Aprendizagem e Memória CARACTERÍSTICAS E RELAÇÕES Índice Aprendizagem Aprendizagem por habituação Aprendizagem por condicionamento clássico • Exemplos em seres humanos • Princípios básicos • Experimentação de Pavlov Aprendizagem por condicionamento operante • Experimentação de Thorndike • Experimentação de Skinner • Reforço e punição • Reforço positivo ou negativo • Punição Aprendizagem por observação e imitação • Condições necessárias • Factores que influenciam a aprendizagem observacional • Experimentação de Bandura Métodos de Aprendizagem Memória • Princípios básicos Memória a curto prazo • Memória de trabalho • Memória imediata Memória a longo prazo • Memória declarativa • Memória não-declarativa Esquecimento e memória • Interferência • Falha na recuperação do conteúdo mnésico • Esquecimento motivado Relação entre aprendizagem e memória Doenças relacionadas com a memória Conclusão Aprendizagem Definição: A aprendizagem é um processo através do qual os seres vivos adquirem novos conhecimentos, desenvolvem novas competências e mudam os seus comportamentos, ou seja, a aprendizagem é uma modificação de comportamentos e de atitudes relativamente duradoura, que deriva da experiência e da prática e não da maturação ou de transformações físicas e fisiológicas. Aprendizagem por habituação A aprendizagem por habituação consiste na diminuição da tendência para responder a um certo estímulo. Este tipo de aprendizagem não associativa dá origem a que o ser humano consiga ignorar o que lhe é familiar e a focar o que realmente lhe interessa. A habituação torna possível que nos desliguemos de estímulos desnecessários e nos concentremos nas tarefas que estamos a realizar. Através dela respondemos a novos estímulos que podem ser perigosos e ignoramos estímulos que já reconhecemos serem inofensivos. Exemplo: Imaginemos que o Bruno está em casa a estudar e que o vizinho de baixo começa a martelar pregos na parede. Ao início, Bruno desconcentra-se e não consegue estudar, mas depois, Bruno habitua-se ao barulho e consegue novamente concentrar-se no seu estudo. Nesta fase é como se o barulho proporcionado pelo martelo não existisse. Aprendizagem por condicionamento clássico O que é? É uma forma de aprendizagem em que um estímulo neutro, ao ser sucessivamente emparelhado com um estímulo incondicionado, acaba, ao fim de algum tempo e em virtude deste condicionamento, por provocar o mesmo tipo de resposta do que o estímulo com o qual foi emparelhado. Torna – se assim um estímulo que por si só provoca uma resposta condicionada, similar à desencadeada pelo estímulo incondicionado ou natural. Experimentação de Pavlov Pavlov ao estudar a fisiologia da digestão, descobriu que os cães utilizados salivavam perante estímulos que não a comida (o som dos passos do tratador ou a sua simples presença). Tal descoberta levou a que Pavlov desenvolve-se estudos que consistiam na apresentação ao cão de um estímulo neutro (o som de uma campainha) e logo imediatamente a seguir um prato com carne em pó. O cão responde a este estímulo (não - condicionado) salivando. Depois de emparelhar o som da campainha e a comida várias vezes (20 vezes pelo menos) Pavlov verificou que o som da campainha era suficiente para produzir a resposta de salivação. Como os cães não salivam naturalmente em resposta a sons, Pavlov concluiu que a salivação era uma resposta resultante de aprendizagem: o cão foi condicionado a salivar quando a campainha toca (resposta condicionada). Exemplos em seres humanos O condicionamento clássico está sempre presente no nosso quotidiano. Por exemplo, o Miguel é um individuo que esteve na guerra do Vietname, onde via e ouvia aviões de guerra, que disparavam tiros mortíferos, a passar mesmo por cima da sua cabeça. Agora, Miguel mora numa cidade pacata mas, no entanto, quando Miguel ouve o som de um avião comercial, associa esse som ao de um avião de guerra e sentimentos como o medo, o perigo e o desespero despertam no Miguel como se estivesse perante uma situação de guerra. Aqui, o estímulo neutro – o som do avião comercial - é emparelhado com o estímulo incondicionado – o som do avião de guerra – que provoca uma resposta incondicionada ou natural – incómodo e medo, causados pelo som intenso. Por causa desta associação o estímulo neutro perde a sua neutralidade e passa a provocar o mesmo tipo de resposta do que o estímulo incondicionado (que provoca uma dada resposta sem ter de ser associado a nada). Existem cinco princípios básicos na aprendizagem por condicionamento clássico. 