Porque é Difícil Parar de Fumar: Dependências Ministério da Saúde - MS Instituto Nacional de Câncer - INCA Coordenação de Prevenção e Vigilância - Conprev Divisão de Controle do Tabagismo Ricardo Henrique Sampaio Meirelles O que faz as pessoas se tornarem fumantes Aceitação social Publicidade Fácil acesso Baixo custo Modelos de comportamento Genética 90% DOS FUMANTES COMEÇARAM A FUMAR ATÉ OS 19 ANOS Por que as pessoas continuam a fumar? “ Para relaxar, pelo sabor, para preencher o tempo, para fazer alguma coisa com as mãos. Mas na maioria dos casos, as pessoas fumam porque sentem que deixar de fumar é muito difícil ”. Phillip Morris, apresentação interna, 1984, 1984 Nicotina Alcalóide vegetal Presente na planta tabaco Absorção em meio alcalino Cigarro: pH ácido (5.5 - 6.0)- tabaco curado em fornos Charuto e cachimbo: pH alcalino (7.0 – 8.6) - tabaco curado ao ar livre A nicotina como droga Propriedades psicoativas Padrão de auto-administração Compulsão Tolerância Síndrome de abstinência Grupo de transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de substância psicoativa da CID 10ª revisão, OMS 1997 “Nicotina causa dependência. Portanto nosso negócio é vender nicotina, uma droga que causa dependência e é efetiva no alívio do estresse”. Addison Yeaman, Brown & Williamson, 17 de julho de 1963 Dependência à Nicotina É um processo complexo envolvendo a inter-relação entre farmacologia, fatores adquiridos ou condicionadores, sócioambientais, comportamentais, de personalidade, etc. Componentes da dependência de nicotina Físico Psicológico Condicionamentos Absorção Cigarro: inalação e transporte até bronquíolos terminais e alvéolos pulmonares (se dissolve nos líquidos fisiólogicos alcalinos – pH 7.4) Charuto e cachimbo: absorção na mucosa oral – alcalina (não precisa tragar) Concentração diminui em 20 a 30 min, porém meia-vida de 30 a 120 min Após doses repetidas, se acumula por mais de 6 a 8 horas e durante a noite 85-90% metabolizada no fígado – citocromo P-450, e no restante pelos pulmões Excretada pelos rins por filtração glomerular e secreção tubular Quanto mais alcalina, a nicotina permanece mais tempo no organismo e com níveis mais altos Metabólito- cotinina tem meia vida de 18-36 horas Neurofarmacolgia Após alcalinizada, atinge o cérebro entre 7 a 19 seg. Propaga-se por todas as áreas, centros até córtex. Age sobre o sistema mesolimbo-dopamínico (área ventral tegmentar e núcleo accumbens) – SISTEMA CEREBRAL DE RECOMPENSA. Estrutura semelhante a da acetilcolina. Interage com receptores colinérgicos nas membranas dos neurônios. Neurofarmacologia Receptores nicotínicos-acetilcolínicos (nAChRs): presentes nas regiões periféricas e centrais no cérebro predomina o sub-tipo a4b2 Efeito duplo: primeiro estimula receptor (agonista); após, bloqueia o mesmo receptor (antagonista) Neurofarmacolgia Nicotina libera hormônios psicoativos, neurotransmissores e neuroreguladores: Dopamina - prazer Acetilcolina - alerta Norepinefrina – alerta, diminuição do apetite Serotonina – modula o humor, diminuição do apetite Beta-endorfina – redução da ansiedade Vasopressina – melhora da memória GABA – redução da ansiedade MAIS IMPORTANTE: Dopamina – Nicotina libera dopamina no núcleo accumbens por duas vias: 1- ativa os centros dopaminérgicos 2- diminui a concentração da MAO: dopamina permanece íntegra – liberação é maior. Sensação de prazer e bem estar – REFORÇO POSITIVO. Toxicidade – Sistema de Reforço Fumantes de 20 cigarros por dia dão em média 10 tragadas por cigarro. Ao fim de um dia sofrem 200 impactos de nicotina no cérebro. Ao fim de um ano foram 73 mil impactos cerebrais de nicotina. Os que fumam 1 cigarro por dia, recebem 3.650 impactos de nicotina no cérebro em um ano. Estabelecendo a dependência em nível cerebral Nicotina Autoadministração Receptores nicotínicos Neurotransmissor Dopamina Sensação de Prazer Tolerância O uso crônico de nicotina