Jesus Cristo, ontem, hoje e e sempre I

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Formação básica na fé:
Jesus Cristo: ontem, hoje e sempre
Escola de
Dirigentes
Centro
Pastoral Paulo
VI
«Meu Senhor
e meu Deus!»
Jo 20, 28
Formação básica na fé:
Jesus Cristo: ontem, hoje e sempre
Sumário:
I – Jesus de Nazaré, vida e obra
II – O Mistério Pascal: paixão, morte e ressurreição de
Jesus Cristo
III – Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem
IV – Quem é Jesus?
Bibliografia recomendada
I – Jesus de Nazaré: vida e obra
«Jesus partiu
com os
discípulos para
as aldeias de
Cesareia de
Filipe. No
caminho, fez
aos discípulos
esta pergunta:
«Quem dizem os
homens que Eu
sou?»
Mc 8, 27
1. A investigação moderna acerca
de Jesus de Nazaré
1.1. – Breve história da
investigação sobre Jesus
A CRISTOLOGIA explica a frase
«Jesus é o Cristo» (Walter Kasper).
A tensão que existe na Cristologia é
unir o Jesus histórico com o Cristo
da fé.
A Cristologia passou por duas grandes fases:
1. Antes do Vaticano II, deixa-se excessivamente na penumbra a
humanidade de Jesus (Cristologia dedutiva);
2. A Cristologia actual (genética), parte do Jesus histórico,
percorrendo o caminho que os discípulos fizeram, até
considerar Jesus como Filho de Deus. Ganha-se a consciência
mais vincada do lado humano de Jesus, que teve uma história
concreta, a qual pode e deve ser objecto de investigação pelas
várias ciências e métodos.
1.1. – Breve história da
investigação sobre Jesus
A história da investigação sobre Jesus de Nazaré pode ser
resumida em várias etapas:
1. ETAPA PRÉ-CRÍTICA. Durante muitos séculos (até ao século XVIII),
Jesus, Filho de Deus, foi objecto de uma fé quase sem problemas; as
coisas estavam claras: a verdade dos evangelhos identificava-se com a
verdade histórica.
2. «OLD QUEST» («velha questão»). A Idade Moderna regista
os maiores abalos à consciência cristã; quer pela negação da
divindade de Jesus, quer até pela negação da Sua existência
real. Começa-se a falar do Jesus histórico contraposto ao Cristo
da fé, havendo entre ambos uma ruptura.
Reimarus
1694-1769
A questão inicia-se com Reimarus, que leva ao extremo a questão,
dizendo que os apóstolos eram apenas uns falsários, pois o Cristo da fé
pregado pela Igreja é uma fraude, é uma construção dos discípulos;
para ele, Jesus foi um Messias político que fracassou. Os seus escritos
foram publicados por um discípulo seu, G.E. Lewssing que os publicou
desde 1774 a 1778.
1.1. – Breve história da
investigação sobre Jesus
David Strauss
1808-1874
Whately
Strauss
escreve
a
Vida
de
Jesus
(1837),expondo que os discípulos criaram um
Cristo ideal e o mito é a ideia-chave para
entender os evangelhos.
Couchoud escreve o Mistério de Jesus, em 1924,
dizendo que Jesus é o produto dos sonhos das
primeiras comunidades cristãs.
Face ao radicalismo da negação da existência de Jesus
por alguns, Whately (futuro arcebispo anglicano de
Dublin), escreve em 1819 um livro cheio de humor:
«Dúvidas históricas sobre Napoleão Bonaparte»; o livro
foi escrito mesmo antes da morte de Napoleão!
Napoleão foi um mito e interpretou toda a sua história
de forma simbólica: isto para aqueles que diziam que
Jesus nunca existiu!
1.1. – Breve história da
investigação sobre Jesus
A exegese alemã, do séc. XIX, baseando-se nos progressos científicos e
literários, chegou a audaciosas conclusões nascidas do racionalismo. Com a
TEOLOGIA LIBERAL, pretendia-se escrever uma vida de Jesus a partir
das fontes «historicamente puras» e restabelecer a unidade entre o Jesus
da história e o Cristo da fé. A finalidade da escola liberal era despojar a
imagem de Jesus dos retoques acrescentados pelos dogmas cristológicos e
pelas interpretações da Igreja primitiva. Chegou-se à célebre formulação
da teoria da fonte Q (quelle).
Albert Scweitzer
Em 1905 escreveu que o balanço
dessa
investigação
tinha
sido
negativo, pois chamava a atenção
para o facto de que o que se atribuía
a Jesus não era mais que o reflexo
das ideias de cada um dos autores.
Desiludido como professor de NT,
decidiu aprender medicina e foi para
África tratar dos leprosos, como
algo mais prático.
A. Von Harnack
Escreve o livro «Vita Iesu
scribi nequit», ou seja não
se pode escrever uma vida
de Jesus, pois do ponto de
vista histórico nada podemos
saber d’Ele.
1.1. – Breve história da
investigação sobre Jesus
A TEOLOGIA EXISTENCIAL apoia-se na herança que recebeu da
teologia liberal do ponto de vista histórico-crítico; o seu precursor
é M. Kahler e o seu principal representante é Rudolf Bultmann
(teólogo e exegeta luterano alemão).
Para Bultmann o Jesus da história não pode ser realmente alcançado pela
pesquisa; Bultmann aplica a Formgeschichte («história das formas») aos
Evangelhos sinópticos e manifesta a originalidade do pensamento de São
Paulo e de São João. Embora não se possa saber, não é preciso, pois o
que importa é crer que Jesus de Nazaré o Cristo; a fé é algo que se joga
no âmbito da própria existência.
Com Bultmann termina a etapa da «Old quest»: assiste-se
a uma trajectória desde Reimarus que considera o Cristo da
fé como uma fraude até Bultmann que diz que o Cristo da
fé é o principal e o Jesus histórico é relevante, embora
pouco se possa saber acerca d’Ele.
Rudolf Bultmann
1884-1976
1.1. – Breve história da
investigação sobre Jesus
3. «NEW QUEST» («nova questão»). Esta fase postula que existe
entre o Jesus histórico e o Cristo da fé uma continuidade /
passagem e não uma ruptura, como fez a etapa anterior; a Páscoa
não é uma cortina que impede o acesso ao Jesus pré-pascal. Os
alunos de Bultmann acharam que o mestre tinha ido demasiado
longe. De facto, a história de Jesus é relevante para a nossa fé,
pois caso contrário a nossa fé seria um mito, uma fé inventada.
Ernest Kasemann
1884-1976
Esta fase teve início com Ernest Kasemann (exegeta luterano
alemão) numa conferência em 1954 («Problema do Jesus
histórico»).
Com
ele
dá-se
início
à
TEOLOGIA
POSTBULTMANIANA. O trabalho dos postbultmanianos, a
entrada das exegeses católica e anglicana na questão, o melhor
conhecimento da literatura judaica contemporânea de Jesus e da
comunidade primitiva, assim como dos seus procedimentos
exegéticos e literários, descobertas como as de Qumram, os
estudos de sociologia do cristianismo primitivo, etc., levaram a
esse resultado.
1.2. – A questão das fontes
(testemunhos sobre Jesus)
Jesus não escreveu, a não ser uma vez sobre a areia (Jo 8, 6-8); é necessário fazer o ponto da situação das
diferentes fontes que nos permitem conhecer a sua história: fontes pagãs; fontes judaicas; fontes cristãs
(retidas ou não no cânone); traços arqueológicos.
