influiu no estado de saúde
das crianças.
A necessidade do pronto tratamento psiquiátrico em mulheres grávidas com problemas
emocionais, decorre da noção sobre os efeitos do estresse, da ansiedade e da depressão sobre a
evolução da gravidez, do parto, da futura função materna e, principalmente, da qualidade psíquica da
criança que vai nascer. Trata-se, sobretudo, de uma atitude psiquiátrica predominantemente preventiva
(Monk, 2001).
Ao contrário do que pensa muita gente, a incidência de depressão na gravidez mostra taxas mais
elevadas até a 32a. semana de gestação do que até 8 semanas depois do parto. Evans (2001) é enfático
ao dizer, textualmente, que os sintomas da depressão não são mais comuns ou severos após o parto do
que durante a gravidez. O que acontece, provavelmente, é que a maioria dos obstetras e pediatras evita
esse diagnóstico, devido ao receio ou pouco conhecimento com relação ao tratamento disso durante a
gravidez.
Segundo essa pesquisa, realizada com 14.000 mulheres grávidas, a depressão depois do parto
(puerperal) não pareceu ser uma síndrome distinta da depressão que pode acontecer durante o período
da gestação. Sobre as dúvidas acerca das mulheres serem mais vulneráveis à doença psiquiátrica
durante o período pós-natal, Evans concluiu que “a prevalência da doença depressiva não-psicótica no
período pós-natal foi similar à prevalência na população geral”. De forma radical, mas convincente,
afirma que não foi encontrada nenhuma evidência que justificasse categorizar, de forma distinta,
depressão pós-parto da depressão de qualquer outra época da vida.
Antidepressivos
A indicação principal para antidepressivos é depressão e, entre esses produtos, muitas drogas se
mostram eficazes para o tratamento farmacológico da depressão em gestantes e lactantes. Embora os
antidepressivos de modo geral pareçam ser igualmente eficazes, os inibidores seletivos do recaptação
da serotonina (ISRS) são freqüentemente as drogas da escolha. Essa preferência deve-se, no mais das
vezes, à sua segurança e aos efeitos colaterais mais menos incômodos (Majeroni, 1998).
É claro que as precauções em relação aos medicamentos em grávidas devem-se ao fato dessas
substâncias cruzarem a barreira placentária, portanto, fazendo supor eventuais implicações para o feto.
Porém, como dissemos, tendo em mente também os evidentes efeitos danosos dos transtornos da
ansiedade e da depressão não tratadas à mãe e ao feto, a decisão para esse tipo de tratamento deve ser
muito bem ponderada pelos médicos que assistem à gravidez.
A primeira coisa a saber, e que pode trazer conforto às gestantes, é que os transportes de radicais e
outras substâncias da mãe ao feto, através da placenta, e das substâncias do feto à mãe começam,
aproximadamente, a partir da quinta semana da vida fetal (Iqbal, 1999).
Esse conhecimento alivia a angústia de muitas mães que faziam uso de medicamentos por ocasião
de se saberem grávidas. De qualquer forma, as pessoas que desejam precaver-se do uso de quaisquer
produtos durante o primeiro trimestre de gestação, estarão satisfatoriamente protegidas se mantiverem
essa postura entre a 5a. e a 12a. semanas.
Como cautelosamente avisam as bulas de psicotrópicos e outros tantos pesquisadores, apesar do
uso muito difundido desses produtos, tais como benzodiazepínicos e antidepressivos, durante a
gravidez, há ainda pouca informação a respeito de seus efeitos no feto. Diante dessas dúvidas, e com
receio de não se saber o suficiente, há uma tendência geral para indicação de tratamentos nãofarmacológicos sempre que possível para o tratamento de transtornos da ansiedade e alguns poucos
casos de depressão leve-moderada. A maioria desses tratamentos não-farmacológicos se faz às custas
da terapia comportamental e cognitiva.
Entretanto, como pode se apurar na maioria das pesquisas recentes, se alguma medicação for
exigida, as mulheres grávidas devem receber, preferentemente, antidepressivos (ADT e ISRS) para
prevenir conseqüências mais desastrosas de sua doença emocional sobre si mesma, sobre a criança e
sobre sua família.
Os limites das pesquisas de psicotrópicos em grávidas se devem, sobretudo, aos compreensíveis
problemas para se submeter mulheres normais aos estudos. No Brasil, um estudo relativamente recente
comparou os efeitos tóxicos de doses altíssimas de fluoxetina (de 8 a 16 mg/kg) e venlafaxina (40 e 80
mg/kg), administrado durante a terceira semana da gravidez em ratas e cães. A conclusão foi de que
esses produtos podem reduzir o peso das crias (da Silva, 1999) quando as doses forem
exageradamente altas.
Tradicionalmente, o que mais preocupa e se pesquisa é saber se esses antidepressivos e outras
drogas podem causar possíveis efeitos teratogênicos (de malformações) aos fetos. O uso dos
antidepressivos durante a gravidez tem sido consideravelmente avaliado com respeito às condições de
segurança. Alguns relatórios anteriores sobre antidepressivos tricíclicos (ADTs) sugeriam a
necessidade ajustar a dose durante a gravidez para manter concentrações terapêuticas no sangue. De
fato, em relação aos ISRS, também parece haver necessidade de aumento da dose em grávidas à partir
da 20a. à 27a. semanas para se obter o mesmo efeito que nas pessoas não grávidas (Hostetter, 2000).
Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), incluindo a fluoxetina, sertralina,
paroxetina, fluvoxamina e citalopram, representam um avanço importante na farmacoterapia dos
transtornos do humor e são os tratamentos da escolha para muitos quadros afetivos. Entre esses
quadros incluem-se a depressão maior (ou grave), a distimia, o transtorno do pânico, o transtorno
obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares, e o transtorno disfórico pré-menstrual.
Masand reviu os trabalhos sobre esse tema catalogados em Medline nos últimos 15 anos. A
maioria dos autores pesquisados alega segurança na gravidez para os ISRS, notadamente para a
fluoxetina. Os efeitos colaterais dos ISRS incluem distúrbios gastrintestinais, dor de cabeça, sedação,
insônia em alguns casos, hiperatividade em outros, ganho ou perda de peso, a perspiração excessiva e
disfunção sexual (Masand, 1999).
A capacidade para determinar malformações fetais (teratogenicidade) e outros efeitos da
medicação psiquiátrica no feto, recém nascido ou no lactente, deve ser muito bem discutida e
considerada, em comparação com os riscos do não tratamento. A medicação, quando requerida, deve
ser mantida na dose mínima necessária para tratar adequadamente os sintomas incômodos e perigosos.
