Seja bem Vindo! Curso TOC- Transtorno Obsessivo Compulsivo CursosOnlineSP.com.br Carga horária: 60hs Conteúdo Programático: O que é transtorno? O que é obsessão? O que é compulsão O que é TOC O que não é TOC Identificação e tratamento Como identificar o TOC Possíveis Causas para o TOC Tipos de Tratamento Pós-tratamento Tipos de TOC Organização e limpeza Dúvidas e verificações Pensamentos e impulsos Sequências e coleções Relatos de pacientes Bibliografia O que é transtorno? Ao consultar o dicionário Michaelis sobre a palavra “transtorno”, encontra-se a seguinte definição: “1. Ação ou efeito de transtornar. 2 Contrariedade, contratempo, decepção. 3 Prejuízo. 4 Perturbação do juízo. 5 Desarranjo.” Em outras palavras, o significado de transtorno é quando existe um desequilíbrio, uma desordem em determinado sistema. No caso de transtornos mentais, é uma perturbação na mentalidade e na sanidade de um indivíduo. Uma pessoa que é portadora de qualquer tipo de transtorno é aquela que não está em equilíbrio consigo mesma, com relação à mente, ao corpo, a sua funcionalidade e aos seus objetivos. O transtorno para o âmbito psicológico é aquilo que altera o comportamento, os pensamentos e as ações de um indivíduo. Possivelmente os pensamentos que flutuam na cabeça desse portador de transtorno não estão em ordem racional ou não fazem sentido para as demais pessoas à volta dele. Por isso, quando é detectado que uma pessoa tem um transtorno, ela passa a ser apontada e até discriminada pelas pessoas que a rodeiam. Essa reação, na realidade, se trata de falta de informação e preconceito, pois as pessoas que não têm noção de quão grave é um transtorno, geralmente iniciam um afastamento do portador e fazem dele um foco de piadas. As pessoas não portadoras de transtornos não conseguem entender os motivos ou não veem lógica nas ações de pessoas portadoras de transtornos. Um exemplo é o transtorno alimentar. Uma garota de 1,60m e que pesa 50 kg acredita que precisa perder mais dez quilos para atingir o “corpo perfeito”, corpo esse dito e detalhado pela mídia e não por um especialista em Nutrição ou um médico. Essa garota não tem uma profissão em que é exigido um corpo magérrimo e que qualquer curva significa um castigo ou uma detenção, como ocorre muito no mundo de modelos, dançarinos e celebridades. A garota simplesmente disse para si mesma que precisa baixar mais ainda seu peso e que somente quando sentir seus ossos é que o peso estará correto. Ela não se limita para garantir o objetivo de pesar 40 kg e começa a mudar seu comportamento, não apenas sua aparência física. É iniciado um processo de uso de ferramentas inadequadas, mas que a ajudam no seu objetivo: perder peso. Ela até tenta pedir auxílio para conseguir diminuir seu peso, mas as pessoas as quais ela recorreu somente disseram: “Para quê? Você está com um corpo ótimo; não precisa diminuir mais nada. Se perder mais peso, você some”. Nesse momento, a garota percebe que ninguém mais a entende e que os outros não enxergam o que ela vê: uma garota acima do peso e que não consegue diminuir os quilos em seu corpo. Com uma busca e com cuidado para não ser descoberta, a garota consegue meios para garantir que seu peso diminua, sem prescrição nem acompanhamento profissional, ou de um nutricionista ou de um médico, com especialização em perda de peso. O mal que essa garota faz contra seu corpo é sem limites, pois ela aprende a disfarçar seus métodos de emagrecimento e as pessoas que a rodeiam não percebem que algo está errado. Em resumo, na cabeça da garota, ela precisa emagrecer cada vez mais e nunca encontra um ponto de satisfação, pois jamais irá aceitará que seu corpo está esbelto e perfeito e isso se transforma em uma obsessão, fazendo com que ela não meça esforços para atingir seu objetivo, mesmo que sua saúde seja altamente prejudicada. As demais pessoas, como estão “fora da cabeça” da garota, não entendem o motivo de ela querer emagrecer mais, se já está abaixo do seu peso ideal, nem por que ela “escolhe” a opção de se machucar, somente em prol do emagrecimento. Transtornos e suas deferenças Teresa Pigott analisa os diferentes tipos de transtorno que existem e os compara com o TOC, explicando o motivo de as pessoas confundirem os sintomas de outros distúrbios com os sintomas do transtorno obsessivocompulsivo. Quando o TOC é diagnosticado, o clínico responsável deve observar se os sintomas estão ligados ou relacionados com os seguintes transtornos: - Transtornos aditivos; - Transtorno de ansiedade devido a uma condição médica geral; - Transtorno disfórmico corporal; - Transtorno delirante ou transtorno psicótico sem outra especificação; - Transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico, transtorno de estresse pós-traumático; - Hipocondria - Episódio depressivo maior (ou transtorno do humor); - Transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva; - Fobias; - Esquizofrenia; - Transtorno de ansiedade induzido por substância; - Superstições e comportamentos repetitivos de verificação; - Tiques ou síndrome de Tourette. Transtornos aditivos Embora rotulados como “compulsivos”, os comportamentos aditivos, como comer em excesso ou demonstrar comportamento sexual acima do comum, não são, de fato, compulsões de TOC. Esses transtornos aditivos causam certo prazer no indivíduo, como jogar ou ingerir grandes quantidades de substâncias químicas. A pessoa, quando decide parar com tais problemas não pensa na liberdade como objetivo e sim no afastamento dos prejuízos que eles causam. Um exemplo de prejuízo causado por esses transtornos aditivos é a perda de dinheiro. Pessoas que precisam jogar ou se empanturrar de bebida alcoólica ou comida hipotecam casa, carro, deixam de pagar a escola dos filhos e põem em risco a saúde dos familiares. Tudo em função do vício. Essas pessoas não fazem rituais e não acreditam que se não o fizerem, algo de ruim irá acontecer a elas ou aos seus familiares, como ocorre no TOC. Portadores de TOC demonstram a compulsão por executar determinadas tarefas, justamento porque seu pensamento é esse: se ele não fizer tal tarefa, algo de terrível irá acontecer. Transtorno de ansiedade Nesse transtorno de ansiedade, o clínico responsável deve esclarecer se a ansiedade do paciente está correlacionada com os sintomas do TOC. O histórico médico, os resultados laboratoriais e o exame físico são essenciais para confirmar tal situação. As condições médicas gerais que podem causar ansiedade incluem: Problemas endócrinos como hipertireoidismo, hiperglicemia, conhecida também por Diabetes. Problemas cardíacos como (batimento irregular do coração). insuficiência hipotireoidismo cardíaca ou ou arritmia - Problemas pulmonares como doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema, asma), embolia, pneumonia ou hiperventilação. Problemas porfiria. nutricionais como deficiência de vitaminas - Outras condições como neoplasmas (tumores, câncer) ou encefalite. B12 ou Transtorno disfórmico corporal O que é um sintoma comum na maioria dos transtornos mentais é a presença de pensamentos, imagens e comportamentos recorrentes ou intrusivos. Portanto, a existência desses sintomas não é útil para diagnosticar o TOC. O clínico responsável deve compreender a situação, por meio do histórico médico e exame físico, a fim de estabelecer a origem desse sintoma. Se, por exemplo, a preocupação com a aparência é na realidade uma fobia relacionada com defeito físico significa que provavelmente o paciente apresenta um viés para o desenvolvimento do TOC. Em outras palavras, o clínico responsável deve procurar outros sintomas, para fazer a ligação de qual doença está começando a comandar seu organismo, em especial sua mente. O transtorno disfórmico corporal (TDC) tem como característica principal a preocupação excessiva com um defeito imaginário ou um pequeno defeito na aparência. É também conhecido popularmente como feiúra imaginária. As preocupações mais comuns são em relação ao rosto, às orelhas e aos genitais. Também são frequentes preocupações relacionadas ao nariz, aos cabelos, a pintas e à quantidade de pelos, que os pacientes consideram defeitos. Geralmente os indivíduos que sofrem desse transtorno passaram por consultórios de cirurgia plástica ou dermatologistas antes de procurar o psicólogo ou o psiquiatra. Eventualmente realizaram cirurgias com finalidades estéticas desnecessárias, que não eliminaram suas queixas. Calcula-se que entre 7% e 15% dos que procuram cirurgia plástica por razões estéticas sejam portadores de TDC. O TDC pode ser confundido com o TOC em razão das preocupações persistentes (pensamentos intrusivos) verificações (diante do espelho) e busca de reasseguramentos, comuns no quadro. Como os sintomas de ansiedade surgem sobretudo em situações de exposição pública, os indivíduos tendem a evitá-las. Apresentam boa resposta à terapia cognitivo-comportamental e a medicamentos. Transtornos delirantes A capacidade de uma pessoa para dar-se conta de que as obsessões ou as compulsões são irracionais ocorre ao longo de um continum. Em alguns indivíduos com TOC, o teste de realidade pode estar ausente e a obsessão pode alcançar proporções delirantes. Por exemplo, a pessoa realmente acredita que foi responsável pela queda de um avião pelo fato de tê-lo desejado. Em tais casos, a presença de características psicóticas pode justificar um diagnóstico adicional de transtorno delirante ou transtorno psicótico sem outra especificação. O especificador “com insight pobre” pode ser útil em situações que se encontram na fronteira entre a obsessão e o delírio. Por exemplo, um paciente obsessivo-compulsivo que se dá conta, na maior parte do tempo, de que não é responsável por quedas de aviões, mas que, ocasionalmente, fica preocupado se de fato causou alguma, seria diagnosticado como tendo TOC com insight pobre. Transtorno de ansiedade generalizada As pessoas que têm transtorno de ansiedade eneralizada experimentam preocupações excessivas e persistentes relacionadas a circunstâncias da vida real. Em contrapartida, aquelas que têm TOC vivenciam obsessões cujo conteúdo é mais provavelmente irrealista e encarado pelo paciente como inadequado. Por exemplo, preocupações persistentes, mas de alguma forma racionais a respeito das finanças, preocupações com a saúde ou com o próprio emprego seriam consideradas TAG, enquanto temores irracionais de provocar incêndio por deixar o fogão ligado ou de machucar seu filho com uma faca constituem obsessões. A marca registrada do transtorno do pânico é a presença de ataques de pânico espontâneos, não provocados. Embora certos pensamentos ou estímulos como, por exemplo, que germes possam precipitar ataques de ansiedade semelhantes ao pânico no TOC, os pacientes não experimentam ansiedade não provocada. Em vez disso, imagens intrusivas ou determinados estímulos desencadeiam a ansiedade no TOC. Imagens ou