REGRAS PRESCRITIVAS EM SEIS CONSULTÓRIOS GRAMATICAIS: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS. Annie Carolynne Soares Mendes (bolsista da ICV – UFPI), Dr. Marcelo Alessandro Limeira dos Anjos. (Orientador, Departamento de Letras – UFPI) Introdução Os consultórios gramaticais são produções que surgiram no final do século XIX como um guia prático de regras da língua portuguesa. Inicialmente, eram divulgados em colunas de jornais e revistas depois surgiram como livros e manuais específicos sobre o bom uso da língua portuguesa. Atualmente, são veiculados na internet como sites em que se pode enviar perguntas e/ou dúvidas pontuais sobre questões da língua e da gramática. O projeto propôs a catalogação de regras prescritivas em seis consultórios gramaticais da internet, analisando as convergências e divergências entre eles. Esta catalogação teve o intuito de discutir o caráter prescritivo deste material. Como objetivo específico, tem-se a quantificação destas regras prescritivas por componente (Fonética/Fonologia, Morfologia, Sintaxe e Estilística) e, posteriormente, apoiando-se em estudos sobre a modalização deôntica, tem-se a identificação e divisão destas regras em: regras que obrigam, proíbem ou possibilitam. O projeto também teve como objetivo dialogar com outros dois projetos de ICV de mesma natureza, cujos objetos são: 1) gramáticas tradicionais de referência e 2) gramáticas tradicionais ‘mercadológicas’. Metodologia Na pesquisa foram analisados seis consultórios gramaticais, são eles: 1) Dicas de Português¹, de Sérgio Nogueira; 2) Nossa Língua Portuguesa, de Pasquale Cipro Neto; 3) Sua Língua, de Cláudio Moreno; 4) Gramática Online, de Dílson Catarino; 5) Dicas de Português², de Pedro Valadares; e 6) Dicionário Online de Português, de Ribeiro e Siqueira. Primeiramente, foi feita uma análise quantitativa em que se catalogavam regras de cunho prescritivo, por exemplo, regras que tinham “deve-se, não se deve; pode-se, não se pode”. A partir da análise dessas regras, elas foram separadas por componente gramatical com a finalidade de saber quais componentes eram mais abordados e quais continham mais regras prescritivas. Posteriormente, baseado no conceito de modalidade deôntica, as regras foram divididas em: regras que obrigam, proíbem e possibilitam. Ao final, esses dados foram confrontados a fim de saber as convergências e divergências que havia entre os consultórios e, entre estes, com as gramáticas de referência e gramáticas ‘mercadológicas’, materiais catalogados em outras duas pesquisas. ________________________________ ¹ O consultório Dicas de Português de Nogueira é escrito na página da emissora Globo. ² O consultório Dicas de Português de Valadares é escrito para a plataforma de blogging Tumblr. Resultados e Discussão Na análise quantitativa, ao total, foram catalogadas 169 regras prescritivas. Notou-se que não foram encontradas regras prescritivas em todos os componentes, e também estes, não eram compreendidos em todos os consultórios. Observa-se a análise quantitativa a partir do gráfico: Quadro 1: Quantidade de regras prescritivas e porcentagem por componente. Nogueira Cipro Neto Moreno Catarino Valadares Ribeiro e Siqueira Fonologia 26% - 20% 11% 44% 100% Morfologia 61% 60% - 33% 24% - Sintaxe 13% 40% 80% 56% 32% - Estilística - - - - - - Total 39 16 10 18 41 45 Fonte: a autora O componente com o maior número de regras foi o fonológico, com 77 regras, seguido do morfológico, com 49, e sintático, com 43. Percebeu-se que a prescrição se faz presente em todos os consultórios gramaticas, alguns mais do que outros. Na análise qualitativa, buscou-se averiguar a modalidade deôntica expressa pelo caráter de obrigação, proibição e possibilidade nestas regras, baseando-se em estudos feitos por Nascimento (2010) sobre esta modalidade, além de discutir os enunciados em que, estes três valores estavam presentes. Observou-se que o valor deôntico de obrigação está mais presente nos consultórios de Ribeiro e Siqueira, Valadares, Nogueira e Cipro Neto. Os enunciados que proíbem foram encontrados mais no consultório de Catarino e os que permitem no consultório de Moreno. Conclusão A partir da análise quantitativa e qualitativa do corpus e do confronto feito entre os três materiais (gramaticas de referência, gramáticas ‘mercadológicas’ e consultórios gramaticais), pôde-se notar que os consultórios apresentam uma tendência maior para a prescrição, assim como as gramáticas ‘mercadológicas’. Neste sentido, pôde-se pensar em um continuum de prescrição, que vai da menor prescrição (gramáticas de referência), passando pelas ‘mercadológicas, e chegando aos consultórios. Observou-se também que, apesar da grande quantidade de regras encontradas nas gramáticas de referência e nas ‘mercadológicas’, elas não são tão significativas, enquanto nos consultórios, essas regras, apesar da pouca quantidade, elas abarcam sua totalidade, concluindo-se que os consultórios possuem um viés mais prescritivo que os outros dois tipos de materiais. Palavras-chave Regras prescritivas. Modalidade deôntica. Consultórios Gramaticais. Referências BAGNO, Marcos. Dramática da língua portuguesa: tradição gramatical, mídia e exclusão digital. 5 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2010. FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. LEITE, Marli Quadros. Preconceito e intolerância na linguagem. São Paulo: Contexto, 2008. MARCONDES, Iara Lucia. Os consultórios gramaticais: um estudo de intolerância e preconceito linguísticos. São Paulo, 2008. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP. NASCIMENTO, Erivaldo Pereira do. A modalidade deôntica e suas peculiaridades semântico-pragmáticas. Fórum linguístico, Florianopólis, 2010. NEVES, M.H.M. Que gramática estudar na escola?. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2011. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1996. TRAVAGLIA, Luis Carlos. Um estudo textual-discursivo do verbo no português do Brasil. 1991. Tese (Doutorado em Ciências) – Universidade Estadual de Campinas: SP, p. 6670.________. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 13. Ed. São Paulo: Cortez, 2009. Consultórios gramaticais: CATARINO, Dilson. Gramática Online. <http://www.gramaticaonline.com.br/>Acesso em: 27 ago, 2014. Disponível em: NETO, Pasquale Cipro. Nossa língua portuguesa. 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