sobre o cérebro produz uma neuroadaptação. No estado normal os receptores nicotínicos estão sensibilizados à nicotina. Fumantes que apresentam grande sensibilidade à nicotina, ao fumar pela primeira vez apresentam efeitos desagradáveis (náuseas, tonteira, tosse). Com o uso contínuo ocorre uma dessensibilização de alguns receptores. Ocorre um aumento do número de receptores nicotínicos como compensação. Tolerância no médio de cigarros fumados por adolescentes ( 9 /dia) Tolerância Necessidade crescente de nicotina para atingir o efeito desejado no médio de cigarros fumados por adultos (18 a 20/dia) Síndrome de Abstinência Produção de Noradrenalina no locus coeruleos quando o fumante deixa de fumar Para evitar os sinais e sintomas desagradávies dessa Síndrome, o fumante volta a fumar: REFORÇO NEGATIVO Síndrome de Abstinência Síndrome de Abstinência Sintomas: ansiedade, dificuldade de concentração, agitação, irritabilidade, agressividade, tontura, cefaléia, desconforto abdominal Duração 2 a 3 semanas “Fissura” vontade intensa de fumar 5 minutos de duração persiste por meses diminui progressivamente Avaliação da Dependência Física TESTE DE FAGERSTRÖM 1) Quanto tempo após acordar você fuma o primeiro cigarro? Dentro de 5 minutos = 3 Entre 6-30 minutos =2 Entre 31-60 minutos = 1 Após 60 minutos =0 2) Você acha difícil não fumar em lugares proibidos como igrejas, cinemas, ônibus, etc? Sim = 1 Não = 0 Avaliação da Dependência Física TESTE DE FAGERSTRÖM 3) Qual o cigarro do dia que traz mais satisfação? O primeiro da manhã =1 Outros =0 4) Quantos cigarros você fuma por dia? Menos de 10 = 0 De 11 a 20 =1 De 21 a 30 =2 Mais de 31 =3 5) Você fuma mais freqüentemente pela manhã? Sim =1 Não =0 Avaliação da Dependência Física TESTE DE FAGERSTRÖM 6) Você fuma mesmo doente, quando precisa ficar de cama? Sim =1 Não =0 Grau de Dependência: 0 - 2 pontos = muito baixo 3 - 4 pontos = baixo 5 pontos = médio 6 - 7 pontos = elevado 8 - 10 pontos= muito elevado Tabagismo e Genética Gene CYP2A6 -Codifica enzima do sistema citocromo P 450 do fígado. -Metaboliza 80% da nicotina. -Gera intensa dependência. -Ativa pré-cancerígenos. -Tem mais de 20 alelos: homozigótico – grande consumo de tabaco; heterozigótico – baixo consumo de tabaco. Tabagismo e Genética Gene SCLC6A3-9 -Transportador de dopamina. -Variante genética- menor tendência a fumar e menor recaída ao parar de fumar. Gene DRD2 -Receptor de nicotina. -Alelos A1 e B1: maior compulsão a fumar; libera mais dopamina; nicotina age com mais intensidade no SCR. Dependência psicológica Necessidade de utilizar o cigarro com o intuito de aliviar suas tensões. Cigarro passa a preencher um espaço vazio – companheiro. Possível causa para recaídas tardias. Dependência psicológica Fumante usa a nicotina como recompensa dos estados negativos: -angústia; -ansiedade; -tristeza; -medo; -estresse; -preocupação. Cigarro passa a ser uma “válvula de escape”, um tranqüilizante, uma solução mágica dos problemas ou mesmo uma fuga. Condicionamentos Associações que o fumante faz com situações corriqueiras. Fumante passa a incorporar o cigarro a essas situações. Facilitadores da manutenção do tabagismo, reforçando seu comportamento de fumante. Condicionamentos Auto-administração de nicotina com associações automáticas: -após refeições; -após tomar café; -assistir televisão; -falar ao telefone; -ingerir bebidas alcóolicas; -dirigir; -caminhar até o ponto de ônibus, ou ao trabalho; -utilizar computador; -iniciar tarefa que demande concentração; -Etc. Condicionamentos Fatores sensoriais: -a nicotina excita as terminações nervosas sensitivas localizadas nos lábios, boca e garganta; -sensação prazerosa no gestual de ter o cigarro entre os dedos ou levá-lo à boca, no odor, paladar, sentir a fumaça na garganta. Manutenção do ato de fumar Condicionamentos Dependência psicológica Tentativa de evitar a síndrome de abstinência Conviver com fumantes