flashbacks recorrentes podem acontecer durante o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), mas tais sintomas surgem após um acontecimento ou tragédia com risco de morte que realmente já aconteceu. No TOC, os pensamentos intrusivos ou temores excessivos referem-se a fatos que poderiam ocorrer. O transtorno de ansiedade generalizada também é conhecido pela sigla TAG e sua principal característica é a presença excessiva da ansiedade. A evolução dessa ansiedade é a apreensão e a tensão psicológica. O TAG é facilmente confundido com o TOC porque ambos dividem um sintoma: verificações. A pessoa ansiosa ao extremo costuma fazer certificações repetidas vezes, a fim de ter certeza de que nada de ruim irá acontecer com sua saúde ou daqueles com quem ela se importa. Episódio depressivo maior Ruminações são comuns em indivíduos deprimidos e desenvolvem-se como parte de um humor depressivo. Tendem a se resolver com o tratamento efetivo da depressão. Diferentemente dos indivíduos com TOC, que tentam ignorar ou suprimir as obsessões, as pessoas depressivas não tentam suprimir ou ignorar suas preocupações depressivas. Tanto o TOC quanto a depressão maior geralmente envolvem sintomas de isolamento e distúrbio do sono. Entretanto, é a origem dessas perturbações, mais do que a perturbação em si, o que diferencia a depressão do TOC. Por exemplo, um distúrbio do sono causado pela preocupação obsessiva de ter causado uma catástrofe estaria relacionado ao transtorno, enquanto um distúrbio do sono acompanhado por um sentimento de desânimo e desesperança indicaria depressão. Transtorno da personalidade onsessivo-compulsiva Embora os nomes „TOC‟ e „transtorno da personalidade obsessivocompulsiva‟ (TPOC) sejam similares, as apresentações clínicas são bem diferentes. O TPOC não envolve a presença de verdadeiras obsessões ou compulsões. Em vez disso, envolve um padrão dominante de preocupações com ordem, perfeccionismo, regras rígidas e controle, à custa de flexibilidade e disposição para fazer mudanças. Os indivíduos com TPOC não limpam nem verificam as coisas temendo uma tragédia. Simplesmente exigem ordem, perfeição e controle nas suas vidas. Acumular ou colecionar objetos de forma excessiva pode ser um sintoma de TPOC ou TOC. Se um indivíduo expressa sintomas de ambos os transtornos, o clínico pode estabelecer um diagnóstico duplo. Um problema frequentemente confundido com o TOC é o chamado transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva (TOPC). São indivíduos perfeccionistas, detalhistas, meticulosos, exigentes e rígidos em questão de moral, tanto consigo mesmos como com os outros, muito preocupados com pontualidade, ordem, organização e em não cometer falhas. Caracterizam-se, ainda, pelo excessivo devotamento ao trabalho e aos deveres, por serem emocionalmente contidos, controladores e centralizadores das decisões (só eles sabem fazer bem-feito), obstinados, tendo dificuldade em aceitar opiniões divergentes das suas. Apresentam dificuldade em desfazer-se de objetos usados ou inúteis, mesmo quando não têm valor sentimental – aspecto comum no TOC. Tendem a ser avarentos e pouco generosos. Alguns desses traços podem ser úteis, mas, quando exagerados a ponto de interferir nas relações interpessoais, configuram transtorno da personalidade. Esses pacientes sofrem quando suas opiniões e atitudes são contrariadas em função das circunstâncias (por exemplo, chegar atrasado a um evento, deixar de cumprir um compromisso, cometer uma falha ou ouvir uma crítica tronam-se incidentes causadores de grande sofrimento). Fora dessas situações, eles consideram sua maneira de ser correta e não sofrem com ela (egosintônicos). Não apresentam obsessões ou desconforto associado, nem são compelidos a realizar rituais. Entretanto, por serem perfeccionistas e muito exigentes, necessitam repetir tarefas (o que lembra um ritual), demoram a completá-las, podendo eventualmente ser caracterizados como compulsivos. Fobias A agorafobia é caracterizada pelo temor que a pessoa tem de passar por uma situação que lhe cause um ataque de ansiedade. Tipicamente, isso inclui estar em lugares com muitas pessoas ou sobre pontes, viajar para longe de casa e situações similares em que a pessoa sente-se sem condições de escapar. Uma preocupação limitada a um objeto, como cobras, ou situação temida seria diagnosticada como uma fobia específica ou fobia social. Um diagnóstico adicional de TOC pode ser justificado em caso de obsessões ou compulsões cujo conteúdo não esteja relacionado com outro transtorno mental. A fobia específica de doença deve ser diagnosticada em vez de TOC caso a principal preocupação do paciente envolva contrair uma doença (e não tê-la) e não existem rituais envolvidos. Esquizofrenia Similar a alguns delírios esquizofrênicos, o conteúdo das obsessões no TOC pode ser bastante bizarro, como a crença de que a pessoa pode acidentalmente selar a si mesma dentro de um envelope e ser depositada na caixa de correio. A diferença é que as pessoas obsessivo-compulsivas têm consciência da natureza irracional desses temores. De modo geral, não apresentam outros sintomas de psicose ou esquizofrenia, como marcada falha nas associações de ideais, alucinações proeminentes, afeto inadequado ou inserção de pensamento. Transtorno de ansiedade induzido por substância O diagnóstico de um transtorno de ansiedade induzido por substância envolve ansiedade excessiva julgada pelo clínico como diretamente relacionada ao efeito psicológico do abuso de substâncias, efeitos colaterais de um medicamento prescrito ou sem prescrição, ou exposição a toxinas. Os clínicos podem diferenciá-los do TOC por meio do exame cuidadoso da história (e, talvez, de um exame de droga na urina) para determinar se os sintomas de TOC foram desencadeados pelo uso ou pela interrupção do uso de substância ilícita, álcool ou medicamento. Superstições e comportamentos repetitivos de verificação Comportamentos supersticiosos, embora controlados com frequência na vida diária, levam a um diagnóstico de TOC se elaborados de modo repetitivo, parecerem ter conteúdo obsessivo e resultarem em prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo. Por exemplo, um pensamento mágico que acione rituais que consomem mais de uma hora por dia. O que é obsessão? A American Psychiatric Association: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders divulgou um estudo em que estão separados os conceitos de que constroem o sentido de transtorno obsessivo-compulsivo. Esse estudo aponta três definições para o termo “obsessão”. 1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento. 2. Os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas com problemas da vida real. 3. A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. 4. A pessoa reconhece que os pensamentos, impulsos ou imagens obsessivas são produto de sua própria mente (não impostos a partir de fora, como na inserção de pensamentos). Para complementar, colocaremos o conceito de obsessão de acordo com Aristides Volpato, em seu livro TOC: Manual de terapia cognitivocomportamental para o transtorno obsessivo-compulsivo. As obsessões são pensamentos ou impulsos que invadem a mente de forma repetitiva e persistente. Podem ainda ser imagens, palavras, frases, números, músicas, etc. Sentidas como estranhas ou impróprias, as obsessões geralmente são acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer. O indivíduo, no caso do TOC, mesmo desejando ou se esforçando, não consegue afastá-las ou suprimi-las de sua mente. Apesar de serem consideradas absurdas ou ilógicas, causam ansiedade, medo, aflição ou desconforto, que a pessoa tenta neutralizar realizando rituais/compulsões ou evitações (não tocar, evitar certos lugares). Obsessões mais comuns: - Preocupação excessiva com sujeira, germes contaminação; - Dúvidas; - Preocupação com simetria, exatidão, ordem, sequência ou alinhamento; - Pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir as pessoas; - Pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios relacionados a sexo (comportamento sexual violento, abuso sexual decrianças, homossexualidade, palavras obscenas); - Preocupação economizar; em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou - Religião (pecado, culpa, escrupulosidade, sacrilégios ou blasfêmias); - Pensamentos supersticiosos: preocupação com números especiais, cores de roupa, datas e horários (podem provocar desgraças); - Palavras, nomes, cenas ou músicas instrumentais e indesejáveis. Como as obsessões se originam? Nossa mente é quase que permanentemente invadida ou “bombardeada” por pensamentos involuntários, também chamados de pensamentos automáticos. Essas “invasões” são um fenômeno universal e fazem parte da atividade mental normal. Elas ocorrem espontaneamente e da mesma forma que surgem, desaparecem. Como não acarretam preocupação para a maioria das pessoas, que não dão importância a elas, facilmente são esquecidas. Entretanto, para alguns desses individuos mais senséveis, a ocorrência de alguns desses pensamentos (de contaminação, responsabilidade, de conteúdo agressivo, obsceno ou sexual) é interpretada como indicativa de algum risco: de que está havendo ameaça à sua saúde ou à de sua família, de que pode vir a cometer ato criminoso ou moralmente inaceitável. Acredita-se que essa interpretação errônea e catastrófica da presença desses pensamentos, em razão da aflição que provoca, faz com que certos pensamentos intrusivos normais se transformem em obsessões, levando a pessoa a agir, tentando neutralizá-los (fazer um ritual, evitar, tentar afastar o pensamento no sentido de diminuir as consequências desastrosas imaginadas e a aflição sentida. O que é compulsão? Conforme o mesmo estudo da American Psychiatric Association: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, a compulsão tem por definição: 1. Comportamentos repetitivos (lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que a pessoa se sente compelida a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. 