09 - Jesus de Nazaré, vida e obra

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1. – Jesus de Nazaré: vida e obra
Encontros
de
Formação
Cristã
Paróquia de
Santa Maria
de Carreço
«Jesus partiu com os discípulos para as
aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho,
fez aos discípulos esta pergunta: «Quem
dizem os homens que Eu sou?»
Mc 8, 27
1ª sessão –
Jesus de Nazaré: vida e obra
Sumário:
1.
A investigação moderna
acerca de Jesus de Nazaré
1.1.–
Breve história da investigação
sobre Jesus
1.2 – A questão das fontes
3. O Evangelho de Jesus Cristo
3.1– Jesus de Nazaré: um Messias
diferente do esperado
3.2 – A Mensagem de Jesus: o Reino
de deus
3.3– A experiência de Deus como Pai
3.4– O seguimento
4. Os milagres de Jesus Cristo
2.
A história de Jesus de
Nazaré:
algumas
referências históricas
5. Reacções perante Jesus e a
Sua Mensagem
2.1.–
2.2 –
2.3 –
2.4 –
2.5 –
2.6 –
Dados pessoais
Os primeiros anos de Jesus
Jesus e João baptista
O Ministério Público de Jesus
Jesus e os discípulos
A Morte de Jesus
7. A personalidade de Jesus
6. Processo e Morte de Jesus
8. Bibliografia recomendada
(E.F.C. 1)
1. A investigação moderna acerca
de Jesus de Nazaré
1.1. – Breve história da
investigação sobre Jesus
A CRISTOLOGIA explica a frase «Jesus é o Cristo» (Walter Kasper). A
tensão que existe na Cristologia é unir o Jesus histórico com o Cristo da fé.
A Cristologia passou por duas grandes fases: antes do Vaticano II, deixa-se
excessivamente na penumbra a humanidade de Jesus (Cristologia dedutiva); a
Cristologia actual (genética), parte do Jesus histórico, percorrendo o caminho
que os discípulos fizeram, até considerar Jesus como Filho de Deus. Ganhase a consciência mais vincada do lado humano de Jesus, que teve uma história
concreta, a qual pode e deve ser objecto de investigação pelas várias
ciências e métodos.
A história da investigação sobre Jesus de Nazaré pode ser resumida em várias etapas:
1. ETAPA PRÉ-CRÍTICA. Durante muitos séculos (até ao século XVIII), Jesus, Filho de Deus,
foi objecto de uma fé quase se problemas; as coisas estavam claras: a verdade dos evangelhos
identificava-se com a verdade histórica.
2. «OLD QUEST» («velha questão»). A Idade Moderna regista os maiores abalos à
consciência cristã; quer pela negação da divindade de Jesus, quer até pela negação
da Sua existência real. Começa-se a falar do Jesus histórico contraposto ao Cristo
da fé, havendo entre ambos uma ruptura.
Reimarus
1694-1769
A questão inicia-se com Reimarus, que leva ao extremo a questão, dizendo que os apóstolos eram
apenas uns falsários, pois o Cristo da fé pregado pela Igreja é uma fraude, é uma construção dos
discípulos; para ele, Jesus foi um Messias político que fracassou. Os seus escritos foram
publicados por um discípulo seu, G.E. Lewssing que os publicou desde 1774 a 1778.
1.1. – Breve história da
investigação sobre Jesus
Strauss escreve a Vida de Jesus (1837),expondo que os discípulos criaram um Cristo ideal e o mito
é a ideia-chave para entender os evangelhos.
Couchoud escreve o Mistério de Jesus, em 1924, dizendo que Jesus é o produto dos sonhos das
primeiras comunidades cristãs.
David Strauss
1808-1874
Whately
Face ao radicalismo da negação da existência de Jesus por alguns, Whately (futuro
arcebispo anglicano de Dublin), escreve em 1819 um livro cheio de humor: «Dúvidas
históricas sobre Napoleão Bonaparte»; o livro foi escrito mesmo antes da morte de
Napoleão! Napoleão foi um mito e interpretou toda a sua história de forma
simbólica: isto para aqueles que diziam que Jesus nunca existiu!
Albert Scweitzer
Em 1905 escreveu que o balanço
dessa
investigação
tinha
sido
negativo, pois chamava a atenção
para o facto de que o que se
atribuía a Jesus não era mais que
o reflexo das ideias de cada um
dos autores. Desiludido como
professor de NT, decidiu aprender
medicina e foi para África tratar
dos leprosos, como algo mais
prático.
A exegese alemã, do séc. XIX, baseandose nos progressos científicos e literários,
chegou a audaciosas conclusões nascidas do
racionalismo. Com a TEOLOGIA LIBERAL,
pretendia-se escrever uma vida de Jesus a
partir das fontes «historicamente puras» e
restabelecer a unidade entre o Jesus da
história e o Cristo da fé. A finalidade da
escola liberal era despojar a imagem de
Jesus dos retoques acrescentados pelos
dogmas cristológicos e pelas interpretações
da Igreja primitiva. Chegou-se à célebre
formulação da teoria da fonte Q (quelle).
A. Von Harnack
Escreve o livro «Vita Iesu
scribi nequit», ou seja não se
pode escrever uma vida de
Jesus, pois do ponto de vista
histórico nada podemos saber
d’Ele.
1.1. – Breve história da
investigação sobre Jesus
A TEOLOGIA EXISTENCIAL apoia-se na herança que recebeu da teologia liberal do ponto de
vista histórico-crítico; o seu precursor é M. Kahler e o seu principal representante é Rudolf
Bultmann (teólogo e exegeta luterano alemão).
Para Bultmann o Jesus da história não pode ser realmente alcançado pela pesquisa; Bultmann
aplica a Formgeschichte («história das formas») aos Evangelhos sinópticos e manifesta a
originalidade do pensamento de São Paulo e de São João. Embora não se possa saber, não é
preciso, pois o que importa é crer que Jesus de Nazaré o Cristo; a fé é algo que se joga no
âmbito da própria existência.
Rudolf Bultmann
1884-1976
Com Bultmann termina a etapa da «Old quest»: assiste-se a
uma trajectória desde Reimarus que considera o Cristo da fé como uma fraude até
Bultmann que diz que o Cristo da fé é o principal e o Jesus histórico é relevante, embora
pouco se possa saber acerca d’Ele.
3. «NEW QUEST» («nova questão»). Esta fase postula que existe entre o Jesus histórico e o
Cristo da fé uma continuidade / passagem e não uma ruptura, como fez a etapa anterior; a
Páscoa não é uma cortina que impede o acesso ao Jesus pré-pascal. Os alunos de Bultmann
acharam que o mestre tinha ido demasiado longe. De facto, a história de Jesus é relevante
para a nossa fé, pois caso contrário a nossa fé seria um mito, uma fé inventada.
Ernest Kasemann
1884-1976
Esta fase teve início com Ernest Kasemann (exegeta luterano alemão) numa conferência em
1954 («Problema do Jesus histórico»). Com ele dá-se início à TEOLOGIA
POSTBULTMANIANA. O trabalho dos postbultmanianos, a entrada das exegeses católica e
anglicana na questão, o melhor conhecimento da literatura judaica contemporânea de Jesus e
da comunidade primitiva, assim como dos seus procedimentos exegéticos e literários,
descobertas como as de Qumram, os estudos de sociologia do cristianismo primitivo, etc.,
levaram a esse resultado.