1 – Aquisição: formação de uma resposta aprendida a um estímulo neutro (não produtor de resposta) por o associarmos a um estímulo não condicionado. 2 -Extinção: enfraquecimento e eventual desaparição da resposta aprendida. A extinção é, em suma, o resultado da repetida apresentação do estímulo condicionado sozinho. 3 -Recuperação espontânea: reemergência de uma resposta condicionada extinta após algum tempo de descanso. 4– Generalização: Fala-se de generalização do estímulo quando a resposta condicionada é provocada não só pelo estímulo condicionado original como também por outros estímulos semelhantes a este. 5 – Discriminação: consiste na aptidão de discernir estímulos semelhantes, produzindo a resposta apenas no estímulo correcto. Aprendizagem por condicionamento operante A aprendizagem por condicionamento operante consiste em associar um comportamento às suas consequências e efeitos. O condicionamento operante é uma forma de aprendizagem em que um dado comportamento de carácter activo (operante no meio) é reforçado ou enfraquecido tendo em conta as suas consequências: conforme as consequências da acção assim ela tenderá a aumentar ou a diminuir (ou a extinguir-se) no futuro. Considera-se que o condicionamento operante foi descoberto por Edward Thorndike mais ou menos na mesma época em que Pavlov descobria os reflexos condicionados nos seus experimentos com cães. O experimento de Thorndike consistia no seguinte: colocou um gato no interior de uma caixa com aspecto de jaula. No exterior estava, à vista do gato, um recipiente com comida. O animal só poderia sair da caixa se carregasse num pedal que, accionado, abria uma pequena porta. O gato começou a arranhar e a morder ao acaso várias partes da caixa até que, de uma forma eventualmente acidental, pressionou o pedal que a abria e obteve a comida desejada. A partir daí, várias vezes colocado no interior da caixa, o gato gastou cada vez menos tempo para dela sair. Da primeira vez que repetiu a situação Thorndike reparou que o gato escapou da caixa em 15 segundos. Esta mudança de comportamento significava que o gato tinha aprendido não mediante um reflexo condicionado mas mediante tentativas cada vez mais eficazes que traduziam um papel activo na aprendizagem. Thorndike explicou esta aprendizagem gradual e progressiva através da lei do efeito: «Respostas ou comportamentos seguidos por consequências ou efeitos satisfatórios tendem a repetir-se; respostas seguidas por consequências desagradáveis tendem a não se repetir». Experimentação de Skinner O primeiro projecto de investigação de Skinner consistia numa análise ao comportamento alimentar dos ratos. Skinner utilizou um artefacto por ele próprio construído e que tem hoje o seu nome: «A caixa de Skinner». Colocou dentro um rato com fome. O rato só poderia obter comida pressionando uma alavanca que libertava pequenas bolas de queijo de um recipiente numa das paredes da caixa. O rato começou imediatamente a explorar a caixa e ao fim de algum tempo, acidentalmente, pressionou a alavanca e a comida caiu. Progressivamente, o animal começou a pressionar a alavanca em intervalos de tempo cada vez menores. Segundo Skinner isso significava que aprendeu a obter comida mediante uma resposta condicionada pelas consequências ou efeitos da sua acção A partir desta e de muitas outras experimentações Skinner definiu a tese essencial do condicionamento operante: um organismo tende a repetir as respostas que têm consequências favoráveis. Reforço e punição O condicionamento operante é segundo Skinner uma forma de aprendizagem na qual a probabilidade de ocorrência de uma resposta ou comportamento aumenta ou diminui conforme a sua consequência é um reforço (positivo ou negativo) ou uma punição. Reforço: toda e qualquer consequência de uma acção que fortalece a nossa tendência para a repetir. Punição: toda e qualquer consequência de uma acção que enfraquece a nossa tendência para a repetir. Há