2. Os comportamentos ou atos mentais visam prevenir ou reduzir o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida, entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivas. A. Em algum ponto durante o curso do transtorno, o indivíduo reconheceu que as obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais. B. As obsessões ou compulsões causam acentuado sofrimento, consomem tempo (tomam mais de uma hora por dia) ou interferem significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional (ou acadêmico), em atividades ou relacionamentos sociais habituais do indivíduo. C. Se outro transtorno do Eixo I está presente, obsessões ou compulsões não fica restrito a ele. o conteúdo Por exemplo, - Preocupação com alimentos em caso de um Transtorno de Alimentação; - Arrancar os cabelos pela presença de Tricotilomania; das - Preocupação com a aparência na presença de Transtorno Corporal; Dismórfico - Preocupação com drogas na presença de Transtorno por Uso de Substância; - Preocupação em ter uma doença grave na presença de Hipocondria; - Preocupação com anseios ou fantasias sexuais na presença de uma parafilia; - Ruminações de culpa em caso de Transtorno Depressivo Maior. Já para Aristides Volpato, compulsões são comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, executados em resposta a obsessões ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, repetir perguntas etc. As compulsões aliviam momentaniamente a ansiedade associada às obsessões, levando o indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão. Por esse motivo, diz-se que as compulsões têm relação funcional (de aliviar a aflição) com as obsessões. E, como são bem-sucedidas, o indivíduo é tentado a repeti-las em vez de enfrentar seus medos, o que acaba por perpetuá-los. A pessoa se tona prisioneira dos seus rituais. Nem sempre as compulsões apresentam conexão realística com o que desejam prevenir (por exemplo, alinhar chinelos ao lado da cama antes de deitar para que não aconteça algo ruim no dia seguinte, dar três batidas em uma pedra da calçada ao sair de casa para que a mão não adoeça). Nesse caso, por trás desses rituais existe um pensamento ou obsessão de conteúdo mágico, muito semelhante ao que ocorre na superstição. Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como sinônimos, embora o termo “ritual” possa gerar alguma confusão na medida em que as religiões e muitos grupos culturais adotam comportamentos ritualísticos e contagens nas suas práticas: ajoelhar-se três vezes, rezar seis ave-marias, ladainhas, rezar três ou cinco vezes ao dia, benzer-se ao passar diante de uma igreja. Existem rituais para batizados, casamentos, funerais etc. Além disso, certos costumes culturais, como a cerimônia do chá entre os japoneses, o cachimbo da paz entre os índios ou o funeral com honras militares, envolvem ritos que lembram as compulsões do TOC. Por esse motivo, há certa preferência pelo termo “compulsão” quando se fala de TOC. Compulsões mais comuns: - Lavagem ou limpeza; - Verificações ou controle; - Repetições ou confirmações; - Contagens; - Ordem, simetria, sequência ou alinhamentos; - Acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis (colecionismo), poupar ou economizar; - Compulsões mentais: rezar, repetir palavras, números, frases; - Diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos. Compulsões mentais Algumas compulsões não são percebidas pelas demais pessoas, pois são realizadas mentalmente e não mediante comportamentos motores observáveis. Elas têm a mesma finalidade: reduzir a aflição associada a um pensamento. Exemplos: - Repetir palavras especiais ou frases; - Rezar; - Relembrar cenas ou imagens; - Contar ou repetir números; - Fazer listas; - Marcar datas; - Tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos contrários. A origem das compulsões Atualmente se acredita que as compulsões existam em razão das obsessões: são realizadas com a finalidade de aliviar ou neutralizar a aflição, o desconforto e o medo. Certas compulsões (como dar uma olhada para o lado, tocar, raspar, estalar os dedos, fechar a mão com força etc.) são realizadas sem que qualquer pensamento as preceda. Trata-se apenas de uma sensação de desconforto ou tensão física que necessita ser aliviada ou descarregada e que precede a realização desses rituais motores. O que é TOC? De acordo com Aristides Volpato, especialista em transtorno obsessivocompulsivo, o TOC caracteriza-se por pensamentos, frases, palavras, cenas ou impulsos que invadem a consciência, involuntários ou impróprios, persistentes e recorrentes – as obsessões –, geralmente acompanhados de aflição ou medo e tentativas de ignorar, suprimir ou neutralizar esses pensamentos através da realização de atos repetitivos e estereotipados – as compulsões ou rituais. Para os especialistas brasileiros, o TOC recebe o nome também de transtorno de ansiedade. Sua classificação acompanha o medo extremo de objetos, animais e lugares, conhecido por fobias; a fobia de social, que abrange o medo de ter contato com as pessoas ou a exposição pública; o transtorno de pânico (ansiedade extrema, repulsa de voltar a um lugar em que um ataque de ansiedade já ocorreu); e a ansiedade generalizada. Pelo tempo que tomam, pelo desconforto que provocam ou pelo que levam o paciente a executar ou a evitar, comprometem as rotinas diárias, o desempenho profissional e as relações interpessoais. Para Aristides, esse transtorno tem origem biológica e psicossocial, ou seja, não é apenas um estado físico ou um estado mental da pessoa. Ela não escolhe, simplesmente, ser obsessiva por algo. Dada essa perspectiva, a etiologia, a apresentação clínica, o curso, o prognóstico e a resposta a tratamentos tomam caminhos diferentes para cada indivíduo, pois é preciso analisar o transtorno, o que levou o paciente a desenvolvê-lo, características mentais e peculiaridades genéticas. Os sintomas que apontam que o indivíduo tem TOC provocam mudanças extremas, não somente de comportamento, como também de pensamentos (obsessões como dúvidas, preocupações excessivas, pensamentos de conteúdo impróprio ou “ruim”) e de emoções (medo, aflição, culpa, depressão, desconforto). Os medos e as aflições são a razão principal de o indivíduo com TOC realizar os rituais, as obsessões e as compulsões que dominam sua mente. Os portadores do transtorno obsessivo-compulsivo acreditam que se não realizarem exatamente essas tarefas algo de terrível vai acontecer com eles ou com seus amigos e familiares. A mesma linha de raciocínio está presente em pacientes que apresentam obsessão por limpeza e higiene, ou seja, que têm medo extremo de se contaminar. O temor é de que se segurar uma maçaneta diretamente com a mão, ao sair do banheiro, certamente ele irá se contaminar com micro-organismo e irá adoecer. Já Gail Steketee, também especialista no assunto, diz que o transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno de ansiedade que envolve obsessão ou compulsão recorrentes que consomem tempo ou causam grandes dificuldades na vida diária. Obsessões consistem em pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes, acompanhados de angústia, experimentados como indesejáveis e irracionais, porém difíceis, se não impossíveis, de ignorar ou resistir. Por sua vez, compulsões são condutas ou ações geralmente desencadeadas por obsessões. Apesar de o TOC ser um problema bastante antigo, acreditava-se que ele atingia pouquíssimas pessoas, mas essa não é a realidade. O transtorno obsessivo-compulsivo atinge quase 3% da população. Entende-se que, ao longo da vida, as pessoas desenvolvem a obsessão por algo, seja por números, por organização ou por rotina. No livro Transtorno onsessivo-compulsivo: as mais recentes estratégias de avaliação e tratamento, existe a informação de que quase três milhões de norte-americanos sofrem de TOC alguma época determinada, com algo em torno de 7,45 milhões de pessoas apresentando sintomas de TOC em algum momento da vida. Esse transtorno mental está entre os mais conhecidos e mais comuns nos Estados Unidos, marcando presença duas vezes maior que a esquizofrenia, um dos piores transtornos mentais existentes. Após muitos estudos, compreendeu-se que esse transtorno inicia-se ainda na infância, evoluindo ao final da adolescência e, na maioria dos casos, acompanhando o paciente para o resto de sua vida. É provável que de um terço à metade dos adultos que sofrem desse transtorno tenham apresentado sintomas durante a infância. Os avanços com relação à análise e ao tratamento do TOC nas últimas duas décadas culminaram no crescimento do número de crianças tratadas. Na verdade, os estudos mostram que o transtorno em crianças de até 18 anos tem incidência entre 0,06% e 2%. O sexo não é um limitante para o desenvolvimento do TOC, porém, quando falamos de crianças, os meninos são mais atingidos. Entre um e dois terços das pessoas portadoras do transtorno obsessivo-compulsivo desenvolveram o TOC após um momento traumático na vida, como a morte de um ente querido, uma gravidez, um nascimento ou problemas relacionados à sexualidade do paciente. Existem outras características, como aponta Gail Steketee: - Pouco mais da metade dos portadores de TOC são mulheres; - As pessoas que têm TOC possuem inteligência acima da média; - A idade de pico de início para os homens situa-se entre os 13 e os 15 anos; - A idade de pico de início para as mulheres situa-se entre os 20 e os 24 anos; - O início geralmente ocorre de forma gradual. Muitos portadores dessa doença esperam anos antes de procurar tratamento. Na verdade, uma pesquisa feita com pacientes obsessivocompulsivos revelou uma demora média de sete anos entre o início dos sintomas e o momento em que se procura tratamento. Essa hesitação pode ser devido à vergonha e ao embaraço, pois as pessoas com TOC geralmente desconhecem o fato de muitas outras possuírem sintomas semelhantes. Minorias étnicas, como os afro-americanos, os americanos e os asiáticos-americanos, frequentemente lutam contra obstáculos adicionais que podem adiar ainda mais a identificação e o tratamento do TOC, incluindo nível mais alto de desconfiança em relação aos profissionais de saúde mental, relutância em procurar ajuda fora do contexto familiar ou da comunidade étnica e maior hesitação em usar medicamentos prescritos. A qualidade de vida dos portadores comumente é muito pior do que a da população em geral. A gravidade do transtorno varia de leve (rituais minuciosos, como alinhar objetos na escrivaninha antes de conseguir iniciar alguma atividade) até grave (realizar ritual de duas ou três horas antes de conseguir ir para a cama). Muitos dos rituais do TOC precisam ser executados em uma sequência específica que, se for interrompida, deve ser refeita desde o começo. Tais rituais podem ser particularmente incapacitantes na medida em que, de modo geral, consomem muitas horas do dia do indivíduo. Muitos pacientes obsessivos-compulsivos vivenciam uma diminuição significativa em sua capacidade funcional, incluindo perda do emprego, separação conjugal e perda dos relacionamentos interpessoais. Na verdade, o início mais precoce do TOC nos homens provavelmente contribui para a sua surpreendente baixa taxa de casamento, cerca de 25%. Alguns tipos de TOC não são prejudiciais à saúde do paciente, mas é preciso levar em consideração o nível de desenvolvimento/evolução, a idade do paciente, o tipo de obsessão e como essa obsessão afeta o cotidiano do paciente. Colocamos abaixo três exemplos de transtorno obsessivo-compulsivo. A primeira imagem se refere àquelas pessoas que apresentam obsessão com a limpeza e que têm fobias extremas, medos e aflições de se contaminarem. Por isso, lavam as mãos insistentemente. O desenho mostra uma pilha de