AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE AMOSTRAS DE LEITE UHT COMERCIALIZADAS EM RIO VERDE, GO. Marco Antônio Pereira da Silva1, Priscila Alonso dos Santos1, Cleusely Matias de Souza1, Edmar Soares Nicolau2, Lorena Alves de Carvalho3, Ana Izabell Passarella Teixeira3, Jacira dos Santos Isepon4 1. Doutorando em Ciência Animal – UFG [email protected] 2. Prof. Dr. do Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária – UFG 3. Acadêmicas do Curso de Medicina Veterinária – UFG, 4. Prof. Dra. do Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia – UNESP INTRODUÇÃO Pesquisas demonstram que o consumo de leite UHT (ultra high temperature) tem crescido significativamente. Dados da ABLLV (2006) informam que no ano de 2005, dos 6,5 bilhões de litros de leite fluido comercializados no país, 4,8 bilhões de litros eram de leite UHT. Esse aumento no consumo pode ser atribuído à possibilidade de estocagem deste tipo de leite por 180 dias em média à temperatura ambiente, sem que ocorra deterioração do produto, o que proporciona ao consumidor praticidade face aos demais tipos de leite fluido comercializados. Mas segundo MARTINS et al. (1999), o leite que passa pelo processo de ultrapasteurização não sofre esterilização absoluta, uma vez que, bactérias termorresistentes podem permanecer viáveis nos produtos. A adoção de práticas higiênico-sanitárias durante a obtenção e transporte da matéria-prima são fatores de fundamental importância para a qualidade deste produto (PRATA, 1998). Segundo WESTHOFF & DOUGHERTY (1981), a presença de microrganismos no leite UHT tem sido atribuída à falhas no sistema de envase das embalagens e a má higienização do equipamento de tratamento térmico, que podem servir como fontes de contaminação. Mediante o exposto e devido a estudos recentes evidenciarem a presença de microrganismos no leite UHT, o objetivo desta pesquisa foi avaliar as condições microbiológicas do leite UHT comercializado na cidade de Rio Verde, GO. MATERIAL E MÉTODOS Foram adquiridas 15 amostras de leite UHT integrais, semi-desnatadas e desnatadas de diferentes marcas em dois supermercados da cidade de Rio Verde, GO., nos dias 10 e 11 de junho de 2003. As mesmas foram conduzidas até a Unidade de Agroindústria do CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Verde, GO., para avaliação microbiológica. As amostras foram incubadas em estufa à temperatura de 35-37°C, durante sete dias, de acordo com BRASIL... (1981). Após esse período foi realizada a contagem de bactérias aeróbicas mesófilas em unidades formadoras de colônias (UFC) usando-se ágar padrão para contagem (PCA - Merck, Alemanha), de acordo com BRASIL... (1981), e feitas diluições decimais em água peptonada 0,1% de 10-1 a 10-3. Realizou-se também a contagem de bolores e leveduras em UFC utilizando-se BDA. A pesquisa de Clostridios sulfito redutores foi feita de acordo com SILVA et al. (1997), modificado, onde o meio de cultivo utilizado foi SPS com sobrecamada. A contagem de bactérias esporuladas foi feita com Agar Dextrose Triptona (DTA), segundo SILVA et al. (1997), e provas bioquímicas. RESULTADOS E DISCUSSÃO As amostras foram avaliadas quanto à presença de bactérias esporuladas, bolores e leveduras, clostridios sulfito redutores e mesófilos. Os resultados obtidos para as avaliações microbiológicas foram: bactérias esporuladas 5 esporos/10g na amostra F; para bolores e leveduras 1,0 x 103 UFC/mL estimado (est.), na amostra A; 2,0 x 102 UFC/mL est., na amostra B; 2,0 x 102 UFC/mL est., na amostra C; 2,0 x 103 UFC/mL est., na amostra I; 9,0 x 103 UFC/mL est., na amostra L; 1,0 x 101 UFC/mL est., na amostra M; 1,0 x 102 UFC/mL est. na amostra N; para clostridios sulfito redutores 10 UFC/mL est., na amostra G. Em relação a bactérias esporuladas 6,67% das amostras avaliadas estavam fora dos padrões, o mesmo não foi observado por ZACARCHENCO et al. (2000), que encontraram em 100 unidades de amostras analisadas, 45% fora dos padrões estabelecidos pela Portaria SVS/MS no 451/97, e 55% das amostras analisadas após choque térmico a 115oC/ 7min positivas para a presença de esporos. Em estudo realizado por COELHO et al. (2001) cinco entre oito marcas de leite UHT integral comercializadas