1.2. – A questão das fontes
Jesus não escreveu, a não ser uma vez sobre a areia (Jo 8, 6-8); é necessário fazer o ponto da situação das
diferentes fontes que nos permitem conhecer a sua história: fontes pagãs; fontes judaicas; fontes cristãs
(retidas ou não no cânone); traços arqueológicos.
O Credo diz-nos que «padeceu sob Pôncio Pilatos»: esta afirmação estabelece uma ligação entre
a vida de Jesus e a história universal, situando com exactidão o tempo e o lugar de Jesus. As
fontes de historiadores pagãos são escassas: de facto, um obscuro canto do Império Romano (a
Palestina) era apenas uma zona marginal sem grande interesse! Dispomos de apenas três
testemunhos pagãos que remontam ao início do séc. II:
AS
FONTES
PAGÃS
1º
Numa
carta
dirigida ao imperador
Trajano, Plínio o Moço
(ou
Jovem)
(legado
desse
Imperador
na
Bitínia), no ano 112:
Plínio, o Jovem
«Eles afirmam que a sua falta, ou o seu erro
consiste apenas nisto: reúnem-se em data fixa
antes do nascer do sol, e cantam entre eles hinos a
Cristo como se de um Deus se tratasse;
comprometem-se por um voto, não a qualquer crime,
mas a não cometer nem roubo, nem briga, nem
adultério, a não faltar à palavra, a não negar prisão
reclamada em justiça» (Cartas a Trajano, X, 96).
Tácito
2º - O historiador
Tácito, em 116 conta
que Nero, para se
libertar da acusação de
ter incendiado Roma,
«designou
como
culpados» desse crime
os
«cristãos»
e
condenou-os à morte:
«Este nome vem de Cristo que, no tempo
de Tibério, foi condenado ao suplício
pelo procurador Pôncio Pilatos. Reprimida
na altura, esta abominável superstição
aparece de novo, não somente na
Judeia, berço do mal, mas na própria
Roma» (Anais, 15, 44).
3º - Suetónio,
no ano 120, na
sua obra Vida
do
imperador
Cláudio, alude
a distúrbios na
colónia judaica
de Roma:
Suetónio
«Como os Judeus se sublevavam
continuamente pela instigação de
um certo Chrestos, ele [Cláudio]
expulsou-os de Roma» (25, 3).
Chrestos é uma deformação de
Christus (forma popular romana de
se referir a Cristo).
Este conjunto de textos, pobre, só nos permite concluir duas coisas:
1ª - Aquele que é chamado Cristo foi condenado à morte por Pôncio Pilatos, na Judeia;
2ª - Ele está na origem da «seita» dos cristãos a quem prestam culto.
1.2. – A questão das fontes
AS FONTES
JUDAICAS
Flávio Josefo
1808-1874
AS FONTES
CRISTÃS
Testemunho
de
Flávio
Josefo,
historiador judaico do
séc. I, que faz três
alusões à história de
Jesus.
1ª - Diz respeito ao próprio Jesus, mas comporta um certo número
de afirmações, que se pensa terem sido uma adição posterior cristã:
reconhece Jesus como Cristo e a sua ressurreição.
2ª Diz respeito a João Baptista;
3ª Diz respeito ao martírio de Tiago (Antiguidades Judaicas, 18,
63-64; 18, 116-119; 20, 200).
A recolha de textos judaicos referentes a Jesus também é pobre. Há pesquisas recentes que
põem em relevo a dimensão propriamente judaica do rabi Jesus. Alguns procuraram identificar
alguma relação entre Jesus e os essénios, espécie de monges que viviam nas margens do Mar
Morto como sendo o seu «Mestre de Justiça» ou até o fundador da comunidade; para isso
concorre o facto de Jesus ter, no início do Seu ministério, passado pelo deserto: no entanto,
Jesus foi sobretudo um pregador, que contrasta nitidamente com a orientação silenciosa e
contemplativa da comunidade essénia.
Literatura canónica: a mais importante para nós (os escritos do NT, especialmente os quatro
evangelhos); do NT dispomos de uma grande quantidade de manuscritos em comparação com o
conjunto de manuscritos dos autores gregos e latinos da época, remontando alguns ao ano
150. Ao acesso aos evangelhos pode ser feito sob três pontos de vista: como obra histórica
(importante perceber as contradições, etc.); como obras literárias peças de literatura!); e
como obras teológicas (o crente vê neles uma mensagem de fé para a sua vida).
Literatura apócrifa: escritos que não fazem parte do cânone bíblico (considerados pouco
históricos ou demasiado tardios, ou continham elementos estranhos e não fiéis ao ensinamento
primitivo); são escritos dissimulados, falsos ou inautênticos. Exs: Evangelho de Tomé,
Protoevangelho de Tiago, Evangelho de Pedro, etc. O facto de serem «apócrifos» não lhes
tira a priori o seu valor histórico, embora no geral contenham interpretações especulativas
das Escrituras, ou desenvolvimentos lendários, etc. Mas se forem utilizados com prudência
podem dar indícios históricos ou comparações interessantes.
1.2. – A questão das fontes
O CONTRIBUTO DA
ARQUEOLOGIA
Betsaida,
a terra
de Pedro,
André e
Filipe…
A arqueologia permitiu, nalguns casos, ir até mesmo ao séc. I.
Por exemplo, a Casa de Pedro, descoberta em Cafarnaum, cuja
configuração corresponde bem à descrição feita da cura do
paralítico, descido pelo telhado por uma enxerga. Trata-se
sempre de testemunhos indirectos da existência de Jesus, é
certo, mas com valor.
OS CRITÉRIOS DE HISTORICIDADE
É preciso utilizar o método adequado, além das fontes. A partir da apresentação que faz M. Quesnel, podemos
resumir um determinado número de critérios aplicados aos ditos e acções de Jesus:
Critério da dificuldade ou de contradição: se uma palavra ou gesto de Jesus contradiz a imagem que os primeiros
cristãos faziam dele, a Igreja não o pode ter inventado; por exemplo, o baptismo de Jesus por João parece
colocar Jesus em situação de inferioridade em relação ao Baptista;
Critério de descontinuidade ou de dupla diferença: o que não pode vir nem do judaísmo antigo nem das Igrejas
do século I, tem toda a possibilidade de remontar ao próprio Jesus; por exemplo, os discípulos abstinhamse de praticar o jejum, mas era prática corrente do judaísmo e retomado depois pelos cristãos.
Critério de atestações múltiplas: acontecimentos ou palavras atestados em diversas fontes ou tradições (por
exemplo, a pregação de Jesus sobre o Reino de Deus) têm maior garantia de conservar a história de Jesus;
Critério de coerência ou de conformidade: palavras ou gestos que são coerentes com os já confirmados; por
exemplo, a distância que Jesus toma a respeito de determinados preceitos legais está em coerência com a
distância ao interdito sábado.
Critério de condenação à morte ou rejeição; episódios da vida de Jesus que contribuíram para irritar as
autoridades judaicas e romanas e que conduziram à condenação à morte de Jesus (por exemplo, as
aclamações de realeza na altura dos ramos, o escândalo das mesas dos cambistas derrubadas no Templo).
