ANÁLISE ECONÔMICA DO PERFIL DOS CONSUMIDORES DE LEITE EM SANTA MARIA - RS [email protected] APRESENTACAO ORAL-Economia e Gestão no Agronegócio ADRIANA ROSA DO NASCIMENTO; ANDREA CRISTINA DÖRR. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, SANTA MARIA - RS - BRASIL. Análise Econômica do Perfil dos Consumidores de Leite em Santa Maria – RS Grupo de Pesquisa: Economia e Gestão do Agronegócio Resumo Esta pesquisa estuda o comportamento dos consumidores de leite, bem como as variáveis que determinam sua preferência entre leite UHT e pasteurizado, fundamentada pela Teoria do Consumidor. Além de variáveis como preço, renda e preço de bens substitutos, o gosto também influencia a demanda pelo produto. Na categoria gosto se incluiu o costume, a praticidade, o sabor e questões culturais. Enfatiza-se, que o leite UHT e o pasteurizado não são substitutos perfeitos, devido a diferenças de armazenamento e qualidade. No entanto, espera-se que sejam substitutos em alguma medida. Os dados foram coletados junto a 250 consumidores, via entrevista, em dois supermercados de Santa Maria-RS, Brasil. O leite UHT é a escolha exclusiva de 81% dos entrevistados, o que corrobora com trabalhos que afirmam ser este a preferência no Brasil. A escolha por este tipo de leite deve-se, principalmente, a disponibilidade de leite desnatado. Os resultados mostram que 33% dos consumidores estão dispostos a substituir leite UHT por pasteurizado, caso o preço do UHT atingisse o valor máximo de R$2,00 (em média R$1,86), 16% diminuiriam a quantidade, mas não trocariam de produto, enquanto 51% continuariam comprando. Conclui-se que os consumidores de leite UHT consideram o leite um bem essencial, pois não existe um valor que os faria o substituir por leite pasteurizado, o que indica que os consumidores não apresentam um comportamento econômico tão racional quanto o esperado. Por outro lado, 73% dos consumidores de leite pasteurizado trocariam para o UHT caso este possuísse um valor igual ao do leite pasteurizado ou pelo menos um pouco menor que seu preço atual, o que mostra que existe uma demanda reprimida por leite UHT. O barateamento da embalagem UHT possibilitaria a esses consumidores adquirir o produto. Dessa forma, o leite UHT é um substituto para o leite pasteurizado, porém o contrário não se verifica. Os resultados mostram que 64% dos entrevistados consideram o preço um atributo importante na escolha. Apenas 25% dos consumidores de leite UHT têm renda inferior a R$1.000,00, e apenas 15% dos consumidores de leite pasteurizado tem renda familiar mensal superior a R$3.000,00. A Teoria do Consumidor explica o 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural comportamento dos consumidores de leite sendo as variáveis renda e preço do bem fundamentais na escolha. Palavras-chaves: leite, consumo, bens substitutos. Abstract Based on the Consumer Theory, this research studies the behavior of milk consumers and the variables that determine their preferences between pasteurized and UHT milk. Thus variables such as price, income, price of substitutes and taste influence the demand. In the last category, we included custom, convenience and cultural issues. It is emphasized that the UHT and pasteurized milk are not perfect substitutes due to differences in storage and quality. However, it is expected to be substitutes to some extent. Data were collected from 250 consumers, via interview, in two supermarkets in Santa Maria-RS, Brazil. UHT milk is the exclusive choice of 81% of respondents, in line with studies with regards the preferences in Brazil. This choice is mainly related to the supply of milk. The results show that 33% of consumers are willing to substitute UHT milk to pasteurized if the price of the former reach the maximum value of R$2.00 (on average R$1.86), 16% would decrease the quantity demanded - but would not switch, while 51% would continue buying. In conclusion, on the one hand, consumers of UHT milk consider milk an essential good, hence there is not a value that would replace it with pasteurized milk. This indicates that consumers do not have an economic behavior as rational as expected. On the other hand, 73% of consumers would switch pasteurized milk to UHT if the latter would have a value equal or at least a little lower than the pasteurized milk current price. It shows that there is a pent-up demand for UHT milk. Cheaper packaging of UHT would enable these consumers to purchase the product. Thus, the UHT milk is a substitute for pasteurized milk, but the reverse is not true. The results show that 64% of the respondents believe the price is an important attribute in choice. 25% of consumers of UHT milk have income less than R$ 1,000, and only 15% of consumers of pasteurized milk have family income above R$ 3,000. The Consumer Theory explains the behavior of milk consumers where price and income play the most important role in choice. Key Words: milk, consumption, substitutes goods. 1. INTRODUÇÃO No Brasil, o consumo de leite longa vida cresce ao mesmo tempo em que a preferência pelo leite pasteurizado diminui. A praticidade desse tipo de leite, além do surgimento de embalagens alternativas a tradicional caixinha – como a garrafa de plástico e o sache – parecem atrair mais os consumidores. Todavia, o leite pasteurizado ainda é presença no cotidiano de muitos consumidores afinal, apresenta um preço menor. O presente trabalho visa também trazer novas contribuições sobre a preferência por esse tipo de leite, o qual parece perder espaço não apenas na mesa de grande parte dos brasileiros, mas também na literatura econômica. Vários artigos sobre o mercado de leite destacam as altas taxas de crescimento da demanda de leite UHT, mas tratam pouco a respeito do porquê de alguns consumidores ainda serem fiéis ao famigerado “leite de saquinho”. 