Revendo a bibliografia dos últimos dois anos, a maioria dos trabalhos mostra que os
antidepressivos não têm nenhum efeito teratogênico aparente (Buist, 2000). Por outro lado, os
estabilizadores do humor (Lítio, Carbamazepina e Valproatos) são mais prováveis ter efeitos
teratogênicos e devem, em geral, ser evitados durante a gravidez.
Horváth (2000) analisou, na Hungria, dados referentes à 127 grávidas que procuraram
aconselhamento genético por fazerem uso de medicação durante a gravidez. A maioria dessas
mulheres (78%) procurou o serviço de orientação genética antes da 12a. semana de gestação. As
indicações principais para os tratamentos foram, por ordem de freqüência, as infecções, transtornos
psiquiátricos (depressão e ansiedade), neurológicos (epilepsia), endócrinos (diabetes, hipertiroidismo),
doenças cardiovasculares e problemas gastrintestinais. Os grupos principais das drogas utilizadas eram
os antibióticos, analgésicos e antitérmicos, antidepressivos, antidiabéticos e anti-hipertensivos.
Exames de ultra-som foram periodicamente realizados pelos autores no intuito de avaliar o
desenvolvimento de malformações fetais em pacientes que faziam uso de medicações desde o primeiro
trimestre da gravidez. Quando a paciente fazia uso de medicações múltiplas o risco de malformações
aumentava, resultando em 6,3% dos casos.
Em Milão, Addis (2000) examinou a possibilidade de risco aumentado para as malformações fetais
devido ao uso do antidepressivo fluoxetina durante o primeiro trimestre da gravidez, mediante uma
complexa meta-análise. Depois de analisados os dados, concluiu que o uso do fluoxetina, durante o
primeiro trimestre da gravidez, não é associado com os efeitos teratogênicos no ser humano.
O desenvolvimento intra-útero e peri-natal das crianças cujas mães fizeram uso de tricíclicos ou de
fluoxetina durante a gestação não apresentou diferença daquelas crianças do grupo controle (que não
usaram esses medicamentos). Em alguns neonatos, cujas mães foram tratadas com os antidepressivos
perto do termo da gravidez, pode-se observar efeitos da substância e efeitos diretos da retirada delas
(Wisner, idem).
Outros estudos de meta-análise sobre efeitos adversos sobre o feto de medicações psicotrópicas
analisaram dados de 12 anos; de janeiro de 1976 à fevereiro de 1998 (MEDLINE EMBASE). A
conclusão foi de que nem os ISRS nem os ADT parecem causar anomalias e malformações
congênitas, mas ambos podem ser associados com um risco aumentado pequeno de alterações
menores, como por exemplo, a prematuridade e algumas complicações neonatais (Austin, 1998).
Por outro lado, os benzodiazepínicos, o lítio, os anticonvulsivantes e a clorpromazina produzem
uma taxa aumentada de anomalias congênitas assim como maiores problemas neonatais.
O estudo ressalta ainda que, quando alguns psicotrópicos forem associados com anomalias
congênitas e complicações peri-natais, não devemos esquecer que a doença mental, por si mesma,
pode também ser associada com um resultado adverso no desenvolvimento da criança.
Foram acompanhadas 969 mulheres grávidas em uso dos antidepressivos em idade gestacional
mais avançada. Dessas, mais da metade (531) usou somente inibidores seletivos de recaptação da
serotonina (ISRS) e 423 usaram outros antidepressivos, e 15 usaram associações de antidepressivos
(Ericson, 1999).
Observações de Ericson (1999) sobre 969 grávidas em uso de antideprssivos
1 - As mulheres que usaram antidepressivos eram mais velhas e fumavam mais que
outras mulheres controle
2 - Pareceu haver um excesso de mulheres elevadas da paridade entre elas
3 - A freqüência de nascimentos múltiplos era mais baixa do que esperada, com
poucos nascimentos gêmeos nas mulheres que tinham usado ISRS
4 - A duração da gravidez entre as mães solteiras era mais curta que das casadas mas
não afetou a sobrevivência infantil
5 - As crianças nascidas eram um tanto mais pesados do que esperados, notavelmente
quando eram usados ADTs.
6 - Nenhum aumento de malformações congênitas foi observado no período.
Baseado nesses dados, Ericson conclui que o uso dos antidepressivos na gravidez adiantada não
parece acarretar algum risco significativo para o bebê detectável durante o período neonatal.
Outras Drogas
Aproximadamente um terço de todas as mulheres grávidas fazem uso de drogas psicotrópicas ao
menos uma vez durante a gravidez. Embora as drogas psicotrópicas não sejam exaustivamente
testadas, nem totalmente aprovadas pelo FDA (Administração para uso de Drogas e Alimentos dos
EUA) para uso durante a gravidez, algumas mulheres continuam fazendo uso dessas medicações
quando engravidam (Cohen, 1998).
Os riscos do uso de drogas psicotrópicas durante a gravidez poderiam incluir os efeitos
teratogênicos, o efeito tóxico neonatal direto, e o potencial para seqüelas neuro-comportamentais
quando se trata por um período mais longo. Mas também existem os riscos do transtorno psiquiátrico
para a integridade feto-placentária e o desenvolvimento fetal do sistema nervoso central.
As decisões clínicas para o tratamento psico-farmacológico na gravidez devem envolver, além do
médico, também a mulher e seu companheiro, sempre tendo em mente que a omissão de tratamento
adequado pode ser extremamente danosa para a mãe e para a criança, apesar de ser comodamente
confortável para o médico.
Os riscos e os benefícios da farmacoterapia para estas mulheres devem ser pensados
separadamente para cada paciente. Normalmente o tratamento deve ser limitado às situações onde os
riscos do transtorno emocional à mãe e ao feto são, presumidamente, maiores que os eventuais riscos
do tratamento biológico.
Os interesses sobre a exposição fetal à medicação psicotrópica estão sendo crescentes na prática
clínica de psiquiatras e de médicos generalistas da atenção primária.
A necessidade de se saber mais sobre o uso de psicotrópicos durante a gravidez, pós-parto e
lactação é imperiosa e deve-se, sobretudo, pela elevada e crescente taxa de doenças psiquiátricas
durante esses períodos. Entre as drogas pesquisadas, sugere-se que há aumento do risco para
malformações congênitas após a exposição intra-uterina do lítio e aos estabilizadores do humor, mas
tal risco nunca pode ser provado para a maioria dos antidepressivos (Lanczik, 1998).