acções que têm consequências boas e outras que têm consequências más, por exemplo, se fazemos dieta para emagrecer e emagrecemos efectivamente, é considerada uma acção com boas consequências. Por outro lado, se assaltássemos um banco, podíamos ser apanhados pela policia e aí a acção realizada seria considerada uma acção com más consequências. Reforço positivo ou negativo Reforço positivo: está-se perante uma situação de reforço positivo sempre que uma acção, em virtude das suas consequências, nos permite obter algo agradável. Tendemos, por isso, a repeti-la, de modo a fazer com que o reforço ocorra de novo. Ex: Estudar muito para conseguir ingressar na universidade. Reforço negativo: quando uma acção tem como consequência evitar uma situação indesejável, remover um obstáculo ou pôr termo a uma situação desagradável. Tende por isso a ser repetida. Ex: Trabalhar bem e evitar assim ser despedido. Punição Punir um comportamento é tornar provável que ele não se repita ou pelo menos que diminua a sua frequência. Por exemplo, se a Marta ajuda os pais na lida da casa para poder ir sair à noite com os amigos, é muito provável que o comportamento se repita no futuro para poder sair com os amigos sempre que queira. O comportamento – ajudar os pais na lida da casa – é reforçado negativamente: é um meio para evitar algo desagradável (não poder sair com os amigos). Se a Marta recusa ajudar os pais na lida da casa, os pais proíbem-na de sair com os amigos. Assim, estamos perante uma punição, um meio para retirar algo agradável ou para evitar que se repita algo de desagradável. Aprendizagem por observação e imitação A aprendizagem por observação é uma forma muito frequente de aprendizagem que ocorre quando o comportamento de um indivíduo é influenciado ou condicionado pelo comportamento de outros indivíduos denominados modelos. É uma aprendizagem social porque ocorre em contexto social. Tendo em conta que aprendemos identificando-nos e imitando um modelo (indivíduo que «demonstra» ou efectua uma acção constituindo-se como potencial exemplo a seguir), este tipo de aprendizagem recebe também o nome de aprendizagem por modelação. Condições necessárias para haver aprendizagem observacional: • Atenção Não é suficiente observar. Deve-se prestar atenção ao que o modelo observado faz, identificando a sua conduta. • Retenção Para imitar o comportamento de um modelo temos de o armazenar activamente na memória, o que implica a representação mental das acções do modelo observado e a prática dos elementos, sequências ou etapas do comportamento. • Execução Memorizado o comportamento desejado, é necessário convertê-lo em acção, o que pode exigir bastante tempo e treino. • Motivação e reforço O desempenho de algo que adquirimos mediante observação depende da motivação ou incentivo para o efectuar. Factores que influenciam a aprendizagem observacional: • Nível de desenvolvimento do observador Conforme vamos crescendo somos capazes de concentrar a nossa atenção durante mais tempo, de processar cada vez melhor a informação e de nos auto-motivarmos. • Estatuto do modelo As crianças, por exemplo, revelam uma acentuada tendência para imitarem as acções de pessoas que consideram prestigiadas, famosas e de quem gostam (pais, irmãos mais velhos, professores, atletas, heróis de filmes de acção, estrelas rock). Esta tendência depende da idade e dos interesses da criança. • Consequências vicariantes Observando as consequências das acções dos potenciais modelos obtemos informação sobre o que é apropriado para nós e sobre as prováveis consequências da imitação da conduta de quem observamos. As consequências positivas (que não são necessariamente de reconhecido valor moral) motivam os observadores. • Autoeficácia Os observadores tendem a imitar determinados modelos quando acreditam que são capazes de aprender e de desempenhar o comportamento - modelo, isto é, quando possuem um certo nível de autoconfiança e de autoeficácia. Experimentação de Bandura Para demonstrar a sua teoria sobre a aprendizagem por modelação, Bandura mostrou a crianças com quatro anos de idade um filme em que um adulto esmurrava e pontapeava um boneco insuflável. Bandura dividiu o grupo de 66 crianças em três grupos de 22 