2 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Nesse sentido, surge a necessidade de estudar a demanda por leite com o intuito de investigar o comportamento do consumidor na escolha do produto. Esta pesquisa busca entender o que leva os indivíduos a preferirem leite UHT (caixa, sache e garrafa) ou leite pasteurizado (comumente o leite de saquinho embora o leite pasteurizado possa ser vendido em outra embalagem). Além disso, esta pesquisa também busca definir qual é o público alvo de cada forma de apresentação e o que move os consumidores em direção ao consumo de um ou de outro tipo. O objetivo principal desta pesquisa é analisar como a escolha do consumidor é influenciada por variáveis como a renda, o preço, a embalagem, o sabor, além de fatores culturais e sociais. Além disso, pesquisa objetiva investigar quais são os determinantes da escolha do consumidor por leite UHT ou por leite pasteurizado. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Definição dos processos de industrialização de leite Segundo Fernandes (2006), a pasteurização caracteriza-se por ser um processo térmico para minimizar efeitos danosos à saúde com poucas alterações nas propriedades químicas do leite. Este processo emprega temperaturas de 72ºC a 75ºC graus por 15 a 20 segundos e depois resfriado a temperatura de 4ºC e embalado. A embalagem deve garantir proteção contra contaminação. O leite Ultra Alta Temperatura (UHT), segundo Fernandes (2006), é inicialmente levado a temperaturas de 130ºC a 150ºC durante 2 a 4 segundos, resfriado a temperatura menor que 32ºC e envasado em embalagem hermeticamente fechada. De acordo com Prata apud Fernandes (2006), o leite processado por UHT pode sofrer modificações que comprometem sua qualidade. De acordo com Porto (2010), no leite pasteurizado há sobrevivência de algumas bactérias. Outras desvantagens se referem ao prazo de validade do produto (apenas cinco dias e precisa de refrigeração). Dessa forma, o que determinará a qualidade do leite é a qualidade da matéria prima utilizada (leite tipo A, B ou C). O processo UHT por sua vez, elimina todas as bactérias tornando o leite “estéril” (algumas bactérias resistentes ao calor podem sobreviver) e aumenta o prazo de validade do produto sem necessidade de refrigeração (o que permite estocagem e facilita o transporte). Entretanto, o leite longa vida (UHT) sofre perda de nutrientes, alteração de sabor e limitação ao leite de beber, isto é, não pode ser utilizado para preparação de derivados de leite. Infere-se, pois, que ambos os processos possuem vantagens e desvantagens. 2.2 Consumo de leite no Brasil O aumento de poder de compra nos últimos anos aliada à maior preferência por produtos de maior qualidade e aos benefícios à saúde incentiva o aumento da demanda de leite. As mudanças na rotina dos brasileiros também acarretam variações na escolha quanto ao tipo de embalagem (busca-se maior facilidade no acondicionamento do produto). Segundo Silva (2008), um dos fatores que interferiram significativamente no mercado de lácteos foi o surgimento e o crescimento do leite longa vida. O consumo deste tipo de leite apresentou, após o plano real, um aumento de 340%. Igualmente, o aumento da demanda 3 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural de leite UHT é explicado por fatores como os novos hábitos de vida e as facilidades proporcionadas pelos supermercados. Essas mudanças na realidade dos consumidores bem como a busca por maior qualidade na alimentação originam pressões pela qualidade dos produtos desde sua fase inicial. Não obstante, parte da produção brasileira é vendida clandestinamente o que gera um produto de qualidade inferior devido à falta de fiscalização, de controle sanitário, de higiene, de cuidados no armazenamento e no transporte. Todavia, a fiscalização aumentou nos últimos anos bem como a preferência por produtos de origem regulamentada. Nos Estados Unidos, por exemplo, praticamente todo o leite consumido é fresco e pasteurizado sendo o consumo de leite longa vida e mesmo de leite em pó muito pequeno. O Brasil não parece seguir a tendência de leite fresco de qualidade como os Estados Unidos, mas essa é uma alternativa para o mercado de lácteos brasileiro o qual tem, ainda, muito a se desenvolver (Gomes apud Fernandes, 2006). O Brasil encontra-se entre os maiores produtores mundiais de leite – sexto maior em 20071, entretanto apresenta uma produtividade de apenas 1,24 toneladas por cabeça2, muito abaixo da de países como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido entre outros. Quanto à produção interna, destacam-se alguns estados como principais produtores. São eles: Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo (alternam-se conforme o ano a posição de GO, PR e RS). Em nível microeconômico identifica-se a existência de grandes e pequenos produtores, ou seja, tem-se desde a pequena agricultura familiar produzindo 25 litros/dia até o grande latifúndio com produção de 500 litros/dia. O grande desvio-padrão entre as unidades produzidas gera distorções, quando se calcula a produção e a produtividade média no país. 2.3 Perfil dos consumidores O mercado de leite é bastante estudado em pesquisas acadêmicas. Muitos são os artigos os quais tratam sobre as modificações ocorridas no mercado nos últimos anos, as potencialidades de aumento da produção e da produtividade de leite no Brasil, as condições do mercado internacional, a melhora da qualidade do produto e o comportamento do consumidor. Enfim, a cadeia agroindustrial é estudada desde as