O Credo diz-nos que «padeceu sob Pôncio Pilatos»: esta afirmação estabelece uma ligação entre
a vida de Jesus e a história universal, situando com exactidão o tempo e o lugar de Jesus. As
fontes de historiadores pagãos são escassas: de facto, um obscuro canto do Império Romano (a
Palestina) era apenas uma zona marginal sem grande interesse! Dispomos de apenas três
testemunhos pagãos que remontam ao início do séc. II:
AS
FONTES
PAGÃS
1º
Numa
carta
dirigida ao imperador
Trajano, Plínio o Moço
(ou
Jovem)
(legado
desse
Imperador
na
Bitínia), no ano 112:
Plínio, o Jovem
«Eles afirmam que a sua falta, ou o seu erro
consiste apenas nisto: reúnem-se em data fixa
antes do nascer do sol, e cantam entre eles hinos a
Cristo como se de um Deus se tratasse;
comprometem-se por um voto, não a qualquer crime,
mas a não cometer nem roubo, nem lutas, nem
adultério, a não faltar à palavra, a não negar prisão
reclamada em justiça» (Cartas a Trajano, X, 96).
Tácito
2º - O historiador
Tácito, em 116 conta
que Nero, para se
libertar da acusação de
ter incendiado Roma,
«designou
como
culpados» desse crime
os
«cristãos»
e
condenou-os à morte:
«Este nome vem de Cristo que, no tempo
de Tibério, foi condenado ao suplício
pelo procurador Pôncio Pilatos. Reprimida
na altura, esta abominável superstição
aparece de novo, não somente na
Judeia, berço do mal, mas na própria
Roma» (Anais, 15, 44).
3º - Suetónio,
no ano 120, na
sua obra Vida
do
imperador
Cláudio, alude
a distúrbios na
colónia judaica
de Roma:
Suetónio
«Como os Judeus se sublevavam
continuamente pela instigação de
um certo Chrestos, ele [Cláudio]
expulsou-os de Roma» (25, 3).
Chrestos é uma deformação de
Christus (forma popular romana de
se referir a Cristo).
Este conjunto de textos, pobre, só nos permite concluir duas coisas:
1ª - Aquele que é chamado Cristo foi condenado à morte por Pôncio Pilatos, na Judeia;
2ª - Ele está na origem da «seita» dos cristãos a quem prestam culto.
1.2. – A questão das fontes
(testemunhos sobre Jesus)
AS FONTES
JUDAICAS
Flávio Josefo
1808-1874
AS FONTES
CRISTÃS
Testemunho
de
Flávio
Josefo,
historiador judaico do
séc. I, que faz três
alusões à história de
Jesus.
1ª - Diz respeito ao próprio Jesus, mas comporta um certo número
de afirmações, que se pensa terem sido uma adição posterior cristã:
reconhece Jesus como Cristo e a sua ressurreição.
2ª Diz respeito a João Baptista;
3ª Diz respeito ao martírio de Tiago (Antiguidades Judaicas, 18,
63-64; 18, 116-119; 20, 200).
A recolha de textos judaicos referentes a Jesus também é pobre. Há pesquisas recentes que
põem em relevo a dimensão propriamente judaica do rabi Jesus. Alguns procuraram identificar
alguma relação entre Jesus e os essénios, espécie de monges que viviam nas margens do Mar
Morto como sendo o seu «Mestre de Justiça» ou até o fundador da comunidade; para isso
concorre o facto de Jesus ter, no início do Seu ministério, passado pelo deserto: no entanto,
Jesus foi sobretudo um pregador, que contrasta nitidamente com a orientação silenciosa e
contemplativa da comunidade essénia.
Literatura canónica: a mais importante para nós (os escritos do NT, especialmente os quatro
evangelhos); do NT dispomos de uma grande quantidade de manuscritos em comparação com o
conjunto de manuscritos dos autores gregos e latinos da época, remontando alguns ao ano
150. Ao acesso aos evangelhos pode ser feito sob três pontos de vista: como obra histórica
(importante perceber as contradições, etc.); como obras literárias peças de literatura!); e
como obras teológicas (o crente vê neles uma mensagem de fé para a sua vida).
Literatura apócrifa: escritos que não fazem parte do cânone bíblico (considerados pouco
históricos ou demasiado tardios, ou continham elementos estranhos e não fiéis ao ensinamento
primitivo); são escritos dissimulados, falsos ou inautênticos. Exs: Evangelho de Tomé,
Protoevangelho de Tiago, Evangelho de Pedro, etc. O facto de serem «apócrifos» não lhes
tira a priori o seu valor histórico, embora no geral contenham interpretações especulativas
das Escrituras, ou desenvolvimentos lendários, etc. Mas se forem utilizados com prudência
podem dar indícios históricos ou comparações interessantes.
1.2. – A questão das fontes
(testemunhos sobre Jesus)
O CONTRIBUTO DA
ARQUEOLOGIA
Betsaida,
a terra
de Pedro,
André e
Filipe…
A arqueologia permitiu, nalguns casos, ir até mesmo ao séc. I.
Por exemplo, a Casa de Pedro, descoberta em Cafarnaum, cuja
configuração corresponde bem à descrição feita da cura do
paralítico, descido pelo telhado por uma enxerga. Trata-se
sempre de testemunhos indirectos da existência de Jesus, é
certo, mas com valor.
OS CRITÉRIOS DE HISTORICIDADE
É preciso utilizar o método adequado, além das fontes. A partir da apresentação que faz M. Quesnel, podemos
resumir um determinado número de critérios aplicados aos ditos e acções de Jesus:
Critério da dificuldade ou de contradição: se uma palavra ou gesto de Jesus contradiz a imagem que os primeiros
cristãos faziam dele, a Igreja não o pode ter inventado; por exemplo, o baptismo de Jesus por João parece
colocar Jesus em situação de inferioridade em relação ao Baptista;
Critério de descontinuidade ou de dupla diferença: o que não pode vir nem do judaísmo antigo nem das Igrejas
do século I, tem toda a possibilidade de remontar ao próprio Jesus; por exemplo, os discípulos abstinhamse de praticar o jejum, mas era prática corrente do judaísmo e retomado depois pelos cristãos.
Critério de atestações múltiplas: acontecimentos ou palavras atestados em diversas fontes ou tradições (por
exemplo, a pregação de Jesus sobre o Reino de Deus) têm maior garantia de conservar a história de Jesus;
Critério de coerência ou de conformidade: palavras ou gestos que são coerentes com os já confirmados; por
exemplo, a distância que Jesus toma a respeito de determinados preceitos legais está em coerência com a
distância ao interdito sábado.
Critério de condenação à morte ou rejeição; episódios da vida de Jesus que contribuíram para irritar as
autoridades judaicas e romanas e que conduziram à condenação à morte de Jesus (por exemplo, as
aclamações de realeza na altura dos ramos, o escândalo das mesas dos cambistas derrubadas no Templo).
Estes critérios exigem grande prudência na sua utilização; a sua convergência é particularmente significativa.
2. A história de Jesus de Nazaré:
algumas referências históricas
2.1. – Dados pessoais
As fontes não permitem construir uma
biografia de Jesus no sentido moderno do
termo: faltam dados, como a sua vida entre os
12 e os 30 anos, o dia do nascimento, a data
exacta da Sua morte, ou então a cor dos seus
olhos, dos seus cabelos… Mas isso também
acontece noutras personagens ilustres de há
2000 anos…
Pelos Evangelhos podemos seguir alguns passos da sua vida; mas
aos autores dos evangelhos não lhes interessava fazer
uma biografia de Jesus; são prioridade à transmissão dos
significados e, se necessitam de algum dado físico e
histórico de Jesus, então, e apenas então, utilizam-no.
Além disso, «Há ainda muitas outras coisas feitas por Jesus» (Jo
21, 25).