Amamentação
A maioria dos estudos procura relacionar concentração dos produtos químicos encontrados no leite
materno e a concentração desses produtos do sangue da mãe (relação milk/plasma [M/P]). Apesar
destes estudos serem em número já expressivo, há notavelmente poucos relatórios atestando efeitos
adversos nos bebês expostos aos psicotrópicos administrados às suas mães (Llewellyn, 1998).
A maioria das investigações recentes demonstra a segurança do feto exposto a antidepressivos
inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRSs) durante a gravidez. Todos os ISRSs relatados
nos estudos foram excretados no leite materno, e níveis baixos foram detectados no sangue da criança
(Misri, 2000).
Entretanto, 74% por cento dos bebês de mães que usavam psicotrópicos não apresentaram
nenhuma concentração detectada no sangue, ou poderia haver alguma concentração que se encontrava
abaixo do limite de deteção do laboratório. Nos 26% restantes, as concentrações sanguíneas de
psicotrópicos e/ou dos metabólitos ativos foram detectados. Em cada um destes casos, os bebês tinham
sido expostos à medicação psicotrópica da mãe não apenas durante a gravidez mas também na
amamentação (Birnbaum, 1999).
Sobre a concentração de psicotrópicos que eventualmente pode surgir no sangue da criança que
amamenta em mãe que faz uso de psicotrópicos foi avaliado em relação à venlafaxina (Efexor®). Os
dados preliminares mostram que a dose de Venlafaxina e de seu metabólito ativo foi de 9,2% da dose
administrada à mãe (Ilett, 1998).
Estes dados sugerem uma baixa incidência de toxicidade infantil e de efeitos adversos associados
com o uso dos antidepressivos e de benzodiazepínicos durante amamentação, sugerem também que
nenhum desses medicamentos parece ser mais seguro do que outro. Conseqüentemente, a escolha do
tratamento farmacológico durante a amamentação deve ser guiada pela restauração do bem estar
psiquiátrico maternal.
RISCOS DA FARMACOTERAPIA
1. Antipsicóticos
a) Antipsicóticos Baixa potência
CLORPROMAZINA Amplictil,
Clorpromazina
LEVOMEPROMAZINA
Levozine,
Neozine
SULPIRIDA Dogmatil, Equilid
TIORIDAZINA
Melleril
TRIFLUOPERAZINA Stelazine
AMISULPRIDA Socian
b) Antipsicóticos Alta potência
FLUFENAZINA
Anatensol,
Flufenan
HALOPERIDOL
Haldol,
Haloperidol
PENFLURIDOL
Semap
PIMOZIDA
Orap
PIPOTIAZINA Piportil, Piportil
L4
ZUCLOPENTIXOL Clopixol
Seu uso durante o terceiro trimestre pode provocar
ictericia, movimientos extrapiramidais,
hiper e
hiporreflexia no recém nascidos (A. Benarrabe, M.
Bernardo, E. Arrufat e J. Salva. El manejo e o
tratamiento de los trastornos mentais graves em a
embarazada.
Actas
Luso-Esp.
Neurol.
Psiquiatr.,1998;26,3:187-2001).
Seu uso, especialmente entre a 6ª e a 10ª semana de
gestação, se associa a malformações neonatais. Há
sempre absoluta necessidade de se considerar o risco
decorrente da suspensão do tratamento com
antipsicóticos, tendo em vista o aumento de mortes
fetais nesses casos (A. Benarrabe, M. Bernardo, E.
Arrufat e J. Salva, 1998).
2. Antidepresivos
a)
Tricíclicos
AMITRIPTILINA
Amytril,
Tryptanol
CLOMIPRAMINA
Anafranil
IMIPRAMINA Imipra, Tofranil
MAPROTILINA
Ludiomil
NORTRIPTILINA
Pamelor
b)
ISRS
CITALOPRAM
Cipramil,
Não aumentam o risco de malformações congênitas.
Seu uso em período perinatal pode provocar o
aparecimento de irritação, convulsões e sintomas
secundários aos efeitos anticolinérgicos, próprios deste
tipo de medicamento (Lee S.Cohen, M.D., ande
Jerrolde F. Rosenbaum, M.D. Psychotropic drug use
during pregnancy: weighing the risks. J. Clin.
Psychiatry 1998;59 (supl 2):18-28).
Exceto para a fluoxetina, os datos que se têm deste
grupo são limitados. No caso da fluoxetina, não existe
Parmil
FLUOXETINA
Daforim,
Deprax, Eufor, Fluxene, Nortec,
Prozac,
Verotina
NEFAZODONA
Serzone
PAROXETINA
Aropax,
Pondera,
Cebrilin
SERTRALINA Novativ, Tolrest,
Zoloft
incremento do risco de aparição de malformações
congênitas. (Alexis Llewellyn, Zachary N. Stowe,
M.D., ande Charles B. Nemeroff,M.D.,Ph.D.
Depressiom during pregnancy ande the porperium.
J.Clin.Psychiatry 1997;58(suppl 15):26-32)
c)
IMAOs
TRANILCIPROMINA Parnate,
Stelapar
MOCLOBEMIDA
Moclobemida
SELEGILINA Elepril, Jumexil
3.
Eletroconvulsoterapia
Eletroconvulsoterapia
Os antidepressivos IMAOs devem ser evitados durante
a gravidez devido ao aumento da probabilidade de
malformações congênitas.(Lee S.Cohen, M.D., ande
Jerrolde F. Rosenbaum, M.D., 1998)
Até hoje não existem evidências de malformações
congênitas pela Eletroconvulsoterapia. É o método
recomendado para situações de alto risco, dado à sua
eficacia e segurança (Alexis Llewellyn; Zachary N.
Stowe, M.D.; ande James R. Strader, Jr. The use of
lithium ande management of womem with bipolar
disorder during pregnancy ande lactatiom J. Clin.
Psychiatry 1998;59 (suppl 6):57-64).
4. Estabilizadores do Humor
a)
Litio
CARBONATO DE LITIO
Carbolim, Carbolitium, Litiocar,
Neurolithiun
b)
Carbamazepina
CARBAMAZEPINA
Carbamazepina,
Tegretard,
Tegretol
c)
Acido
valproico
ÁCIDO
VALPRÓICO
Depakene, Valpakine
5.
