CIRCOVÍRUS SUÍNO 2 E PARVOVÍRUS SUÍNO ASSOCIADO A DESORDENS REPRODUTIVAS EM PORCAS DE GRANJAS DE CICLO COMPLETO PORCINE CIRCOVIRUS 2 AND PORCINE PARVOVIRUS ASSOCIATED TO REPRODUCTIVE FAILURES IN SOWS OF FARROW-TO-FINISH HERD Alessandra Silva Dias1*, Priscilla Freitas Gerber,1, Amanda Soriano Araújo1, Patrícia de Alencar Auler2, Grazielle Cossenzo Florentino Gallinari3, Zélia Inês Portela Lobato4 RESUMO Estudos sugerem que a co-infecção do circovírus suíno 2 (PCV2) e do parvovírus suíno (PPV) aumentam a taxa de falhas reprodutivas em relação a infecção destes agentes individualmente. O objetivo do trabalho foi avaliar a associação da infecção de marrãs e porcas por PCV2 e PPV e falhas reprodutivas. O estudo foi realizado em três granjas em Minas Gerais. Um total de 143 porcas tiveram amostras de sangue coletadas até sete dias antes da cobertura e até dois dias após o parto para a pesquisa de anticorpos contra PCV2 e PPV e para a detecção de DNA viral. Amostras de cordão umbilical de dois a cinco leitões de cada porca foram coletadas para pesquisa de anticorpos anti-PCV2 e anti-PPV. Tecidos de fetos de mumificados e natimortos foram coletados para a pesquisa de DNA viral. Conteúdo estomacal dos leitões natimortos, quando presente, foi coletado para a pesquisa de anticorpos contra PPV. Todos os rebanhos apresentaram elevados títulos de anticorpos contra PCV2 e PPV, indicando elevada circulação viral. Dezoito das 143 porcas acompanhadas foram virêmicas para PCV2, enquanto 53% destas porcas foram virêmicas para PPV. Foram detectados 1,8% e 2,5% de leitões soropositivos ao nascimento para PCV2 e PPV, respectivamente. Das amostras de tecidos fetais avaliadas, 39,17% e 13,3% apresentaram DNA de PCV2 e PPV, respectivamente. Cerca de 34% das amostras de conteúdo estomacal dos natimortos apresentaram anticorpos antiPPV. Podemos concluir que a infecção de matrizes suínas com PPV e PCV2 estive associada à ocorrência de desordens reprodutivas. PALAVRAS CHAVE: circovírus suíno 2, parvovírus suíno, desordens reprodutivas SUMMARY Studies have been suggest that porcine circovirus 2 (PCV2) and porcine parvovirus (PPV) coinfection result in higher rates of reproductive failure than infection of only one of the viruses. The objective of this study was to evaluate the association of PCV2 and PPV infection in gilts and sows and reproductive failure. The study was conducted in three farms at Minas Gerais. A total of 143 sows had blood samples collected within seven days before the breeding and up to two days after farrowing for detection antibodies against PCV2 and PPV, and for the detection of viral DNA. Samples of umbilical cord from two to five piglets from each sow were collected for studies on anti-PCV2 and anti-PPV. Tissues of mummified and stillborn fetuses were collected for PCV2 and PPV DNA. Stomach contents of stillborn were collected for detection of antibodies against PPV. All the herds had high titers of antibodies against PCV2 and PPV, indicating high viral circulation. Eighteen of 143 sows were PCV2 viremic, while 53% PPV viremic. It was detected 1.8% and 2.5% of piglets born seropositive to PCV2 and PPV, respectively. Samples of fetal tissues evaluated, 39.17% and 13.3% had DNA of PCV2 and PPV, respectively. About 34% stillbirth stomach contents had anti-PPV. Based on the evaluation of co-participation of PCV2 and PPV in reproductive failure, we can conclude _______________________ 1 Doutoranda do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, UFMG Mestranda do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG 3 Técnica do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, UFMG 4 Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, UFMG * Endereço para correspondência: Avenida Antônio Carlos, 6627, caixa postal 567, campus da UFMG, CEP 30123370, Belo Horizonte, Minas Gerais, email: [email protected] 2 that both agents were associated with the occurrence of reproductive failure. KEY WORDS: porcine circovirus 2, porcine parvovirus, reproductive failure As falhas reprodutivas nos suínos estão associadas ao retorno irregular ao estro devido à falhas na implantação e no progresso da gestação, resultando em abortos ou aumento no número de leitões de baixa viabilidade, resultando em ninhadas pequenas (Straw et al, 2006). Diversos agentes incluindo parvovírus suíno (PPV), vírus da síndrome reprodutiva e respiratória suína (PRRSV), são associados a essas patologias, e recentemente vários estudos têm relacionado o circovírus suíno 2 (PCV2) a problemas reprodutivos na presença ou na ausência de outros agentes concomitantes (Segalés et al., 2005). Estudos sugerem que pode ocorrer co-infecção do PCV2 com o PPV resultando em falhas reprodutivas mais severas e mortalidade neonatal (Ritzmann et al., 2005). Os objetivos deste trabalho foram avaliar a infecção de marrãs, porcas e suas leitegadas pelo PCV2 e pelo PPV, a presença do vírus em tecidos de fetos mumificados e natimortos e pesquisar anticorpos contra os vírus em neonatos. O estudo foi realizado em três granjas (G1, G2 