sabonetes ao lado do indivíduo, ilustrando que ele realmente demonstra uma obsessão com relação à limpeza e higiene. A segunda figura traz a imagem de um homem limpando o registro do chuveiro com uma escova de dentes. Aqui também é notada a limpeza excessiva, mas diferente do desenho anterior, o indivíduo não tem medo de se contaminar. O uso da luva e da escova de dentes demonstra o desespero do indivíduo em manter cada local da sua casa impecavelmente limpo. Para indivíduos com TOC, não basta apenas passar um pano, é preciso esfregar e esfregar. Já na terceira figura, a obsessão demonstrada é a da organização. Notase que as camisas foram todas organizadas por cor e por contrates, assim como os cabides estão todos virados para o mesmo lado. Há uma brincadeira na capa desse livro Mente e Manias, que é a presença da camisa vermelha em meio ao mar de camisas azuis. No caso de pessoas com TOC, essa camisa vermelha cria uma inquietação e enquanto a camisa vermelha não estiver com as demais camisas vermelhas, a pessoa não encontra sossego e fica irritada, de modo que não para de pensar na tal da camisa vermelha. A organização desse armário é exagerada. Cada indivíduo tem uma maneira de organizar suas roupas, por tamanho, cor ou estação, mas quando isso se torna uma obsessão, há algum problema. Não é porque uma pessoa tem o armário organizado que significa que ela tem transtorno obsessivo-compulsivo. O nível da organização pode dar um indício de seu comportamento: se essa pessoa é apenas organizada ou se ela tem uma obsessão. O que não é TOC Como vimos acima, os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo são vários e facilmente confundidos com manias, rituais e superstições. Por isso, dividimos uma parte deste curso para que você saiba reconhecer o que pode ser sintoma e o que é apenas uma mania diária. A seguir, usaremos informações retiradas do livro de Aristides Volpato e do livro de Teresa Pigott. Todas as pessoas têm manias e superstições, pois isso faz parte da vida em sociedade e da própria cultura, porém, há momentos em que essas manias e rituais saem do controle e é nessa hora que a atenção deve ser dobrada. O aumento da violência é um dos fatores que fez com que a sociedade desenvolvesse um enorme medo até mesmo dentro de casa, pois lugar algum está livre de pessoas criminosas. Devido a isso, muitas pessoas começaram a verificar as trancas de portas e janelas de suas casas, para que ninguém indesejado pudesse adentrar na residência. Essa verificação é natural até o momento que ela é feita apenas umaou duas vezes. O problema é que essa verificação, depois que passa da quinta, sexta, vigésima vez, se torna um sintoma de transtorno obsessivo- compulsivo. Outro exemplo é quando uma pessoa está se preparando para uma avaliação que demanda muita dedicação, fazendo com que ela tenha que repetir inúmeras vezes uma lista, a fim de ter certeza de que a memorização teve sucesso. Quando estamos preparando uma viagem também verificamos se todos os itens da lista foram cumpridos para a arrumação das malas e a organização da viagem. Nesse caso verificamos nas bagagens: - Objetos pessoais; - Roupas para as temperaturas esperadas no local de estadia; - Acessórios necessários; - Calçados; - Roupas íntimas; - Objetos de higiene pessoal; - Lençóis e toalhas (se necessário). Quanto à organização da viagem: - Se os documentos estão todos de acordo; - Se as passagens foram compradas e estão em mãos; - Se foi feita a manutenção adequada do veículo de transporte; - Se alguma conta ou pendência que terá seu vencimento durante a viagem foi devidamente paga; - No caso de viagens para o exterior, se os vistos e os passaportes estão em ordem. Um sentimento comum quando iniciamos uma viagem é de que algo ficou para trás e, geralmente, esquecemos algo. Mas em geral é algo que é possível comprar no local para onde estamos nos encaminhando. Algumas pessoas se preocupam, quando saem de casa se desligaram todas as luzes ou se o gás está devidamente fechado. São preocupações comuns e naturais. As lâmpadas ligadas causam desperdício e o gás ligado pode resultar em um incêndio. As dúvidas, outro sintoma de TOC, também são algo constante na vida cotidiana, como decidir se comprar um carro é a melhor opção ou se continuar utilizando transporte público, pois o veículo tem um gasto muito maior e as finanças da casa devem ser levadas em consideração. Mesmo com relação aos atos sexuais, as dúvidas invadem a cabeça das pessoas. Um exemplo é o sexo casual, que faz com que muitas pessoas, após a relação, se sintam intrigadas se contraiu uma doença ou se pode ter engravidado, pela ausência de um preservativo ou por ele ter rompido durante a relação sexual. Essas situações e preocupações somente se transformam em sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo se não são esquecidas ou resolvidas dentro de um período de tempo e se o sofrimento e a aflição que as rodeiam modificam completamente a rotina daquela pessoa. Apresentações clínicas que devem ser distinguidas do TOC Nem sempre o diagnóstico do TOC é simples ou está claro. Há uma diversidade de apresentações clínicas psiquiátricas com as quais se confunde. Além disso, muitas vezes a pessoa pode ser portadora de mais de uma psicopatologia ao mesmo tempo (as co-morbidades), o que tem implicações importantes para o plano geral de tratamento. Depressão É muito comum que portadores de TOC apresentem também depressão, seja como condição separada (co-morbidade) como consequência do comprometimento das atividades diárias ou das relações interpessoais, ou até mesmo em decorrência de pensamentos catastróficos ou de culpa, relacionados ao excesso de responsabilidade, ou pensamentos inadequados, pelos quais se condena. As pessoas, quando estão deprimidas, deixam a mente mais propensa a receber pensamentos negativos, que podem ser sobre si mesmo, sobre a sociedade ou sobre o futuro. Desesperança, desamparo, culpa ou sentimento de falha são as sensações que dominam a mente das pessoas com depressão. Esse processo de ficar repetindo inúmeras vezes tal sofrimento pode ser confundido com um dos sintomas do TOC. A depressão é caracterizada pela presença de tristeza, diminuição do interesse pela vida, perda de peso, insônia, fadiga ou perda de energia, dificuldade de se concentrar, pensamentos de morte e sentimento de inutilidade ou culpa excessiva. Fobias específicas O medo é um dos sintomas do TOC, mas é preciso ser analisado com muito cuidado, já que ter medo é uma condição natural do ser humano. O medo extremo, no entanto, deve ser tomado como um sintoma e levado diretamente a um médico especializado. No caso de fobias, como são chamados esses medos extremos, osindivíduos portadores de TOC têm várias, principalmente com relação a germes e àqueles que possam prejudicar sua saúde. Para se proteger, evitam tocar em objetos desconhecidos ou usar banheiros de locais fora de sua casa. Isso acarreta em hipervigilância e num desconforto para a pessoa e para aqueles que a rodeiam. Porém, esse sintoma deve ser avaliado para ver o motivo dessa evitação. Se a causa for o medo de insetos, animais ou microrganismos, a pessoa somente apresenta sintoma de alguma fobia. Agora, se o motivo for o medo de se contaminar porque a pessoa desconhece aquele lugar ou acredita que vai ficar doente se tocar, encostar ou usar determinado objeto, então o sintoma está mais ligado com o TOC. Dependência de drogas e álcool As pessoas que são dependentes químicas têm uma preocupação constante: como obter a droga. A partir daí, demais pensamentos invadem a cabeça do dependente, que afetam diretamente em seu comportamento e seu cotidiano. Entre eles, podemos citar: quando será a próxima vez que a pessoa irá consumir a droga, quais amigos também fazem uso dela, quanto vai gastar para obtê-la, a quais locais deve ir para consegui-la. Dado esses pensamentos, a pessoa torna-se obsessiva com a droga e, quando passa próximo de usuários ou de locais de venda, sente a incontrolável vontade de consumir a droga, o que é visto como uma compulsão. Mas o problema aqui deve ser analisado separadamente, porque a causa da obsessão e da compulsão está ligada à dependência da droga e não a um transtorno mental. Transtorno da alimentação: anorexia nervosa, comer compulsivamente e bilimia nervosa Os transtornos da alimentação podem ser confundidos com o TOC. Nessas condições, a comida, o peso, as calorias, enfim, a imagem corporal vira obsessão, pois ocupa boa parte do tempo do paciente, que tem percepção errada de sua imagem corporal e do seu peso. Mesmo muito magros, esses pacientes acreditam que estão obesos ou, pelo menos, que estão acima do peso. Esses transtornos da alimentação podem estar ligados ao TOC, mas devem ser avaliados precisamente por um especialista. Na anorexia nervosa, além da preocupação constante em fazer dieta e perder peso, são comuns rituais como organizar a comida na despensa, calcular calorias todo o tempo e fazer exercícios compulsivamente para perder peso. Modelos, bailarinas, celebridades, executivas e pessoas que estão num ambiente em que são um ponto de referência para os demais com relação à aparência, principalmente, desenvolvem esses problemas de maneira bastante comuns. A mídia ajuda muito a colocar os pensamentos de “corpo perfeito” na cabeça das pessoas e algumas delas se deixam levar por tais padrões. É natural fazer uma dieta ou contar quantas calorias foram consumidas por dia se a pessoa está com um acompanhamento clínico especializado (nutricionista) e precisa manter tal peso para garantir seu emprego. O problema ocorre quando a pessoa passa dos limites e acredita que precisa apenas consumir 100 calorias diárias, quando o recomendado para manter a saúde em ordem é cerca de 2.500 calorias. Na bulimia nervosa, são comuns episódios em que o paciente, em situações de ansiedade, ingere grandes quantidades de comida em curto espaço de tempo, muitas vezes seguidos da indução de vômitos ou do uso de laxantes. Rituais como apalpar-se, pesar-se ou olhar-se no espelho inúmeras vezes são frequentes em ambos os quadros. A associação entre TOC e transtornos alimentares é comum. Uma paciente com anorexia nervosa e TOC, simultaneamente, se apalpava inúmeras vezes ao dia pra ver se conseguia sentir os ossos, pois acreditava que o peso ideal seria atingido quando os ossos fossem visíveis ou palpáveis. Além disso, alinhava meticulosamente as porções de comida no prato; atava com uma fita as embalagens de cereais depois de comê-los para jogálos no lixo, pois acreditava que isso a impediria de engordar; alisava meticulosamente a margarina ao passá-la no pão, pois pensava que, dessa forma, comeria menos calorias; e gastava boa parte do seu tempo em ruminações sobre comida, calculando calorias de cada porção que ingeria ou que havia consumido no dia anterior. Superestimava a importância do peso – era tudo em sua vida –, além de ter percepção distorcida do mesmo – achava-se gorda tendo apensa 50kg. Essa paciente também apresentava sintomas típicos do TOC: - Obsessões com sujeira - Rituais de limpeza - Compulsões por alinhamento e simetria - Evitações - Verificações Transtornos Relacionados ao TOC Após alguns estudos que abrangem a herança genética, os sintomas e a resposta ao tratamento, foi possível chegar à conclusão de que existem transtornos que estão diretamente ligados ao TOC, mas que não são de fato sintomas de TOC. As características como alta impulsividade e subestimação dos riscos (cleptomania, compulsões sexuais, jogo patológico), se encontram num extremo da linha de raciocínio, enquanto no outro extremo há preocupação excessiva com a possibilidade de prejuízos e compulsividade. Podemos ainda dizer que ao longo dessa linha existe a tricotilomania, o transtorno de Tourette, as compulsões por compras e as compulsões por comida. Listamos a seguir esses transtornos mais detalhadamente para que você tenha melhor conhecimento sobre eles e sobre seus sintomas. É importante entender por que algumas pessoas confundem tais transtornos com TOC. Hipocondria Como definição mais simples, a hipocondria é a preocupação excessiva e persistente de ser infectado por alguma doença grave. Os sintomas físicos, tanto próprios quanto os sintomas das pessoas ao redor, incomodam e fazem com que a pessoa hipocondríaca acredite que está doente. Um exemplo é começar a se coçar perto de um indivíduo hipocondríaco. Você começa a se coçar porque um pernilongo acabou de aplicar uma picada em seu braço. Você nota que ao seu lado uma pessoa também começa a se coçar e que depois de instantes essa pessoa ainda está se coçando. No braço, nas pernas, na cabeça e qualquer outra parte do corpo que esteja ao seu alcance. Esse é o sintoma mais visível de uma pessoa que tem problemas com a hipocondria: ela inicia uma compulsão, apenas baseada em sintomas físicos de si mesmo ou de outras pessoas. Muitas vezes esses sintomas não significam nada. É como se cada vez que uma pessoa hipocondríaca tivesse uma dor de cabeça, seu único pensamento é que irá morrer. Essa pessoa tem a certeza de que está com algum problema sério na cabeça e que não vai conseguir se curar “a tempo”. As idas ao médico não aliviam a angústia de um hipocondríaco, pois ele não consegue acreditar que não há nada de errado com seu corpo. Usando o exemplo da dor de cabeça, o indivíduo faz tomografias, biópsias, exames mais complexos e, mesmo assim, não é convencido de que está com a saúde perfeita. No âmbito popular, as pessoas hipocondríacas ganharam a fama de terem “mania de doença”, pois qualquer dor no corpo é motivo para tomar remédios e ficar de repouso. Tricotilomania Como dissemos anteriormente, a tricotilomania se trata da compulsão de arrancar os próprios cabelos, em porções grandes. Ansiedade e estresse são os gatilhos para um problema desse porte. A sensação de prazer, alívio e satisfação após arrancar os cabelos demonstra que o indivíduo não sente uma obsessão. O couro cabeludo não é a única região de onde os cabelos podem ser arrancados. A região pubiana e anal, sobrancelhas, cílios e axilas também são alvos para pessoas que são portadoras desse problema. A tricotilomania não é considerada TOC, justamente porque não é desencadeada por uma obsessão. Tiques Os tiques são muito comuns em pessoas inquietas, principalmente em momentos de ansiedade ou de nervosismo. Movimentos motores involuntários, sem um ritmo ou padrão aparente ou vocalizações são os sintomas dos tiques. Os tiques mais comuns são: - Piscar os olhos - Torcer o nariz - Contrair o pescoço - Encolher os ombros - Contrair os lábios ou a testa - Grunhir - Fungar Porém, existem tiques mais complexos, como: - Fazer gestos - Pular - Tocar - Bater - Chutar - Cheirar repetidamente um objeto - Acocorar-se - Dobrar os joelhos - Imitar o comportamento de outra pessoa. Transtorno de Tourette (TT) É uma condição neurológica que se caracteriza por movimentos involuntários do corpo (tiques) e vocalizações (tiques vocais). Afeta aproximadamente 200.000 pessoas nos Estados Unidos e ocorre em uma a cada 2.000 crianças. Os sintomas começam geralmente antes dos 18 anos e duram pelo menos um ano. Os meninos são afetados três vezes mais do que as meninas. Em poucos casos as vocalizações incluem frases ou palavras inapropriadas (palavrões) – a chamada coprolalia –, que não são nem voluntárias, nem intencionais. Muitas crianças com o transtorno de Tourette ou com transtorno de tique apresentam outras co-morbidades, como transtorno de déficit de atenção com ou sem hiperatividade ou TOC. É importante distinguir entre tiques e rituais repetitivos do TOC porque os tratamentos são diferentes. Portadores de TOC que apresentam tiques ou transtorno de Tourette não respondem à terapia de exposição e prevenção de rituais e aos medicamentos antiobsessivos quando usados isoladamente. Transtorno de impulsos Beliscar-se, ferir-se, infligir-se lesões (como coceira excessiva, mordidas noslábios, mordidas nos lábios, coceira exagerada nos olhos ou tentar arrancá-los, arranhões) são sintomas do transtorno de impulsos. Os indivíduos portadores desse problema costumam usar roupas compridas, para que as lesões que ele mesmo provoca não sejam vistas pelas demais pessoas. Não é raro quando essas lesões infecionam ou inflamam, pois como o paciente não quer que ninguém descubra e cobre as feridas, acaba abafando o local e propiciando a região para a proliferação de microorganismos. Comprar compulsivo, jogo patológico, sexo compulsivo Esses três problemas, comprar compulsivo, jogo patológico ou sexo compulsivo são frequentemente confundidos com sintomas de TOC porque, de certa forma, demonstram obsessões e causam sofrimento e angústia extremos. O que os distingue do TOC é o prazer que o indivíduo sente se comportando dessa maneira, mesmo que após a ação o arrependimento bata. As compulsões do TOC não causam prazer algum ao paciente. Essas acões são feitas sem medo nem receios, o que écompletamente o oposto dos sintomas de TOC. Os portadores de TOC têm medo excessivo de prejudicar a si mesmo e a quem está ao seu redor. Como identificar o TOC De acordo com Gail Steketee, embora um número incontável de pessoas com TOC associe determinado acontecimento da vida ao começo do seu transtorno, muitas outras não conseguem identificar qualquer fator precipitante específico. Características comuns presentes no TOC incluem: - Ideias obsessivas: pensamentos que invadem a consciência (palavras, frases, rimas) e interferem no fluxo normal do pensamento, causando sua desarticulação, além de sofrimento emocional. O conteúdo das obsessões muitas vezes refere-se a obscenidades, blasfêmias ou absurdos. - Imagens obsessivas: imagens vívidas, frequentemente retratando cenas violentas, sexuais ou perturbadoras (por exemplo, assassinato de uma criança, colisão de carros, excrementos, relação sexual dos pais) que aparecem repetitivamente. - Convicções obsessivas: crenças baseadas em pressupostos irracionais, tais como: “pensar equivale a agir” (por exemplo, pensar que meu filho está doente fará com que ele morra). - Ruminações obsessivas: dúvidas ou argumentações mentais acompanhadas de medo (ou comportamentos ritualísticos – por exemplo, “Tranquei a porta? Desliguei ou gás?”) que objetivam evitar ou aliviar o dano imaginado ou as consequências temidas. - Impulsos obsessivos: impulsos indesejados referentes a danos à própria pessoa (por exemplo, saltar de uma janela), agressão a outras pessoas (sufocar um bebê) ou comportamentos potencialmente humilhantes (gritar obscenidades dentro da igreja). - Medos obsessivos: ansiedade intensa tanto em relação a objetos/itens específicos (sujeira, doença, animais, sangue etc.) ou a situações/locais específicos (banheiros públicos, hospitais etc.), quanto a entrar em contato com uma situação específica ou a realizar determinadas ações. - Rituais compulsivos: ações repetitivas (contar, tocar, ordenar, verificar, organizar, limpar, armazenar etc.) que produzem alívio da obsessão. Sintomas Os sintomas do TOC usualmente oscilam na sua gravidade ao longo do tempo e podem até mesmo desaparecer por completo com ou sem tratamento. Os intervalos livres são, em geral, seguidos pelo ressurgimento dos sintomas durante um período de maior estresse ou em resposta a alguma alteração biológica ou no ambiente. Estudos de longo prazo demonstram que nove em cada dez indivíduos obsessivos-compulsivos experimentam altos e baixos nos sintomas, sendo rara a manutenção das remissões. Esses pacientes também passam pela experiência do aumento dos sintomas, que é desencadeado por estresse. Grande parte dos pacientes que sofrem de TOC demonstra certa flutuação com relação aos sintomas, ou seja, eles tem picos de sintomas e de repente esses sintomas desaparecem. Os números indicam que cerca de 15% dos pacientes que têm transtorno obsessivo-compulsivo seguirão um curso de deterioração, com declínio progressivo do funcionamento social e ocupacional. Os indivíduos que apresentam TOC podem demonstrar muitos ou somente alguns dos sintomas típicos. Como existem diversos tipos desse transtorno, é impossível prever todos os sintomas ou mesmo identificá-los sem antes executar uma bateria de exames. O sofrimento é uma das maneiras de perceber a presença do transtorno obsessivo-compulsivo, pois ele afeta diretamente o ambiente de trabalho e as relações interpessoais, ou seja, a rotina do indivíduo que tem TOC muda completamente e, devido à suas manias excessivas, as pessoas com as quais ele se relaciona acabam tomando distância dele ou mesmo se irritando com tais manias. Há relatos de indivíduos com TOC que foram obrigados a manter uma vida totalmente caseira por causa de suas obsessões. As pessoas a sua volta se afastaram ou faziam críticas preconceituosas, fazendo com que o único local seguro fosse o isolamento. Às vezes, o motivo da reclusão é a extrema evolução do transtorno. O indivíduo fica tão submisso às suas obsessões que não consegue sair de casa, ou porque tem receio de contrair alguma doença ou porque não consegue atingir seu objetivo, como fazer contagem de carros ou de casa de determinadas cores e tamanhos. Manter-se confinado em casa faz com que o indivíduo sinta controle da situação, pois em sua própria casa ele pode limpar, alinhar, organizar tudo que invade sua mente, sem que haja influência externa e, principalmente, “sem risco” de contaminação. Gail Steketee lista os principais sintomas do transtorno obsessivocompulsivo. Evitação das obsessões situações temidas/estímulos relacionados com as As pessoas com TOC podem experimentar a necessidade de evitar uma série de situações ou estímulos temidos, mudando radicalmente seu estilo de vida por esse motivo. Por exemplo, temores obsessivos relacionados com sujeira ou