Estes critérios exigem grande prudência na sua utilização; a sua convergência é particularmente significativa.
2. A história de Jesus de Nazaré:
algumas referências históricas
2.1. – Dados pessoais
As fontes não permitem construir uma biografia de Jesus no sentido moderno
do termo; contudo, na falta de uma biografia, é possível, através dos
evangelhos, seguir Jesus no curso da Sua curta vida. Porém, neles faltam
dados importantes, como a Sua vida entre os 12 e os 30 anos que é
desconhecida; de Jesus, como de tantas outras personagens ilustres da
sociedade de há dois mil anos, é impossível reconhecer os dados para encher
um B.I.: não se sabe o dia do nascimento, nem a cor do Seu cabelo e dos
olhos, nem sequer a data exacta da Sua morte. «Há ainda muitas outras
coisas feitas por Jesus» (Jo 21, 25). Por exemplo, os dados das origens de Jesus
nos evangelhos não são coincidentes; aos autores dos evangelhos não lhes interessava fazer
uma biografia de Jesus; são prioridade à transmissão dos significados e, se necessitam de
algum dado físico e histórico de Jesus, então, e apenas então, utilizam-no.
PRINCIPAIS PASSAGENS EVANGÉLICAS QUE APRESENTAM ALGUM DADO
CRONOLÓGICO:
Lc 1,5: «nos dias de Herodes, rei da Judeia»;
Mt 2, 2: «vimos a Sua estrela no Oriente»;
Lc 2, 1-7: édito de César Augusto, Quirino, governador da Síria, faz um
recenseamento;
Lc 3, 1-3: João começa a pregar no ano 15 de Tibério; Pôncio Pilatos, os tetrarcas,
Anás, Caifás;
Lc 3, 23: Jesus tinha cerca de trinta anos;
Lc 23, 54: era o dia da Preparação e já amanhecia o Sábado…
2.1. – Dados pessoais
JESUS
EXISTI
U
O SEU
NOME:
O primeiro dado seguro acerca de Jesus é que Ele existiu!
Não é uma personagem inventada, embora acerca dele se
tenham dito coisas contrapostas (como as negações levantadas
em meios anticlericais em França no início do séc. XX e nos
actuais debates no meio Anglo Saxão). Actualmente, isto não
é posto em causa por pessoas medianamente cultas e
conhecedoras da história judaica e romana: Jesus viveu
durante os três primeiros decénios da nossa era na Palestina.
JESUS – Do grego Jesus, derivado do hebraico Jesua, forma
abreviada de Jehosua: «Jhwh é salvação». O menino nascido
da Virgem Maria chama-se Jesus «pois vai salvar o Seu povo
dos seus pecados» (Mt 1,21).
CRISTO - Cristo deriva do grego christós, que traduz o
hebraico mashiah (messias), que quer dizer «ungido»,
«consagrado».
JESUS CRISTO é a mais breve e a mais profunda fórmula de
fé; exprime simultaneamente que Jesus Cristo é verdadeiro
Deus e verdadeiro homem; filho Unigénito do Pai; segunda
Pessoa da trindade; no tempo estabelecido por Deus fez-Se
homem para redimir toda a humanidade.
2.2. – Os primeiros anos de Jesus
QUANDO
A data é difícil de estabelecer, pela simples razão
NASCEU
que não se nasce «grande homem»!
JESUS?
No Império Romano, os anos contavam-se desde a fundação de Roma, que
se fixou em 753 a.C. Foi o monge Dionísio, o Exíguo (ou o Pequeno), que
no séc. VI, calculou, com os dados que possuía na época que Jesus teria
nascido em 754 a.C. de Roma, que seria o ano 1 do nosso calendário. Mas
a data real da fundação de Roma foi 748a.C. Há assim um engano de
cerca de 6 anos. Hoje sabemos algo que ele desconhecia: Herodes I, o
Grande, em cujo reinado Jesus nasceu, morreu no ano 4.a.C. (data
garantida por fontes extra-bíblicas): assim, é certo que Jesus nasceu
antes do ano 4.a.C.
Dionísio,
o Exíguo
A data exacta não é certa, pois até pelo recenseamento que fala Lc 2, 1-2 não
há clarificação: realizaram-se vários na época (Flávio Josefo fala em 7a.C.,
Tertuliano diz que foi entre os anos 9a.C. e 6.a.C.; outros dizem que teria sido
em 7 a.C.). Há também outros indícios, por exemplo, cálculos astronómicos
demonstram que houve uma grande conjunção de Júpiter e Saturno na
constelação Peixes, no ano 7.a.C., talvez correspondesse com a «estrela dos
magos». As datas mais prováveis são entre 4.a.C. e 7.a.C.
ENTÃO POR QUE É QUE O NATAL SE CELEBRA a 25 DE DEZEMBRO? Esta festa só se
estabelece nos finais do reinado de Constantino II (a partir de 354 d.C.) e nada tem que ver
com a data e o mês em que realmente aconteceu o nascimento; o dia 25 era a festa romana do
«sol nascente e invencível», por ser o solstício do Inverno (o momento em que a força solar
cresce de novo).
2.2. – Os primeiros anos de Jesus
Rio Jordão
Nazaré
Mar da Galileia
ONDE NASCEU JESUS?
Nasceu na Palestina, na província da Judeia,
em Belém, conforme nos diz as narrações de
Mateus e de Lucas. O Evangelho de São João
ignora o local de nascimento.
Quando era adulto, todos O conheciam como
«profeta de Nazaré», «O Nazareno».
Mas os dados não coincidem:
-Mateus diz que José e Maria viviam em
Belém quando Jesus nasceu; Jesus nasce em
casa e os Magos vão aí adorá-l’O;
Jerusalém
Belém
Mar Morto
-Lucas diz que viviam em Nazaré e
deslocaram-se a Belém por causa de um
recenseamento; nasce num curral de animais
dos muitos que existiam nos arredores de
Belém, aproveitando as grutas naturais da
zona.
O mais importante, para além do lugar, é
afirmar-se que em Jesus se cumprem as
promessas e profecias.
2.3. – Jesus e João Baptista
«Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e
acreditai no Evangelho.» Mc 1, 15
JESUS FOI
DISCÍPULO DE
JOÃO BAPTISTA…
Provavelmente viveu um longo período de discipulado com
João em torno a Qumram, ao Mar Morto e ao Rio Jordão.
O facto de João baptizar Jesus, dá-nos a entender que
este foi seu discípulo, porque o mestre baptiza dos
discípulos. O Baptismo de Jesus é um SINAL do início da
vida pública e como forma de nos dar o exemplo.
Neste período de tempo com João, Jesus foi
descobrindo a sua própria vocação. Jesus não sabia
do Seu futuro mais do eu nós sabemos do nosso: se
assim não fosse, não teria sido homem em tudo
igual a nós, excepto no pecado (cf. Heb 4, 15).
Jesus começa a descobrir e a responder à
pergunta de qualquer vocação: quem sou eu? Que
quer Deus de mim?
Outro dado seguro é que Jesus foi
discípulo de João Baptista: a ligação de
Jesus com João baptista é historicamente
certa; Jesus fez-Se baptizar por João
Baptista, pois pertenceu ao grupo baptista
de João, mas operou, no que respeito à
espiritualidade
uma
mudança,
uma
ruptura; Jesus não é um asceta retirado
no deserto e não pretende formar um
grupo de «puros», mas vive no mundo,
come
e bebe (Mt 11, 19) e dirige a
todos uma mensagem universal.