2.1. – Dados pessoais
PRINCIPAIS
PASSAGENS
EVANGÉLICAS
APRESENTAM ALGUM DADO CRONOLÓGICO:
QUE
Lc 1,5: «nos dias de Herodes, rei da Judeia»;
Mt 2, 2: «vimos a Sua estrela no Oriente»;
Lc 2, 1-7: édito de César Augusto, Quirino, governador
da Síria, faz um recenseamento;
Lc 3, 1-3: João começa a pregar no ano 15 de Tibério;
Pôncio Pilatos, os tetrarcas, Anás, Caifás;
Lc 3, 23: Jesus tinha cerca de trinta anos;
Lc 23, 54: era o dia da Preparação e já amanhecia o
Sábado…
2.1. – Dados pessoais
O primeiro dado seguro acerca de Jesus
é que Ele existiu! Não é uma personagem
inventada, embora acerca dele se tenham
dito
coisas
contrapostas
(como
as
negações
levantadas
em
meios
anticlericais em França no início do séc.
XX e nos actuais debates no meio Anglo
Saxão). Actualmente, isto não é posto em
causa por pessoas medianamente cultas e
conhecedoras da história judaica e
romana: Jesus viveu durante os três
primeiros decénios da nossa era na
Palestina.
2.1. – Dados pessoais
JESUS – Do grego Jesus, derivado do hebraico Jesua,
forma abreviada de Jehosua: «Jhwh é salvação». O
menino nascido da Virgem Maria chama-se Jesus «pois
vai salvar o Seu povo dos seus pecados» (Mt 1,21).
CRISTO - Cristo deriva do grego christós, que traduz
o hebraico mashiah (messias), que quer dizer «ungido»,
«consagrado».
JESUS CRISTO é a mais breve e a mais profunda
fórmula de fé; exprime simultaneamente que Jesus
Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem; filho
Unigénito do Pai; segunda Pessoa da trindade; no tempo
estabelecido por Deus fez-Se homem para redimir toda
a humanidade.
2.2. – Os primeiros anos de Jesus
Rio Jordão
Nazaré
Mar da Galileia
ONDE NASCEU JESUS?
Nasceu na Palestina, na província da Judeia,
em Belém, conforme nos diz as narrações de
Mateus e de Lucas. O Evangelho de São João
ignora o local de nascimento.
Quando era adulto, todos O conheciam como
«profeta de Nazaré», «O Nazareno».
Mas os dados não coincidem:
-Mateus diz que José e Maria viviam em
Belém quando Jesus nasceu; Jesus nasce em
casa e os Magos vão aí adorá-l’O;
Jerusalém
Belém
Mar Morto
-Lucas diz que viviam em Nazaré e
deslocaram-se a Belém por causa de um
recenseamento; nasce num curral de animais
dos muitos que existiam nos arredores de
Belém, aproveitando as grutas naturais da
zona.
O mais importante, para além do lugar, é
afirmar-se que em Jesus se cumprem as
promessas e profecias.
O PAÍS DE JESUS
SITUAÇÃO
GEOGRÁFICA…
O Grande Mar
ISRAEL
ISRAEL SITUA-SE NO «CRESCENTE
FÉRTIL»: Berço geográfico das grandes
EGIPTO
civilizações; região de “meia-lua” que
abrange a Mesopotâmia – mesos + potamos =
no meio de rios (Tigre e Eufrates), a Terra
Santa e parte do Egipto. Região fértil para a
agricultura. Nas restantes zonas predomina
montanhas e desertos, leva à concentração
de população em vales e planícies.
O PAÍS DE JESUS
 NOMES DA TERRA PROMETIDA: Na Bíblia: «Terra Santa» (Zac 2, 12; Act 7,
33); «Terra de Canaã» (Gn 12, 5; 13, 12; Act 13, 19); «Terra Prometida»; «Terra dos
Hebreus» (Gn 40, 15); «Terra de Judá» (sul de Israel actual, referente à tribo de Judá. Rt
1, 7); «Terra de Israel» (Ez 11, 16-20; Mt 2, 20-21); etc. b) Outros: «Kinahhi», «Khuru»,
«Amurru», «Harus», «Retenu», «Palassthu» (Filisteia, de que deriva «Palestina», que
não é um nome bíblico, mas dado por escritores gregos e latinos).
MONTES DO LÍBANO E
ANTILÍBANO
MEDITERRÂNEO
(GRANDE MAR)
ISRAEL SITUA-SE NO
«CRESCENTE FÉRTIL»,
como vimos.
«Desde
Dan a
Berseba»
(Jz 20, 1).
DESERTO
SÍRIO
LIMITE COM O DESERTO
DO SINAI
LIMITES GEOGRÁFICOS
+/- 80km
Lago
Hule
Vale
do
Hule
M.
Carmelo
528m
M. Tabor
588m
▲
Monte Hermón
Mar da BASAN
Galileia
Rio Jarmuc
do
Jordão
Montes
de Efraim
Montes
de Judá
Deserto de Judá
Deserto do
Negueb
TRANSJORDÂNIA
CISJORDÂNIA
Vale
Mar da Galileia
GALAAD
Rio Jaboc
Rio
Jordão
Rio Jordão
AMON
Mar MOAB
Morto
A
R
A
B
Á
O PAÍS DE
JESUS
Mar Morto
EDOM
ZONAS GEOGRÁFICAS:

TRANSJORDÂNIA:
montanhas desertas, pouco elevadas,
com
temperaturas
extremas.
5
territórios independentes.
 CISJORDÂNIA

Montanhas
da
Cisjordânia: é a parte onde se
desenrolam
os
principais
acontecimentos bíblicos.
 A zona costeira:
zona de
planície interrompida pelo Monte
Carmelo.
 O VALE DO JORDÃO:
divide a Transjordânia da Cisjordânia; o
Rio Jordão nasce no Monte Hermon
com 2224 m de altitude, e desagua no
Mar Morto a 392m abaixo do nível do
mar,
mais
baixo
do
globo,
concentração de sal,
2.2. – Os primeiros anos de Jesus
QUANDO
A data é difícil de estabelecer, pela simples razão
NASCEU
que não se nasce «grande homem»!
JESUS?
No Império Romano, os anos contavam-se desde a fundação de Roma, que
se fixou em 753 a.C. Foi o monge Dionísio, o Exíguo (ou o Pequeno), que
no séc. VI, calculou, com os dados que possuía na época que Jesus teria
nascido em 754 a.C. de Roma, que seria o ano 1 do nosso calendário. Mas
a data real da fundação de Roma foi 748a.C. Há assim um engano de
cerca de 6 anos. Hoje sabemos algo que ele desconhecia: Herodes I, o
Grande, em cujo reinado Jesus nasceu, morreu no ano 4.a.C. (data
garantida por fontes extra-bíblicas): é certo que Jesus nasceu antes do
ano 4.a.C.
Dionísio,
o Exíguo
A data exacta não é certa, pois até pelo recenseamento que fala Lc 2, 1-2 não
há clarificação: realizaram-se vários na época (Flávio Josefo fala em 7a.C.,
Tertuliano diz que foi entre os anos 9a.C. e 6.a.C.; outros dizem que teria sido
em 7 a.C.). Há também outros indícios, por exemplo, cálculos astronómicos
demonstram que houve uma grande conjunção de Júpiter e Saturno na
constelação Peixes, no ano 7.a.C., talvez correspondesse com a «estrela dos
magos». As datas mais prováveis são entre 4.a.C. e 7.a.C.
ENTÃO POR QUE É QUE O NATAL SE CELEBRA a 25 DE DEZEMBRO? Esta festa só se
estabelece nos finais do reinado de Constantino II (a partir de 354 d.C.) e nada tem que ver
com a data e o mês em que realmente aconteceu o nascimento; o dia 25 era a festa romana do
«sol nascente e invencível», por ser o solstício do Inverno (o momento em que a força solar
cresce de novo).