contaminação resultam na evitação de banheiros públicos ou de apertar as mãos de pessoas estranhas. Avaliação exagerada da importância dos pensamentos e senso de responsabilidade patológico As pessoas com TOC frequentemente sentem culpa e medo de que seus pensamentos causem dano aos outros ou façam com que algo terrível aconteça, porque muitas delas acreditam que ter um pensamento é o mesmo que concretizá-lo. Além disso, muitas pessoas com TOC agem de modo compulsivo porque acreditam que a falha em “corrigir” um problema é equivalente a causálo. Suas compulsões são uma forma de desfazer ou consertar algo que temem que possam ter feito errado ou que possa resultar em dano a outras pessoas. Por exemplo, remover uma pedra da estrada para que o carro seguinte não bata nela e haja um acidente. Superestimação do dano Outra característica do transtorno é uma tendência a superestimar a probabilidade dos danos e a gravidade das consequências. As pessoas com TOC podem supor que um ambiente é perigoso até que seja provada sua segurança. Isso contrasta nitidamente com um pressuposto comum de que tudo está bem a menos que o perigo seja óbvio. Preocupação e ruminações excessivas Indivíduos ansiosos podem envolver-se frequentemente em preocupações pessoais e/ou familiares, vinculadas ou não às suas obsessões. Além disso, podem usar sedativos em excesso para tentar combater os sintomas. É possível ainda que tentem controlar seus temores por meio da utilização de álcool ou de hipnóticos. Avaliações clínicas Esses sintomas listados acima podem ser observados por qualquer pessoa, sem que esta tenha conhecimento médico ou mental. Portanto, esses sintomas são visíveis e podem ser indícios de que o transtorno obsessivo-compulsivo está se desenvolvendo ou até mesmo que já tenha dominado o indivíduo. Para garantir que a pessoa tem TOC é preciso fazer algumas análises e exames. Entre eles, há entrevistas clínicas, instrumentos autoaplicáveis, entrevistas estruturas, avaliações comportamentais, avaliações psicométricas e resultados de exames laboratoriais e físicos. Entrevistas clínicas O que é pesquisado e perguntado para o paciente e para os familiares são informações sobre obsessões e rituais, história médica, história psiquiátrica individual e familiar, funcionamento social e ocupacional, papel dos familiares e insight do paciente. O clínico responsável pela entrevista também faz perguntas relacionadas com os estímulos externos (luzes acesas, assistir tragédias), estímulos internos (pensamentos, imagens, impulsos) e comportamento por evitação (não ir a um banheiro público com receio de infectar-se com algum agente nocivo à saúde) Essa entrevista ajuda a separar casos de TOC e casos de aparecimento de sintomas secundários a infecções, lesões agudas ou doença cerebral. Essa etapa de separação é de extrema importância, pois o tratamento de TOC é completamente diferente do tratamento para os demais problemas de saúde, tanto mental quanto físico História médica A origem do TOC também pode advir de doenças ou complicações de lesões anteriores, como problemas cerebrais, abuso de substâncias sem prescrição médica, doenças crônicas, transtornos anteriores e desordem mental. Problemas cerebrais: podemos citar alguns danos no cérebro que podem evoluir para um transtorno obsessivo-compulsivo: - Tumor cerebral - Vasos sanguíneos fora do padrão - Dano cerebral causado por falta de oxigênio (anoxia) - Exposição tóxica - Infecção cerebral - Doença cerebral degenerativa (Parkinson, Huntington, demência) Abuso de substâncias sem prescrição médica: essas substâncias podem ser desde drogas ilegais até excesso de uso de medicamentos, com ou sem prescrição médica: - Anfetamina - Estimulante - Cocaína - Crack - Pílulas de emagrecimento - Alucinógenos Doenças crônicas: as doenças sem cura e que afetam completamente a rotina do indivíduo podem ser gatilhos para o aparecimento do TOC: - Diabetes melito - Tireoide instável Transtornos anteriores: os transtornos que podem afetar diretamente em obsessões e compulsões são: - Transtornos de aprendizagem - Transtornos de desenvolvimento - Retardo mental - Autismo - Síndrome de Asperger Desordem mental: não existe uma comprovação de que desordem mental seja o principal motivo do desenvolvimento do TOC, mas entende-se que é uma das principais causas: - Depressão - Pânico - Ansiedade generalizada - Agorafobia (medo de sair em público) - Estresse pós-traumático - Esquizofrenia - Hipocondria - Jogo compulsivo - Tricotilomania (mania de arrancar os cabelos) História psiquiátrica individual e familiar Essa etapa tem por base a idade que os sintomas de TOC apareceram, o nível de desenvolvimento dos sintomas e os padrões, estresses significativos e constatação de desordem de personalidade ou de doenças psiquiátricas. Os históricos de saúde mental e física do paciente e de seus familiares são essenciais para elaborar um tratamento, pois sem essas informações não é possível avaliar de forma adequada o estado do paciente e nem como garantir o melhor tratamento para ele. Indícios de transtornos mentais na família são informações valiosas para o diagnóstico do paciente, pois talvez seu transtorno obsessivocompulsivo seja apenas uma “herança genética”. Em outras palavras, quando um paciente tem histórico familiar de transtornos mentais, como esquizofrenia, demência e até mesmo TOC, entende-se que ele tem mais predisposição do que as demais pessoas. As chances são maiores para ele desenvolver o TOC, mas pode acontecer de, durante toda a vida, ele não demonstrar qualquer sintoma. Funcionamento social e ocupacional Nessa etapa, os entrevistadores clínicos responsáveis devem formular questões relacionadas ao desempenho escolar e o desempenho profissional, da quantidade de amigos e o comportamento com eles, o histórico de namoros, e relacionamentos íntimos e a socialização. As perguntas mais comuns são, de acordo com Gail Steketee: - “Quanto tempo por dia você gasta com suas obsessões e rituais?” - “Os sintomas já lhe causaram muita aflição?” - “Suas obsessões e compulsões interferiram em seu funcionamento ocupacional ou escolar, levando-o a perder o emprego ou a abandonar a escola?” - “Seus sintomas interferiram em seus relacionamentos sociais ou familiares?” - “Seus sintomas já causaram sofrimento acentuado em suas atividades ou relações sociais?” Após obter as respostas, os clínicos responsáveis analisam as informações e separam os pacientes de acordo com a gravidade de seus sintomas. Sabe-se que pacientes com sintomas moderados respondem melhor ao tratamento, pois a doença ainda não evoluiu muito e é possível detê-la antes que ela domine o paciente e altere toda a sua rotina. Papel dos familiares A família afeta diretamente no andamento do tratamento, pois não é raro um dos familiares ajudar ou contribuir para a obsessão ou para a compulsão do paciente. Muitas vezes a família se acomoda aos rituais exagerados do paciente sem oferecer ajuda ou se mantendo submissa ao transtorno do paciente. Isso é bastante preocupante porque o TOC é uma doença muito grave e precisa ser diagnosticada e curada. O que precisa ser analisado pelos clínicos responsáveis é: - Maior disfunção familiar - Sofrimento familiar - Rejeição por parte dos familiares - Aumento na gravidade dos sintomas Insight do paciente Um significativo número de pacientes conseguem entender que seus rituais, compulsões ou obsessões são irracionais e decidem, a partir de então, buscar ajuda e iniciar um tratamento. Esses pacientes têm maior chance de respostas positivas durante o tratamento, pois já compreendem a gravidade de alguns dos seus atos, principalmente aqueles relacionados ao cotidiano, e estão dispostos a “melhorar”. Porém, não basta apenas que ele compreenda sua atual situação. É preciso fazer com que ele veja como sua rotina mudou e como ela afetou as demais pessoas a sua volta. A busca do insight é um objetivo durante o tratamento, já que é a melhor formar de curar o paciente, pois assim ele percebe quanto mal está fazendo a si próprio e àqueles que o rodeiam. Insight é o termo usado para determinar quando uma pessoa compreende, de repente, algo como um exercício, uma doença ou um desafio. É aquele momento em que tudo que antes era confuso e sem sentido passa a ter racionalidade e sentido. Possíveis causas para o TOC Até recentemente acreditava-se que o TOC era uma doença exclusivamente psicológica. Após estudos mais complexos, graças ao avanço da tecnologia, pode-se entender que o transtorno obsessivocompulsivo é também uma doença neuropsiquiátrica. As áreas cerebrais excitadas em pessoas com TOC são avaliadas por meio de medicamentos, estudos de neuroimagem e estudos funcionais de cérebro. Essas análises somadas às alterações da neuroquímica cerebral e a pesquisas genéticas ajudam a desvendar os mistérios que envolvem o transtorno obsessivo-compulsivo. Medicamentos reduzem a intensidade dos sintomas do TOC Descobriu-se que os medicamentos diminuem os sintomas obsessivocompulsivos e, após essa descoberta, foi possível constatar que há irregularidades neuroquímicas relacionadas ao comportamento do ser humano. A serotonina, substância responsável pela sensação de prazer e que é produzida no cérebro, é um dos alvos dos medicamentos, pois o papel desses medicamentos é aumentar as doses da serotonina. De acordo com Aristides Volpato, a serotonina desempenha importante papel na transmissão de impulsos nervosos interneuronais (sinapse), especialmente em determinadas regiões do cérebro. Com a inibição da sua recaptação pelas células nervosas em decorrência do uso dos medicamentos que têm esse efeito, seus níveis se elevam nas sinapses, favorecendo a transmissão dos impulsos nervosos de uma célula para outra. Os antidepressivos são medicamentos que têm essa característica e recebem o nome de inibidores da recaptação da serotonina (IRSs), como a clomipramina. Há ainda os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como a fluoxetina, a paroxetina, a sertralina, o citalopram e a fluvoxamina. A constatação do efeito antiobsessivo de tais fármacos suscitou a suspeita de que possa existir associação entre o TOC e algum tipo de disfunção neuroquímica nas vias cerebrais que utilizam a serotonina. Por essa razão ela poderia estar envolvida no surgimento dos sintomas. As outras substâncias existentes no sistema nervoso, mesmo quando seus níveis são aumentados, não criam efeitos de melhora nem de piora nos sintomas do TOC. Hiperatividade em certas regiões Com o avanço da tecnologia é possível assistir o cérebro em funcionamento. Antigamente, somente se conseguia ter imagens do cérebro após a morte do paciente e apenas abrindo sua cabeça. A tomografia por emissão de fóton único (SPECT), a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e a ressonância magnética (RM) são algumas das ferramentas utilizadas para analisar o comportamento