É no momento de responde a estas
perguntas que Jesus se vai separar de
João; Jesus deixa de identificar-se com o
seu Mestre, reage perante ele e acaba
por se separar: Jesus não irá pregar o
mesmo que João Baptista.
Jesus respondeu aos discípulos de João: «Ide contar a João aquilo que vedes e ouvis.
Os cegos vêem, os coxos andam, os que têm lepra são curados, os surdos ouvem,
os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Nova» (Mt 11, 4-5)
2.4. – O Ministério público
de Jesus
Outro dado seguro é que Jesus pregou às multidões: «o Reino
de Deus está próximo». Os nomes indicados em Lc 3, 1s
coincidem todos com a data indicada: «o ano quinze do
imperador Tibério»; daí deduz-se que no ano 28 João Baptista
andava a pregar; talvez ainda no mesmo ano, Jesus começasse
a Sua pregação, a «vida pública». A duração da pregação de
Jesus seria de dois anos e meio, ou ainda menos (segundo o
Evangelho de João, Jesus subiu três vezes a Jerusalém pela
Páscoa; os sinópticos, menos fiáveis historicamente relatam
apenas uma subida, o que leva a pensar que, segundo estes, a
actividade de Jesus Se desenrola durante um ano).
Em Lc 3, 23, diz-se que Jesus tinha «cerca de trinta anos» quando começou a pregar; este dado, tomado à
letra, dar-nos-ia pistas para averiguar outras datas; mas o dado parece simbólico, não matemático; quando
José começa a sua actividade no Egipto teria 30 anos (Gn 41, 46); quando David começa a reinar tem 30 anos
(2 Sam 5, 4); quando Ezequiel recebe a sua vocação profética, tem 30 anos (Ez 1, 1). Tudo indica que «30
anos» deve ser traduzido como «a idade ideal para começar uma missão». O número de 33 atribuído à duração
da Sua vida seria formado por 30 anos até começar a pregação que durou 3 anos; mas nenhum dos dados
estará correcto.
Não é possível estabelecer
uma cronologia das suas principais deslocações e acontecimentos; Primeiro,
deslocou-se à Galileia e sente-se ligado, sobretudo, a Nazaré e Cafarnaum, de seguida à Judeia, tomando os
caminhos que conduzem ás diferentes localidades; rodeia-se de 12 Apóstolos; sobe regularmente a Jerusalém
pela Páscoa, segundo São João. A confissão de Pedro, em Cesareia de Filipe, no norte da Palestina, inaugura a
última subida de Jesus a Jerusalém antes da sua morte. Por vezes, afasta-se da Galileia e dirige-se para
norte, até Tiro e Sídon, ou à Decápole, na Samaria, à região dos Gerasenos, a leste do lago de Tiberíades.
2.5. – Jesus e os discípulos
Recordemos
os nomes dos
Apóstolos (ver
E.F.C. 3)…
Dos inúmeros discípulos de Jesus, houve 12 escolhidos por Ele, «enviados»
para a Missão: os 12 Apóstolos.
Pedro
Tiago, o Maior (filho de
Zebedeu; filhos do trovão)
Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.»(Mt 16, 16)
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo
do céu e os consuma ?» (Lc 9, 54)
João (filho de Zebedeu; filhos
do trovão)
Filipe
Disse-lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» (Jo 14, 8)
Mateus ou Levi
Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe:
«Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o». (Mt 9, 9)
Tiago, o Menor
Tiago, filho de Alfeu, (Mt 10, 2)
Bartolomeu ou Natanael
Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» (Jo 1, 46)
Simão
«Simão, o Cananeu»(Mc 3, 18)
«Simão, o Zelota» (Mt 10, 4)
Tomé
Respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28)
Judas Tadeu
Perguntou-lhe Judas, não o Iscariotes: «Porque te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás
ao mundo?» (Jo 14, 22)
André (irmão de Pedro)
Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao
mar, pois eram pescadores. 17E disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de
homens.» (Mc 1, 16)
Judas Iscariotes
Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu, Mestre?» «Tu o disseste» respondeu Jesus. ((Mt 26, 25)
2.6. – A morte de Jesus
Outro dado seguro é que Jesus morreu numa cruz, sob a autoridade de
Pôncio Pilatos, fora dos muros de Jerusalém.
MAS
QUANDO
MORREU
JESUS?
Os sinópticos afirmam que foi a 15
de Nisan; São João diz que foi a 14
de
Nisan; através
de
cálculos
astronómicos sabe-se que os anos 28,
29 e 32, não coincidiram nem com o
14, nem com o 15 de Nisan, pelo que
a morte de Jesus não poderia ter
sido nesses anos. Se seguirmos a
tradição
dos
sinópticos
(menos
verosímil) a data seria 27 de Abril de
31; se seguirmos a tradição de João,
a data mais provável é 7 de Abril do
ano 30; uma data menos verosímil é 5
de Abril do ano 33. Mas o mais
aceite é que Jesus morreu às 3
horas da tarde no dia 7 de
Abril do ano 30.
Todos os evangelistas coincidem que era sexta-feira,
«dia da Preparação, véspera do sábado»; naquela
época o dia contava-se de um pôr-de-sol ao seguinte,
esta sexta-feira (desde as seis da tarde de quintafeira até ás seis da tarde da sexta), abrange todo o
desenrolar
dos
acontecimentos:
última
ceia,
julgamento, crucificação e enterro.
Curiosamente, a Crucifixão
de Jesus é uma «prova» da
existência de Jesus, pois
«se,
portanto,
os
primitivos cristãos levam
séculos a aceitar a ideia de
que o seu Deus tenha
morrido sobre uma cruz,
como pensar que este modo
de morrer seja inventado,
no mito, pelos próprios
cristãos?»,
(MESSORI,
Vitorio – Hipóteses cobre
Jesus).
Quanto à Ressurreição ela
ultrapassa,
como
é
compreensível, o âmbito da
história, pois situa-se para
lá dela, isto é, escapa à
verificação pelos meios que a
história se serve na sua
investigação.
Mais à frente, iremos
voltar ao tema do
«Processo e Morte de
Jesus».
3. O Evangelho de Jesus Cristo
3.1. – Jesus de Nazaré:
um Messias
diferente do esperado
Flávio Josefo fala-nos no ambiente que se vivia logo após a pregação de Jesus: marcado pela obsessão pela
libertação do jugo romano, aparecendo numerosos «pretensos» Messias, que levava a lutas armadas.
Bastará dois exemplos para se
ter uma ideia do clima que se
vivia:
«Na época de Fado (4446d.C.(),
administrador
da
Judeia, um impostor chamado
Teudas
convenceu
grande
número de pessoas a tomarem
os seus bens e seguirem-no até
ao Jordão. Afirmava que era o
profeta e dizia que às suas
ordens se abririam as águas do
rio e lhes ofereceriam uma
passagem fácil. Dizendo isto,
enganou muitas pessoas»;
«Os impostores e sedutores
convenciam
as
pessoas
a
seguirem-nos até ao deserto.
Afirmavam que lhes mostrariam
prodígios e sinais bem claros,
devidos
à
providência
de
Deus».