possibilidades do produtor até as mudanças nas preferências no elo final da cadeia – o público consumidor. Brandão (2005) estuda o consumo de leite orgânico em Minas Gerais. Seu trabalho tem como referencial teórico a Teoria do Consumidor a qual explica como se dá a escolha do consumidor frente ao leite orgânico e os demais produtos. A autora estima dois modelos para determinar a chance de um consumidor comprar leite orgânico e o preço que estes consumidores estariam dispostos a pagar por ele. A metodologia utilizada por Brandão foi econométrica e os dados utilizados foram obtidos via entrevista direta com os consumidores em supermercados de várias cidades do estado de Minas Gerais. Neste trabalho, o tamanho da amostra foi determinado utilizando-se a fórmula para populações 1 2 Dados da USDA (United States Department of Agriculture) publicados nas estatísticas da Milkpoint. PRINCIPAIS INDICADORES LEITE E DERIVADOS: boletim eletrônico mensal. 4 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural infinitas e o número de questionários foi distribuído entre as cidades escolhidas para a pesquisa conforme a população de cada uma delas. O modelo estimado por Brandão (2005) para a disposição a comprar leite orgânico continha variáveis como a disposição a pagar, o preço pago pelo leite tradicional, o sexo, o nível de escolaridade, a renda, a idade e a preocupação dos consumidores com questões ambientais e com a saúde. O modelo para determinação do preço que os consumidores estão dispostos a pagar continha variáveis como o preço pago pelo leite convencional, a renda, o número de moradores na residência do entrevistado, a idade, o sexo, se o entrevistado bebe ele próprio leite ou apenas compra para a família, o nível de escolaridade, se o consumidor já havia ouvido falar de leite orgânico e a preocupação com o meio ambiente e com a saúde. Magdalena et al. (2008) realiza um estudo para determinar os hábitos de consumo de leite pelo público da terceira idade (pessoas com mais de 60 anos). O método utilizado foi inicialmente pesquisa de dados secundários para conhecer o mercado de leite e os vários tipos de leite disponíveis e depois entrevistas (100 entrevistados) com idosos em universidade para terceira idade e em centros de convivência de idosos. Os questionários buscavam informações a respeito do perfil dos entrevistados (renda, hábitos de compra e consumo de leite e atributos valorizados na escolha). Os resultados da pesquisa apontam que há interesse desse grupo de consumidores por um leite dirigido a ele preferencialmente enriquecido com cálcio e acondicionado em embalagem longa vida e também que há disposição a pagar um pouco mais por um produto assim. Gouvêa e Scrignoli (2005) estudaram o comportamento do consumidor frente às marcas de leite. O trabalho visa apontar os atributos preferidos e relevantes para os consumidores na escolha de uma marca. O arcabouço teórico do trabalho é a teoria do marketing. Foram feitas 150 entrevistas com moradores de São Paulo e Ribeirão Preto em, segundo as autoras “pontos de fluxo populacional” o que difere da metodologia utilizada pelos demais trabalhos apresentados nesta revisão de literatura. As perguntas dos questionários identificavam o perfil dos consumidores (idade, local de residência, número de moradores na residência, renda), tipos de leite consumido, preferência por alguma marca, freqüência de compra desta marca e características dessa marca. Os resultados foram analisados via análise fatorial, análise de conglomerados e análise de correspondência múltipla. As conclusões do estudo são que o nível de escolaridade mais elevado aumenta a preocupação com aspectos qualitativos e não apenas com o preço, que recomendações de conhecidos influenciam a escolha do consumidor e que ações de marketing das empresas não interrompem a preferência por algumas marcas já conhecidas pelas pessoas. Marandola e Lemanski (2006) escreveram sobre o perfil de consumidores de supermercados em Londrina. A metodologia adotada foi a pesquisa de campo sendo realizadas 400 entrevistas com consumidores nos supermercados da cidade em vários dias da semana. O questionário continha perguntas objetivas e a análise dos dados foi feita com base na estatística descritiva. Algumas das conclusões acerca do perfil dos consumidores a que a pesquisa chegou foram que a maioria dos clientes são mulheres, freqüentam o supermercado mais de três vezes por semana, tem gasto mensal superior a R$ 400 e que as promoções realizadas pelos supermercados são um grande atrativo. Como sugestão das 5 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural autoras para aumentar as vendas é a realização de mais promoções, pois estas atraem os clientes que dificilmente compram apenas o produto em promoção. 3. REFERENCIAL TEÓRICO Teoria do Consumidor A fundamentação teórica do presente trabalho baseou-se na Teoria do Consumidor da Teoria Microeconômica3. Os indivíduos procuram maximizar sua própria satisfação ao consumir bens os quais fornecem algum nível de utilidade considerando a restrição orçamentária que possuem. A curva de indiferença indica as várias combinações de bens que fornecem um mesmo nível de utilidade ao consumidor. Essas combinações de bens são chamadas de cestas de consumo, as quais possuem vários bens diferentes, mas para facilitar o entendimento gráfico, costuma-se considerar dois bens. Nesse caso, pode-se considerar um bem e o outro todos os demais bens. A maximização da utilidade do consumidor ocorre em um ponto em que a curva de indiferença é tangente à linha de restrição orçamentária, que indica as quantidades máximas dos bens que o individuo pode adquirir com determinada renda. O presente trabalho busca responder quais são as variáveis determinantes da escolha do consumidor entre leite pasteurizado e leite UHT e não entre leite e os demais bens. Sendo assim, considerou-se que o mais adequado é utilizar curvas de indiferença para bens substitutos. Leite UHT e pasteurizado não são substitutos perfeitos uma vez que possuem diferenças na forma de armazenamento, na qualidade e na validade o que significa que muitos consumidores podem não ser totalmente indiferentes a consumir um ou outro tipo. Entretanto, espera-se que sejam substitutos em alguma medida. O mapa de indiferença para bens substitutos perfeitos é apresentado a seguir. Y U1 3 U2 U3 X Esta sessão baseia-se em Varian (2000). 