Tentativas de suicídio e esquemas iniciais desadaptativos Sabrina Zancanella (1) Cristina Pilla Della Méa (2) (1) Acadêmica do X nível da Escola de Psicologia da Faculdade Meridional (IMED), Passo Fundo, RS. E-mail: [email protected] (2) Psicóloga. Especialista em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (UNISINOS) e Especialista em Psicologia Clínica (IMED). Professora da Escola de Psicologia da IMED, Passo Fundo, RS. E-mail: [email protected] Tentativas de suicídio e esquemas iniciais desadaptativos Resumo: O suicídio é considerado como um grave problema de saúde pública. No mundo, todos os anos, estima-se que mais de um milhão de pessoas cometem o suicídio. Trata-se de casos de morte ocasionados pela própria vítima, com o intuito de por fim à vida. Nesse sentido, existem critérios de classificação na área da suicidologia, como a ideação e a tentativa de suicídio. A ideação suicida refere-se à presença de imagens, pensamentos ou fantasias que um indivíduo possui com a finalidade de ferir-se ou matar-se. Já a tentativa de suicídio relaciona-se a um comportamento intencional e autoinfligido que está relacionado à vontade de morrer. Assim, a tentativa de suicídio possui as mesmas características do suicídio, diferenciando-se somente perante ao seu desfecho. Entende-se, por isso, que a tentativa de suicídio e a ideação suicida apresentam relação com uma série de estruturas mentais, denominadas por Jeffrey Young de Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs). Estes são padrões emocionais e cognitivos duradouros, que originam-se na infância e que se repetem ao longo da vida.O presente artigo tem por objetivo relacionar questões sobre tentativa de suicídio e EIDs. A metodologia adotada para esse estudo ocorreu por meio da revisão bibliográfica no período de 1967 a 2013. Os dados coletadosforam analisados e discutidos no decorrer do texto. Observou-se que os indivíduos com tentativa de suicídio podem ter vivenciado experiências negativas na infância capazes de ativar EIDs. Por fim, sugere-se a realização de terapias focadas em esquemas para o tratamento com esse perfil de pacientes. Palavras-chave: Suicídio; Tentativa de suicídio; Esquemas iniciais desadaptativos; Terapia do esquema. Abstract: Suicide is considered a serious public health problem. In world every year, it is estimated that over one million people commit suicide. These are cases of death caused by the victims themselves, in order to end life. In this sense, there are criteria for classification in the area of suicidology, as ideation and suicide attempts. Suicidal ideation refers to the presence of images, thoughts or fantasies that an individual possesses with the purpose of injuring or kill them. Have attempted suicide is associated to an intentional and self-inflicted behavior that is related to the desire to die. Thus, the suicide attempt has the same characteristics of suicide, differing only before its outcome. It is understood, therefore, that the suicide attempt and suicidal ideation related with a number of mental structures called by Jeffrey Young of Early Maladaptive Schemas (EMS). Schemas are long lasting emotional and cognitive patterns that originate in childhood and that recur throughout life. This paper aims to relate questions about suicide attempts and EMS. The methodology adopted for this study was collect through the literature in the period 1967-2013. Collected data were analyzed and discussed throughout the text. It was observed that individuals that made a suicide attempt might have experienced negative childhood experiences and could activate their EMS. Finally, it is suggested to conduct therapies focused on schemes for the treatment of patients with this profile. Keywords: Suicide; Suicide attempt; Early Maladaptive Schemas; Schema therapy. 