Cuidados Paliativos - Doenças Crônicas no final da vida Keila T. Higa-Taniguchi Aula para R2CM 10/03/2009 “ Cuidado Paliativo é a abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através de prevenção e alívio de sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual.” OMS, 2002 Principais pacientes em CP • Neoplasias • Neurodegenerativas: – – – – – Demência Parkinson ELA/ Esclerose Múltipla Ataxias cerebelares Coréia de Huntington • ICC/ICO CF IV • DPOC – dependente • • • • de O2 Nonagenários/ centenários frágeis IRC cleareance <10 IHepática Child C Infecciosas: AIDS EVOLUÇÕES CONFORME A DOENÇA Lynn and Adamson, 2003 Guia geral para determinar prognóstico I. O paciente e/ou a família devem estar cientes da condição limitante de vida; II. O paciente e/ou a família optaram por dirigir o tratamento para o alívio dos sintomas, ao invés de curar a doença de base. NHO, 1996 Guia geral para determinar prognóstico III. O paciente tem pelo menos um dos itens a seguir: A. B. Progressão clínica da doença documentada; Piora do estado nutricional recente documentado relacionado ao processo terminal. NHO, 1996 Guia prognóstico: Demência I. FAST : estágio 7c II. Presença de complicações médicas: A. Presença de comorbidades suficientemente severas para garantir tratamento médico (documentado no último ano); B. Comorbidades associadas a demência: 1. BCP aspirativa 2. ITU 3. Septicemia, 4. Úlceras de decúbito múltiplas, estágio 3-4; 5. Febre recorrente pós ATB. C. Distúrbio de deglutição tão severa a ponto do não ter o aporte calórico e hídrico suficiente para manter a vida do paciente. NHO, 1996 Guia prognóstico: ICC I. A. B. Sintomas recorrentes de ICC ao repouso: ICC classe funcional IV (NYHA); FE ≤ 20% II. Tratamento optimizado com diuréticos e III. A. B. C. D. E. vasodilatadores, preferencialmente IECA. Em pacientes com tratamento optimizado, os seguintes fatores estão associados com a da sobrevida: Arritmias supra ou ventriculares sintomáticas refratárias ao tratamento; AP: PCR e RCP; AP: síncope a/e AVC cardioembólico HIV concomitante NHO, 1996 Guia prognóstico: Doença pulmonar I. Severidade da doença pulmonar crônica documentada: A. B. 1. 2. Dispnéia ao repouso, pouco ou não-responsivo a BD, resultando em diminuição da funcionalidade; FEV1 < 30% do predito. Doença pulmonar progressiva: Aumento das idas ao PS e das hospitalizações; FEV1 > 40ml/ano II. Presença de cor pulmonale ou ICC à direita. III. Hipoxemia ao repouso com suplemento de O2 A. B. pO2 ≤ 55 mmHg SatO2 ≤ 88% A. pCO2 ≥ 50 mmHg IV. Hipercapnia V. VI. Perda de peso progressiva ≥ 10% do peso corporal nos últimos 6 meses. Taquicardia de repouso > 100 bpm. NHO, 1996 Cuidados Paliativos: Ação • Comunicação: – “Verdade progressiva e suportável” • Controle de Sintomas: – Peculiaridades na prescrição dos idosos “go low and slow” – Atentar para as iatrogenias (de ação e omissão) Controle de Sintomas • Avaliar antes de tratar • Explicar as causas dos sintomas • Não esperar que um doente se queixe • Adotar uma estratégia terapêutica mista • Monitorizar os sintomas • Reavaliar regularmente as medidas terapêuticas • Cuidar dos detalhes • Estar disponível. Controle