Benzodiazepínicos
ALPRAZOLAM
Frontal,
Tranquinal
Apesar de controversa, a administração de Lítio
durante o primeiro trimestre está associada a um
aumento
no
número
de
malformações
cardiovasculares. Seu uso no período perinatal se
relaciona com a síndrome do "floppy baby",
caracterizada por cianose e hipotonia muscular (Ellem
Leibenluft, M.D. Issues im the treatment of womem
with bipolar illness. J.Clin.Psychiatry 1997;58 (supl
15):5-11).
De 0,5-1% dos casos de espina bífida estariam
relacionados à utilização de carbamazepina no
primeiro trimestre. A carbamazepina é uma alternativa
para os casos de resistencia ao litio ou, no primer
trimestre, se a mania não cede com antipsicóticos ou
TEC.
Aconselha-se administrar folatos e vitamina K,
juntamente com a carbamazepina para evitar a
diminuição dos fatores de coagulação, dependientes
que são das malformações neuronais (Ellem
Leibenluft, M.D., 1997).
O uso do (Di)Valproato de Sódio ou Ácido Valpróico
está associado com defeitos na formação do tubo
neural em 3 a 5% dos fetos. O Ácido Valpróico não
deve, de forma alguma, ser usado na gravidez,
inclusive em situações extremas (Ellem Leibenluft,
M.D., 1997).
Existe risco de anomalías congênitas pela utilização de
tranquilizantes benzodiazepínicos durante o primeiro
trimestre da gravidez. Sua utilização no período
BROMAZEPAM
Brozepax,
Deptran, Lexotam, Nervium,
Novazepam, Somalium, Sulpam
BUSPIRONA
Ansienon,
Ansitec, Bromopirim , Brozepax,
Buspanil,
Buspar
CLOBAZAM Frizium, Urbanil
CLONAZEPAM Clozal, Rivotril
CLORDIAZEPÓXIDO
Psicosedim
CLOXAZOLAM Elum, Olcadil
DIAZEPAM
Ansilive,
Calmociteno,
Diazepam,
Diazepan,
Kiatriun,
Noam,
Somaplus,
Valium
LORAZEPAM Lorium, Lorax,
Mesmerin
perinatal provoca alterações na termorregulação, pode
favorecer apnéia, hipotonia muscular e diminuição na
puntuação do Apgar do recém naascido. Seu uso deve
ser evitado durante o primeiro trimestre.
Entretanto, usados durante o segundo e terceiro
trimestre, o uso ocasional de tranquilizantes
benzodiazepínicos não costuma afetar a gestação e o
feto de forma negativa (Lee S.Cohen, M.D., ande
Jerrolde F. Rosenbaum, M.D. , 1998).
Gravidez
e
Esquizofrenia
(Gravidez e Medicamentos - 3)
Tanto a mãe esquizofrênica como o filho são pacientes de alto risco psicossocial. A Esquizofrenia,
apesar de ser uma doença psiquiátrica crônica e que requer tratamento por toda vida, quando bem tratada
não é impedimento para a maternidade, pelo menos sob o ponto de vista biológico.
De modo geral, nessas condições a gravidez é pouco recomendável e ela deve ser evitada por
representar um duplo risco, tanto para a mãe como para o filho, considerando os fatores biológicos,
psicossociais e genéticos. Não obstante, a psiquiatria deve estar preparada, pois, às vezes a paciente
esquizofrênica engravida sem planejamento.
O problema da gravidez na esquizofrenia não é, absolutamente, médico. Trata-se de um agravo
psicossocial, familiar e de maternidade. Isso sem contar a probabilidade genética da transmissão da
doença ao filho.
O fator de risco para herança esquizofrênica é, de modo geral, em torno de 10% para aqueles que têm
um membro familiar direto com a doença e de aproximadamente 40% se a doença afeta ambos os pais ou
gêmeos idênticos. Aproximadamente 60% dos portadores de esquizofrenia possuem parentes não
próximos com a doença. O distúrbio de vestígios no olhar é uma das características genéticas que parece
ser associada com a esquizofrenia.
Esse risco hereditário da esquizofrenia costuma se manifestar na criança, caso tenha adquirido,
geralmente depois dos 15 anos de idade. Embora algumas delas possam portar, desde o berço ou primeira
infância, traços de personalidade esquizóide ou paranóide, podem também ser crianças que estão
estudando bem, habilosas e socialmente normais mas, de súbito, manifestam o quadro com as
alucinaciones e delírios característicos.
Riscos
Entre os riscos da gravidez da mãe esquizofrênica, além daqueles vindos das próprias alterações
psíquicas que a gestação favorece, estão os efeitos secundários dos medicamentos usados para essa
doença. Esses psicofármacos antipsicóticos podem afetar o feto, principalmente quando usados nos
três primeiros meses de gestação.
Quando a mãe usa psicofármacos no final da gravidez, o filho pode apresentar efeitos colaterais
depois do nascimento, como por exemplo, dificuldades na sucção da mama, taquipnéia (respiração
rápida), taquicardia, irritabilidade, tremores, sudorese aumentada e retenção urinária. Mas nenhum
desses efeitos tem gravidade.
Outro fator de risco, também de pouca gravidade, é o aumento das probabilidades de
complicações de parto. As mulheres com esquizofrenia têm probabilidade maior de problemas do
parto, incluindo-se períodos mais curtos de gestação e baixo peso no recém-nascido.
Talvez os maiores problemas seja, realmente, na esfera da atenção materna e da transmissão
genética da esquizofrenia. Geralmente, apenas 30% das crianças filhas de pacientes com problemas
psiquiátricos graves (Psicose Puerperal, Esquizofrenia e Episódios agudos de Transtorno Bipolar)
recebem atenção materna satisfatória.
Conduta
A melhor conduta que se pode idealizar, na questão das pacientes esquizofrênicas e do ponto de
vista científico, é prevenir a gravidez. Conhecendo os riscos, a própria paciente ou, mais
provavelmente, os familiares, devem optar por algum método anticonceptivo constante ou até
definitivo.
Eticamente, entretanto, não se pode proibir que as pacientes psicóticas engravidem. Caso isso
aconteça, as atenções pré-natais devem ser redobradas, valendo-se de um psiquiatra juntamente com
o obstetra. É desejável que se use o mínimo de medicamentos necessários para manter a paciente
fora da crise. Na gravidez tenta-se evitar o uso de AP no primeiro trimestre, mas se for necessário
recomenda-se o uso de haloperidol ou trifluoperazina
(Altshuler, L.L.; Cohen, L.; Szuba, M. e cols. Pharmacological management of psychiatric illness
during pregnancy: dilemmas and guidelines. Am. J. Psychiatry, v.153, pp. 592-606, 1996; Cohen,
L.S.; Rosembaum, J.F. Psychotropic drug use during pregnancy: weighing the risks. J. Clin.