Os
próprios
evangelhos
testemunham este clima em
muitas ocasiões; João Baptista
pergunta: «És Tu o que há-de
vir ou devemos esperar outro?»
(Mt 11, 4). Enfim, é evidente
que quando Jesus prega a
expectativa
é
intensa
e
generalizada.
O MESSIAS ESPERADO. Todos esperavam que a situação de domínio estrangeiro,
de injustiça acabaria com a vinda do Messias. Palavra hebraica que equivale à
grega Christos; ambas significam ungido, isto é, aquele sobre cuja cabeça foi
derramado óleo com um significado concreto. Inicialmente equivalia a rei, pelo
facto de se ungir quem era escolhido para este cargo (o Messias era o rei
daquele momento, Saúl ou David); depois designar-se-á esta expressão para
um membro da dinastia de David e finalmente para indicar o rei ideal que
«há-de vir», a quem se dará o título de filho de David ou de filho de Deus. A
esperança da salvação põe-se na dinastia de David: um rei, filho de David, a
quem se pode chamar «filho de deus» porque o próprio Deus o disse
(«Suscitarei depois de ti um filho teu, que nascerá de ti e consolidarei o seu
reino. Eu serei para ele um pai e ele será para Mim um filho» (2 Sam 7, 1216); será o salvador. Contudo, esperavam-se vários tipos de Messias: 1) Um
profeta como Moisés e Elias: Messianismo profético; 2) Um rei como David ou
Salomão: Messianismo régio; 3) Um sacerdote como Aarão: Messianismo
sacerdotal; 4) Um “enviado”, “anjo de Jahweh”: Messianismo apocalíptico.
Enfim, um Messias triunfante e espectacular, que pela força libertaria Israel
do jugo dos romanos e dos outros impérios.
JESUS, UM MESSIAS DIFERENTE DO ESPERADO. Ninguém esperava um Messias
humilde, nem uma presença real de Deus na história concreta dos homens. Jesus
renuncia ao uso da força, quer militar, quer pela ostentação esmagadora da
omnipotência de Deus, obrigando todos a crer. A força necessária para a
libertação do homem nasce livremente no próprio coração humano solidário. Jesus
não alimenta o nacionalismo judaico, nem incita à revolta contra os romanos; a
mudança é a partir da conversão interior de cada um, que produzirá bons frutos.
3.2. – A Mensagem de Jesus:
o Reino de Deus
O Jesus histórico não pregou sistematicamente sobre Si mesmo, nem Se anunciou como Filho de Deus, nem
ouviram nenhuma definição de Sua identidade por Si próprio: a Sua mensagem centra-se no REINO DE DEUS.
REINO DE DEUS e REINO DOS CÉUS (como lhe chama o Evangelho de São Mateus) é a
mesma coisa: a diferença está em que o Evangelho de São Mateus dirige-se para os judeus e
eles nunca pronunciam o nome de Deus.
O que é o
REINO DE
DEUS?
Jesus prega que a vinda do Reino de Deus está próxima ou iminente; esta é a tónica da Sua
pregação, especialmente da Sua primeira pregação. Deus está prestes a actuar de forma
definitiva na história: separa-se de João Baptista, porque Deus não é um exterminador, mas
dá sempre oportunidades ao pecador.
O REINO DE DEUS é o próprio DEUS: não significa que é um «Reino que pertence a
Deus», mas o Reino é o próprio Deus. O Reino de Deus está vinculado à pessoa de Jesus: a
pertença ao Reino de Deus liga-se á aceitação desta pregação que Jesus faz.
O REINO NÃO É UM TERRITÓRIO, O REINO EXCEDE O HISTÓRICO: não é uma instituição, não é uma
teocracia… não é um reino como os da terra, não é uma realidade do outro mundo, situado para além da morte,
o céu; o Reino começa já aqui, não é uma realidade histórica nos sentido do termo, nem extra-histórica: ele
começa já, está entre nós: é o já (está entre nós) e o ainda não (só alcançará a sua plenitude na outra vida);
«O reino de Deus não vem de maneira ostensiva. Ninguém poderá afirmar: Ei-lo aqui ou ali, pois o reino de Deus
está dentro de vós» (Lc 17, 20-21); não é só espiritual, mas afecta toda a realidade do homem;
O REINO NÃO É UMA IMPOSIÇÃO, É «GRATUITO», é uma Boa Notícia, Boa Nova, proposta que exige
participação; os primeiros destinatários são os pobres (marginalizados, viúvas, órfãos, doentes, publicanos,
prostitutas…), é a CAUSA DOS POBRES; os pobres não são aqueles que não tem dinheiro: rico é aquele que se
considera satisfeito, segundo os seus cálculos e nada espera dos outros; pobre é aquele que viu frustradas todas
as suas esperanças e desiludidos de tudo, aproximaram-se de Deus,«investindo» n’Ele toda a sua esperança. O
REINO É SALVAÇÃO: não só para o outro mundo, mas começa já, com a alegria de se ser perdoado por Deus e
saber que Ele é nosso Pai. Vem para todos e gratuitamente; resta que o homem o acolha. Nas bem-aventuranças
vemos bem patente essa dimensão dos pobres. A CAUSA DE JESUS é o REINO.
3.2. – A Mensagem de Jesus:
o Reino de Deus
O Reino não se limita ao religioso: diz respeito a todas as dimensões da realidade
da pessoa: social, política, etc. O Reino de Deus é uma nova ordem iniciada com
Jesus: nela não haverá pobres nem oprimidos, nem pecado, todos serão irmãos…
Jesus não quer «consertar» o mundo velho, propõe uma mudança de valores, de
forma de pensar e de actuar: Não se pode deitar vinho novo em odres velhos.
A realidade do reino anunciado por Jesus supõe uma denúncia do velho funcionamento do mundo, uma exigência
de mudança; é preciso eliminar tudo o que se opõe a Deus e ao homem.
Jesus muda a cosmologia, a forma de pensar globalmente o mundo dos seus contemporâneos: denuncia como
injusto um sistema duplo, horizontal com os homens e vertical com Deus; Deus deve ser tudo e em todos, o
religioso e o social são faces da mesma moeda.
Jesus muda o conceito de Deus; não é o que exige ser adorado somente em Jerusalém, nem o controlador do
comportamento humano até aos ínfimos pormenores; a relação com Deus não se apoia unicamente no Templo e na
Lei, mas sobretudo no amor que imita o amor gratuito e desinteressado de Deus.
A vida humana deve ser compreendida como um dom, como um presente que é dado e deve dar-se. E a essência
da vida é ser capaz de aceitar este dom, viver tudo na perspectiva da dimensão do acolhimento.
Fixa um novo critério para avaliar as leis: se tem em conta as necessidades humanas, se ajudam o homem a ser
feliz, se tornam possível o amor, aceita-as; para Jesus, não é a Lei que dá a felicidade à pessoa, mas o amor;
Jesus altera leis como a pena de morte para os adúlteros, a poligamia e a Lei da observância do sábado.
O predomínio do interno sobre o externo, da sinceridade interior sobre as aparências.
Propõe a solidariedade universal; os laços vão para além da família, grupo ou raça;
Jesus relativiza o dinheiro; é necessário, mas denuncia o apego a ele; modifica o poder e denuncia o prestígio.