1. INTRODUÇÃO O suicídio consiste em tentativas de morte ocasionadas pela própria vítima, de forma direta ou indireta, com o intuito de voluntariamente por fim a própria vida pelo fato de estar emersa em um mundo particular de profundo sofrimento (DURKHEIM, 2000). Entretanto, esse comportamento apresenta um significado abrangente, envolvendo cognições, emoções e ações caracterizadas pela vontade consciente de morrer (DE LEO et al., 2006; SVETICIC; DE LEO, 2012). Embora as nomenclaturas que envolvem os atos suicidas continuam sendo reformuladas e não exista um sistema de classificação amplamente utilizado pelos profissionais, alguns critérios de classificação foram criados há mais de 30 anos e tem apresentado bastante influência na área da suicidologia (BECK et al., 1972). Esses critérios envolvem a ideação suicida, a tentativa de suicídio e o suicídio consumado (ou suicídio) (SILVERMAN et al., 2007). Portanto, a ideação suicida é entendida como imagens, pensamentos ou fantasias que um indivíduo possui com a finalidade de ferir-se ou matar-se. No que tange à tentativa de suicídio, esta consiste em um comportamento intencional e autoinfligido relacionado à vontade de morrer (CHEHIL; KUTCHER, 2012). Assim, a tentativa possui as mesmas características do suicídio, diferenciando-se apenas em seu desfecho. O suicídio possui etiologia multifatorial e envolve fatores de risco, como a perda de pessoas próximas, ruptura de relacionamentos, pobreza, predisposições genéticas, histórico de suicídio na família, uso de substâncias, abuso sexual ou físico na infância e retraimento social. Ainda, o acesso a armas de fogo, pesticidas e medicamentos, doenças incapacitantes e problemas de ordem psiquiátrica como depressão, bipolaridade e esquizofrenia podem estar associados com o ato suicida (WERLANG; BOTEGA, 2004;BERTOLOTE; MELLO-SANTOS; BOTEGA, 2010). Atualmente, o suicídio é considerado um problema de saúde pública (CHEHIL; KUTCHER, 2012; GVION; APTER, 2012; MINISTÉRIO DA SAÚDE, MS, 2006). No mundo, todos os anos, mais de um milhão de pessoas cometem o suicídio (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, CFP, 2013), correspondendo a 1,4% do montante global de doenças, e é responsável por aproximadamente metade dos óbitos violentos no mundo (CHEHIL; KUTCHER, 2012). Presume-se que em 2020 o seu ônus global chegará a 2,4% (MS, 2006). A Organização Mundial de Saúde estima que nesse mesmo ano, cerca de 1,53 milhões de indivíduos morrerão por suicídio e que as tentativas de suicídio ocorrerão 10 a 20 vezes mais (NOCK et al.,2008). Nesse sentido, a tentativa de suicídio pode ser estudada relacionando-a aos Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs). Jeffrey Young desenvolveu uma abordagem de tratamento com o intuito de auxiliar pacientes com problemas de ordem crônica, denominada Terapia do Esquema (TE), a qual conceituou os EIDs como padrões cognitivos e emocionais duradouros, com origem na infância e que se repetem ao longo da vida (YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). Os EIDs são formados por emoções, memórias e sensações corporais, podem tornar-se significativamente disfuncionais e envolvem crenças incondicionais do indivíduo acerca de si mesmo e do meio em que vive. Trata-se de estruturas resistentes a mudanças, que geram sofrimento psicológico e comumente resultam de uma série de fatos traumáticos, já que a maior parte dos esquemas é ocasionada por padrões contínuos de experiências prejudiciais intimamente ligadas a familiares ou a outras pessoas próximas (YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). Portanto, o presente artigo pretende relacionar questões sobre tentativa de suicídio e EIDs. 2. MÉTODO A metodologia adotada para tal se deu por meio da revisão bibliográfica, a fim de levantar dados da literatura sobre o tema no período de 1967 a 2013. Os dados coletados foram analisados e discutidos no decorrer do texto. 