Psychiatry, v. 59, n. 2, pp.18-28, 1998; Miller, L.J. Treating pregnant patients with psychotropics
drugs. Conference News Online, U.S. Psychiatric & Mental Health Congress,1996).
Volta
para
PARTE
1
Volta
para
PARTE
2
Tabela de Medicamentos na Gravidez
Ballone GJ - Gravidez e Psicotrópicos - in. PsiqWeb Psiquiatria Geral, Internet, disponível em
<http://gballone.sites.uol.com.br/mulher/gravimed.htm>2002
Bibliografia
1. Addis A; Koren G - Safety of fluoxetine during the first trimester of pregnancy: a meta-analytical review of epidemiological
studies. - Psychol Med, 2000 Jan, 30:1, 89-94
2. Adele C. Viguera, M.D., Ruta Nonacs, M.D., Lee S. Cohen, M.D., Leonardo Tondo, M.D., Aoife Murray, A.B., ande Ross J.
Naldessarini, M.D. Risk of recurrence of bipolar disorder im pregnant ande nonpregnant wome after discontinuing lithium
maintenance. Am. J. Psychiatry 2000;157:179-184.
3. Alexis Llewellyn, Zachary N. Stowe, M.D., ande Charles B. Nemeroff,M.D.,Ph.D. Depressiom during pregnancy ande the
puerperium. J.Clin.Psychiatry 1997;58(suppl 15):26-32
4. Austin MP; Mitchell PB - Psychotropic medications in pregnant women: treatment dilemmas. - Med J Aust, 1998 Oct, 169:8,
428-31
5. Birnbaum CS; Cohen LS; Bailey JW; Grush LR; Robertson LM; Stowe ZN - Serum concentrations of antidepressants and
benzodiazepines in nursing infants: A case series. - Pediatrics, 1999 Jul, 104:1, e11
6. Buist A - Managing depression in pregnancy. - Aust Fam Physician, 2000 Jul, 29:7, 663-7
7. Chung TK, Lau TK, Yip AS, Chiu HF, Lee DT - Antepartum depressive symptomatology is associated with adverse obstetric
and neonatal outcomes. - Psychosom Med 2001 Sep-Oct;63(5):830-4
8. Cohen LS; Rosenbaum JF - Psychotropic drug use during pregnancy: weighing the risks. - J Clin Psychiatry, 1998, 59 Suppl
2:, 18-28
9. da Silva VA; Altenburg SP; Malheiros LR; Thomaz TG; Lindsey CJ - Postnatal development of rats exposed to fluoxetine or
venlafaxine during the third week of pregnancy. - Braz J Med Biol Res, 1999 Jan, 32:1, 93-8
10. Ericson A; Källén B; Wiholm B - Delivery outcome after the use of antidepressants in early pregnancy. - Eur J Clin
Pharmacol, 1999 Sep, 55:7, 503-8
11. Evans J, Heron J, Francomb H, Oke S, Golding J - Cohort study of depressed mood during pregnancy and after childbirth. BMJ 2001 Aug 4;323(7307):257-60
12. Gold LH - Treatment of depression during pregnancy. - J Womens Health Gend Based Med, 1999 Jun, 8:5, 601-7
13. Horváth E; Faragó M; Keszthelyi G; Keresztúri A; Szabó A; Szemere G; Szabó J - Genetic counseling and prenatal care after
medications during the first trimester - Orv Hetil, 2000 May, 141:22, 1179-83
14. Hostetter A; Stowe ZN; Strader JR Jr; McLaughlin E; Llewellyn A - Dose of selective serotonin uptake inhibitors across
pregnancy: clinical implications. - Depress Anxiety, 2000, 11:2, 51-7
15. Ilett KF; Hackett LP; Dusci LJ; Roberts MJ; Kristensen JH; Paech M; Groves A; Yapp P - Distribution and excretion of
venlafaxine and O-desmethylvenlafaxine in human milk. - Br J Clin Pharmacol, 1998 May, 45:5, 459-62
16. Iqbal MM - Effects of antidepressants during pregnancy and lactation.- Ann Clin Psychiatry, 1999 Dec, 11:4, 237-56
17. Kelly RH, Russo J, Katon W - Somatic complaints among pregnant women cared for in obstetrics: normal pregnancy or
depressive and anxiety symptom amplification revisited? - Gen Hosp Psychiatry 2001 May-Jun;23(3):107-13
18. Lanczik M; Knoche M; Fritze J - Psychopharmacotherapy during pregnancy and lactation. 1: Pregnancy - Nervenarzt, 1998
Jan, 69:1, 1-9
19. Lee S.Cohen, M.D., ande Jerrolde F. Rosenbaum, M.D. Psychotropic drug use during pregnancy: weighing the risks. J. Clin.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
Psychiatry 1998;59 (supl 2):18-28.
Leibenluft E - Women and bipolar disorder: an update. Bull Menninger Clin, 2000 Win, 64:1, 5-17
Llewellyn A; Stowe ZN - Psychotropic medications in lactation. - J Clin Psychiatry, 1998, 59 Suppl 2:, 41-52
Majeroni BA; Hess A - The pharmacologic treatment of depression. J Am Board Fam Pract, 1998 Mar, 11:2, 127-39
Masand PS; Gupta S - Selective serotonin-recaptação inhibitors: an update. - Harv Rev Psychiatry, 1999 Jul, 7:2, 69-84
McGrath C; Buist A; Norman TR - Treatment of anxiety during pregnancy: effects of psychotropic drug treatment on the
developing fetus. - Drug Saf, 1999 Feb, 20:2, 171-86.
McLennan JD, Kotelchuck M, Cho H. - Prevalence, persistence, and correlates of depressive symptoms in a national sample
of mothers of toddlers (2001) - J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2001 Nov;40(11):1316-23.
Misri S; Kostaras D; Kostaras X - The use of selective serotonin reuptake inhibitors during pregnancy and lactation: current
knowledge. - Can J Psychiatry, 2000 Apr, 45:3, 285-7
Monk C - Stress and mood disorders during pregnancy: implications for child development. - Psychiatr Q 2001
Winter;72(4):347-57
Parry BL, Newton RP - Chronobiological basis of female-specific mood disorders. - Neuropsychopharmacology. 2001
Nov;25(5 Suppl 1):S102-8.