de Sintomas Físicos • Dor • Dispnéia • Fadiga, astenia e anorexia/caquexia • Náuseas e vômitos • Constipação e Diarréia • “Delirium”, depressão e ansiedade Avaliação - ESCALAS • EVA – Escala Visual Analógica • ESCALA NUMÉRICA • EDMONTON Escala Visual Analógica 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Avaliação de Dor no Paciente Confuso Não-comunicativo Dor aguda •Expressão facial •Vocalização •Aumento da tensão muscular •Reações neurovegetativas – FC, PA, FR Dor crônica • Comportamento deprimido • Piora no estado mental Critérios sugestivos da presença de dor em pacientes confuso não comunicativos Situação clínica: •Câncer metastático •Doenças articulares com deformidades •Pós operatório de cirurgias torácicas, abdominais e ortopédicas •Queimados •Procedimentos dolorosos (inclui banho, troca, mudança de decúbito e curativos) •Presença de drenos Comportamento do paciente: • Adoção de postura de proteção (resistência a certos movimentos durante os cuidados) • Movimento de retirada ao estímulo doloroso • Agitação persistente, mesmo após adoção de medidas não farmacológicas de conforto • Diminuição do nível de atividade • Vocalização – gemência, choro • Alteração do padrão de sono • Diminuição do apetite Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton - ESAS Escala de Desempenho de Karnofsky 100 – Normal, sem queixas, sem evidências de doença 90 – Capaz de vida normal, sinais e sintomas menores de doença 80 – Alguns sinais e sintomas da doença com esforço 70 – Capaz de cuidar de si mesmo, incapaz de levar vida normal ou exercer seu trabalho 60 – Necessita de assistência ocasional, mas ainda é capaz de prover a maioria de seus cuidados pessoais 50 – Requer assistência considerável e cuidados médicos freqüentes 40 – Incapaz, requer cuidados especiais e assistência, autocuidado limitado. Permanece mais de 50% do horário vigil sentado ou deitado 30 – Muito incapaz , indicada hospitalização, apesar da morte não ser iminente 20 – muito debilitado, hospitalização necessária, necessitando de tratamento de apoio ativo. Confinado à cama 10 – moribundo, processos letais progredindo rapidamente ECOG – Eastern Cooperative Oncology Group Escala de Desempenho de Zubrod 0 – Normal 1 – Sintomas de doença, mas com atividade normal 2 – Fora do leito mais de 50% tempo 3 – No leito >50% do tempo, carente de cuidados mais intensivos 4 – Preso ao leito PALLIATIVE PROGNOSTIC INDEX KPS 10 - 20 4.0 30-50 2.5 > 50 0 (zero) SINTOMAS E SINAIS Ingesta oral Muito reduzida 2.5 Moderadamente reduzida 1.0 Normal 0 (zero) Edema 1.0 Dispnéia de repouso 3.5 Delirium 4.0 Escore total Sobrevida média em dias 0 – 2.0 90 2.1 – 4.0 60 > 4.0 12 The Palliative Prognostic Index. Supportive Care Câncer 1999 Dor total Emocional Espiritual Física Social Cicely Saunders, 1967 Dor Física – Tipos • Nociceptiva • Somática • Visceral • Neuropática • Complexas ou mistas DOR FÍSICA – Tratamento • Escada Analgésica da OMS OPIÓIDES POTENTES COM OU SEM ADJUVANTES ANALGÉSICOS, AINHS, OPIÓIDES FRACOS COM OU SEM ADJUVANTES ANALGÉSICOS, AINHS COM OU SEM ADJUVANTES Leve (0 – 4) Moderada (5 – 7) Intensa (8 – 10) Analgésicos e Anti-inflamatórios