3. FATORES DE RISCO E FATORES DE PROTEÇÃO DO SUICÍDIO O suicídio é um comportamento complexo, de causas multifatoriais, muitas vezes consideravelmente estigmatizado perante a sociedade (CFP, 2013). Salienta-se que qualquer investimento a fim de entendê-lo necessita da contribuição de diversos campos do conhecimento, sejam eles biomédicos, sociais, ambientais ou intrapessoais. Por isso, entende-se a importância das diferentes abordagens, avaliando a aproximação de diversos fatores no estabelecimento desse comportamento. Por isso, a falta de conhecimento e a existência de preconceitos diante do suicídio podem induzir o profissional a cometer enganos na avaliação clínica e na sugestão de tratamento ao paciente (BOTEGA, 2012). Nesse sentido, o melhor método para avaliar o risco de suicídio é através da entrevista clínica, que visa estabelecer o suporte emocional e coletar as informações referentes aos fatores de risco e proteção, características do ato, precedentes pessoais e familiares, dados sobre a saúde física, identificação de redes de apoio social, dentre outras informações (BERTOLOTE et al., 2010). Assim, entende-se que o comportamento suicida é passível de análise perante variáveis demográficas, diagnósticas, psicológicas e do histórico psiquiátrico. Essas variáveis fornecem subsídios capazes de determinar o risco de suicídio ao qual o paciente pode estar submetido (WENZEL; BROWN; BECK, 2010). Segundo o Ministério da Saúde (2006), os principais fatores de risco para o suicídio envolvem o histórico de tentativa de suicídio e a presença de transtornos mentais. Além disso, existem alguns fatores passíveis de serem analisados: fatores sociodemográficos: gênero masculino, com idade entre 15 e 35 anos ou acima de 75, situação financeira precária, desempregados; aposentados, solteiros ou separados, emigrantes residentes em áreas urbanas e indivíduos em situação de isolamento social; fatores relacionados a condições clínicas incapacitantes: AIDS, lesões desfigurantes e doenças crônicas, entre outros; fatores psicológicos: dinâmica familiar conturbada; perdas recentes; reações a datas importantes; personalidade com aspectos de agressividade, impulsividade e humor instável; e fatores associados a transtornos mentais: transtornos do humor, principalmente a depressão; transtorno de ansiedade, transtornos de personalidade, como o borderline, antissocial e narcisista; transtornos mentais ocasionados pelo uso de substâncias psicoativas, como o álcool; esquizofrenia, além de comorbidades que podem potencializar o risco de suicídio. Para Gvion; Apter (2012) a presença de uma psicopatologia, possivelmente é a maior preditora de suicídio. Em 90% dos casos, os critérios diagnósticos são satisfeitos, principalmente no que tange à depressão maior, uso de substâncias, esquizofrenia e transtornos de personalidade. 4. ESQUEMAS INICIAIS DESADAPTATIVOS (EIDS) Os esquemas que se desenvolvem prematuramente e de modo mais intenso, normalmente possuem início na família de origem. Assim, quando, na vida adulta, os indivíduos se deparam com situações que ativam os EIDs, o que na verdade eles experimentam relaciona-se a um drama da infância, mas que pode ter influências sociais, como de amigos, da escola e da comunidade. Frente a isso, existem 18 EIDs, também divididos em 5 domínios (YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008): Domínio 1: Desconexão e Rejeição: as pessoas com esquemas deste domínio não são capazes de relacionar-se de forma satisfatória e segura. Esse domínio caracteriza-se por experiências traumáticas na infância, de modo que na fase adulta há uma propensão a passarem de uma relação autodestrutiva para a outra. O domínio da Desconexão e Rejeição envolve os seguintes esquemas: Abandono/instabilidade: sensação de que pessoas importantes de sua vida o abandonarão e que as relações são indignas de sua confiança ou instáveis; Desconfiança/abuso: existe a sensação de que os outros poderão machucar, manipular, enganar, humilhar ou aproveitar-se, ou seja, percebe as relações como perigosas; Privação emocional: compreendem que o outro não é capaz de lhe dar o suporte emocional adequado; Defectividade/vergonha: existe um sentimento de que se é inferior, indesejado, falho, bem como