O TEMPO DE JESUS
I- POLITICAMENTE
 TERRA COBIÇADA (por muitos
Impérios), DOMINADA na época do
NT pelos romanos. Este facto era
fonte de tumultos e perseguições:
TERRA CONTURBADA…
 63 a.C: Pompeu invade a
Judeia…
1ª revolta judaica (66-70): Tito
destrói o Templo, em 70.
 …e reinam «reis-fantoches»:
Herodes, o grande (37-4a.C.)
(político
sagaz,
grande
construtor, mas cruel…), depois
os filhos (Arquelau, Herodes
Antipas e Herodes Filipos) e o
neto Herodes Agripa.
2ª revolta judaica (132-135): em
135, proíbem os judeus de
entrarem em Jerusalém e a cidade
foi dedicada a Júpiter com o nome
de Aelia Capitolina. É província
romana até 637, ano em que os
árabes tomam a a cidade. Em 1948,
nasce o Estado de Israel e muitos
judeus voltam lá.
O TEMPO DE JESUS
II- ECONOMICAMENTE
 TERRA QUE PAGAVA PESADOS IMPOSTOS: Roma
deixava certa autonomia aos dominados, mas exigia pesados
impostos; a situação económica do país e das pessoas agravava-se;
 TERRA QUE VIVIA DA «TERRA»: predominava a
agricultura, a pesca, os pequenos artesãos…
III- SOCIALMENTE
 TERRA COM DESIGUALDADES CRESCENTES: o fosso
entre ricos e pobres aumentava;
 TERRA FRACCIONADA: os grupos sociais e religiosos eram
inúmeros, os fariseus, saduceus, escribas, publicanos, sumosacerdote, levitas, zelotes, sicários, o povo da terra, os baptistas,
os herodianos, etc.
 TERRA QUE MARGINALIZA: os pobres, estrangeiros, as
crianças, as mulheres…
O TEMPO DE JESUS
IV- RELIGIOSAMENTE
-TERRA «RELIGIOSA»: a religião era fundamental na
sociedade e o cumprimento dos inúmeros ritos também; o
Sábado, a Lei, o Templo, a Sinagoga, o Sinédrio eram
instituições importantes; a Páscoa, o Pentecostes (festa do dom
da Lei do Sinai), os Tabernáculos, o Yon Kipur (dia do perdão), o
Hannoukah (dia da purificação), sortes, etc., eram festas
religiosas importantes;
-TERRA QUE ESCRAVIZA: as inúmeras leis e prescrições
levavam a que não fossem cumpridas por todos, especialmente
pelo povo da terra, que se sentia marginalizado; os leprosos, os
pecadores públicos, as mulheres com menstruação, os
guardadores de porcos, etc., eram os impuros; tocar nalgum
deles era ficar impuro; havia uma série de ritos de purificação,
que implicava também, muitas vezes, o pagamento de dinheiro,
que alguns não possuíam…
-TERRA QUE ESPERA: devido à pressão dos invasores, à
exploração económica, à pressão religiosa, havia um sentimento
de espera do Messias: o Messianismo; seria aquele que os
libertaria dos romanos e tornaria Israel livre; o tipo de Messias
era diverso: uns esperavam um rei, outros um sacerdote, outros
um profeta...: ninguém esperava um Messias como Jesus!
É neste ambiente que nasce JESUS CRISTO...
JESUS CRISTO
«Tendo Jesus nascido em
Belém da Judeia, no tempo do
rei Herodes…» (Mt 2, 1)
A Palestina no tempo
do nascimento de
Jesus Cristo
Herodes
37 a.C. – 4a.C.
«Por aqueles dias, saiu um édito
da parte de César Augusto para
ser recenseada toda a terra» (Lc 2,
1-7)
«No décimo quinto ano do reinado do
imperador Tibério, quando Pôncio
Pilatos era governador da Judeia,
Herodes, tetrarca da Galileia, seu irmão
Filipe, tetrarca da Itureia e da
Traconítide, e Lisânias, tetrarca de
Abilena, sob o pontificado de Anás e
Caifás, a palavra de Deus foi dirigida a
João, filho de Zacarias, no deserto». (Lc
3, 1-2)
A Palestina no tempo
do ministério e morte
de Jesus Cristo
Augusto
27 a.C. - 14
Tibério
14 - 37
2.3. – Jesus e João Baptista
«Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e
acreditai no Evangelho.» Mc 1, 15
JESUS FOI
DISCÍPULO DE
JOÃO BAPTISTA…
Provavelmente viveu um longo período de discipulado com
João em torno a Qumram, ao Mar Morto e ao Rio Jordão.
O facto de João baptizar Jesus, dá-nos a entender que
este foi seu discípulo, porque o mestre baptiza dos
discípulos. O Baptismo de Jesus é um SINAL do início da
vida pública e como forma de nos dar o exemplo.
Neste período de tempo com João, Jesus foi
descobrindo a sua própria vocação. Jesus não sabia
do Seu futuro mais do eu nós sabemos do nosso: se
assim não fosse, não teria sido homem em tudo
igual a nós, excepto no pecado (cf. Heb 4, 15).
Jesus começa a descobrir e a responder à
pergunta de qualquer vocação: quem sou eu? Que
quer Deus de mim?
Outro dado seguro é que Jesus foi
discípulo de João Baptista: a ligação de
Jesus com João baptista é historicamente
certa; Jesus fez-Se baptizar por João
Baptista, pois pertenceu ao grupo baptista
de João, mas operou, no que respeito à
espiritualidade
uma
mudança,
uma
ruptura; Jesus não é um asceta retirado
no deserto e não pretende formar um
grupo de «puros», mas vive no mundo,
come
e bebe (Mt 11, 19) e dirige a
todos uma mensagem universal.
É no momento de responde a estas
perguntas que Jesus se vai separar de
João; Jesus deixa de identificar-se com o
seu Mestre, reage perante ele e acaba
por se separar: Jesus não irá pregar o
mesmo que João Baptista.
Jesus respondeu aos discípulos de João: «Ide contar a João aquilo que vedes e ouvis.
Os cegos vêem, os coxos andam, os que têm lepra são curados, os surdos ouvem,
os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Nova» (Mt 11, 4-5)
2.4. – O Ministério público
de Jesus
Outro dado seguro é que Jesus pregou às multidões: «o Reino
de Deus está próximo». Os nomes indicados em Lc 3, 1s
coincidem todos com a data indicada: «o ano quinze do
imperador Tibério»; daí deduz-se que no ano 28 João Baptista
andava a pregar; talvez ainda no mesmo ano, Jesus começasse
a Sua pregação, a «vida pública». A duração da pregação de
Jesus seria de dois anos e meio, ou ainda menos (segundo o
Evangelho de João, Jesus subiu três vezes a Jerusalém pela
Páscoa; os sinópticos, menos fiáveis historicamente relatam
apenas uma subida, o que leva a pensar que, segundo estes, a
actividade de Jesus Se desenrola durante um ano).
Em Lc 3, 23, diz-se que Jesus tinha «cerca de trinta anos» quando começou a pregar; este dado,
tomado à letra, dar-nos-ia pistas para averiguar outras datas; mas o dado parece simbólico, não
matemático; quando José começa a sua actividade no Egipto teria 30 anos (Gn 41, 46); quando David
começa a reinar tem 30 anos (2 Sam 5, 4); quando Ezequiel recebe a sua vocação profética, tem 30
anos (Ez 1, 1). Tudo indica que «30 anos» deve ser traduzido como «a idade ideal para começar uma
missão». O número de 33 atribuído à duração da Sua vida seria formado por 30 anos até começar a
pregação que durou 3 anos; mas nenhum dos dados estará correcto.