elementos cada. No filme um modelo adulto encaminhava-se na direcção do boneco insuflável e ordenava-lhe que saísse da sua frente, o boneco não «obedecia» e era vítima de uma série de actos agressivos. Todas as crianças assistiram a estes comportamentos agressivos mas o pequeno filme tinha um final diferente por cada grupo de crianças, ou seja, três versões diferentes das consequências do comportamento do adulto eram exibidas. Assim, um grupo de crianças viu que o adulto agressivo era recompensado por um outro adulto que o elogiava chamando-lhe «campeão» e lhe dava uma grande quantidade de doces e de refrigerantes. Bandura designou este grupo de crianças como grupo do modelo recompensado; o segundo grupo de crianças, que, é claro, estava a ver o filme numa sala diferente, assistiu a uma versão final completamente diferente: o adulto agressivo foi asperamente censurado por um outro adulto que lhe chamou «má pessoa». Bandura deu a este grupo de crianças o nome de grupo do modelo punido; quanto ao terceiro grupo, assistiu aos comportamentos agressivos mas não lhe foi exibido nenhum final mostrando se as consequências de tais comportamentos eram positivas ou negativas. Bandura deu-lhe o nome de grupo de condição neutral. Depois da exibição das diferentes versões do filme foi permitido às crianças dos vários grupos brincarem com o boneco insuflável e outros brinquedos. Como Bandura previra, as crianças do grupo que vira o adulto ser recompensado pelo seu comportamento agressivo mostraram maior índice de agressividade do que as outras, imitando os actos do adulto. As crianças de todos os grupos tinham aprendido de igual modo a reproduzir mentalmente os diversos comportamentos agressivos observados, isto é, estavam em condições de desempenhar o comportamento do modelo igualmente bem e de forma precisa. Métodos de aprendizagem • Aprendizagem espaçada É um método de aprendizagem que distribui ao longo do tempo e de forma regular o que se está a aprender. É considerado o melhor método para consolidar e armazenar a longo prazo as aprendizagens efectuadas. • Aprendizagem concentrada É um método de aprendizagem que consiste em estudar intensivamente e sem intervalos de tempo significativos. Memória O que é? A memória é o processo dinâmico que consiste na codificação, armazenamento e recuperação de conteúdos mnésicos ou de informação. Adquirimos e armazenamos informação para a utilizarmos nas mais diversas situações da vida. Princípios básicos da memória Sabe-se que a memoria implica tratamento de informação. Para tal, distinguem-se três tipos de operações que se interligam entre si, de modo, que umas não poderiam existir se as outras não existissem. Os tipos de operações existentes são: Codificação Toda a aquisição de informação implica a codificação dos dados informativos, isto é, a sua transformação de modo a poder ser armazenada na memória, ou seja, a codificação É a primeira fase do processo de formação de novas memórias; nova informação é introduzida, umas vezes automaticamente e outras mediante repetição ou elaboração na memória. Armazenamento É o processo mediante o qual mantemos na memória a informação que foi adquirida. A simples repetição da informação não é a forma mais eficaz de reter ou armazenar a informação. A melhor forma de o fazer consiste em analisar o significado da nova informação relacionando-a com informação já existente na memória. Recebe o nome de repetição elaborada. Somente a informação muito bem repetida e a informação registada de forma bem elaborada pode ser transferida para os armazéns da memória. São também importantes o carácter relevante da informação e o facto de ser nova e em pouca quantidade de cada vez. Reactualização A reactualização implica a recuperação dos conteúdos mnésicos de acordo com o modo como foram adquiridos e armazenados, ou seja, em fazer regressar à consciência o que fora memorizado. Ao reactualizar reconstruímos os dados mnésicos. Reactualizar a informação depende do modo como a mesma está organizada na M.L.P. e do uso de pistas que permitam iniciar a procura do que desejamos recuperar. Os testes que os estudantes fazem é um exemplo puro de reactualização, pois eles recordam a informação que foi aprendida, que está