A única forma de participar no Reino é tornarmo-nos crianças, prescindir das máscaras e actuar a partir do
impulso interior que está estreitamente unido a a Deus. O homem novo é o homem das Bem-aventuranças (Mt 5-7).
3.2. – A Mensagem de Jesus:
o Reino de Deus
A SÍNTESE DAS BEMAVENTURANÇAS
No texto do Sermão da Montanha (Mt 5-7) apresentam-se as Bemaventuranças (Mt 5, 3-12); não devem ser tomadas como um conjunto de
leis, mas como um Evangelho: aquilo que salva não é a lei, mas o amor. A
mensagem fundamental é que todos são dignos de amor e ninguém deve
estar a nenhum sistema, seja social, político ou religioso. Na base do
Sermão da Montanha está o homem novo liberto do egoísmo, está o amor
como fonte de felicidade. São uma síntese da sociedade proposta por
Jesus, frente à que denuncia e considera injusta; esta assenta na riqueza,
no prestígio, e no poder; a sociedade do Reino de Deus está alicerçada
sobre a pobreza voluntária, o amor e serviço fraterno, dá garantia de
desenvolvimento humano de todas as pessoas e não só de algumas.
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles
é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão
consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque
alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a
Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão
chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa
da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados sereis quando vos insultarem, vos
perseguirem e, mentindo, disserem toda a espécie de
calúnias contra vós.
Alegrai-vos e exultai,
porque será grande a vossa recompensa nos céus.
Para isso deve-se denunciar a injustiça e não se conformar ao
sistema opressor; para isso deve-se optar pela pobreza, que se
traduz em renúncia e fidelidade a essa renúncia (felizes os
perseguidos). Assim, os oprimidos ver-se-ão libertos da
opressão, pois os que sofrem encontrarão consolação, os
humildes herdarão a terra (a Terra Prometida ou o Reino de
Deus) e os que têm sede de justiça serão saciados. Na nova
sociedade haverá solidariedade activa, sinceridade de coração e
cada qual se ocupará em trabalhar pela felicidade das pessoas.
Esta forma de se relacionar incide na relação com Deus.
O REINO DE DEUS É POSSÍVEL SE HÁ CONVERSÃO
DE CORAÇÃO E NOVA MENTALIDADE. É-se
discípulo de Cristo na medida em que se é, pessoal e
comunitariamente, factor de mudança por se ser
testemunha viva do Ressuscitado.
3.3. – A experiência de Deus
como Pai
Jesus era uma pessoa acostumada à oração; todo o dia era passado na
presença de Deus; rezava em todos os lugares, momentos, orava com todo
o corpo, em todas as ocasiões, especialmente as que se revestiam de uma
carácter importante na Sua missão (transfiguração, antes do Baptismo,
antes da Sua prisão…). Na Sua oração descobre o rosto de Deus.
1º
2º
3º
O Deus de Jesus não está longe dos seres humanos, não está no
alto, mas sim comprometido com a história humana e com os
humilhados da sociedade; não se pode chegar a deus abandonando o
maltratado que está á beira do caminho (Lc 10, 31).
O Deus de Jesus não é manipulável, Ele é o totalmente Outro, não se pode dizer que
se pode «ter» ou «possuir» Deus se fizermos determinadas coisas; este foi um dos
erros dos fariseus.
O Deus de Jesus está próximo de nós; enquanto que para os contemporâneos de Jesus,
Deus é Aquele que não pode ser sequer nomeado, para Jesus é alguém tão próximo
como o pai da parábola do Filho Pródigo (Lc 15, 11-32). Ama os filhos por serem
filhos. Deus é bondoso, não é o Juiz castigador que alguns diziam, mas também não é o
«deixa-andar», mas é o Pai que ama os filhos e chama-os à atenção quando deve.
«Rezai, pois, assim:
'Pai nosso, que estás no Céu,
santificado seja o teu nome» (Mt 6, 9)
E dizia: «Abbá, Pai, tudo te é possível;
afasta de mim este cálice!» (Mc 14, 36)
3.4. – O seguimento
A MISSÃO DOS SEGUIDORES. No antigo Israel era normal os mestres e
pregadores rodearem-se de um grupo de seguidores mais próximos ou
discípulos. Diferente de outros mestres, Jesus chama os discípulos; há um convite
expresso, uma vocação. Jesus toma a iniciativa, convida-nos. Jesus chama-os para
compartilhar a missão de proclamar a chegada do Reino de Deus. Jesus também se
diferencia dos outros por admitir mulheres no discipulado
O GRUPO DE DISCÍPULOS. Podem estabelecer-se três círculos concêntricos para descobrir os seguidores de
Jesus. 1º - O grupo dos apóstolos, doze segundo a tradição; 2º - Formado pelos discípulos que em número
indeterminado seguiam habitualmente Jesus; uma vez envia a 72 com missões especiais; 3º - Grandes multidões
que em algum momento seguiam a Jesus. No grupo de discípulos havia homens e mulheres, casados e solteiros,
pessoas de diferente nível de vida, de diferentes ideologia e de diversas procedências. O grupo era numeroso e
plural, reagindo de forma diversa; são uma representação de todos os seguidores de Jesus de todas as épocas.
Mais do que serem 12 apóstolos, o facto é que 12 é teologicamente simbólico: com ele, Jesus dá a entender que
os novos tempos messiânicos começaram, a formação do novo Povo de Deus, da sua totalidade. Deus formava um
novo povo, uma nova aliança, uma nova história.
Jesus chamou para discípulos mais próximos: dois irmãos
de Betsaida: Simão (chamado de Pedro) e André; o
primeiro era casado e residia em Cafarnaum. Outros dois
irmãos seriam os filhos de Zebedeu, «filhos do trovão»,
Tiago (o Maior) e João. Os quatro eram pescadores. O
seguinte foi Mateus, cobrador de impostos, com banca
em Cafarnaum. Depois juntaram-se: Filipe, Bartolomeu
(ou Natanael), Tomé, Tiago, filho de Alfeu (o Menor),
Judas Tadeu, Simão, o Cananeu ou o Zelote e Judas
Isacriotes. Entre as mulheres que seguiam Jesus, os
Evangelhos citam o nome de algumas: Maria de Magdala,
Susana, Joana (mulher de Cusa, administrador de
Herodes), a mãe dos Zebedeus e Maria (irmã de Marta).
AS INSTRUÇÕES DE JESUS. Nelas pode perceber-se as
linhas mestras que devem presidir a toda a comunidade de
crentes cristãos: Radicalidade e renúncia: deixar tudo para o
seguir, sabendo que não será um «mar de rosas»; Amor
gratuito, incondicional e perdão a todos (inclusive com o
inimigo); Iniciativa em fazer o bem: «Tudo o que quiserdes
que os outros vos façam, fazei-o vós também», a regra de
ouro; Se Deus é nosso Pai, somos todos irmãos; A oração
deve alimentar a vida do discípulo; O verdadeiro discípulo
preocupa-se em fazer a vontade de Deus. Não são leis, mas
resposta de amor ao chamamento de amor feito por Deus; ser
discípulo de Jesus é exigente e supõe renúncias.