Não é possível estabelecer
uma cronologia das suas principais deslocações e acontecimentos; Primeiro,
deslocou-se à Galileia e sente-se ligado, sobretudo, a Nazaré e Cafarnaum, de seguida à Judeia, tomando os
caminhos que conduzem ás diferentes localidades; rodeia-se de 12 Apóstolos; sobe regularmente a Jerusalém
pela Páscoa, segundo São João. A confissão de Pedro, em Cesareia de Filipe, no norte da Palestina, inaugura a
última subida de Jesus a Jerusalém antes da sua morte. Por vezes, afasta-se da Galileia e dirige-se para
norte, até Tiro e Sídon, ou à Decápole, na Samaria, à região dos Gerasenos, a leste do lago de Tiberíades.
2.5. – Jesus e os discípulos
Dos discípulos de Jesus, houve 12 escolhidos por Ele, «enviados» para a Missão: 12 Apóstolos.
Pedro
Tiago, o Maior (filho de
Zebedeu; filhos do trovão)
João (filho de Zebedeu;
filhos do trovão)
Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.»(Mt 16,
16)
Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que
digamos que desça fogo do céu e os consuma ?» (Lc 9, 54)
Filipe
Disse-lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» (Jo 14, 8)
Mateus ou Levi
Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de
cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o». (Mt 9,
9)
Tiago, o Menor
Tiago, filho de Alfeu, (Mt 10, 2)
Bartolomeu ou Natanael
Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» (Jo 1,
46)
Simão
«Simão, o Cananeu»(Mc 3, 18)
«Simão, o Zelota» (Mt 10, 4)
Tomé
Respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28)
Judas Tadeu
Perguntou-lhe Judas, não o Iscariotes: «Porque te hás-de manifestar a
nós e não te manifestarás ao mundo?» (Jo 14, 22)
André (irmão de Pedro)
Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que
lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. 17E disse-lhes Jesus:
«Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens.» (Mc 1, 16)
Judas Iscariotes
Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: «Porventura serei eu,
Mestre?» «Tu o disseste» - respondeu Jesus. ((Mt 26, 25)
2.6. – A morte de Jesus
Outro dado seguro é que Jesus morreu numa cruz, sob a autoridade de
Pôncio Pilatos, fora dos muros de Jerusalém.
MAS
QUANDO
MORREU
JESUS?
Os sinópticos afirmam que foi a 15
de Nisan; São João diz que foi a 14
de
Nisan; através
de
cálculos
astronómicos sabe-se que os anos 28,
29 e 32, não coincidiram nem com o
14, nem com o 15 de Nisan, pelo que
a morte de Jesus não poderia ter
sido nesses anos. Se seguirmos a
tradição
dos
sinópticos
(menos
verosímil) a data seria 27 de Abril de
31; se seguirmos a tradição de João,
a data mais provável é 7 de Abril do
ano 30; uma data menos verosímil é 5
de Abril do ano 33. Mas o mais
aceite é que Jesus morreu às 3
horas da tarde no dia 7 de
Abril do ano 30.
Todos os evangelistas coincidem que era sexta-feira,
«dia da Preparação, véspera do sábado»; naquela
época o dia contava-se de um pôr-de-sol ao seguinte,
esta sexta-feira (desde as seis da tarde de quintafeira até ás seis da tarde da sexta), abrange todo o
desenrolar
dos
acontecimentos:
última
ceia,
julgamento, crucificação e enterro.
Curiosamente, a Crucifixão
de Jesus é uma «prova» da
existência de Jesus, pois
«se,
portanto,
os
primitivos cristãos levam
séculos a aceitar a ideia de
que o seu Deus tenha
morrido sobre uma cruz,
como pensar que este modo
de morrer seja inventado,
no mito, pelos próprios
cristãos?»,
(MESSORI,
Vitorio – Hipóteses cobre
Jesus).
Quanto à Ressurreição ela
ultrapassa,
como
é
compreensível, o âmbito da
história, pois situa-se para
lá dela, isto é, escapa à
verificação pelos meios que a
história se serve na sua
investigação.
Mais à frente, iremos
voltar ao tema do
«Processo e Morte de
Jesus».
JESUS CRISTO
Mar da Galileia
Nazaré
NASCIMENTO: Belém, por volta de 6
a.C. «Ao chegar a plenitude dos
tempos, Deus enviou o Seu Filho,
nascido de mulher, nascido sujeito à
Lei,
para
resgatar
os
que
se
encontravam sob o jugo da Lei e para
que recebêssemos a adopção de filhos»
(Gal 4, 4-5).
Rio Jordão
INFÂNCIA/ADOLESCÊNCIA
VIDA
OCULTA: Nazaré, também no Egipto.
Jerusalém
Belém
Mar Morto
Egipto
CRUCIFICAÇÃO,
por volta de
7/04/30.
BAPTISMO DE JESUS – início da VIDA
PÚBLICA, ano 27/28, por João Baptista.
ESCOLHA DOS 12 APÓSTOLOS- os
«enviados»: Pedro, Tiago, o Maior, João,
Filipe, Mateus ou Levi, Tiago, o Menor,
Bartolomeu ou Natanael, Simão, Tomé, Judas
Tadeu, André e Judas Iscariotes.
A VIDA PÚBLICA - marcada pela pregação,
apoiada na Sua palavra com autoridade e
nos milagres. A Sua missão é anunciar a
«Boa nova», prega as Bem-aventuranças e
ao amor ao próximo: «Amai-vos uns aos
outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). Toma
especial
atenção
aos
excluídos
da
sociedade.
3. O Evangelho de Jesus Cristo
3.1. – Jesus de Nazaré: um Messias
diferente do esperado
O MESSIAS ESPERADO: todos esperavam o Messias (palavra hebraica
semelhante à grega Christos, que significa o Ungido – escolhido por Deus), que
acabasse com as injustiças e libertasse do domínio romano; seria da
descendência de David. Esperavam-se vários tipos de Messias:
1. Messianismo profético: seria um profeta (como Elias, Isaías…);
2. Messianismo régio: seria um rei (como David…);
3. Messianismo sacerdotal: um sacerdote (como Aarão…);
4. Messianismo apocalíptico: um anjo enviado por Deus…
Seria um Messias triunfante e espectacular, que pela força libertaria Israel…
OS FALSOS MESSIAS: por isso, no tempo de Jesus, surgiam inúmeros
falsos messias que levavam a lutas armadas… Os próprios evangelhos dão
testemunho desse clima: João Baptista pergunta «És Tu o que há-de vir ou
devemos esperar outro?» (Mt 11, 4).
JESUS, UM MESSIAS DIFERENTE DO ESPERADO.
Ninguém esperava um Messias humilde, nem uma
presença real de Deus na história concreta dos
homens. Jesus não incita à revolta armada, mas à
“revolução do coração”, à conversão interior!
3.2. – A Mensagem de Jesus:
o Reino de Deus
O Jesus histórico não pregou sistematicamente sobre
Si mesmo, mas a Sua mensagem centra-se no REINO
DE DEUS («Reino dos céus»), que «está próximo»…
Mas o que é o Reino de Deus?
O REINO DE DEUS é o próprio DEUS: não é um Reino que
pertence a Deus, mas é o próprio Deus!
O REINO NÃO É UM TERRITÓRIO, O REINO EXCEDE O HISTÓRICO: não é um
território, mas começa já (está entre nós) e ainda não está na sua forma plena (só
na Vida Eterna); «O reino de Deus não vem de maneira ostensiva. Ninguém poderá
afirmar: Ei-lo aqui ou ali, pois o reino de Deus está dentro de vós» (Lc 17, 20-21);
não é só espiritual, mas afecta toda a realidade do homem;
O REINO NÃO É UMA IMPOSIÇÃO, É «GRATUITO», é uma Boa Notícia, Boa
Nova, proposta que leva a que cada um o acolha ou o rejeite…
O REINO É SALVAÇÃO: não só para o outro mundo, mas começa já, com a alegria
de se ser perdoado por Deus e saber que Ele é nosso Pai. Vem para todos e
gratuitamente; resta que o homem o acolha.