6 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Figura 1- Mapa de curvas de indiferenças Fonte: Elaboração da autora com base em Varian (2000) As curvas de indiferença para bens substitutos perfeitos, diferentemente das convencionais curvas de indiferença convexas em relação à origem, são linhas retas. Neste caso os indivíduos são totalmente indiferentes a consumir um ou outro bem, o que determinará a escolha é o preço do bem. A taxa marginal de substituição – que é a quantidade que um indivíduo está disposto a abrir mão para obter uma unidade a mais do outro bem – entre os bens X e Y no gráfico, é constante. Pindyck e Rubinfeld (2006) definem: “dois bens são substitutos perfeitos quando a taxa marginal de substituição de um bem pelo outro é constante”. Como nas demais curvas de indiferença convexas, nestas curvas lineares, a utilidade da pessoa aumenta à medida que se consome mais de ambos os bens e se atinge curvas de indiferença mais elevadas. A demanda (a quantidade de um bem que cada pessoa adquire) depende fundamentalmente do preço do bem, da renda e do gosto. Bens substitutos dependem também do preço dos bens substitutos – isto é, aumentos no preço de um causam aumento na demanda de outro. Considerando-se o caso do leite, variações no preço do leite UHT se refletem em variações na demanda de leite pasteurizado e vice versa. Além do preço e da renda, outra importante variável que influencia a demanda por um bem é a preferência, ou o gosto. Considerando-se o caso especifico do leite entende-se que nesta categoria de gosto se incluir variáveis como o costume de adquirir um tipo de leite, a praticidade, o sabor e também questões culturais cuja pesquisa visa apontar. O ponto de tangência da linha de restrição orçamentária e da curva de indiferença para bens substitutos na verdade não ocorre, o que ocorre é um ponto chamado solução de canto em que o consumidor se especializa no consumo de apenas um bem, o mais barato. Conforme já ressaltado, não se espera que os dois tipos de leite considerados sejam substitutos perfeitos (a variável gosto neste caso pesará bastante na escolha), ou seja, o leite mais barato não dominará todo o mercado uma vez que se trata de produtos diferenciados. O conceito de especialização do consumo permanece válido, pois se espera que o indivíduo adquira apenas um tipo de leite, não necessariamente o mais barato, mas aquele que, segundo cada consumidor, forneça maior utilidade. O leite em pó foi incluído na pesquisa apenas como alternativa de consumo possível. Buscou-se determinar, também, quais são os determinantes da escolha por esse tipo de leite e quais as características valorizadas por quem o adquire. Entretanto, considerou-se que seja um substituto em menor medida para os outros dois tipos de leite por possuir características diferenciadas. Nesse sentido, foi determinado o público alvo do leite em pó. 4. METODOLOGIA Os dados primários foram coletados via entrevista direta junto a consumidores de leite UHT e pasteurizado em dois supermercados do município de Santa Maria – RS 7 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural durante o mês de fevereiro de 2010 (Anexo 1). Os dados foram tabulados e analisados de forma conjunta. Gil (2007) diferencia os instrumentos de coleta de dados mais usuais como questionário, entrevista e formulário. Questionário trata-se de questões respondidas pelo próprio entrevistado, entrevista envolve o entrevistador e o entrevistado com aquele formulando perguntas a este (quando a entrevista for totalmente estruturada, isto é, com perguntas fixas, confunde-se com o formulário) e formulário é a técnica em que o pesquisado responde questões previamente elaboradas pelo pesquisador e este anota as respostas. Segundo Gil (2007), “por ser aplicável aos mais diversos segmentos da população e por possibilitar a obtenção de dados facilmente tabuláveis e quantificáveis, o formulário constitui hoje a técnica mais adequada nas pesquisas de opinião e de mercado”. 4 O formulário pode também ser aplicado em condições não favoráveis a uma entrevista como em filas e na rua. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1 Tomada de decisão Os consumidores que responderam o formulário, em sua maioria, pensavam sobre suas decisões de consumo apenas no momento da entrevista, ou seja, a decisões de consumo de leite é um exercício realizado rotineiramente sem a finalidade de maximizar sua utilidade. O percentual de indivíduos que não lembravam a quantidade aproximada de leite que compram – 7,2% - ou do preço aproximado que pagam por um litro – 16% - mostra que a compra é um ato automático. Embora durante a pesquisa a maioria forneça respostas coerentes com a teoria econômica, os consumidores não demonstram pensar sobre suas decisões no momento da compra. A ingestão de leite recomendada pelo Ministério da Saúde, para adultos acima de vinte anos, é de 600ml/dia ou 219 litros/ano (Zoccal, 2009). O consumo no Brasil