e G3) de ciclo completo localizadas em Minas Gerais, com rebanho entre 1000 e 2300 matrizes, no período de fevereiro a dezembro de 2009. Em cada granja foram selecionadas marrãs e porcas de primeiro a terceiro parto, totalizando 143 animais. Amostras de soro de todas as porcas foram coletadas em até sete dias antes da cobertura (CPC) e até dois dias após o parto (CP) para pesquisa de anticorpos contra PPV e PCV2, e para a detecção de DNA viral. O parto de cada porca foi acompanhado para a coleta de amostras de soro de cordão umbilical de dois a cinco leitões por porca para a pesquisa de anticorpos anti-PPV e anti-PCV2. Fetos mumificados e natimortos foram coletados e foi feito um homogenado de amostras de coração, pulmão, tonsilas e linfonodos de cada feto para a detecção de DNA viral. Conteúdo estomacal destes fetos foi coletado para avaliação de anticorpos contra PPV. Para a detecção de DNA do PPV e PCV2 foi realizada PCR convencional. Para a detecção de anticorpos anti-PPV foi utilizada a técnica de inibição da hemaglutinação (HI). A detecção de anticorpos anti-PCV2 foi feita pela técnica de imunoperoxidase em monocamada celular (IPMA). A maioria das porcas apresentou títulos moderados a elevados para PCV2 e PPV, o que indica elevada circulação viral no rebanho. Alguns animais da G1 apresentaram baixos títulos de anticorpos contra PPV nas duas coletas e algumas marrãs da G2 foram soronegativas, o que fez com que as médias dos títulos de anticorpos fossem mais baixas nas duas granjas (Figura 1). A presença de animais soronegativos indica falha vacinal, permitindo que estes animais permaneçam suscetíveis à infecção pelo vírus. Das 143 porcas amostradas, 18 foram virêmicas para PCV2. Destas, quatro (22,2%) apresentaram leitões soropositivos, sugerindo que, nestes animais, houve infecção transplacentária do PCV2 gerando, no entanto, leitões viáveis ao nascimento. Somente uma porca da G3 foi virêmica, enquanto que na G1, nenhuma porca apresentou viremia durante o estudo. Cinquenta e três porcento das porcas foram virêmicas para PPV em pelo menos um momento amostrado, mesmo com altos títulos de anticorpos contra PPV. Não era esperado encontrar animais virêmicos e com elevados títulos de anticorpos anti-PPV, visto que a parvovirose é uma doença aguda que causa viremia de um até sete dias, e a presença de anticorpos é associada à proteção contra a infecção (Johnson e Collings, 1971). Das 543 amostras de soro de leitões coletados do cordão umbilical, 10 (1,8%) e 14 (2,5%) apresentaram anticorpos contra PCV2 e PPV, respectivamente, sugerindo que ocorreu transmissão vertical do vírus, com infecção de alguns fetos na fase de imunocompetência. Somente a G3 não apresentou leitões soropositivos ao nascimento para PCV2. DNA de PCV2 e de PPV foi detectado, nesta ordem, em 47/120 (39,17%) e 16/120 (13,3%) amostras de 2 tecidos colhidos de fetos mumificados e natimortos, sugerindo morte fetal por exposição aos vírus. Nenhuma amostra pertencente à G3 apresentou DNA de PCV2 e PPV. Dezessete das 49 (34,7%) amostras de conteúdo estomacal de leitões natimortos avaliadas apresentaram anticorpos anti-PPV, indicando exposição fetal ao vírus após 70 dias de gestação. A Figura 2 mostra a co-participação do PCV2 e do PPV nas desordens reprodutivas que ocorreram nas três granjas durante o estudo. A avaliação da co-participação foi feita associando a ocorrência de exposição fetal (neonatos e conteúdo estomacal soropositivos e tecidos fetais com DNA viral) com casos de falhas reprodutivas (natimortos e mumificados). Animais de G1 e G2 tiveram falhas reprodutivas associadas à participação dos dois vírus, ao contrário da G3, que não apresentou alterações reprodutivas com clara participação dos agentes simultaneamente. Com base nos resultados acima descritos, podemos concluir que o PCV2 e o PPV estiveram associados à ocorrência de falhas reprodutivas em alguns animais acompanhados durante o estudo. AGRADECIMENTOS À FAPEMIG e ao CNPq pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) Ritzmann, M.; Wilhelm, S.; Zimmermann, P.; Etschmann, B.; Bogner, K.H.; Selbitz, H.J.; Heinritzi, K.; Truyen, U. Prevalence and association of PCV2, PPV and PRRSV ain aborted fetuses, mummified fetuses, stillborn and nonviable neonatal piglets. Deutsche Tierarztliche Wochenschrift, 112, 348-351, 2005. (2) Segales, J.; Allan, G.M.; Domingo, M. Porcine circovirus diseases. Anim. Health Res. Rev.; 6:119–142, 2005. (3) Straw, B.E.; Zimmermann, J.J.; D´Allaire, S.; Taylor, D.J. Diseases of Swine. 9 edição, Ames, IA: Blackwell Publishing, 2006. (4) Johnson, P.H.; Collings, D.F. Transplacental infection of piglets with a porcine parvovirus. Research in veterinary Science, 12, 570572, 1971. Figura 1: Médias dos títulos de AT para PPV na CPC e CP. Títulos de AT < 2,66 log4 = negativo; 2,66 a 3,66 log4 = baixo; 4,16 a 5,16 log4 = moderado; e ≥ 5,16 log4 = alto Figura 2: Distribuição de casos de alterações relacionadas à exposição fetal ao PCV2 e o PPV simultaneamente nas alterações reprodutivas nas três granjas acompanhadas. 3