do cérebro. Foram feitos exames em regiões específicas do cérebro e essas regiões foram comparadas entre pessoas portadoras do TOC e pessoas que não o tinham. As regiões analisadas foram: córtex frontal (parte mais frontal do cérebro) e gânglios basais (regiões mais profundas). Esses gânglios são constituídos pelo estriado e pelo tálamo. Os gânglios são responsáveis pelo comportamento, modulação dos movimentos, planejamento de sequência, aprendizagem por ensaio e erro e direcionamento cognitivo e motivacional. Essas funções costumam ser afetadas em pessoas portadoras de TOC. Um dos testes elaborados para examinar as regiões afetadas é provocar o medo. Um exemplo é colocar gelatina dentro de uma luva e pedir para que uma pessoa que tenha arrepios com relação à gelatina coloque as luvas. A reação de imediato da pessoa que coloca as luvas é de asco, nojo. A região do cérebro que foi ativada mostrou que o aumento da atividade cerebral observado em portadores de TOC diminui com a terapia comportamental e com o uso de medicamentos. Por meio dessa experiência, foi possível documentar, pela primeira vez, o efeito sobre o funcionamento do cérebro com relação a uma doença de natureza psicológica. Sintomas obsessivo-compulsivos em doenças neurológicas Traumatismos cranianos, tumores ou lesões na região do hipotálamo, epilepsia e acidentes vasculares cerebrais também podem causar o aparecimento de sintomas obsessivo-compulsivos. Ao mesmo tempo em que ocorria a epidemia de gripe ao final da Primeira Grande Guerra, que chegou a matar mais de 20 milhões de pessoas, acontecia em Viena um surto de encefalite letárgica. Essa doença recebeu essa descrição porque um dos sintomas mais presentes era a sonolência extrema. Muitas pessoas morreram por causa dessa doença, mas os sobreviventes, além de apresentarem problemas neurológicos, como Parkinson e paralisia ocular, desenvolveram obsessões e compulsões. Portanto, entendeu-se que doenças que se instalam ou que atacam o sistema nervoso são um gatilho para o desenvolvimento de sintomas obsessivo-compulsivos, mesmo que o paciente não apresente nenhuma ligação com TOC. Genética Depois de complexos estudos, notou-se que uma pessoa que tem no histórico familiar a presença do transtorno obsessivo-compulsivo é quatro a cinco vezes mais propícia a desenvolver alguma obsessão ou compulsão. Devido a esses estudos, o TOC é considerado como uma doença familiar. Também foi levado em conta o ambiente familiar. Por exemplo, se uma criança cresce num ambiente em que sua mãe e/ou seu pai não permitem que ninguém sente em sua cama com as roupas com as quais veio da rua, para que a cama não fique contaminada, ela vai acreditar que aquilo é algo normal e provavelmente terá a mesma atitude. Em gêmeos crescem para 20 a 40 vezes as chances de desenvolvimento de sintomas obsessivo-compulsivos. Os especialistas ainda não conseguiram descobrir quais são os genes que carregam essa predisposição genética para o desenvolvimento de TOC. Neurocirurgia Existem comprovações de que cerca de 20% dos pacientes não respondem somente a medicamentos e a terapias específicas, que são os tratamentos mais comuns para combater o TOC. Para essa porcentagem de pacientes é utilizada uma neurocirurgia, em que algumas regiões são modificadas a fim de melhorar o estado mental e comportamental do paciente. Porém, essa é uma das últimas escolhas para o tratamento, pois, além de muito perigosa, implica em abrir a cabeça do paciente, já que as regiões a serem alteradas se encontram na massa cinzenta e não no crânio. Teoria comportamental do TOC O livro TOC: Manual de terapia cognitvo-comportamental para o transtorno obsessivo-compulsivo traz uma linha de raciocínio elaborada por alguns especialistas sobre o aparecimento e as causas do transtorno obsessivo-compulsivo. A terapia comportamental parte do princípio de que os sintomas do TOC foram aprendidos e que é possível desaprendê-los. Aprendizagens erradas dariam origem aos sintomas e seriam também responsáveis pela sua manutenção. Vale a pena conhecer em profundidade os diversos modelos de aprendizagem, seus princípios ou leis, suas aplicações para a compreensão dos diferentes transtornos mentais e, em especial, suas contribuições para a compreensão do TOC. A teoria da aprendizagem procura explicar o motivo pelo qual os indivíduos mudam o comportamento na sua interação com o ambiente. De acordo com esse modelo, a aquisição de medos seria a alteração do comportamento decorrente de experiências com o meio ambiente. Essa forma de explicar a origem dos medos é utilizada não só para os temores e evitações do TOC, mas também para os que ocorrem em outros transtornos, como nas fobias específicas, na fobia social, no estresse póstraumático e no pânico. Os autores ligados a essa teoria defendem a existência de diferentes formas de aprendizagem e dedicam grande esforço para estabelecer suas leis. Inúmeros estudos realizados com animais em laboratórios indicaram a aquisição de um novo comportamento, como, por exemplo, conseguir alimento ou evitar choque elétrico pressionando uma alavanca e os fatores que influenciavam a aquisição ou a aprendizagem. Também foram feitas experiências para observar como os animais poderiam adquirir (aprender) medos e posteriormente desaprendê-los. Especialmente os resultados das últimas pesquisas tiveram aplicações no tratamento de problemas clínicos como as fobias e o próprio TOC. O condicionamento clássico ou pavloviano Funções fisiológicas inatas (hábitos intestinais, sono, batimentos cardíacos, alimentação, salivação) e mesmo reações mais complexas, como medo ou fissura por drogas, podem ser modificadas ao longo do tempo. Tais alterações constituem uma mudança de comportamento. Ivan Pavlov, neurofisiologista russo e prêmio Nobel, que viveu no início do século passado. Preocupava-se em estudar as influências do cérebro sobre as funções fisiológicas, como a digestão, a salivação e os batimentos cardíacos. Curiosamente, ficou conhecido por uma descoberta paralela, o reflexo condicionado. Pavlov primeiramente teve sua atenção despertada por um fenômeno interessante: os cães usados em suas experiências salivavam quando ouviam os passos do pesquisador no corredor. Ele inferiu que a salivação se relacionava ao barulho dos passos, o que, na mente dos cães, significava receber comida. A partir dessa observação casual, Pavlov fez o seguinte experimento: tocava uma sineta enquanto alimentava os cães. Mais tarde, após algumas repetições os cães passaram a salivar apenas ouvindo o som da sineta. Ele também verificou que, se a sineta fosse tocada sem que a comida fosse servida, com o tempo, o som da sineta não mais provocava salivação; o efeito se extinguia. Pavlov chamou essa modalidade de aprendizagem de reflexo condicionado, que também ficou conhecido como condicionamento clássico ou pavloviano. A importância dessa modalidade de aprendizagem se deve ao fato de que considerar que reações emocionais patológicas, como medo, angústia, nojo ou repugnância e fissura por drogas, dentre outras, podem ser adquiridas por condicionamento. Quando uma dessas emoções ocorre junto (é associada) com determinado estímulo e, sobretudo, se essa associação é repetida o estímulo que originalmente era neutro passa a provocar a ansiedade por si mesma. Ou seja, torna-se condicionado para produzir ansiedade. As fobias são exemplos de condicionamento, pois o medo advindo de um susto a algo inofensivo (baratas, lagartixas) pode desencadear um pânico, já que a sensação que a pessoa tem é de extrema angústia e acaba desenvolvendo uma fobia para com aquele inseto ou animal. Outro exemplo simples é experimentar uma situação completamente desagradável, quando na realidade a sensação de diversão era o propósito inicial. Parques de diversão são pontos-chave para o desenvolvimento de fobias e medos. Aqueles brinquedos que sobem a vários metros de altura (pelo menos 50m) e depois se projetam queda livre, em vez de instigar uma sensação de liberdade no indivíduo, este começa a ter temor de andar em elevadores, pois imagina que o elevador que ele entrar pode cair e ele irá, novamente, ter a sensação horrorosa que experimentou no parque. Esses medos são considerados condicionados e, por meio deles, os sintomas de TOC começam a ser observados. Antes, tais locais ou objetos eram inofensivos, neutros e o indivíduo não apresentava qualquer repulsa por eles. A partir de determinado momento, ou seja, quando o medo condicionado toma conta da mente e do controle do indivíduo, ele inicia o processo de obsessão e compulsão para evitar a todo custo tais objetos e locais. Medos podem ser aprendidos em laboratório: o pequeno Albert Até recentemente, eram executados experimentos em que o entendimento sobre a origem dos medos era confrontado e comprovado. Porém, no momento em que essas experiências tomaram dimensões amplas e poderiam prejudicar a saúde dos objetos de experimento, foram proibidos e os estudos, encerrados. Um estudioso de Pavlov iniciou um estudo próprio sobre isso. Seu nome era Watson. Seu experimento tinha como intuito provocar medos de maneira artificial, por meio do condicionamento clássico. Aristides Volpato conta a seguinte história sobre esse estudo: Watson se aproximou de um menino, conhecido como pequeno Albert, que brincava com um hamster branco. Sem que o menino percebesse, Watson bateu com muita força numa barra de ferro com um martelo, assustando-o (associando o hamster com a reação de ansiedade). Depois dessa experiência, o pequeno Albert passou a ter medo não só de hamsters, mas também de coelhos, algodão e aventais brancos. Esse efeito é chamado de generalização: o medo é estendido a objetos ou lugares que, de uma ou outra forma, lembram a situação original. Essa generalização é um sintoma do transtorno obsessivo-compulsivo. Um exemplo é a exagerada evitação ou medo da contaminação de objetos ou situações derivados de um local/situação original. O que se nota de diferente é que os sintomas e o medo acontecem de maneira gradual. No caso do pequeno Albert, após o susto, ele simplesmente não conseguia mais se aproximar de objetos que lembrassem um hamster. Traumas Os traumas podem desencadear sintomas de TOC, mas esses casos são bastante raros. Existem outras meneiras de se iniciar um desenvolvimento de tais sintomas, onde a probabilidade de desaguar em TOC é muito maior. Um exemplo que pode ser citado é o de uma mulher que, ao tentar socorrer seu pai, vítima de um ataque cardíaco agudo seguido de um edema pulmonar, entrou em contato com a secreção que ele expelia pela boca, secreção essa com sangue. Após minutos sem saber como reagir, a mulher conseguiu chamar a emergência, mas quando os paramédicos chegaram, apenas confirmaram a morte de seu pai. Depois desse episódio, a mulher iniciou uma obsessão com relação a higiene e limpeza, obrigando os filhos a