armazenada na M.L.P, para a realização do teste. Memória a curto prazo O que é? A memória a curto prazo é um sistema temporário de armazenamento que guarda a informação durante o tempo que ela é utilizada. Actualmente os estudiosos preferem o termo «memória de trabalho» porque é com ela que trabalhamos sempre que conversamos, realizamos uma tarefa. Tal como uma secretária é uma área de trabalho onde utilizamos determinados materiais (caneta, caderno, livros, etc.) a M.C.P. é a área onde se actualizam e são utilizados os conteúdos mnésicos necessários em dados momentos. A informação seleccionada para determinados efeitos pela memória a curto prazo encontra-se na memória a longo prazo. Dentro da M.C.P. tem duas grandes componentes, a memória de trabalho e a memória imediata. Memória de trabalho A memória de trabalho é a área onde se colocam e são utilizados os conteúdos mnésicos necessários em dados momentos. Utilizamos a memória de trabalho sempre que realizamos uma tarefa, como conversar com outra pessoa, por exemplo. Esta é uma forma de memória caracterizada por ser um espaço activo de trabalho onde a informação está acessível para uso temporário. Memória imediata A memória imediata é uma forma de memória com fraca capacidade de armazenamento e de reduzida durabilidade, apenas consegue fixar 7 peças ou itens e, tem a capacidade de manter a informação captada num espaço de tempo de cerca de 20 a 30 segundos. Memória a longo prazo O que é? A memória a longo prazo é um tipo de memória relativamente duradoura na qual a informação é armazenada para ser utilizada posteriormente. Para os estudiosos, a M.L.P. tem a capacidade de armazenar grandes quantidades de informação durante longos períodos de tempo. A informação é armazenada sobretudo mediante uma codificação semântica, que assenta no significado da informação. Os elementos informativos recém-chegados são associados e integrados em contextos significativos já formados. Podemos dizer então que a M.L.P. é um sistema composto por redes de associações entre conceitos. A memória a longo prazo é um sistema que se divide em dois subsistemas: a memória declarativa e a memória não – declarativa. Memória declarativa A memória declarativa é um tipo de memória a longo prazo que armazena factos, informações gerais e episódios ou acontecimentos pessoais. A memória declarativa subdivide-se em memória episódica e memória semântica. Memória semântica subdivisão da memória declarativa especializada no armazenamento de conhecimentos gerais. É denominada por muitos como “enciclopédia mental”. Memória episódica subdivisão da memória declarativa que contém a memória dos acontecimentos que vivemos pessoalmente. É uma memória autobiográfica que armazena ou grava como se fosse um diário mental os episódios mais ou menos significativos da nossa vida. Memória não-declarativa A memória não-declarativa é o tipo de memória que guarda as informações adquiridas que nos permitem saber como realizar procedimentos motores. Comer com faca e garfo, guiar um automóvel, andar de bicicleta, tocar guitarra, piano, escovar os dentes, etc., são aptidões adquiridas de forma relativamente lenta, mas, uma vez adquiridas tornam-se comportamentos quase automáticos, que se executam com pouco esforço consciente e que duram, normalmente, toda a vida. Esquecimento e memória O esquecimento é uma condição necessária à memória, não sendo considerada uma doença. Sem o esquecimento muita informação inútil, incómoda e conflituosa não poderia ser afastada, o que perturbaria a nossa adaptação à realidade. O esquecimento pode ocorrer devido a interferências entre os conteúdos aprendidos; a falhas na recuperação dos conteúdos mnésicos; e/ou a um esquecimento motivado (esquecimento de recordações desagradáveis). Interferência A interferência é um acontecimento que ocorre quando certos conteúdos mnésicos perturbam e impedem a reactualização da informação que procuramos. De acordo com esta explicação o esquecimento não significa que a recordação de algo desapareceu mas sim que outro conteúdo mnésico semelhante ao que tentamos recuperar provocou uma confusão entre elementos informativos tornando-se assim uma barreira à reactualização da informação pretendida. Interferência