é, entretanto, bastante pequeno. Constatou-se na pesquisa que a quantidade consumida é, em média, de 96 litros/ano (quantidade obtida dividindo-se o consumo familiar mensal pelo número de moradores na residência do pesquisado e depois se calculando o valor anual). O consumo de leite é então extremamente insuficiente. As pessoas consideram-no um bem essencial que não pode faltar na suas cestas de consumo conforme o afirmado por muitas delas, mas ainda assim não ingerem o suficiente o que é bastante alarmante tratando-se da ingestão no Rio Grande do Sul, um dos maiores estados produtores brasileiros de leite. Muitas das pessoas abordadas durante a coleta de dados não puderam ser pesquisadas porque consumiam apenas leite vindo de leiteiros, o que não era objeto da pesquisa. Este fato mostra que embora se discuta sobre a busca por leite de melhor qualidade e a existência de fiscalização mais rigorosa, o leite não beneficiado ainda é a realidade de muitos consumidores. Essas pessoas diziam inclusive que esse leite é muito melhor em termos de sabor sendo a expressão “com mais gosto de leite” frequentemente usada para caracterizá-lo. 4 GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. P. 115. 8 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Ao mesmo tempo, outros consumidores, de leite pasteurizado dessa vez, afirmavam que o leite longa vida não está muito próximo do que eles julgam ser um autêntico leite de vaca, não parece ter um sabor tão natural. Os consumidores de leite longa vida por sua vez, em geral acreditam que é o leite pasteurizado que não é muito bom sendo considerado um produto inferior, sobretudo em termos de qualidade. Entretanto, alguns dos consumidores de leite UHT (sobretudo aqueles de idade mais avançada) afirmam que o consomem devido à praticidade da embalagem, mas acreditam que o leite pasteurizado é realmente “mais parecido com o leite natural” que seria o leite vindo de leiteiro. Esses dados, tanto o do número de consumidores de leite de leiteiro quanto as opiniões pessoais dos pesquisados não puderam ser tabulados e quantificados. No primeiro caso, como já afirmado, não se objetivava pesquisar o consumo de leite de leiteiro por não se esperar que esta fosse uma realidade muito presente em Santa Maria. No segundo caso, devido à adoção do formulário padrão que não era flexível ao registro de pareceres pessoais. Todavia, como as opiniões dos consumidores mais dispostos a comentar suas preferências (além do que já lhes era perguntado) foram semelhantes nesses pontos, resolveu-se trazê-las também como resultado da pesquisa. 5.2 Perfil sócio-econômico dos consumidores Procurou-se realizar a pesquisa com o público mais heterogêneo possível. A maioria dos pesquisados, no entanto são do sexo feminino devido à maior presença de mulheres nos supermercados e também ao fato de, quando abordados casais, ser a esposa a responder. Variáveis como idade, sexo, bairro de residência, estado civil e escolaridade não se revelaram significativas na escolha do tipo de leite consumido. A não ser que se considere o nível de escolaridade relacionado com a renda e esta com a escolha. Figura 1 mostra que a amostra é bastante diversificada no que se refere à idade dos pesquisados. 50 40 30 20 10 0 83 ,2 73 ,6 64 54 ,4 44 ,8 35 ,2 Freqüência 25 ,6 16 Freqüência Histograma da Idade Idade Figura 1 - A idade média em anos dos entrevistados Fonte: Dados da pesquisa 9 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 5.3 Escolha baseada na renda Tomando-se apenas os compradores de leite pasteurizado, verifica-se que apenas 15% possuem renda superior a R$3.000,00, o que confirma também outro pressuposto da teoria do consumidor – de que a renda é uma das principais variáveis na escolha dos bens. Assim, consumidores de leite pasteurizado têm uma renda inferior e escolhem o leite pasteurizado fundamentalmente por causa do preço. Da mesma forma, no total 25% dos consumidores de leite longa vida possui renda inferior a R$1.000,00. Este resultado também está em linha com a teoria econômica, pois vários consumidores com renda mais baixa preferem consumir leite UHT devido a suas características. Dessa forma, as estatísticas em relação à renda permitem verificar que o leite pasteurizado é realmente um bem inferior, enquanto o leite longa vida é um bem superior. 5.4 Essencialidade do leite O leite UHT é a escolha exclusiva de 81,2% o que corrobora com trabalhos que afirmam ser este a preferência no Brasil. A escolha pelo leite UHT deve-se, principalmente, a disponibilidade de leite desnatado bem como a percepção de ser este um produto de qualidade superior (conforme o afirmado pelos pesquisados) e de possuir maior praticidade. 5.5 Escolha baseada no preço O preço médio pago pelo leite longa vida é de R$1,50/litro, conforme afirmativa dos pesquisados com desvio padrão de R$0,29. O preço médio do leite pasteurizado é de R$1,13 (desvio padrão de R$0,17). Os valores dos desvios padrão indicam que a percepção dos consumidores de leite pasteurizado é mais uniforme do que a daqueles que compram leite UHT. Como o leite pasteurizado é mais barato e consumido em geral por um público de renda inferior, esse valor também indica que esse público é mais atento ao preço do bem, pois não há tanta disparidade entre os preços. Ao mesmo tempo, pode indicar que os preços do leite pasteurizado não variam tanto de uma marca para outra como ocorre com o leite longa vida. Aproximadamente 64% dos consumidores (tomando o agregado de compradores de leite pasteurizado e longa vida) levam em consideração o preço na hora de compra, confirmando o pressuposto mais básico da teoria do consumidor. Por se tratar de um produto alimentício básico, muitos consumidores, se preocupam também com a qualidade do produto no caso de consumidores de leite longa vida, com a praticidade proporcionada pela embalagem. 