Russell JA, Douglas AJ, Ingram CD. - Brain preparations for maternity--adaptive changes in behavioral and neuroendocrine
systems during pregnancy and lactation. - Prog Brain Res. 2001;133:1-38
Schou M - Treating recurrent affective disorders during and after pregnancy. What can be taken safely? - Drug Saf, 1998 Feb,
18:2, 143-52.
Stocky A; Lynch J - Acute psychiatric disturbance in pregnancy and the puerperium. - Baillieres Best Pract Res Clin Obstet
Gynaecol, 2000 Feb, 14:1, 73-87.
Weinstock M. - Alterations induced by gestational stress in brain morphology and behaviour of the offspring - Progress in
Neurobiology, Vol 65, Issue 5, December 2001, pp 427-451.
Wisner KL; Gelenberg AJ; Leonard H; Zarin D; Frank E - Pharmacologic treatment of depression during pregnancy. - JAMA,
1999 Oct, 282:13, 1264-9
Categoria A – A categoria A se refere à medicamentos e substâncias para as quais os estudos controlados em
mulheres não têm mostrado risco para o feto durante o primeiro trimestre e a possibilidade de dano fetal é
bastante remota.
Acido fólico
Levotiroxin
Liotironina
Piridoxina
Retinol A
Vitamina D3
Categoria B – Na categoria B, os estudos realizados em animais não indicam que a substância oferece
riscos para o feto, mas não há estudos controlados em humanos que mostrem efeitos adversos sobre o feto.
Também se aplica aos medicamentos nos quais os estudos em animais mostraram efeitos adversos sobre o
feto, mas os estudos controlados em humanos não demostraram riscos para o feto. Podemos considerar os
medicamentos e substâncias incluídos nessas duas categoria de prescrição com Cautela.
Acebutolol
Acetilcisteína
Acido fusídico
Ac. nalidíxico
Ambroxol
AINE2
ß lactámicos
Macrólidos
Sulfonamidas3
Anfotericina B
Aztreonam
Bromexina
Calcitonina
Carbocisteína
Ciproheptadina
Cisaprida
Cromoglicato Na+
Dietilpropión
Etambutol
Famotidina
Fenoterol
Fentanilo4
Flouxetina
Glucagón
Granisetrón
Indometacina
Ipratropio
Lactulosa
Levamisol
Loperamida
Loratadina
Meperidina4
Naloxona
Nedocromil
Nistatina
Nitrofurantoína
Ondansetrón
Oxitropio
Paracetamol
Piperacilina
Piperazina
Piridostigmina
Praziquantel
Probenecid
Quinina
Ranitidina
Salbutamol
Sucralfato
Clindamicina
Clorfeniramina
Clotrimazol
Metoclopramida
Metronidazol5
Morfina4
Terbutalina
Terfenadina
Vasopresina
Categoria C - Os estudos em animais têm demonstrado que esses medicamentos podem exercer efeitos
teratogênicos ou é tóxico para os embriões, mas não há estudos controlados em mulheres ou não há estudos
controlados disponíveis em animais nem em humanos. Podemos considerar os medicamentos e substâncias
incluídos nessas duas categoria de prescrição com Risco.
AAS2
Acetazolamida
Aciclovir
Acido folínico
ACTH
Adenosina
Albendazol
Amantadina
Amikacina
Aminofilina
Amiodarona
Anfetamina
Imidazólicos,azoles
Quinolonas
Astemizol
Atenolol
Atropina
Bacitracina
Betacaroteno
Betanecol
Bromocrptina
Captopril
Carbamazepina
Catecolaminas
Ciclosporina
Clomipramina
Clonazepam
Clonidina
Cloramfenicol
Cloroquina
Clorpromazina
Codeína4
Corticoesteroides
Cotrimoxazol
Crotamitón
Dantrolene
Dextrometorfan4
Diazóxido
Difenhidramina
Digoxina
Droperidol
Edrofonio
Etosuccimida
Fenilefrina
Fisostigmina
Flumazenil
Furazolidona
Furosemida
Gentamicina
Griseofulvina
Haloperidol
Heparina
Hidralazina
Hidrato de cloral
Hidroxizina
Hierro
Homatropina
Idoxouridina
Imipenem/Cilastin
Insulina
Lindano
Manitol
Meclicina
Metildopa
Metilfenidato
Mexiletina
Isoniazida
Isosorbide
Kaolín pectina
Lidocaína
Midazolam
Milrinona
Neomicina
Neostigmina
Nifedipino
Nitrofurazona
Omeprazol
PamoatodePirantel
PamoatodePirvinio
Paramomicina
PeniciloilPolilisina
Pentamidina
Pilocarpina
Pirazinamida
Pirimetamina
Pralidoxima
Primaquina
Procainamida
Procaína
Prometazina
Propafenona
Propranolol
Protamina
Quinidina
Rifampicina
Teofilina
Tiabendazol
Tolazolina
Vancomicina
Vecuronio
Verapamilo
Categoria D – Na categoria D já existe evidência de risco para os fetos humanos, mas os benefícios em
certas situações, como por exemplo, nas doençass graves ou que põem em risco a vida e para as quais não
existe outra alternativa terapêtica, podem fazer com que o uso durante a gravidez esteja justificado, apesar dos
riscos. Podemos considerar os medicamentos e substâncias incluídos nessas duas categoria de prescrição
como sendo de Alto Risco.
Amitriptilina
Azatioprina
Benzodiazepinas
Bleomicina
Ciclofosfamida
Cisplatino
Citarabina
Clobazam
Clorambucil
Clorazepato
Cortisona
Daunorrubicina
Doxorrubicina
Enalapril
Espironolactona
Estreptomicina
Fenitoína
Fenobarbital
5-Fluouracilo
Hidroclorotiazida
Imipramina
Kanamicina
Mebendazol
Meprobamato
Mercaptopurina
Metadona
Metotrexato
Penicilamina
Pentobarbital
Primidona
Procarbazina
Propiltiouracilo
Propiltiouracilo
Tatraciclinas
Tiopental
Triamterene
Valproato
Vinblastina
Vincristina
Zidovudina
Categoria X – Finalmente vem essa categoria X, onde os estudos em animais ou humanos têm demonstrado
que o medicamento causa alterações fetais ou há evidência de aumento no risco para o feto com base na
experiência em humanos ou ambos. O risco supera claramente qualquer possível benefício. Podemos
considerar os medicamentos e substâncias incluídos nessas duas categoria de prescrição como sendo de
Perigo.