uma hipersensibilidade à crítica, constrangimentos, insegurança e vergonha e, por isso, sente que não é digno de receber amor dos outros. Isolamento social/alienação: abrange sentimentos de ser diferente dos demais, de estar isolado, não conseguindo assim fazer parte de um grupo ou de uma comunidade (YOUNG, 2003; YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). Domínio 2: Autonomia e Desempenho Prejudicados: os indivíduos com esquemas nesse domínio foram crianças possivelmente superprotegidas, causando dificuldades de diferenciarem-se dos cuidadores de forma independente. Os esquemas desse domínio abrangem: Dependência/incompetência: acreditam não ser capazes de realizar suas atividades rotineiras de forma eficaz sem a ajuda dos outros, sentindo-se, frequentemente, desamparados; Vulnerabilidade ao dano ou à doença: envolve o medo de que uma catástrofe poderá ocorrer a qualquer instante, vendo-se incapaz de encará-la. Essas catástrofes podem estar relacionadas à saúde emocional e física e a situações externas; Emaranhamento/self subdesenvolvido: as pessoas com esse esquema possuem dificuldade de realizar sua separação e individuação com uma ou mais pessoas que consideram indispensáveis em sua vida, incluindo sentimentos de não possuir uma identidade individual, além de sentimentos de ser sufocado, vazio e ausência de uma direção; Fracasso: existe a crença de que fracassou ou fracassará de maneira inevitável, causando a ideia de que são burras, sem talento e inferiores às demais pessoas (YOUNG, 2003; YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). Domínio 3: Limites Prejudicados: associado às pessoas que não desenvolveram limites, ou seja, cresceram em meio a um ambiente familiar caracterizado pela permissividade, gerando dificuldades em conter seus impulsos, permeando a crença de superioridade frente aos outros e as regras sociais. Há uma dificuldade de respeitar os direitos das pessoas, de colaborar e se comprometer com as suas responsabilidades. Os esquemas que vigoram esse domínio são: Arrogo/grandiosidade: crença de ser superior aos demais e as regras impostas pela sociedade, com o desejo de almejar continuamente poder ou controle e envolve comportamentos de competitividade ou domínio para com os outros, acreditando que merecem privilégios especiais em relação a estes; Autocontrole/autodisciplina insuficientes: os indivíduos com esse esquema possuem dificuldade ou recusam-se a apresentar autocontrole e tolerância à frustração no que tange ao alcance de seus próprios objetivos (YOUNG, 2003; YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). Domínio 4: Direcionamento para o Outro: pessoas com esse domínio tendem a atender excessivamente as necessidades dos outros em vez de suas próprias precisões, justificando-se pela vontade de ser aprovado, de evitar retaliações e de preservar a conexão emocional. Na infância, essas pessoas não tiveram liberdade para realizar suas escolhas, assim quando adultos seguem os desejos dos demais. A família de origem atribui mais valor às próprias necessidades emocionais do que as da criança. Os esquemas inerentes desse domínio incluem: Subjugação: o indivíduo entrega-se aos outros por se sentir coagido, percebendo suas opiniões e sentimentos como irrelevantes para os demais, numa tentativa de evitar a raiva, o abandono e a retaliação; Autossacrifício: atendem às necessidades de outras pessoas à custa de sua própria gratificação, no intuito de poupar o sofrimento aos demais, evitam sentirem-se culpados; Busca de aprovação/busca de reconhecimento: as pessoas com esse esquema buscam continuamente a aprovação ou o reconhecimento dos outros, sendo que enfatizam a aparência, o dinheiro e o status como fundamentais para serem aprovadas ou admiradas (YOUNG, 2003; YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). Domínio 5: Supervigilância e Inibição: esse domínio abrange a anulação excessiva daquilo que sente, das escolhas que faz e dos impulsos, fazendo com que esses