proactiva Passado --» Presente Interferência retroactiva Passado «--Presente Falha na recuperação do conteúdo mnésico Esta hipótese explicativa consiste em afirmar que a informação armazenada na memória permanece intacta e disponível estando, contudo, perdida (temporariamente, em muitos casos) a pista adequada que a tornaria acessível. Os defensores desta hipótese defendem que, não estando o material memorizado perdido, não se trata tanto de o relembrar mas si de o reconhecer. As falhas de recuperação são muito frequentes. Dependem ou devem-se em muitos casos ao modo deficiente como a informação é codificada. Ex: Uma vez Daniel disse a um amigo que um dos melhores filmes que alguma vez vira era «The Official Story». O amigo retorquiu que nunca o tinha visto. «Tenho a certeza de que já o viste» insistiu Daniel. «Há aquela cena incrível em que Norma Alejandro ouve a descrição que a sua amiga faz do modo como foi torturada pelos militares». Mais uma vez o seu amigo deu a entender não estar a saber do que ele falava. Daniel, voltando à carga «Está bem, é o filme em que o professor pouco a pouco se apercebe de que a sua filha adoptiva era provavelmente a filha de uma mulher assassinada pelos militares argentinos…» Fez-se subitamente luz «Ah! o filme sobre a Argentina! Porque não disseste logo?. Esquecimento motivado O esquecimento motivado significa que esquecemos porque temos razões (estamos motivados) para esquecer, habitualmente porque uma recordação é desagradável e perturbadora. Existem duas formas de esquecimento motivado: Supressão Esforço deliberado e consciente para esquecer factos, pessoas e experiências que podem provocar ansiedade, sentimentos de culpa e outras perturbações. Repressão Recordações desagradáveis e, por vezes, inconfessáveis, são impedidas de aceder à consciência, não tendo a pessoa qualquer consciência de que os eventos traumáticos tenham alguma vez ocorrido. Relação entre aprendizagem e memória É a aprendizagem que determina o nosso pensamento, a nossa linguagem, as motivações, as atitudes e a personalidade. Existem aprendizagens simples e aprendizagens complexas que implicam uma actividade mental diversificada. Inerente aos processos de aprendizagem está a memória. Só a memória nos possibilita reter o que aprendemos, para responder adequadamente à situação presente e proporcionar a possibilidade de projectar o futuro. A memória é a condição que torna possíveis os processos de aprendizagem. Só aprendemos quando o que adquirimos é retido e passível de recuperação. O próprio conceito de aprendizagem implica o de memória. Com efeito, a aprendizagem é uma mudança relativamente estável no comportamento como resultado da prática e da experiência. A estabilidade e a mudança dependem da memória: o novo saber só é novo se o anterior não tiver desaparecido e enquadra-se ou engloba os saberes possuídos como ultrapassados. Não poderíamos aplicar o saber adquirido a novas situações sem a relativa permanência que a memória assegura. Doenças relacionadas com a memória •Amnésia É a perda parcial ou total da capacidade de reter ou evocar informações. Qualquer processo que prejudique a formação de uma memória a curto prazo ou a sua fixação em memória a longo prazo pode resultar em amnésia. • Alzheimer Uma porção significativa da população acima dos 50 anos sofre de alguma forma de demência. A mais comum é a doença de Alzheimer, na qual predomina a perda gradativa da memória, pois ocorrem lesões inicialmente nas áreas cerebrais responsáveis pela memória declarativa, seguidas de outras partes do cérebro. Conclusão Tanto a aprendizagem como a memória são funções e capacidades essenciais para a nossa vida. A aprendizagem permite-nos adquirir novos conhecimentos, desenvolver novas competências e mudar os nossos comportamentos. A memória permite-nos adquirir e armazenar informação para a utilizarmos nas mais diversas situações da vida. A aprendizagem não existe sem a memória e vice-versa. Sem a aprendizagem, não conseguiríamos fazer coisas que nos são tão comuns, como por exemplo, ser estudante. Sem a memória, seriamos incapazes de existir simplesmente, pois, por exemplo, é através dela que conseguimos realizar até os mais básicos movimentos psicomotores.