4. Os milagres de Jesus
4. – Os milagres de Jesus
1 É um dos pontos que mais nervosismo, estranheza e sorrisos provoca no leitor actual dos evangelhos. Na
Modernidade colocou-se em causa os textos do NT, sobretudo por causa dos milagres, considerados
incompatíveis com a razão. Um sábio, por exemplo, perante um fenómeno que não pode explicar, dirá: «Este
fenómeno é inexplicável com o conhecimento que possuo na minha ciência»; apenas com a fé, enquanto crente,
poderá ver aí um milagre, uma intervenção salvadora de Deus na história.
2 CONCEITO ACTUAL DE MILAGRE: o homem actual costuma chamar «milagre» a um acontecimento
extraordinário que não se pode explicar do ponto de vista das ciências (factos saem das leis naturais
estabelecidas pela ciência) e é atribuído, pelo menos por alguns, a uma intervenção especial de Deus.
3 CONCEITO BÍBLICO DE MILAGRE: nos relatos da bíblia não se põe o problema de cumprimento ou não
das leis da natureza, mas se «se vê» a ajuda salvadora de Deus; o crente interpreta determinado acontecimento
surpreendente (mesmo que não contrário às leis naturais) como sinal da acção salvadora de Deus. Por exemplo,
toda a ordem da natureza, nos seus processos mais incompreensíveis como o da germinação das plantas, participa
do milagre: Deus é o autor dessa transformação. O conceito bíblico dá o valor ao divino (intervenção de Deus) e
o conceito actual dá mais valor ao extraordinário.
4 TIPOS DE MILAGRES: constatam-se os seguintes: curas, exorcismos, milagres sobre a natureza
(transformação da água em vinho, a multiplicação dos pães e dos peixes, a pesca milagrosa, Jesus a caminhar
sobre as águas, a tempestade acalmada, a maldição da figueira, etc); «Ressurreições» (de três pessoas: filha
de Jairo, Mt 9, 23-26; filho da viúva de Naim, Lc 7, 11-17; Lázaro, Jo 11, 1-44)); Concomitantes, isto é,
aqueles que acompanham a vida de Jesus, mas que não são realizados por Ele noutra pessoa (exemplos:
concepção virginal, vozes divinas no Seu baptismo, transfiguração, fenómenos no momento da Sua morte,
ascensão, etc).Segundo o sujeito que os realiza há vários tipos: milagres que Deus faz directamente em Jesus (a
concepção virginal, a transfiguração e a Ressurreição); milagres que Deus faz através de Jesus (as curas,
exorcismos, ressurreições de mortos e de superação dos elementos); e milagres que fazem os apóstolos e a
Igreja (por exemplo, a Eucaristia). Há nestes milagres uma progressão, em que deus age directamente na
história, em que Deus opera milagres em Jesus Cristo e em que a Igreja também faz milagres.
4. – Os milagres de Jesus
5 UMA PALAVRA SOBRE AS «RESURREIÇÕES»: as «ressurreições» que
Jesus operou são diferentes do grande milagre da Ressurreição de Jesus; naquelas é
mais correcto falar de «revivificações», pois Lázaro, a filha de Jairo e o filho da
viúva de Naim, voltaram à mesma vida que anteriormente tinham, acabando por
morrer mais tarde; a Ressurreição de Jesus significa a passagem para a vida plena e
definitiva
6 OS MILAGRES FORA DA BÍBLIA: relatam-se alguns milagres atribuídos
pelas tradições a personagens célebres, como Zaratustra, Buda e Mamomé, a alguns
imperadores romanos, etc. No tempo em que Jesus vivia os milagres não tinham todos
a mesma reputação: podiam ser atribuídos à boa acção de um deus, ou à acção do
demónio; tudo o que era fora do comum era milagre.
7 OS MILAGRES SÃO INSEPARÁVEIS DA MENSAGEM DE JESUS: por exemplo, há milagres
realizados em dia de sábado para escândalo dos judeus (Mc 3, 1-16), Jesus purifica um leproso, privilégio dos
sacerdotes (Mt 8, 2-4); por vezes são sinais de contradição, por exemplo, Jesus e acusado de expulsar os
demónios pelo chefe dos demónios (Mc 3, 22), etc.
8 OS MILAGRES COMO SINAIS: Jesus faz milagres, mas a Sua preocupação fundamental não é curar ou
fazer coisas surpreendentes, ou querer demonstrar que é Filho de Deus (na verdade, muitas vezes pede que não
se divulgue o milagre que acabou de operar); Ele não é um curandeiro, nem os faz só para os outros verem: se
assim fosse, teria feito milagres quando Herodes o pediu (cf. Lc 23, 8), quando O demónio o tentou no deserto
(cf. Lc 4, 3-12), quando pedem que Ele desça da Crus e Se salve a Si próprio (cf. Mt 27, 42), etc. A finalidade
dos milagres é proclamar que onde Deus exerce o Seu reinado o homem salva-se; são sinais reveladores da
presença e acção de Deus, cuja finalidade é suscitar a Fé naquele que contempla o mesmo e suscitar a mudança e
conversão. São SINAIS que devem ser entendidos e interpretados para que ganhem o seu significado autêntico:
ninguém se converte por causa de um milagre, mas pelo que crê que esse milagre significa. Os milagres são
SINAIS da presença do Reino.
5. Reacções perante Jesus e a Sua
Mensagem
5. – Reacções
Jesus inicialmente tem êxito; é seguido em virtude dos sinais, pela pregação da chegada iminente
do Reino de Deus. Porém, a pregação de Jesus começa a provocar conflitos. 1º A chegada do
Reino de Deus supõe o fim da estrutura religiosa sobre que se apoia Israel: a Lei e o Templo;
isto não agrada ao judaísmo; 2º - O reino chega com Jesus; mas Jesus não conseguiu convencer
as autoridades da legitimidade da sua missão, que o declararam um impostor; 3º - O Reino de
Deus é oferecido a todos; cabe a cada um acolhê-lo. Jesus assume o conflito quando decide
subir a Jerusalém; o Messias havia de se manifestar em Jerusalém. As autoridades condenamn’O. A atitude adoptada por Jesus a respeito da Lei, do templo, dos poderosos de todo o género
e, em geral, de tudo o que escravizava o homem obscurecendo o rosto de Deus, conduziram-n’O
a uma confrontação com os poderes de Israel.
JESUS PERANTE A LEI E
PERANTE A RELIGIÃO:
Coloca em causa a observância
das leis da pureza ritual:
«Nada há fora do homem
que, entrando nele, o possa
tornar impuro. Mas o que sai
do homem, isso é que o torna
o homem impuro» (Mc 7, 11).
Para o judeu, a Lei (Torá= ensino ou «instrução» contido no Pentateuco)
era de extrema veneração: rodeada de inúmeras interpretações
minuciosas (mandamentos chegam a 613), com casuística elevada; como
sinais externos de apego à Lei, alguns usam filactérias, espécie de fitas
e caixinhas onde escreviam frases da Lei, para dizerem que a tinham na
fronte ou no coração; os fariseus eram o grupo que mais se distinguia por
cumprir a lei de forma escrupulosa, o que levava a um ritualismo,
formalismo, visão legalista, sendo o pecado uma transgressão à Lei.