3.2. – A Mensagem de Jesus:
o Reino de Deus
O Reino não se limita ao religioso: diz respeito a todas as dimensões da realidade
da pessoa: social, política, etc. O Reino de Deus é uma nova ordem iniciada com
Jesus: nela não haverá pobres nem oprimidos, nem pecado, todos serão irmãos…
Jesus não quer «consertar» o mundo velho, propõe uma mudança de valores, de
forma de pensar e de actuar: Não se pode deitar vinho novo em odres velhos.
A realidade do reino anunciado por Jesus supõe uma denúncia do velho funcionamento do mundo, uma exigência
de mudança; é preciso eliminar tudo o que se opõe a Deus e ao homem.
Jesus muda a cosmologia, a forma de pensar globalmente o mundo dos seus contemporâneos: denuncia como
injusto um sistema duplo, horizontal com os homens e vertical com Deus; Deus deve ser tudo e em todos, o
religioso e o social são faces da mesma moeda.
Jesus muda o conceito de Deus; não é o que exige ser adorado somente em Jerusalém, nem o controlador do
comportamento humano até aos ínfimos pormenores; a relação com Deus não se apoia unicamente no Templo e na
Lei, mas sobretudo no amor que imita o amor gratuito e desinteressado de Deus.
A vida humana deve ser compreendida como um dom, como um presente que é dado e deve dar-se. E a essência
da vida é ser capaz de aceitar este dom, viver tudo na perspectiva da dimensão do acolhimento.
Fixa um novo critério para avaliar as leis: se tem em conta as necessidades humanas, se ajudam o homem a ser
feliz, se tornam possível o amor, aceita-as; para Jesus, não é a Lei que dá a felicidade à pessoa, mas o amor;
Jesus altera leis como a pena de morte para os adúlteros, a poligamia e a Lei da observância do sábado.
O predomínio do interno sobre o externo, da sinceridade interior sobre as aparências.
Propõe a solidariedade universal; os laços vão para além da família, grupo ou raça;
Jesus relativiza o dinheiro; é necessário, mas denuncia o apego a ele; modifica o poder e denuncia o prestígio.
A única forma de participar no Reino é tornarmo-nos crianças, prescindir das máscaras e actuar a partir do
impulso interior que está estreitamente unido a a Deus. O homem novo é o homem das Bem-aventuranças (Mt 5-7).
3.2. – A Mensagem de Jesus:
o Reino de Deus
A SÍNTESE DAS BEMAVENTURANÇAS
Sermão da Montanha (Mt 5,7): as Bemaventuranças. Não são um conjunto de leis,
mas são como um Evangelho, o que salva não é
a lei, mas o amor. É-se discípulo de Cristo
quando cada um for testemunha viva do
Ressuscitado e trabalhar pela felicidade das
pessoas: o Reino de Deus só é possível se há
conversão do coração e nova mentalidade.
Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o
reino dos céus.
Bem-aventurados sereis quando vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo,
disserem toda a espécie de calúnias contra vós.
Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus.
O essencial da mensagem de
Jesus
Jesus anunciou o
REINO DE DEUS:
 É um reino de
 Ao Reino todos
podem
pertencer.
Cabe a cada um
acolhê-lo
ou
recusá-lo.
amor, de
justiça, que
está dentro do
coração de cada
um. É a
presença do
amor de Deus
dentro de cada
um.
3.3. – A experiência de Deus
como Pai
Jesus era uma pessoa acostumada à oração; todo o dia era passado na
presença de Deus; rezava em todos os lugares, momentos, orava com todo
o corpo, em todas as ocasiões, especialmente as que se revestiam de uma
carácter importante na Sua missão (transfiguração, antes do Baptismo,
antes da Sua prisão…). Na Sua oração descobre o rosto de Deus.
1º
2º
3º
O Deus de Jesus não está longe dos seres humanos, não está no
alto, mas sim comprometido com a história humana e com os
humilhados da sociedade; não se pode chegar a deus abandonando o
maltratado que está á beira do caminho (Lc 10, 31).
O Deus de Jesus não é manipulável, Ele é o totalmente Outro, não se pode dizer que
se pode «ter» ou «possuir» Deus se fizermos determinadas coisas; este foi um dos
erros dos fariseus.
O Deus de Jesus está próximo de nós; enquanto que para os contemporâneos de Jesus,
Deus é Aquele que não pode ser sequer nomeado, para Jesus é alguém tão próximo
como o pai da parábola do Filho Pródigo (Lc 15, 11-32). Ama os filhos por serem
filhos. Deus é bondoso, não é o Juiz castigador que alguns diziam, mas também não é o
«deixa-andar», mas é o Pai que ama os filhos e chama-os à atenção quando deve.
«Rezai, pois, assim:
'Pai nosso, que estás no Céu,
santificado seja o teu nome» (Mt 6, 9)
E dizia: «Abbá, Pai, tudo te é possível;
afasta de mim este cálice!» (Mc 14, 36)
3.4. – O seguimento
A MISSÃO DOS SEGUIDORES. No antigo Israel era normal os mestres e
pregadores rodearem-se de um grupo de seguidores mais próximos ou
discípulos. Diferente de outros mestres, Jesus chama os discípulos; há um convite
expresso, uma vocação. Jesus toma a iniciativa, convida-nos. Jesus chama-os para
compartilhar a missão de proclamar a chegada do Reino de Deus. Jesus também se
diferencia dos outros por admitir mulheres no discipulado
O GRUPO DE DISCÍPULOS. Podem estabelecer-se três círculos concêntricos para descobrir os seguidores de
Jesus. 1º - O grupo dos apóstolos, doze segundo a tradição; 2º - Formado pelos discípulos que em número
indeterminado seguiam habitualmente Jesus; uma vez envia a 72 com missões especiais; 3º - Grandes multidões
que em algum momento seguiam a Jesus. No grupo de discípulos havia homens e mulheres, casados e solteiros,
pessoas de diferente nível de vida, de diferentes ideologia e de diversas procedências. O grupo era numeroso e
plural, reagindo de forma diversa; são uma representação de todos os seguidores de Jesus de todas as épocas.
Mais do que serem 12 apóstolos, o facto é que 12 é teologicamente simbólico: com ele, Jesus dá a entender que
os novos tempos messiânicos começaram, a formação do novo Povo de Deus, da sua totalidade. Deus formava um
novo povo, uma nova aliança, uma nova história.
Jesus chamou para discípulos mais próximos: dois irmãos
de Betsaida: Simão (chamado de Pedro) e André; o
primeiro era casado e residia em Cafarnaum. Outros dois
irmãos seriam os filhos de Zebedeu, «filhos do trovão»,
Tiago (o Maior) e João. Os quatro eram pescadores. O
seguinte foi Mateus, cobrador de impostos, com banca
em Cafarnaum. Depois juntaram-se: Filipe, Bartolomeu
(ou Natanael), Tomé, Tiago, filho de Alfeu (o Menor),
Judas Tadeu, Simão, o Cananeu ou o Zelote e Judas
Isacriotes. Entre as mulheres que seguiam Jesus, os
Evangelhos citam o nome de algumas: Maria de Magdala,
Susana, Joana (mulher de Cusa, administrador de
Herodes), a mãe dos Zebedeus e Maria (irmã de Marta).