5.6 Escolha baseada em outros fatores Um dos fatores investigados como possível de gerar preferência pelo leite longa vida foi a praticidade da embalagem. Confirmou-se que esta é, de fato, uma das causas para a compra. Cerca de 69% dos consumidores de leite UHT confirmaram ser este o fator 10 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural decisivo para a escolha. No entanto, muitos indivíduos que adquirem tanto leite pasteurizado quanto longa vida, afirmaram que a embalagem UHT é muito mais adequada. Esperava-se que a preferência pelo leite longa vida estivesse também bastante relacionada, também, com a freqüência de compra. Entretanto, aproximadamente 54% dos consumidores de leite longa vida realizam as compras todos os dias ou de uma a duas vezes por semana enquanto, 46% compram uma ou duas vezes por mês. Este resultado indica que não há uma tendência à estocagem do produto por parte da maioria dos consumidores e a freqüência da compra não é um atributo relevante na preferência pelo leite UHT. O critério de um produto com qualidade superior é também ratificada por 72% dos consumidores de leite longa vida. 44% dos compradores deste tipo de leite também justificam sua escolha pela marca, isto é, confirmaram ter preferência por uma ou mais marcas. Este fato mostra que, embora as percepções quanto a preço e muitas vezes quanto a quantidade comprada não sejam muito sentidas pelos consumidores, mas quando se trata de diferenças entre marcas há mais discernimento. Várias as pessoas afirmaram que devido às diferenças de gostos entre as marcas não consumiam algumas delas. Este resultado identifica os consumidores como mais atentos às características do produto do que com as variáveis preço e quantidade. Para os consumidores de leite pasteurizado, além do preço – o qual é fator importante na escolha de 80% dos consumidores – o sabor (melhor do que o do leite longa vida segundo os pesquisados) é citado por 66% dos pesquisados como variável importante. Sendo essas os fatores de maior destaque para este produto. A Tabela 1mostra os fatores valorizados pelos consumidores na escolha do tipo de leite conforme a renda familiar mensal. Tabela 1 – O número de indivíduos de cada faixa de renda e os fatores importantes na escolha Fatores Até R$500 De R$500 a R$1000 De R$1000 a R$3000 De R$3000 a R$5000 Mais de R$5000 Preço 9 33 83 21 13 Embalagem 14 24 81 22 19 Sabor Validade Qualidade Marcas Tipos Especiais Opinião dos outros Total de pessoas 8 10 8 7 1 24 30 24 14 6 69 82 88 52 10 19 21 22 16 2 11 15 17 20 2 3 4 7 9 6 17 47 122 36 28 Fonte: Dados da pesquisa 11 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural O fator “tipos especiais” foi incluído para investigar se as pessoas consomem leite com mais ferro, mais cálcio, baixa lactose, etc. O número de indivíduos que consomem estes tipos foi, no entanto, muito pequeno e não foi apontado como importante para os consumidores em geral em nenhum extrato de renda. Embora muitos consumidores observem diferenças entre marcas e tenham suas favoritas (conforme comentado pelos pesquisados durante a aplicação do formulário), apenas para as pessoas de renda superior a R$5000 a marca é mais frequentemente apontada como importante do que outros fatores. Isso mostra que, conforme a renda é mais alta, a variável gosto ganha mais importância na escolha em detrimento até mesmo do preço do bem. Para os consumidores de renda inferior a R$500, a embalagem e a validade foram apontados como importantes por um maior número de pesquisados do que o preço o foi. Este resultado surpreende e não se mostra muito condizente com o esperado – isto é, o preço como variável mais importante na escolha. Poder-se-ia considerar que muitos indivíduos podem ter se sentido envergonhados de admitir que atribuam importância ao preço. Entretanto, como a renda foi perguntada somente no final do formulário, ou seja, após o pesquisado já ter respondido quais são os fatores importantes, este não é um forte argumento. O resultado, então, não se mostra muito coerente. Os consumidores das faixas de R$500 a R$1000, de R$1000 a R$3000, de R$3000 a R$5000 revelaram comportamento extremamente racional. Estes valorizam, sobretudo, o preço e qualidade e depois embalagem e validade. A opção marcas também é bastante importante, mas não decisiva durante a compra. O sabor (isto é, se o individuo acredita que a possível diferença de sabor entre os tipos de leite é determinante na sua preferência pelo produto que usualmente compra ou não), também não é tão frequentemente apontado como importante por essas faixas de renda quanto os demais fatores. Enfim, os dados revelam um comportamento econômico racional de certo modo. O preço é um atributo importante para a maioria dos pesquisados embora perca um pouco a importância para indivíduos de renda superior. Ao mesmo tempo, devido às especificidades do produto (leite é um bem essencial, muito importante na alimentação de todos os membros da família), há uma preocupação com outros fatores também. 