Acima da lei e da tradição oral, está o cumprimento da vontade de Deus e a
atenção á pessoa; a Lei tem sentido na medida em que está ao serviço do
homem: «O sábado foi feito por causa dos homens e não o homem por causa do
sábado» (Mc 2, 27). Denuncia o ritualismo externo e o legalismo moral quando se
tratava de cumprir a Lei: ficavam-se na letra sem ir ao encontro da Lei (para os
fariseus, Deus era um contabilista que apontava todas as faltas em contacorrente!). A regra fundamental é a do amor ao próximo, inclusive aos inimigos,
doutrina exclusiva de Jesus. O Deus de Jesus não é o dos fariseus: Deus não
pode ser encerrado em leis, ritos, a religião ou ideologia.
5. – Reacções
JESUS PERANTE
O PODER
POLÍTICO:
JESUS PERANTE
A SOCIEDADE:
Jesus não se esforçou por agradar ao poder político, nem por suavizar as Suas
palavras, sem medo e sem Se curvar perante ele. Contudo nunca pretendeu ser
um Messias político. Jesus adopta uma posição face ao poder público que o
assemelha aos zelotes: não aceita nenhuma autoridade superior à de Deus; «Dai
a Deus o que é de Deus», isto é, Jesus não reconhece nenhum direito divino a
César. Contudo, não proíbe explicitamente que se lhe pague o tributo, o que
decepcionará os zelotes, mas critica o poder absolutista de César, pondo em
perigo a Sua autoridade sobre a Palestina.
Jesus não se detém perante as ameaças de Herodes Antipas, a sua autoridade
civil, a quem classifica de raposa (Lc 13, 32); observa a Pilatos que a autoridade
vem do alto (Jo 19, 11) e não receia criticar qualquer autoridade totalitária:
«Os chefes das nações governam-nas como senhores absolutos e os grandes
oprimem-nas com o seu poder. Não seja assim entre vós» (Mt 20, 25-26).
A Sua posição tornava-se perigosa perante as autoridades e ao mesmo tempo
decepcionava o movimento zelote.
Jesus adopta um acento crítico contra a injustiça social reinante; ameaça os
ricos e poderoso que comem e riem enquanto ao seu lado há pessoas que choram
e passam fome (Lc 6, 24-25).
«Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Lc 16, 13). Não se expõe nenhum
programa social, mas trata de transformar o coração das pessoas e de que
estas se convertam.
Não admira que o desenlace fosse fatal!
6. Processo e Morte de Jesus
6. – Processo e Morte de
Jesus
A morte de Jesus pode ser vista por dois pontos de vista: histórico ou teológico. Aqui vamos ver na perspectiva
histórica: por que mataram Jesus? Como surgiram o julgamento e a morte de Jesus?
A Sua morte violenta foi consequência da pretensão que tinha caracterizado a Sua vida e lhe tinha provocado
uma oposição cada vez mais cerrada das autoridades judaicas; Jesus previa a Sua morte, mas não tinha a
certeza absoluta dela; mas assumiu o seu fim; a morte violenta não foi imposta por um decreto divino, mas obra
de homens concretos. A morte de Jesus foi procurada por Ele próprio; podia Jesus ter-Se livre da morte? Sim.
Mas Jesus vai ao encontro da morte porque a Sua relação de fidelidade com o Pai a isso obriga; é consequência
da Sua actuação: esta é tal que as estruturas do pecado do mundo não a pode suportar e teve de ser eliminado.
Por que foi condenado Jesus? Por dois motivos, que se relacionam com as estruturas: condenado por blasfemo
por apresentar um Deus diferente do pregado pela religião oficial; os poderes religiosos perceberam que Jesus
pregava um Deus oposto ao Seu; as autoridades políticas romanas condenam-n’O como rebelde político.
Temos o relato bem testemunhado nos evangelhos da EXPULSÃO DOS NEGOCIANTES DO TEMPLO; e temo-lo
numa relação com a morte de Jesus, «desde então, queriam matá-lo». Temos testemunhado a união de três
palavras: Jesus – templo – destruição (acusado de tentar destruir o Templo e reedificá-lo em três dias, «não
ficará pedra sobre pedra», é como atacar Deus; para os judeus, Deus é só um e vive no Templo; destrui-lo é
atacar uma verdade fundamental da religião judaica.
Caifás está perante um dilema: Jesus é o Messias e com Ele chega o Reino
messiânico ou não; se a palavra de Jesus diz é Palavra anunciada por Deus, Jesus
é um profeta verdadeiro e o Reino messiânico chegou; caso contrário, Jesus é um
falso profeta e deve morrer (cf. Dt 18, 18-20). Converter-se ao que Jesus dizia
era muito difícil: assim Jesus teve de morrer! Perante Pilatos, este considera-O
inocente, mas condena-o.
Depois da condenação, Jesus é levado fora dos muros de Jerusalém para ser crucificado (dentro não se podia executar ninguém); é-lhe
posto ao pescoço a causa da condenação (o «titulus», neste caso «rei dos judeus); depois carrega o tarvessão da cruz (patibulum) com
peso de 50kgs, percorreu mais de 600 metros até ao Lugar do calvário; lá já estava o madeiro vertical ou «stipes»; seria pregado
pelos pulsos ao travessão.
7. A personalidade de Jesus
7. – A personalidade de
Jesus
O inquérito histórico não termina nos dados cronológicos, geográficos e exteriores da existência de Jesus.
A atitude de Jesus a respeito do Templo de Jerusalém e da Lei judaica é paradoxal: Por
um lado, como bom judeu, respeita em grande número as prescrições; afirma que não veio
revogar a Lei, mas levá-la à perfeição (Mt 5, 17); Por outro lado, toma estranhas
liberdades, em particular no que concerne à observação do sábado; de modo radicalmente
diferente, desenha a paisagem legal, relativiza determinadas práticas e coloca no centro
da gravidade os mandamentos essenciais do amor de Deus e do próximo.
Quando Jesus fala da Lei, não fala como um escriba ou rabino que propõe comentários;
fala em pé de igualdade, com autoridade; reivindica até o direito de a corrigir, levando-a
mais longe; por exemplo: «Ouvistes o que foi dito aos antigos…» e «Eu, porém, digovos…»: esta Sua PRETENSÃO é exorbitante porque a palavra de Moisés era considerada
expressão privilegiada da própria Palavra de Deus.
Jesus também pretende perdoar os pecados: uma vez ao paralítico da Cafarnaum e outra vez à pecadora em
casa de Simão, o fariseu (Mt 9, 1-9 e Lc 5, 17-26); ora, só Deus pode perdoar os pecados; por isso Lhe
disseram que blasfemava. Uma tal reacção garante-nos a autenticidade histórica da cena.
Do mesmo modo Jesus convida a deixar tudo para O seguir: a atitude que se toma a Seu respeito é a mesma
que se tem por ou contra Deus; esta pretensão só é legítima se provem do próprio Deus.
Jesus reivindica uma relação única com Deus a quem chama de Seu Pai (Mt 11, 27), Abba (papá). Jesus nunca
Se denominou Filho de Deus, mas o Seu comportamento e palavra revelam a reivindicação de uma autoridade
inaudita.
O critério de rejeição e de condenação á morte é aqui válido: a pretensão de Jesus é de tal modo contraditória
com o ensino corrente do judaísmo que não podia ter sido inventada pelos redactores; além do mais, são
mostrados os episódios «desfavoráveis» a Jesus, como comer com os publicanos, os sofrimentos da paixão, o
morrer numa cruz como um criminoso, etc.
8. Bibliografia recomendada
(E.F.C. 1)
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