Acenocumarol
Ganciclovir
Gonadotrofina
coriónica
Podofilina
Warfarina
___________________________________________________________________
EMBRIOFETOPATIAS MEDICAMENTOSAS
Praticamente um aspecto cultural de nossa sociedade (estimulado pela estrutura farmacêutica), a
automedicação ou a prescrição de medicamentos por leigos (mesmo os que vestem avental branco por detrás
do balcão da farmácia) é um dos principais perigos para a saúde e o desenvolvimento do embrião e do feto.
Muitos medicamentos, quando administrados em fases específicas da gravidez, têm grande potencial
teratogênico, ou seja, são capazes de provocar malformações graves e irreversíveis. Mesmo remédios
aparentemente banais, como a aspirina, ou um simples expectorante a base de iodo, são contra-indicados em
determinados estágios da gravidez, por poderem levar ao aparecimento de complicações para a criança.
Duas regras valem ouro para contornar estes problemas: a primeira é nunca tomar remédios sem orientação
médica, principalmente se você já sabe que está grávida; a segunda é avisar o médico quando da possibilidade
de gravidez, mesmo que o problema tratado seja simples caso de acne.
A lista de medicamentos suspeitos de provocar embriopatias (lesões ao embrião tal como é definido o ser
humano nos três primeiros meses de gestação) ou fetopatias (lesões ao feto tal como é conhecido o ser
humano à partir dos três meses de gestação até o nascimento) é demasiado extensa. Foge ao objetivo deste
livro citar todos, mesmo porque muitos medicamentos desta lista já estão em desuso ou têm emprego muito
restrito. Com o objetivo de orientar a gestante citaremos os medicamentos de uso mais comum, de acordo
com o uso clínico e os conhecimentos sobre eles acumulados.
 Talidomida
 Analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios
 Antibióticos
 Iodo
 Retinóides
 Anticonvulsivantes
 Agentes anticoagulantes
 Agentes anticancerígenos
A talidomida é exemplo histórico único de sedativo, outrora considerado "inofensivo" na gestação,
que provocou epidemia de malformações graves de membros, acometendo mais de dez mil crianças no
mundo entre 1959 e 1961. Atualmente ainda é utilizada no tratamento da hanseníase (lepra). Qualquer
mulher em idade fértil que utilize este medicamento deve ser submetida a tratamento anticoncepcional
concomitante obrigatório e rigoroso.
Analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios na gravidez
O ácido acetilsalicílico (AAS) é dos medicamentos mais comumente utilizados no controle da febre e da
dor, geralmente sem supervisão médica. Vários estudos de grande porte já foram realizados para avaliar a
segurança de seu uso na gravidez, não tendo nenhum deles até agora conseguido relacionar o seu uso no
primeiro trimestre de gestação a nenhum tipo de embriopatia ou malformação. Por outro lado o uso do ácido
acetilsalicílico no final da gravidez está associado vários distúrbios tanto maternos como fetais. O ácido
acetilsalicílico pode inibir o desencadeamento do trabalho de parto e levar à pós-maturidade fetal. Por ser um
inibidor da agregabilidade plaquetária está implicado com fenômenos hemorrágicos tanto maternos quanto do
recém-nascido. Por competir com a ligação da bilirrubina com a albumina pode provocar icterícia e
impregnação bilirrubínica do sistema nervoso central causando deficiência mental. Finalmente por ser
inibidor da atividade de prostaglandinas, ele e todos os anti-inflamatórios não hormonais, podem induzir ao
fechamento precoce do ducto arterioso fetal provocando hipertensão arterial pulmonar e insuficiência
cardíaca. Deste modo o ácido acetilsalicílico e todos os anti-inflamatórios devem ser evitados no terceiro
trimestre da gestação.
A dipirona, apesar de ser largamente utilizada no Brasil, praticamente inexiste nos Estados Unidos e na
Europa, refratários ao seu uso em razão de ter sido implicada na gênese de alguns casos de agranulocitose
(diminuição na produção de glóbulos brancos) por ocasião dos estudos clínicos iniciais. Deste modo não
existem estudos adequadamente amplos que demonstrem a sua segurança ou a sua teratogenicidade na
gravidez humana.
O paracetamol (apesar de como a dipirona também poder causar distúrbios na produção de glóbulos
brancos) é analgésico e antitérmico bastante difundido na Europa e América do Norte. Uma série de estudos
já demonstraram sua segurança durante a gravidez, sendo praticamente desprovido de potencial teratogênico.
Apesar de já ter sido implicado em casos isolados de metahemoglobinemia do recém-nascido e
hiperbilirrubinemia neonatal, é considerado o medicamento mais seguro e de primeira escolha a ser utilizada
na gestação.
Antibióticos na gravidez
Os antibióticos clássicos mais seguros durante o primeiro trimestre da gestação são os do grupo das
penicilinas (penicilina G benzatina, penicilina G procaína, penicilina G cristalina, penicilina G potássica,
fenoximetilpenicilina, ampicilina, amoxacilina, oxacilina, cloxacilina, dicloxaclina, carbenicilina e outras); os
do grupo da cefalosporinas (cefalexina, cefalotina, cefazolina, cefoxitima, ceftriaxona, cefaclor, cefadroxil,
cefuroxima, e outras); os macrolídeos como a eritromicina, e em especial a espiramicina utilizada no
tratamento da toxoplasmose congênita) e os do grupo das sulfonamidas (sulfametoxazol, trimexazol,
sulfadiazina, sulfissoxazol e outras).
Os principais antibióticos contra-indicados durante a gravidez são os do grupo das tetraciclinas
(clortetraciclina, oxitetraciclina, doxiciclina, minociclina e outras) por causarem escurecimento dos dentes,
hipoplasia do esmalte dentário e eventualmente anormalidades do crescimento ósseo, principalmente quando
utilizadas no segundo e terceiro trimestre da gestação; os do grupo dos aminoglicosídeos (especialmente a
estreptomicina) por lesar o nervo auditivo, comprometendo a audição; os do grupo das quinolonas
(norfloxacina, ciprofloxacina, lomefloxacina e outras) pela capacidade de lesar a cartilagem de crescimento,
interferindo no desenvolvimento ósseo. As sulfonamidas, por competirem com a bilirrubina pelo sítio de
ligação na albumina, têm a capacidade teórica de agravar a icterícia neonatal quando utilizadas no final da
gestação e por isto vinham sendo evitadas. No entanto, seu uso recente para tratar casos de toxoplamose
congênita vem refutando esta possibilidade. O cloranfenicol é responsabilizado por um quadro de intoxicação
grave no recém-nascido conhecida como "síndrome do bebê cinzento". Decorre da imaturidade e
incapacidade do fígado do bebê para metabolizar este antibiótico. A mortalidade desta intoxicação chega a
quarenta por cento. Por esta razão o cloranfenicol e seu análogo o tianfenicol são absolutamente contraindicados no último trimestre da gestação.