5.7 Consumidores de leite em pó O leite em pó foi incluído na pesquisa apenas como alternativa de possível consumo. Buscou-se investigar também, quais são os determinantes da escolha por esse tipo de leite e quais as características valorizadas. Espera-se que este tipo deleite seja um substituto em menor medida para os outros dois tipos de leite por possuir características diferenciadas. Poucas afirmaram consumir leite em pó. Geralmente, o leite em pó é adquirido juntamente com outro tipo de leite. Dessa forma, devido a amostra reduzida, não foi possível identificar o perfil dos consumidores deste produto. Apesar disso, observou-se que o preço médio pago por pacote ou lata de leite em pó é de R$6,23 e o valor máximo que os consumidores se dispõem a pagar é de R$7,11. Quando perguntados sobre a possibilidade de abandonar o consumo de leite em pó caso o preço deste subisse, apenas 28% se dispõem 12 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural a parar de comprá-lo. Quanto ao perfil sócio econômico desses consumidores, 72% têm pelo menos curso superior incompleto enquanto, a renda familiar mensal é, para 64%, superior a R$3.000,00. Confirmou-se, porém, que este produto é realmente adquirido por um público diferenciado – com renda e escolaridade superior e não dispostos a substituir o produto consumido. 5.8 Disposição a pagar A pergunta que gerou mais dúvidas junto aos entrevistados refere-se ao preço máximo que estaria disposto a pagar por um litro de leite – 8,4% dos consumidores não souberam responder. Muitos respondiam um valor menor do que o afirmado como pago por um litro – mesmo depois de terem sido esclarecidos do que é a disposição máxima a pagar e de que era uma pergunta apenas para fins de pesquisa. Essas respostas não demonstram um comportamento econômico racional e dificulta a tentativa de se calcular a disposição máxima a pagar amplamente discutida na teoria microeconômica, mas de difícil verificação prática. A média do valor máximo foi de R$1,86 com desvio padrão de R$0,49 para o leite longa vida. Quanto ao leite pasteurizado, o valor máximo foi de R$1,63 com desvio padrão de R$0,65. Considerando-se os valores mencionados pela maioria dos consumidores dos dois tipos de leite, tanto para o preço médio quanto para a disposição máxima a pagar, nota-se que os consumidores do leite pasteurizado se dispõem a pagar 50% mais pelo produto enquanto os consumidores de leite UHT se dispõem a pagar 33% a mais. Essas porcentagens indicam que aqueles que compram leite longa vida se dispõem a pagar proporcionalmente menos devido a possibilidade de trocar de produto, embora a faixa de renda dos consumidores deste tipo de leite seja mais alta. Supostamente, dessa forma, a disposição a pagar destes consumidores deveria ser maior gerando um resultado, de certa forma, contraditório. Os resultados mostram que 33% dos consumidores estão dispostos a substituir leite UHT por pasteurizado caso o preço do UHT atingisse o valor como máximo; 16% diminuiriam a quantidade, mas não trocariam de produto enquanto, 51% continuariam a comprar. Por outro lado, 73% dos consumidores de leite pasteurizado trocariam para o UHT caso este possuísse um valor igual ao do leite pasteurizado ou pelo menos um pouco menor que seu preço atual - o que mostra que existe uma demanda reprimida por leite UHT. O barateamento da embalagem UHT possibilitaria que estes consumidores possam adquirir o produto. Dessa forma, o leite UHT é um substituto para o leite pasteurizado, porém o contrário não se verifica. 6. CONCLUSÕES Conclui-se que o leite longa vida ganha cada vez mais espaço na preferência do consumidor devido, sobretudo a sua praticidade e a percepção dos consumidores de ser um leite de qualidade superior enquanto, o leite pasteurizado perde espaço devido a aos mesmos motivos. O ato de comprar é feito automaticamente, pois os consumidores não 13 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural parecem questionar a si mesmos sobre os motivos da compra e a possibilidade de efetuar substituições ou mudar seu comportamento de consumo. A ingestão de leite é, em média, muito baixa exigindo medidas de incentivo ao aumento do consumo por se tratar de um produto saudável. Ao mesmo tempo, parece ser marcante a presença de consumidores de leite de leiteiro, o qual não passa por um processo de beneficiamento e pode trazer riscos a saúde. Ressalta-se que sejam adotadas medidas junto aos consumidores para incentivar o hábito de adquirir leite beneficiado e junto aos produtores para melhorar a vigilância e segurança do produto. O público de ambos os tipos de leite – pasteurizado e longa vida – é bastante heterogêneo quanto idade e nível sócio-cultural. O leite pasteurizado é a escolha, sobretudo, de um público de renda inferior. Verificou-se que trata-se de um bem inferior – o aumento da renda causa a redução do consumo. O preço é a preocupação da maioria dos consumidores de leite, confirmando o pressuposto da teoria microeconômica de que este influencia a escolha. Devido, porém, a considerar o leite um bem essencial e quase que indispensável os consumidores se preocupam também com a qualidade do que estão adquirindo. A disposição a pagar é de difícil verificação prática devido aos consumidores não pensarem em suas escolhas sob esse aspecto. Todavia, verificou-se, sobre esse aspecto, que os indivíduos, por considerarem o leite um bem essencial, estão dispostos a continuar a adquiri-lo mesmo com aumentos de preço. O leite longa vida se revelou um bem substituto para o leite pasteurizado porque, em geral, os consumidores de leite pasteurizado se dispõem a trocar de produto caso o preço do UHT fosse menor. Há, desse forma, uma demanda reprimida por leite longa vida. Essa demanda poderia ser satisfeita em caso de barateamento da embalagem UHT que diminuiria o preço do produto. Cabe desenvolver novas formas de armazenamento para o leite longa vida. O leite pasteurizado, contudo, não é um substituto direto para o leite longa vida. Muitos consumidores de leite longa vida até o substituiriam, mas o fariam a contra gosto e somente caso o preço realmente aumentasse bastante. REFERÊNCIAS BRANDÃO, I. F. Condicionantes do consumo de leite orgânico em Minas Gerais. Viçosa: UFV, 2005. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada), Universidade Federal de Viçosa, 2005. FERNANDES, Ana Maria. Estudo comparativo entre leite pasteurizado e leite uht. Rio de Janeiro: UCB, 2006. Monografia (Especialização em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal e Vigilância Sanitária em Alimentos), Universidade Castelo Branco, 2006. GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2007. GOMES, S. T. Evolução recente e perspectivas da produção de leite no Brasil. In: Aloísio Teixeira Gomes; José Luiz Bellini Leite; Alziro Vasconcelos Carneiro. (Org.). O agronegócio do leite no Brasil. Juiz de Fora - MG: EMBRAPA, 2001, p. 49-61. 14 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural GOUVEA, M. A. SCRIGNOLI, B. Comportamento do consumidor em relação a marcas de leite. In: VIII SEMEAD Seminários em Administração, 2005, São Paulo. VIII SEMEAD Seminários em Administração. São Paulo: FEA/USP, 2005. v 1. MAGDALENA, H. Z. ; SCARE, R. F. ; CASANOVA, A. C. P. Hábitos de Consumo e atributos valorizados na compra de leite pelo público da terceira idade. In: SOBER XLVI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, 2008, Rio Branco, AC. SOBER XLVI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, 2008. MARANDOLA, M. E. LEMANSKI, S. R. Estudo do perfil do consumidor de supermercados da cidade de Londrina. Revista Eletrônica Terra e Cultura, v. 43, ano 22, p. 41-44, 2006. Disponível em: <web.unifil.br/docs/revista_eletronica/terra_cultura/.../terra_03.pd> Acesso em: dezembro 2009. MILKPOINT. Estatíticas da Milkpoint. Disponível <http://www.milkpoint.com.br/estatisticas.htm> Acesso em: outubro de 2009. em: PINDYCK, Robert S, RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 6ªed. São Paulo: Prentice Hall, 2006. PORTO, Ernani. Pasteurização do leite. Disponível on-line: < http://www.esalq.usp.br/departamentos/lan/pdf/Pasteurizacao.pdf> Acesso em: 21/01/10. PRINCIPAIS INDICADORES LEITE E DERIVADOS: boletim eletrônico mensal. Coordenadores, Glauco Rodrigues Carvalho e Alziro Vasconcelos Carneiro. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, v. 2, n. 15, 10 set. 2009. Disponível em: <http://www.cileite.com.br/publicacoes/arquivos/2009_09_Indicadores_leite.pdf>. Acesso em: outubro 2009. SILVA, Rosana de Oliveira Pithan. Evolução das Características do Mercado de Leite. Revista Análises e Indicadores do Agronegócio. v. 3, n 10, outubro 2008. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9583> Acesso em: outubro 2009. VARIAN, Hall R. Microeconomia: princípios básicos. 5ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. ZOCCAL, R. Estatísticas de Consumo. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia8/AG01/arvore/AG01_168_21720039245. html> Acesso em: outubro 2009. 15 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural ANEXO 1 Este formulário faz parte de uma pesquisa científica realizada por pessoal do curso de Economia da Ufsm para determinar o perfil dos consumidores de leite pasteurizado e longa vida em Santa Maria. A aplicação do formulário levará aproximadamente 5 minutos. Supermercado: .................................... 1) Idade: 2) Sexo: M F 3) Bairro em que mora: 4) Estado civil: Solteira Casada ou ajuntada Divorciada ou separada Viúva 5) Escolaridade: Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo Ensino médio incompleto Ensino médio completo Ensino superior incompleto Ensino superior completo Pós-graduação 6) Quantas pessoas moram em sua residência: Adultos ..... Crianças ..... 7) Nos 2 últimos meses compra leite: Pasteurizado Longa vida Leite em pó 8) Dos fatores a seguir quais são importantes p/ você na escolha do tipo de leite: Preço Embalagem Sabor Prazo de validade maior Qualidade Marcas Disponibilidade de tipos especiais Opinião dos outros * Sabor: é melhor que os outros * Qualidade: tem mais qualidade e acredita passar por um processo de tratamento mais higiênico 9) Com que freqüência compra leite: Todos os dias Uma ou duas vezes por semana A cada duas semanas Uma vez por mês 10) Quantos litros de leite são consumidos (família/mês): L de leite pasteurizado . . . . . . . L de leite longa vida . . . . . . Latas de leite em pó . . . . . . . Não sabe 11) Quanto você geralmente paga por 1l/leite (longa vida/pasteurizado): . . . . . . . Quanto você está disposto a pagar no máximo: . . ..... 12) Quanto você geralmente paga por 1lata/leite (pó) ..... Quanto você está disposto a pagar no máximo: . . ..... 13) Suponha que o preço do leite longa vida atingisse esse patamar máximo. Você passaria a comprar leite pasteurizado (apenas p/ quem compra leite longa vida): Sim Não, mas diminuiria a quantidade comprada do longa vida Não 14) Suponha que o preço do leite longa vida diminuísse. Você passaria a comprá-lo ao invés de comprar leite pasteurizado se o 16 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural preço do longa vida fosse... (apenas p/ quem compra leite pasteurizado) Menor do que o preço do leite pasteurizado O mesmo preço do leite pasteurizado Um pouco maior que o leite pasteurizado, mas menor do que o preço atual do leite longa vida Não compraria independente do preço 15) Suponha que o preço do leite em pó aumentasse. Você (apenas p/ quem compra leite em pó): Passaria a comprar outro tipo de leite Passaria a comprar outro tipo apenas se o preço aumentasse muito Não trocaria de produto independente do preço Caso comprasse outro seria: pasteurizado uht 16) Renda: Até R$ 500 reais De R$ 500 a R$ 1000 De R$ 1000 a R$ 3000 De R$ 3000 a R$ 5000 Mais de R$ 5000 17 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural