XII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

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XII Domingo do Tempo Comum (Ano C)
O texto – Lc 9,18-24
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Aconteceu enquanto orava em particular;
estavam com Ele os discípulos
e perguntou-lhes:
«QUEM DIZEM AS MULTIDÕES QUE
EU SOU?».
Respondendo, disseram:
«João Baptista;
outros,
Elias;
outros, um dos antigos profetas
que ressuscitou»
Disse-lhes:
«E VÓS, QUEM DIZEIS QUE
Respondendo, Pedro disse:
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EU SOU?»
O CRISTO DE DEUS».
Ameaçando-os,
ordenou-lhes que a ninguém dissessem ISTO,
e dizendo:
«É PRECISO que o
FILHO DO HOMEM
SOFRA MUITO,
SEJA REJEITADO PELOS ANCIÃOS,
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PELOS SUMOS-SACERDOTES
E PELOS ESCRIBAS,
SEJA MORTO
E NO TERCEIRO DIA RESSUSCITE».
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Disse a todos:
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Breve comentário
Se alguém quer vir
após mim,
renegue-se a si mesmo,
tome
a sua cruz,
TODOS OS DIAS,
e siga-me.
Pois, quem quiser SALVAR a sua vida
há-de perdê-la;
mas, quem perder a sua vida por causa de mim
há-de
SALVÁ-la.
O texto de hoje, à primeira vista, apresenta-se como um paralelo de Mc 8,27-35. Porém, uma análise
mais atenta permite-nos ver o retoque que Lucas dá ao texto, inserindo-o na sua teologia.
Não nos é dito o lugar, como em Marcos, que coloca o episódio a caminho de Cesareia de Filipe.
Simplesmente, Jesus está em oração, em particular, rodeado pelos discípulos. Lucas apresenta sempre
Jesus a rezar antes dum momento importante (cf. Lc 5,16; 6,12; 9,28-29; 10,21; 11,1; 22,32.40-46; 23,34).
É neste ambiente de intimidade com o Pai e os discípulos, e prestes a iniciar o seu «caminho» para
Jerusalém, onde irá levar a termo a sua missão, que surge a pergunta: «Quem dizem as multidões que Eu
sou?». Os discípulos dão-lhe conta do que tinham ouvido por aí: «João Baptista; outros, Elias; outros, um
dos antigos profetas que ressuscitou». As multidões não descobriram a essência da pessoa de Jesus, não
são capazes de abrir-se à novidade de Deus, limitando-se a esquemas do passado distante ou recente –
Jesus é João Baptista (que já tinha morrido), Elias (na linha do profeta Malaquias) ou um dos antigos
profetas que ressuscitou. As respostas não satisfazem.
Desde a queda de Jerusalém em 587 a.C. que o povo judeu viveu sob o domínio estrangeiro, até que no
ano 141 a.C. a luta dos Macabeus teve êxito e conseguiu a independência desejada. Porém, as lutas
internas enfraqueceram o poder e terminam com a chegada dos romanos à região. O general Pompeu
anexou a Judeia a Roma no ano 63 a.C.. Com o decorrer dos anos, o desejo da independência voltou a
crescer e a desejar o Rei-Messias que restaurasse definitivamente o reino de Israel. Nesta esperança,
parece que Jesus não apresentava as características dum chefe político e guerreiro. Não é entendido como
o Messias, mas como um precursor do Reino, na linha profética. Seria o Elias, o profeta por excelência que,
conforme o final do livro de Malaquias e a crença popular, viria antes do Messias.
Depois de ter feito uma sondagem genérica, a pergunta é dirigida também ao grupo dos discípulos («E
vós, quem dizeis que Eu sou?»). Não podem escapar, pois fizeram em conjunto com o Mestre um longo
caminho e há coisas que viram nele e que aprenderam com ele. Mas só Pedro, como representante dos
outros e da fé cristã, respondeu: «O Cristo (Messias) de Deus», o ungido que o povo de Israel esperava.
Jesus aceita o título, mas está consciente da carga nacionalista e gloriosa que tal conceito tem na
mentalidade judaica da época, e também para os seus discípulos, pelo que proíbe que isto seja divulgado.
Jesus é o Cristo, mas quer esclarecer a sua missão e o caminho para chegar à glória, à vitória. Mais
tarde irá perguntar aos discípulos de Emaús: «Não devia o Cristo sofrer tudo isso e entrar na sua glória?»
(24,26). Por isso, esclarece: o projecto de Deus («é preciso») para o reino e a libertação dos homens passa
pelo dom da sua vida entregue por amor, passa pela cruz («Este é o rei dos judeus»: 23,38) para chegar à
vida pela ressurreição.
Este caminho é uma escolha que se impõe «a todos» os que querem seguir Jesus, não apenas a alguns.
Não existe um termo intermédio. E não se trata somente da aceitação das contrariedades da vida (a nossa
cruz), mas da renúncia ao orgulho («renegar-se a si mesmo») e duma vida de doação, de amor e de
entrega («a cruz de Jesus»), não de vez em quando, em circunstância especiais, mas «todos os dias». É
nesta escolha fundamental por Jesus («por causa de mim») que se pode «salvar a vida».
P. Franclim Pacheco
Diocese de Aveiro
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