pacientes apresentem dificuldades em manter relacionamentos íntimos, justamente pelo fato de não conseguirem expressarem-se. Essas pessoas manifestam regras rígidas perante seu próprio desempenho. Quando criança, lhes foi ensinado a agir de forma supervigilante mediante situações negativas da vida, sobre o receio de que suas vidas pudessem arruinar caso não estivessem alertas todo o tempo. A família de origem é exigente, severa e até mesmo punitiva. Os esquemas que fazem parte desse domínio são: Negativismo/pessimismo: ênfase exagerada em eventos negativos da vida, como morte e traição. Existe uma expectativa de que as coisas não vão dar certo, seja na área interpessoal, profissional ou financeira, minimizando os aspectos positivos; Inibição emocional: tendem a inibir seus sentimentos, ações e comunicação espontâneas como uma forma de evitar críticas e o controle de impulsos. São pessoas percebidas como retraídas, frias ou indiferentes; Padrões inflexíveis/postura crítica exagerada: pessoas com esse esquema são perfeccionistas, rígidas e preocupadas com a eficiência e o tempo, ocasionando um elevado prejuízo aos relacionamentos, àquilo que experienciam como prazer e à saúde; Postura punitiva: crença de que as pessoas que cometem erros deveriam ser rigidamente punidas pelos seus atos errôneos. Por isso, indivíduos com esse esquema possuem sentimentos de intolerância e raiva para com aqueles que não alcançam os padrões desejados, ocasionando dificuldade em perdoar erros e imperfeições dos demais (YOUNG, 2003; YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). Todos os esquemas desadaptativos citados acima, segundo Young; Klosko; Weishaar (2008), são reforçados através de sentimentos, pensamentos e comportamentos, favorecendo no procedimento da perpetuação do esquema. A perpetuação do esquema relaciona-se à forma com que determinado indivíduo age, de modo a assegurar a presença do esquema. O processo de perpetuação do esquema envolve três mecanismos básicos: as distorções cognitivas, os padrões de vida autoderrotistas e os estilos de enfrentamento. As distorções cognitivas são modificações das informações advindas do ambiente a fim de manter os esquemas intactos, deste modo, os indivíduos percebem os eventos de maneira errônea, reforçando o esquema (BECK, 1997). Os padrões autoderrotistas estão intimamente ligados aos comportamentos prejudiciais que o indivíduo escolhe, fazendo com que se mantenham neles. Em relação aos estilos de enfrentamento, pode-se dizer que são respostas desadaptativas para evitar o contato com fortes emoções ocasionadas pelos esquemas subdivididos em: resignação, evitação e hipercompensação (YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). Na resignação, o esquema é sentido diretamente, ou seja, os indivíduos não lutam contra ele e nem tentam evitá-lo, aceitando-o como verdade. Já a evitação corresponde à forma como esses indivíduos tentam bloquear imagens, pensamentos e sentimentos que acionem o esquema. Por isso, tentam viver como se isso tudo não existisse, evitando pensar e buscando distraírem-se quando algo do tipo surge. Por fim, a hipercompensação está relacionada com a forma que os indivíduos pensam, sentem e se comportam, como se o oposto do esquema fosse verdade (YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). Quando o paciente experimenta fortes emoções, entende-se que o seu esquema foi ativado (YOUNG, 2003). Pessoas deprimidas podem ter os seguintes sintomas: negativismo, inatividade, preocupação, falta de prazer, autocrítica exagerada, isolamento social, indecisão, desesperança e ideação suicida (KNAPP, 2004). No que se refere à desesperança e o suicídio, existe uma ligação entre ambos, comprovada em um estudo sobre a depressão. As pessoas deprimidas possuem um elevado grau de desesperança que pode aumentar o risco de suicídio (BECK; KOVACS; WEISSMAN, 1975), especialmente em pacientes deprimidos internados, os quais foram observados e acompanhados pelo período de dez anos após receberem a alta do médico (BECK et al., 1985). Entretanto, alguns suicidologistas alegam que existem pacientes suicidas que sentem uma forte desesperança e o desejo de morrer, ao passo que também existem aqueles em que essas características não são evidentes, mas apresentam uma dificuldade em regular o comportamento impulsivo e o humor (WENZEL; BROWN; BECK, 2010). Todavia, é importante ressaltar que pacientes suicidas costumam expressar crenças negativas sobre si, sobre o mundo e sobre o futuro. Embora tais crenças não sejam unicamente desses pacientes, algumas pesquisas evidenciaram que os mesmos apresentam mais atitudes disfuncionais do que os demais pacientes psiquiátricos. Pacientes suicidas internados pontuaram um número mais elevado de atitudes disfuncionais do que os demais pacientes internados que não apresentavam comportamento suicida (ELLIS; RATLIFF, 1986). Pessoas com comportamento suicida caracterizam-se por esquemas que são particularmente direcionados aos atos suicidas, atravessando vários tipos de transtornos psiquiátricos. Essas pessoas são então caracterizadas por esquemas que associam-se muitas vezes a vários tipos de transtornos, e que possibilitam que esquemas negativos específicos sejam ativados. Com isso, é importante ressaltar que os esquemas negativos resultam de um processamento distorcido de informações, em que as cognições experimentadas em uma situação são determinadas pelas vivências anteriores, pelos sintomas de um transtorno psiquiátrico (se for o caso) e pelos eventos estressores. Por isso, a forma pela qual os fatores de risco operam em conjunto para sustentar os transtornos psiquiátricos acaba permitindo a ativação de esquemas. Isso quer dizer que quanto mais fatores de risco houver, maiores são as chances de que o sujeito em questão se envolva em um ato suicida (WENZEL; BROWN; BECK, 2010). Frente a essas premissas, Darvishi; Akbari; Rahbar (2013) compararam a relação entre os EIDs e a severidade da Depressão. A amostra contou com 101 pacientes com comportamento suicida e 108 sujeitos que faziam parte do grupo não clínico selecionado aleatoriamente. A referente pesquisa contou com os seguintes instrumentos: Questionário de Esquemas de Young (versão reduzida) e o Inventário de Depressão de Beck-II (BDI-II). Os achados dos sintomas do grupo de pacientes suicidas indicaram grau severo de depressão e verificou-se que, apesar das diferenças encontradas, os EIDs são precursores de depressão tanto no grupo de pacientes com comportamento suicida quanto no grupo não clínico. Conforme Beck (1967) os esquemas depressivos envolvem uma conduta negativa perante o fracasso e a perda, enfatizando ao processamento de informações negativas. Em uma pesquisa realizada com pacientes ambulatoriais com depressão, evidenciou-se que esquemas como o fracasso, a privação emocional e o abandono/instabilidade, sugerindo que EIDs específicos estão associados à severidade dos sintomas desses pacientes. Também constatou-se que os esquemas são resistentes à mudança mesmo a pós o tratamento ambulatorial (RENNER et al., 2012). Já em outra pesquisa a fim de identificar os EIDs em pacientes diagnosticados com Transtorno de Humor Bipolar constatou-se pontuações elevadas na maioria dos esquemas (HAWKE; PROVENCHER, 2012). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora, até o momento, não existam estudos diretamente relacionados à tentativa de suicídio e aos EIDs, conclui-se que indivíduos que tentam cometer este ato possivelmente tenham vivenciado experiências negativas na infância capazes de ativar seus EIDs. Para tanto, sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas, a fim de compreender de forma mais precisa a temática e agir de maneira preventiva, uma vez que os EIDs estão associados com necessidades emocionais não satisfeitas. Por fim, sugere-se a realização de terapias focadas em esquemas para o tratamento com esse perfil de pacientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECK, A. T. Depression: Causes and treatment. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1967. BECK, A. T. et al. Classification and nomenclature. IN: Resnik, H. L. P.; Hathorne, B. (Org.). Suicide prevention in the seventies (p. 7-12).Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 1972. BECK, A. T.; KOVACS, M.; WEISSMAN, A. Hopelessness and suicidal behavior: An overview. Jama, v. 234, n. 11, p. 1146-1149, 1975. BECK, A. T.; STEER, R. A.; KOVACS, M.; GARRISON, B. Hopelessness and eventual suicide: A 10year prospective study of patients hospitalized with suicidal ideation. The American Journal of Psychiatry, v. 142, n. 5, p. 559-562, 1985. BECK, J. S. Terapia cognitiva: Teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. BERTOLOTE, J. M.; MELLO-SANTOS, C.; BOTEGA, N. J. Detecção do risco de suicídio nos serviços de emergência psiquiátrica. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 32, n. 2, p. 87-95, 2010. BOTEGA, N. J. Prática psiquiátrica no hospital geral: Interconsulta e emergência. IN: Botega, N. J.; Rapeli, C. B.; Cais, C. F. S. (Org.). Comportamento suicida (p. 335-355) Porto Alegre: Artmed, 2012. CHEHIL, S.; KUTCHER, S. P. Suicide risk management: A manual for health professionals. Oxford: John Wiley & Sons, 2012. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, CFP. O suicídio e os desafios para a Psicologia. Brasília: CFP, 2013. DARVISHI, F.; AKBARI, B.; RAHBAR, M. A comparison of relationship between early maladaptive schemas with depression severity in suicidal group and non-clinical sample. Procedia-Social and Behavioral Sciences, v. 84, n. 1, p. 1072-1077, 2013. DE LEO, D.; BURGIS, S.; BERTOLOTE, J. M.; KERKHOF, A. J.; BILLE-BRAHE, U. Definitions of suicidal behavior: Lessons learned from the WHO/EURO multicentre study. Crisis: The Journal of Crisis Intervention and Suicide Prevention, v. 27, n. 1, p. 4-15, 2006. DURKHEIM, E. O suicídio: Estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. ELLIS, T. E.; RATLIFF, K. G. Cognitive characteristics of suicidal and nonsuicidal psychiatric inpatients. Cognitive Therapy and Research, v. 10, n. 6, p. 625-634, 1986. GVION, Y.; APTER, A. Suicide and suicidal behavior. Public Health Rev., v. 34, n. 2, 1-20, 2012. HAWKE, L. D.; PROVENCHER, M. D. Early Maladaptive Schemas among patients diagnosed with bipolar disorder. Journal of affective disorders, v. 136, n. 3, p. 803-811, 2012. KNAPP, P. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004. MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). Estratégia nacional de prevenção do suicídio: Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. NOCK, M. K.; BORGES, G.; BROMET, E. J.; CHA, C. B.; KESSLER, R. C.; Lee, S. Suicide and suicidal behavior. Epidemiologic reviews, v. 30, n. 1, p. 133-154, 2008. RENNER, F.; LOBBESTAEL, J.; PEETERS, F.; ARNTZ, A.; HUIBERS, M. Early maladaptive schemas in depressed patients: Stability and relation with depressive symptoms over the course of treatment. Journal of affective disorders, v. 136, n. 3, p. 581-590, 2012. SILVERMAN, M. M.; BERMAN, A. L.; SANDDAL, N. D.; O’CARROLL, P. W.; JOINER T. E. Rebuilding the tower of babel: A revised nomenclature for the study of suicide and suicide behaviors. Part 1: Background, rationale, and methodology. Suicide and Life- Threatening Behavior, v. 37, n. 1,p. 248-263, 2007. SVETICIC, J.; DE LEO, D.The hypothesis of a continuum in suicidality: A discussion on its validity and practical implications. Mental Illness, v. 4, n. 1, p. 73–78, 2012. YOUNG, J. E.; KLOSKO, J. S.; WEISHAAR, M. E. Terapia do esquema: Guia de técnicas cognitivocomportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008. YOUNG, J. E. Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: Uma abordagem focada em esquemas. Porto Alegre: Artmed, 2003. WERLANG, B. G.; BOTEGA, N. J. Comportamento suicida. Porto Alegre: Artmed, 2004. WENZEL, A.; BROWN, G. K.; BECK, A. T. Terapia cognitivo-comportamental para pacientes suicidas. Porto Alegre: Artmed, 2010.