IODO & Gestação
O iodo e seus derivados (principalmente o iodeto de potássio), é facilmente encontrado em medicamentos
aparentemente inofensivos como xaropes expectorantes, ou antissépticos cutâneos. Os preparados à base de
iodo são absolutamente contra-indicados durante a gravidez (em especial à partir da décima terceira semana
de amenorréia ), uma vez que têm a capacidade de cruzar a placenta e interferir na produção de hormônios da
tireóide do feto, causando bócio e hipotireoidismo . O uso repetitivo ou em grande escala de antissépticos
cutâneos à base de iodo deve ser evitado (principalmente em profissionais de saúde) uma vez que o iodo pode
ser absorvido pela pele. O uso de xaropes para tosse deve ser feito com cuidado, de preferência sob
supervisão médica e nunca com preparados à base de iodo.
Retinóides
Os retinóides (derivados de síntese da vitamina A), formam junto com a talidomida, o grupo de
medicamentos de maior poder teratogênico conhecido na espécie humana. Atualmente dois derivados estão
em uso clínico: a isotretinoína e o etretinato.
A isotretinoína é utilizada para o tratamento da acne (popularmente conhecida como espinhas). Seu uso na
gravidez está associada a uma síndrome malformativa bem conhecida, caracterizada por anomalias crâniofaciais (hipoplasia da face, microftalmia, fenda palatina, microtia e anomalias do canal auditivo externo);
malformações do sistema nervoso central (microcefalia, hidrocefalia, cisto da fossa posterior, cegueira
cortical, paralisia facial, paralisia oculomotora, anomalias do fechamento do tubo neural, holoprosencefalia);
malformações cardíacas (comunicação inter-ventricular, transposição de grandes vasos, tetralogia de Fallot,
hipoplasia do arco aórtico, hipoplasia do ventrículo esquerdo); anomalias gênito-urinárias (hidronefrose e
hipoplasia renal); entre outras (fístula esôfago-traqueal, hipoplasia suprarrenal, etc...). A isotretinoína é
completamente eliminada do organismo somente um mês após terminado o tratamento. Nesse período a
mulher deve estar em regime de anticoncepção.
O etretinato é um medicamento utilizado na terapêutica de outro problema dermatológico: a psoríase. Seu
uso durante a gestação humana está associado a diversas anomalias como distúrbios do fechamento do tubo
neural, acometimento do sistema nervoso central com anoftalmia, malformações esqueléticas e crânio-faciais.
Devido à eliminação excessivamente lenta deste medicamento do organismo, a gravidez estará absolutamente
contra-indicada durante todo o tratamento e por mais dois anos após a sua interrupção.
É importante lembrar que estes produtos são absorvidos pela pele, e os riscos teratogênicos existem mesmo
quando utilizados sob a forma de cremes.
ANTICONVULSIVANTES NA GRAVIDEZ
Anticonvulsivantes são medicamentos utilizados especificamente no tratamento da epilepsia (doença do
sistema nervoso caracterizada por crises convulsivas). De uma maneira geral, e independente do uso destes
medicamentos, os descendentes de pacientes epilépticos têm um a chance duas a três vezes maior de
apresentar anomalias congênitas do que a população de indivíduos normais, fato este provavelmente ligado à
doença de base.
O tratamento da epilepsia durante a gravidez é assunto muito delicado. Se por um lado nenhum
medicamento anticonvulsivante é completamente seguro durante a gestação, por outro, este é um tipo de
doença que não pode deixar de ser controlada, mesmo porque as crises podem ocasionar lesões ao feto.
Alguns remédios no entanto devem ser evitados e substituídos durante a gestação.
Os derivados das oxazolidinas (trimetadiona e parametadiona) são formalmente contra-indicados para
mulheres em idade de procriação, uma vez responsabilizados por várias malformações fetais graves (retardo
mental; retardo de crescimento intra-uterino; malformações cardiovasculares, urinárias e de membros;
alterações na face; fenda palatina; entre outras).
O uso da difenilhidantoína durante a gravidez está associada a uma síndrome específica caracterizada por
dismorfia facial, anomalias menores de extremidades (hipoplasia de falange distal e unhas), retardo de
crescimento intra-uterino, retardo neuropsicomotor, anomalias cardíacas, fendas labiopalatinas. Recentemente
associou-se também o uso desta droga ao aparecimento de tumores graves como o retinoblastoma, quando
utilizada durante a gestação. O ideal é que esta droga seja, quando possível, substituída durante a gestação.
Quando o quadro clínico não o permita, sua dose deve ser monitorizada e mantida nos limites terapêuticos
inferiores, sempre com acompanhamento ecográfico.
O Ácido valpróico está associado a um risco específico de 1 por cento de anomalias de fechamento do tubo
neural. Propõe-se um esquema de prevenção destas patologias com o uso de ácido fólico nos três meses
antecedendo a concepção e durante o período de embriogênese do sistema nervoso. Existe também o risco de
dismorfias e possivelmente de anomalias cardíacas, cujos riscos ainda não estão estimados. A detecção
precoce de anomalias neurais pode ser feita através da dosagem de alfafetoproteína e/ou acetilcolinesterase
durante a gestação.
Agentes Anticoagulantes e Gestação
Os anticoagulantes cumarínicos são medicamentos utilizados de maneira contínua em uma série de
patologias (prótese cardíaca, flebite, embolia pulmonar). Mulheres em idade de procriação que utilizem estes
medicamentos devem utilizar esquema anticoncepcional eficiente, uma vez que o risco teratogênico
reconhecido está em torno de 16%. No caso de gravidez indica-se a substituição destes produtos por derivados
heparínicos.
AGENTES ANTECANCERÍGENOS E GRAVIDEZ
Por possuírem uma ação inibitória específica sobre a proliferação celular, o uso de agentes cancerígenos
durante a gestação está associada a malformações congênitas em cerca de 10 a 35% dos casos. Toda mulher
em idade fértil que faça uso destes produtos deve estar protegida por esquema anticoncepcional eficiente.
Download