em Belo Horizonte não atenderam aos padrões estabelecidos pela legislação quanto aos aspectos microbiológicos. Dos microrganismos existentes, as bactérias e fungos têm interesse na microbiologia de alimentos, pois são responsáveis por toxinfecções alimentares e processos de deterioração dos alimentos (SIQUEIRA, 1995). Os gêneros Bacillus e Clostridium apresentam a característica comum de produzir esporos, e estes são resistentes ao calor, a radiações ionizantes, compostos químicos, desidratação e congelamento, a reversão do esporo para a forma vegetativa pode resultar na multiplicação bacteriana e conseqüente deterioração do alimento ou produção de toxinas (FRANCO & LANDGRAF, 1996). Foram encontrados bolores e leveduras em 46,67% das amostras avaliadas, segundo FRANCO & LANDGRAF, (1996) os bolores são, na maioria, aeróbios, razão pela qual seu crescimento nos alimentos limita-se à superfície em contato com o ar, as leveduras requerem menos umidade que a maioria das bactérias e mais umidade que a maioria dos bolores, sendo a temperatura ideal para crescimento entre 25ºC e 30ºC. As leveduras multiplicam-se melhor quando estão em aerobiose, mas os tipos fermentativos multiplicam-se também em anaerobiose, desta forma pode-se dizer que em razão da alta contagem de bolores e leveduras do presente experimento, presume-se que houve contaminação no momento da avaliação. Com relação à clostridios sulfito redutores, houve presença em 6,67% das amostras avaliadas, as bactérias desse gênero são anaeróbias obrigatórias, com algumas espécies capazes de crescimento microaerófilo, o pH ideal está entre 6,0 e 7,0, sendo o crítico para C. botulinum de 4,6; não se desenvolvendo abaixo dessa faixa, considerando que o pH do leite está ao redor de 7,0 o leite UHT apresenta-se bastante adequado para o crescimento de clostridios, sendo preocupante este resultado (SIQUEIRA, 1995). Não houve presença de mesófilos em nenhuma das amostras avaliadas, mas no experimento realizado por ZACARCHENCO et al. (2000), ao analisarem 100 amostras de leite UHT verificaram que 22% das amostras processadas pelo sistema direto e 71,4% pelo indireto apresentaram o Bacillus sp. na forma de esporos de alta resistência térmica. SIQUEIRA (1995) relata que os microrganismos são capazes de serem encontrados em ampla faixa de temperatura (de –20ºC a 90ºC), devido a grande capacidade de adaptação que possuem, os mesófilos multiplicam-se bem entre 20 e 45ºC, tendo o ótimo de temperatura entre 30 e 45ºC, constituindo então um grupo importante por incluir a maioria dos microrganismos acidificantes (JAY, 1994). Esses microrganismos também são importantes devido a termorresistência apresentada por vários gêneros (SILVEIRA et al. 2003), daí serem preocupantes a presença em leite UHT. Das avaliações microbiológicas realizadas as que representam maiores riscos á saúde pública são as bactérias esporuladas e os clostridios sulfito redutores, sendo necessários maiores cuidados na indústria e segundo VIDAL-MARTINS et al. (2005), a qualidade da maioria dos produtos lácteos está diretamente relacionada com a qualidade microbiana do leite cru utilizado como matéria-prima. CONCLUSÕES Das 15 amostras de leite UHT analisadas, em 60% constatou-se o crescimento de microrganismos indesejáveis. Sendo que em 6,67% houve crescimento de bactérias esporuladas; 46,67% apresentaram crescimento de bolores e leveduras e 6,67% apresentaram crescimento de clostridios sulfito redutores. Mediante o número de microrganismos encontrados, sugere a necessidade de melhoras higiênico-sanitárias no fluxograma de processamento do leite UHT, devido aos prejuízos que podem causar para a indústria e colocar em perigo a saúde do consumidor. Convém ressaltar a importância de novos estudos desses e de outros microrganismos no leite UHT dessa região. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Associação Brasileira de Leite Longa Vida. Brasil (ABLLV). Mercado Total de Leite Fluido Comportamento das Vendas Internas de Leite Longa Vida 1990/2004. Disponível em: http://www.ablv.org.br/Index.cfm?fuseaction=longavida Acesso em: 29 set. 2006. BRASIL. Ministério da Agricultura. 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