AS INSTRUÇÕES DE JESUS. Nelas pode perceber-se as
linhas mestras que devem presidir a toda a comunidade de
crentes cristãos: Radicalidade e renúncia: deixar tudo para o
seguir, sabendo que não será um «mar de rosas»; Amor
gratuito, incondicional e perdão a todos (inclusive com o
inimigo); Iniciativa em fazer o bem: «Tudo o que quiserdes
que os outros vos façam, fazei-o vós também», a regra de
ouro; Se Deus é nosso Pai, somos todos irmãos; A oração
deve alimentar a vida do discípulo; O verdadeiro discípulo
preocupa-se em fazer a vontade de Deus. Não são leis, mas
resposta de amor ao chamamento de amor feito por Deus; ser
discípulo de Jesus é exigente e supõe renúncias.
4. Os milagres de Jesus
4. – Os milagres de Jesus
1 É um dos pontos que mais nervosismo, estranheza e sorrisos provoca no leitor actual dos evangelhos. Na
Modernidade colocou-se em causa os textos do NT, sobretudo por causa dos milagres, considerados
incompatíveis com a razão. Um sábio, por exemplo, perante um fenómeno que não pode explicar, dirá: «Este
fenómeno é inexplicável com o conhecimento que possuo na minha ciência»; apenas com a fé, enquanto crente,
poderá ver aí um milagre, uma intervenção salvadora de Deus na história.
2 CONCEITO ACTUAL DE MILAGRE: o homem actual costuma chamar «milagre» a um acontecimento
extraordinário que não se pode explicar do ponto de vista das ciências (factos saem das leis naturais
estabelecidas pela ciência) e é atribuído, pelo menos por alguns, a uma intervenção especial de Deus.
3 CONCEITO BÍBLICO DE MILAGRE: nos relatos da bíblia não se põe o problema de cumprimento ou não
das leis da natureza, mas se «se vê» a ajuda salvadora de Deus; o crente interpreta determinado acontecimento
surpreendente (mesmo que não contrário às leis naturais) como sinal da acção salvadora de Deus. Por exemplo,
toda a ordem da natureza, nos seus processos mais incompreensíveis como o da germinação das plantas, participa
do milagre: Deus é o autor dessa transformação. O conceito bíblico dá o valor ao divino (intervenção de Deus) e
o conceito actual dá mais valor ao extraordinário.
4 TIPOS DE MILAGRES: constatam-se os seguintes: curas, exorcismos, milagres sobre a natureza
(transformação da água em vinho, a multiplicação dos pães e dos peixes, a pesca milagrosa, Jesus a caminhar
sobre as águas, a tempestade acalmada, a maldição da figueira, etc); «Ressurreições» (de três pessoas: filha
de Jairo, Mt 9, 23-26; filho da viúva de Naim, Lc 7, 11-17; Lázaro, Jo 11, 1-44)); Concomitantes, isto é,
aqueles que acompanham a vida de Jesus, mas que não são realizados por Ele noutra pessoa (exemplos:
concepção virginal, vozes divinas no Seu baptismo, transfiguração, fenómenos no momento da Sua morte,
ascensão, etc).Segundo o sujeito que os realiza há vários tipos: milagres que Deus faz directamente em Jesus (a
concepção virginal, a transfiguração e a Ressurreição); milagres que Deus faz através de Jesus (as curas,
exorcismos, ressurreições de mortos e de superação dos elementos); e milagres que fazem os apóstolos e a
Igreja (por exemplo, a Eucaristia). Há nestes milagres uma progressão, em que deus age directamente na
história, em que Deus opera milagres em Jesus Cristo e em que a Igreja também faz milagres.
4. – Os milagres de Jesus
5 UMA PALAVRA SOBRE AS «RESURREIÇÕES»: as «ressurreições» que
Jesus operou são diferentes do grande milagre da Ressurreição de Jesus; naquelas é
mais correcto falar de «revivificações», pois Lázaro, a filha de Jairo e o filho da
viúva de Naim, voltaram à mesma vida que anteriormente tinham, acabando por
morrer mais tarde; a Ressurreição de Jesus significa a passagem para a vida plena e
definitiva
6 OS MILAGRES FORA DA BÍBLIA: relatam-se alguns milagres atribuídos
pelas tradições a personagens célebres, como Zaratustra, Buda e Mamomé, a alguns
imperadores romanos, etc. No tempo em que Jesus vivia os milagres não tinham todos
a mesma reputação: podiam ser atribuídos à boa acção de um deus, ou à acção do
demónio; tudo o que era fora do comum era milagre.
7 OS MILAGRES SÃO INSEPARÁVEIS DA MENSAGEM DE JESUS: por exemplo, há milagres
realizados em dia de sábado para escândalo dos judeus (Mc 3, 1-16), Jesus purifica um leproso, privilégio dos
sacerdotes (Mt 8, 2-4); por vezes são sinais de contradição, por exemplo, Jesus e acusado de expulsar os
demónios pelo chefe dos demónios (Mc 3, 22), etc.
8 OS MILAGRES COMO SINAIS: Jesus faz milagres, mas a Sua preocupação fundamental não é curar ou
fazer coisas surpreendentes, ou querer demonstrar que é Filho de Deus (na verdade, muitas vezes pede que não
se divulgue o milagre que acabou de operar); Ele não é um curandeiro, nem os faz só para os outros verem: se
assim fosse, teria feito milagres quando Herodes o pediu (cf. Lc 23, 8), quando O demónio o tentou no deserto
(cf. Lc 4, 3-12), quando pedem que Ele desça da Crus e Se salve a Si próprio (cf. Mt 27, 42), etc. A finalidade
dos milagres é proclamar que onde Deus exerce o Seu reinado o homem salva-se; são sinais reveladores da
presença e acção de Deus, cuja finalidade é suscitar a Fé naquele que contempla o mesmo e suscitar a mudança e
conversão. São SINAIS que devem ser entendidos e interpretados para que ganhem o seu significado autêntico:
ninguém se converte por causa de um milagre, mas pelo que crê que esse milagre significa. Os milagres são
SINAIS da presença do Reino.
5. Reacções perante Jesus e a Sua
Mensagem
5. – Reacções
Jesus inicialmente tem êxito; é seguido em virtude dos sinais, pela pregação da chegada iminente
do Reino de Deus. Porém, a pregação de Jesus começa a provocar conflitos. 1º A chegada do
Reino de Deus supõe o fim da estrutura religiosa sobre que se apoia Israel: a Lei e o Templo;
isto não agrada ao judaísmo; 2º - O reino chega com Jesus; mas Jesus não conseguiu convencer
as autoridades da legitimidade da sua missão, que o declararam um impostor; 3º - O Reino de
Deus é oferecido a todos; cabe a cada um acolhê-lo. Jesus assume o conflito quando decide
subir a Jerusalém; o Messias havia de se manifestar em Jerusalém. As autoridades condenamn’O. A atitude adoptada por Jesus a respeito da Lei, do templo, dos poderosos de todo o género
e, em geral, de tudo o que escravizava o homem obscurecendo o rosto de Deus, conduziram-n’O
a uma confrontação com os poderes de Israel.
JESUS PERANTE A LEI E
PERANTE A RELIGIÃO:
Coloca em causa a observância
das leis da pureza ritual:
«Nada há fora do homem
que, entrando nele, o possa
tornar impuro. Mas o que sai
do homem, isso é que o torna
o homem impuro» (Mc 7, 11).
Para o judeu, a Lei (Torá= ensino ou «instrução» contido no Pentateuco)
era de extrema veneração: rodeada de inúmeras interpretações
minuciosas (mandamentos chegam a 613), com casuística elevada; como
sinais externos de apego à Lei, alguns usam filactérias, espécie de fitas
e caixinhas onde escreviam frases da Lei, para dizerem que a tinham na
fronte ou no coração; os fariseus eram o grupo que mais se distinguia por
cumprir a lei de forma escrupulosa, o que levava a um ritualismo,
formalismo, visão legalista, sendo o pecado uma transgressão à Lei.
Acima da lei e da tradição oral, está o cumprimento da vontade de Deus e a
atenção á pessoa; a Lei tem sentido na medida em que está ao serviço do
homem: «O sábado foi feito por causa dos homens e não o homem por causa do
sábado» (Mc 2, 27). Denuncia o ritualismo externo e o legalismo moral quando se
tratava de cumprir a Lei: ficavam-se na letra sem ir ao encontro da Lei (para os
fariseus, Deus era um contabilista que apontava todas as faltas em contacorrente!). A regra fundamental é a do amor ao próximo, inclusive aos inimigos,
doutrina exclusiva de Jesus. O Deus de Jesus não é o dos fariseus: Deus não
pode ser encerrado em leis, ritos, a religião ou ideologia.
5. – Reacções
JESUS PERANTE
O PODER
POLÍTICO:
JESUS PERANTE
A SOCIEDADE:
Jesus não se esforçou por agradar ao poder político, nem por suavizar as Suas
palavras, sem medo e sem Se curvar perante ele. Contudo nunca pretendeu ser
um Messias político. Jesus adopta uma posição face ao poder público que o
assemelha aos zelotes: não aceita nenhuma autoridade superior à de Deus; «Dai
a Deus o que é de Deus», isto é, Jesus não reconhece nenhum direito divino a
César. Contudo, não proíbe explicitamente que se lhe pague o tributo, o que
decepcionará os zelotes, mas critica o poder absolutista de César, pondo em
perigo a Sua autoridade sobre a Palestina.
Jesus não se detém perante as ameaças de Herodes Antipas, a sua autoridade
civil, a quem classifica de raposa (Lc 13, 32); observa a Pilatos que a autoridade
vem do alto (Jo 19, 11) e não receia criticar qualquer autoridade totalitária:
«Os chefes das nações governam-nas como senhores absolutos e os grandes
oprimem-nas com o seu poder. Não seja assim entre vós» (Mt 20, 25-26).
A Sua posição tornava-se perigosa perante as autoridades e ao mesmo tempo
decepcionava o movimento zelote.
Jesus adopta um acento crítico contra a injustiça social reinante; ameaça os
ricos e poderoso que comem e riem enquanto ao seu lado há pessoas que choram
e passam fome (Lc 6, 24-25).
«Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Lc 16, 13). Não se expõe nenhum
programa social, mas trata de transformar o coração das pessoas e de que
estas se convertam.
Não admira que o desenlace fosse
fatal!
6. Processo e Morte de Jesus
6. – Processo e Morte de
Jesus
A morte de Jesus pode ser vista por dois pontos de vista: histórico ou teológico. Aqui vamos ver na perspectiva
histórica: por que mataram Jesus? Como surgiram o julgamento e a morte de Jesus?
A Sua morte violenta foi consequência da pretensão que tinha caracterizado a Sua vida e lhe tinha provocado
uma oposição cada vez mais cerrada das autoridades judaicas; Jesus previa a Sua morte, mas não tinha a
certeza absoluta dela; mas assumiu o seu fim; a morte violenta não foi imposta por um decreto divino, mas obra
de homens concretos. A morte de Jesus foi procurada por Ele próprio; podia Jesus ter-Se livre da morte? Sim.
Mas Jesus vai ao encontro da morte porque a Sua relação de fidelidade com o Pai a isso obriga; é consequência
da Sua actuação: esta é tal que as estruturas do pecado do mundo não a pode suportar e teve de ser eliminado.
Por que foi condenado Jesus? Por dois motivos, que se relacionam com as estruturas: condenado por blasfemo
por apresentar um Deus diferente do pregado pela religião oficial; os poderes religiosos perceberam que Jesus
pregava um Deus oposto ao Seu; as autoridades políticas romanas condenam-n’O como rebelde político.
Temos o relato bem testemunhado nos evangelhos da EXPULSÃO DOS NEGOCIANTES DO TEMPLO; e temo-lo
numa relação com a morte de Jesus, «desde então, queriam matá-lo». Temos testemunhado a união de três
palavras: Jesus – templo – destruição (acusado de tentar destruir o Templo e reedificá-lo em três dias, «não
ficará pedra sobre pedra», é como atacar Deus; para os judeus, Deus é só um e vive no Templo; destrui-lo é
atacar uma verdade fundamental da religião judaica.
Caifás está perante um dilema: Jesus é o Messias e com Ele chega o Reino
messiânico ou não; se a palavra de Jesus diz é Palavra anunciada por Deus, Jesus
é um profeta verdadeiro e o Reino messiânico chegou; caso contrário, Jesus é um
falso profeta e deve morrer (cf. Dt 18, 18-20). Converter-se ao que Jesus dizia
era muito difícil: assim Jesus teve de morrer! Perante Pilatos, este considera-O
inocente, mas condena-o.
Depois da condenação, Jesus é levado fora dos muros de Jerusalém para ser crucificado (dentro não se podia executar ninguém); é-lhe
posto ao pescoço a causa da condenação (o «titulus», neste caso «rei dos judeus); depois carrega o tarvessão da cruz (patibulum) com
peso de 50kgs, percorreu mais de 600 metros até ao Lugar do calvário; lá já estava o madeiro vertical ou «stipes»; seria pregado
pelos pulsos ao travessão.
7. A personalidade de Jesus
7. – A personalidade de
Jesus
O inquérito histórico não termina nos dados cronológicos, geográficos e exteriores da existência de Jesus.
A atitude de Jesus a respeito do Templo de Jerusalém e da Lei judaica é paradoxal: Por
um lado, como bom judeu, respeita em grande número as prescrições; afirma que não veio
revogar a Lei, mas levá-la à perfeição (Mt 5, 17); Por outro lado, toma estranhas
liberdades, em particular no que concerne à observação do sábado; de modo radicalmente
diferente, desenha a paisagem legal, relativiza determinadas práticas e coloca no centro
da gravidade os mandamentos essenciais do amor de Deus e do próximo.
Quando Jesus fala da Lei, não fala como um escriba ou rabino que propõe comentários;
fala em pé de igualdade, com autoridade; reivindica até o direito de a corrigir, levando-a
mais longe; por exemplo: «Ouvistes o que foi dito aos antigos…» e «Eu, porém, digovos…»: esta Sua PRETENSÃO é exorbitante porque a palavra de Moisés era considerada
expressão privilegiada da própria Palavra de Deus.
Jesus também pretende perdoar os pecados: uma vez ao paralítico da Cafarnaum e outra vez à pecadora em
casa de Simão, o fariseu (Mt 9, 1-9 e Lc 5, 17-26); ora, só Deus pode perdoar os pecados; por isso Lhe
disseram que blasfemava. Uma tal reacção garante-nos a autenticidade histórica da cena.
Do mesmo modo Jesus convida a deixar tudo para O seguir: a atitude que se toma a Seu respeito é a mesma
que se tem por ou contra Deus; esta pretensão só é legítima se provem do próprio Deus.
Jesus reivindica uma relação única com Deus a quem chama de Seu Pai (Mt 11, 27), Abba (papá). Jesus nunca
Se denominou Filho de Deus, mas o Seu comportamento e palavra revelam a reivindicação de uma autoridade
inaudita.
O critério de rejeição e de condenação á morte é aqui válido: a pretensão de Jesus é de tal modo contraditória
com o ensino corrente do judaísmo que não podia ter sido inventada pelos redactores; além do mais, são
mostrados os episódios «desfavoráveis» a Jesus, como comer com os publicanos, os sofrimentos da paixão, o
morrer numa cruz como um criminoso, etc.
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