nome Meia-vida (hs) dipirona Intervalo (hs) Dose inicial(mg /dia) Dose máxima (mg/dia) 4-6 2000 3000 paracetamol 2-4 4-6 2600 6000 acido acetil salicílico 3 - 12 4-6 2600 6000 indometacina 4-5 8 - 12 75 200 ibuprofeno 3-4 4-8 1200 4200 naproxeno 13 13 500 1000 diclofenaco 2 6 75 200 Opióides para dor moderada Nome Vias de administra ção Dose Equianalgé sica (mg) Meia-vida (hs) Intervalos (hs) codeína oral 200 2-3 3-6 propoxifeno oral 65 - 130 2-3 3-6 Oxicodona* oral 30 3-4 2-4 5,7 - 7 4-6 tramadol oral, intramuscul ar e intravenosa 120(oral), 100(IM ou IV) Dose equianalgésica é a dose de um determinado medicamento equivalente a potência analgésica de morfina 10 mg administrado via intramuscular *OBS: oxicodona no Brasil só de liberação lenta – equivalência com morfina: 1 oxicodona : 2-3 morfina (vo) – portanto, usado para dor forte. Opióides fortes Nome Vias de administra ção Dose Equianalgé sica (mg) Morfina Oral, sublingual, retal, SC IM e EV 20 - 30(oral) 10(retal, SC IM, IV) Meia-vida (hs) Intervalos (hs) 2 - 3.5 3-6 Metadona oral 20 15 - 120 4-8 Fentanil oral, Transcutâneo SC Intravenosa 75 – 125X mais potente que a morfina 3 – 23 h (adesivo) 72 2-3 2-4 Meperidina oral, intramuscul ar e intravenosa 300(oral) 75(IM, IV) Adjuvantes mais comumente associados Nome Dosagem usual para adulto I=dose inicial M=dose de manutenção Vias carbamazepina I=100 mg Noite ou de 12/12h M=200~1600 mg em 2-3 x/d Oral para dor neuropática fenitoína I=100 mg Noite ou de 12/12h M=300~500 mg em 2-3 x/d Oral para dor neuropática Oral para dor neuropática dor complicada pela depressão e insônia; nortriptilina tem ↓ ef. anticolinérgico e sedação Oral EV entre os corticóides, prefere-se este por apresentar menos efeito mineralocorticóide Oral IM ou EV efeito antiemétoco interessante nos casos de uso de opióide. Ef. Anticolinérgico importante! amitriptilina nortriptilina clomipramina imipramina I=10~25mg Noite M=25~150 mg Noite ou em 2-3 x/d dexametasona I=4 mg de 6/6hs M=16~96 mg em doses divididas clorpromazina I= 6~12 mg ao deitar ou em doses divididas M=18~50 mg em doses divididas haloperidol I=0,5 a 2mg N ou em 2-3 x/d M=2~15mg em 2-3 x/d metilfenidato I=2,5~5 mg cedo(até meio dia) M=10~40mg cedo(até meiodia) Comentários Oral IM Agitação psico-motora, asso ciada a dor, ou mesmo por efeito de medicação. Ef. Extrapiramidal Importante Oral tem efeito analgésico nos casos de dor neoplásicos. Administrar dose única ou dividida até meio dia, devido a seu efeito estimulante VIAS DE ADMINISTRAÇÃO • PREFERENCIAL: – VO – RETAL – SUBCUTÂNEA – EV – IM – INTRATECAL (BOMBA DE MORFINA) Causas comuns de constipação Opióides Outras drogas Insuficiência Autonômica Desidratação CONSTIPAÇÃO Obstrução Intestinal Ingesta oral Imobilidade ↑Ca++ ou ↓K+ Complicações comuns de Constipação • Distensão abdominal • Dor abdominal, especialmente em pacientes com • • • • • • dor pré-existente ou tumor retroperitoneal. Náuseas e vômitos. Diarréia paradoxal. Pseudo-obstrução intestinal. Hemorróidas e fissura anal. Retenção urinária. Confusão/ “delirium”, especialmente em idosos. Prevenção da Constipação • Explicar ao paciente e a família as diversas razões para • • • • • constipação e discutir as medidas gerais para evitá-la. Educar o paciente quanto ao mito da constipação ser uma conseqüência lógica da anorexia, mas pode sim ser a causa dela. Aconselhar o paciente a evitar excesso de fibras na dieta, embora frutas possam ser benéficas. Atenção aos medicamentos tomados pelo paciente e se possível retire aqueles que sejam constipantes. Prescreva laxativos concomitantemente com opióides e tatiar a dose conforme o funcionamento intestinal. Prescreva combinações de laxativos pois se alcança melhores resultados. (exemplo: irritativos como bisacodil junto com um agente emoliente como o docusato). Escada de laxantes para manejo de Constipação em CP ANTAGONISTAS DE OPIÓIDES vo (NALOXONE, METILNALTREXONE) + DEGRAU ANTERIOR LAXANTES ESTIMULANTES (ANTRAQUINONAS, BISACODIL, PICOSSULFATO DE SÓDIO) + DEGRAU ANTERIOR LAXANTES FORMADORES DE MASSA, OSMÓTICOS, LUBRIFICANTE E EMOLIENTE (SULFATO DE MAGNÉSIO, LACTULOSE, SORBITOL, PEG, ÓLEO MINERAL, DOCUSATO) SUPOSITÓRIO DE GLICERINA OU FLEET ENEMA DE RESGATE SE NÃO EVACUAR EM 3 DIAS Agente Dose Efeitos Adversos Custo relativo 1 a 2 env. dil. em água Flatulência, cólica abdominal, 0.2-4.6 de 2 a 6 x/dia reação alérgica rara/e. 50 a 300 mg/dia Cólica abdominal 1.2-2 15 a 60 ml/dia Flatulência, cólica abdominal, 2.4-7.2 Formadores de Massa Psyllium (Metamucil) Emoliente de fezes Docusato Osmóticos Lactulose hipocalemia. Hidróxido de magnésio 30 a 60 ml/dia Flatulência, hipocalemia, 1 hipermagnesemia em IRC. (referência) PEG (Macrogol) 17g dil. em água 1 a 2 x/dia Raramente flatulência, dor abdominal. 4.8-9.6 Sorbitol 30 a 150ml/dia Flatulência, cólica abdominal, hipocalemia. Fosfato de sódio 10 a 30ml/dia Flatulência, cólica abdominal, Agente Dose Efeitos Adversos Custo relativo Lubrificante Óleo mineral 10 ml/dia Cólica abdominal. Vaselina líquida 15 a 30ml/dia Cólica abdominal Bisacodil (Dulcolax) 5 a 15 mg/dia Cólica abdominal, flatulência. 1.5-3.0 Cáscara sagrada 5ml ou 1cp/dia Cólica abdominal, hipocalemia. 1.0-2.9 Senna 2 a 4 cps 1 a 2 x/dia Cólica abdominal, hipocalemia. 1.0-2.9 Picosulfato de sódio 5 a 10 mg toda noite Cólica abdominal, hipocalemia. 2.8-5.6 Óleo de Rícino 50 a 60ml/dia Cólica abdominal, flatulência, Estimulantes hipocalemia. Pró-cinéticos Tegaserod (Zelnorm) 6mg 2 x/dia Cefaléia 19.7 125 a 250 ml Iritação ano-retal, mecanismo de trauma, hiperfosfatemia em IRC. 0.5-2.0 125 a 250 ml Iritação ano-retal, mecanismo de trauma. 0.5-2.0 1 a 2 sup vr Irritação ano-retal. 0.5-1.0 Enemas Enemas fosfatos Glicerina 25% Supositório Glicerina Medidas não farmacológicas • Aumentar a ingesta de fluidos. • Aumentar a mobilidade. • Medidas dietéticas (aumentar a ingesta de fibras diárias na dieta ou com suplemento, dependendo do status funcional do paciente). • Massagem abdominal. • Tentar criar rotina para evacuar, o melhor horário seria após o café da manhã (reflexo gastro-cólico). Curar às vezes... Aliviar freqüentemente Confortar sempre. Bibliografia • OMS, 2002 • Cuidado Paliativo – CREMESP, 2008 • National Hospice Organization, 1996 • INCA – Cuidados Paliativos - Controle de Dor/Controle de Sintomas, 2002.