seguirem seus rituais compulsivos e irracionais. Porém, não foi somente esse sintoma de TOC que aflorou nesta mulher. A partir do episódio da morte de seu pai, ela se recusava a entrar ou mesmo passar em frente a um hospital. Traumas como esse podem acarretar em uma obsessão e mudar completamente o cotidiano do indivíduo e daqueles que o rodeiam, criando angústia, sofrimento e dor, sintomas claros de TOC. Condicionamento operante Os pesquisadores Thorndike e Skinner elaboraram um estudo sobre como o comportamento se molda quando se trata de efeitos consequências que o ambiente propicia. Ou seja, o condicionamento operante. De acordo com Aristides Volpato, os efeitos ou as consequências do comportamento podem ser positivos, como elogios, prêmios, cheiros ou gostos agradáveis, pagamentos, atenção de pessoas que são importantes para nós. Nesse caso, são chamados de reforçadores, pois aumentam a frequência dos comportamentos que os provocam. Podem ser desagradáveis ou negativos, como castigos, críticas, privações, multas, prisão e tendem a diminuir a frequência de comportamentos. Nesse caso, são chamados de punição. A simples remoção de um desconforto, como o alívio de dor, de medo, de aflição ou de angústia, também pode aumentar determinado comportamento e não deixa de ser um reforço – chamado de reforço negativo. Nesse caso, a frequência do comportamento é aumentada ou reforçada porque remove o desconforto. Uma pessoa somente continua com suas obsessões e rituais porque têm como prêmio o alívio final, ou seja, quando um paciente termina seu ritual, por exemplo, limpar todas as partes da casa, impecavelmente, ele sente um prazer ímpar. Esse prazer se torna um somatório para impulsionar a vez que a compulsão ou a obsessão o envolver. Aprendizagem social O convívio social é uma grande rede de aprendizado, pois cada vez que uma pessoa observa o comportamento de outra e esta atinge um objetivo positivo e recebe uma premiação por isso, a pessoa que a observa tende a copiar as ações da pessoa observada. O medo é um dos problemas que pode ser enfrentado somente pela observação. Portanto, se uma pessoa tem medo extremo de dirigir, por exemplo, e vê uma pessoa mais nova e aparentemente mais frágil dirigindo um automóvel, se sente motivada a enfrentar seu medo de dirigir. Às vezes, esse enfrentamento vem por meio da constatação “se até ele faz, eu também posso”, ou seja, a humilhação. Muitas pessoas acabam por deixar seus medos de lado porque outras que elas julgavam incapazes de executar tal situação estão se sobressaindo. Essa motivação acontece de maneira inconsciente. Por exemplo, uma mulher de 30 anos, casada e com filhos, que nunca conseguiu pegar o volante de um carro e sair pela cidade dirigindo. Ao se deparar com a vizinha de apenas 18 anos manobrando o carro, a mulher de 30 se sente humilhada ou até mesmo inferiorizada, mesmo que a vizinha de 18 esteja apenas aprendendo a dirigir. Aqui ressaltamos o exemplo que demos acima, sobre crianças que são criadas em ambientes em que os pais são portadores de TOC e acabam desenvolvendo os sintomas por simples associação, não por uma doença, trauma ou fobia próprias. Habituação Ainda como uma possível causa do desenvolvimento de TOC, existe a habituação, que nada mais é do que a característica de se acostumar com algo que antes era incômodo. Podemos citar um exemplo cotidiano do barulho de um relógio analógico. Cada vez que o ponteiro dos segundos muda, a pessoa incomoda-se com aquele “tic-tac” constante. Após alguns minutos, esse “tic-tac” tão ensurdecedor já não atrapalha mais e a pessoa esquece até mesmo da presença do relógio. Esse é um exemplo simples, mas podemos citar um ainda mais comum. Quem nunca reclamou do barulho que o vizinho faz, geralmente, aos finais de semana? Música alta, marteladas de construção ou barulhos de motor de uma motocicleta dando voltas e mais voltas, que parecem ser apenas na sua casa. No instante em que você entra em contato com esses sons é praticamente insuportável aguentá-los e os xingamentos e pensamentos sobre o vizinhos invadem sua cabeça. Depois de alguns minutos, o barulho cessa, mas você nem repara, pois já havia se desligado de toda aquela barulheira e nem notou que a festa do vizinho já havia terminado. Algumas pessoas não conseguem se habituar com tais sons, pois eles são realmente perturbadores, e somente quando param, fazem diferença e essas pessoas ficam tranquilas. Porém, com a maioria dos indivíduos, a habituação acontece e ela é dada como um método de aprendizagem e, indiretamente, uma maneira para o surgimento de transtorno obsessivo-compulsivo. Tipos de Tratamento Aristides Volpato e Teresa Pigott explicam como funcionam os métodos de tratamento para o transtorno obsessivo-compulsivo. Não obstante o fato de suas causas não terem sido esclarecidas, nestas últimas três décadas foram desenvolvidos métodos de tratamento que conseguem reduzir os sintomas em mais de 70% dos casos: o uso de inibidores seletivos da recaptação da serotonina, a 2 clomipramina, e a terapia comportamental de exposição e prevenção da resposta (EPR). Com os medicamentos, o usual é uma redução entre 20% e 60% dos sintomas, 40% em média. Entretanto, a remissão completa é rara – ao redor de 20% (The Clomipramine Colaborative Study Group, 1991; Pigott & Seay, 2000). São comuns as recaídas após a interrupção e a intolerância aos efeitos adversos é uma causa frequente de abandono (Pato et al., 1988; Pigott & Seay, 2000). A terapia de EPR foi introduzida na década de 70 e considerada eficaz em mais de 70% dos pacientes (Marks et al., 1975; Abramowitz, 1997). Entretanto, não respondem ou respondem parcialmente ao tratamento os pacientes que apresentam obsessões não acompanhadas de rituais ou convicções muito intensas e cristalizadas sobre seu conteúdo. São frequentes o abandono e a não adesão ao tratamento, os quais, somados, podem chegar a 30% (Marks et al., 1988), reduzindo, na prática, sua eficácia para aproximadamente 50% (Salkovskis et al., 2000). Por outra parte, parece ser eficaz em pacientes que não respondem ou respondem parcialmente ao tratamento com psicofármacos (Simpsom et al.,1999). Nota Cerca de 10% dos indivíduos com TOC passam por períodos distintos de exacerbação dos sintomas, seguidos por intervalos de relativa remissão. Embora a duração dos episódios sintomáticos possa variar muito no início – de algumas semanas até muitos meses –, geralmente se alonga com o envelhecimento. Gail Steketee afirma em seu livro que as taxas de melhora documentadas entre os indivíduos que sofrem de TOC têm uma grande variação. Estima-se que as taxas de melhora espontânea do transtorno variam de 25% a 71% relatados índices mais altos de melhora (aproximadamente 90%) após o tratamento com terapia comportamental ou com uma combinação de medicação e terapia comportamental. Em contrapartida, de 60% a 80% dos portadores apresentaram melhora com tratamento apenas medicamentoso; contudo, a maioria dos estudos sugere que de 70% a 90% dos pacientes tratados apenas com medicação terão recaída em um período de poucas semanas após a sua descontinuação. Há relatos sobre a terapia comportamental, que dizem que seus efeitos duram por mais tempo quando comparados com os demais métodos de tratamento. Um exemplo citado no livro é o seguinte: a maioria das evidências sugere que 80% a 90% dos obsessivo-compulsivos apresentarão melhora notável após a terapia comportamental e cerca de 75% manterão a melhora dos sintomas a longo prazo. Dois problemas encontrados com os estudos dos métodos de tratamento são: 1. Entre 20% e 25% dos pacientes que foram tratados com terapia comportamental apresentam recaída; 2. Entre 1% e 25% dos pacientes que foram tratados com terapia comportamental se recusam a participar ou não conseguem concluí-la. Entende-se que essa distância está diretamente ligada às técnicas de exposição, baseadas na confrontação com os temores específicos para que seja possível vence-los. Nota O transtorno obsessivo-compulsivo apresenta baixo índice de suicídio quando comparado aos demais transtornos mentais, como a esquizofrenia e a psicose. Teresa Pigott afirma, com base em seus estudos, que existem quatro tipos de tratamento que podem ser utilizados contra o transtorno obsessivocompulsivo: - Tratamentos comportamentais; - Tratamentos cognitivos; - Tratamentos psicoanalíticos; - Tratamentos em grupo e de família. Tratamentos comportamentais O modelo comportamentos de tratamento procura esclarecer como os indivíduos adquirem obsessões pela associação de um evento neutro ao medo. O indivíduo tenta, então, lidar com aquele temor ou ansiedade por meio da execução de rituais compulsivos, os quais são reforçados por reduzirem temporariamente essa ansiedade. Os tratamentos comportamentais se baseiam na habituação da ansiedade e/ou na aflição quando o paciente enfrenta as situações temidas. Tratamentos cognitivos Os modelos cognitivos detêm-se em como percepções, pensamentos internos, imagens e sistema de crenças de um indivíduo afetam o comportamento quando ele experimenta uma ideia intrusiva ou obsessiva. Os métodos de tratamento empregam técnicas para promover o pensamento racional e tendem a incorporar estratégias comportamentais em razão do interjogo entre cognições e o comportamento. Tratamento psicanalíticos O modelo psicanalítico pressupõe que tanto a história pessoal quanto o desenvolvimento inicial interagem para determinar: - A personalidade de um indivíduo - As formas de lidar com as situações, que podem aumentar a vulnerabilidade para problemas psicológicos como o TOC. Os métodos do tratamento detêm-se na identificação de eventos no início da vida e nas relações famíliares que afetam emoções e comportamentos atuais que contribuem para sintomas do transtorno. Tratamentos em grupo e de família As terapias em grupo e de família detem-se nos aspectos interpessoais do desenvolvimento e melhora dos sintomas do TOC. Esses tratamentos estão baseados principalmente nos métodos comportamentais, os quais utilizam membros do grupo e da família para estimular a cooperação do paciente. Terapia comportamental para o tratamento do TOC A teoria do comportamento toma por base como o comportamento é aprendido e como ele pode ser desaprendido. Há uma teoria, formada por dois estágios que segura os modelos de tratamento para a teoria comportamental. São eles: aquisição e manutenção do medo e do comportamento evitativo. De acordo com essa teoria, um objeto neutro ou pensamento é inicialmente associado ao medo por estar ligado a um estímulo que provoca ansiedade. Para diminuir a ansiedade desenvolvida, os pacientes utilizam respostas de fuga ou evitação, que são repetidas e reforçadas porque de início os deixaram menos ansiosos. Os clínicos comportamentais acreditam que as obsessões produzem ansiedade e que as compulsões reduzem por certo tempo a ansiedade. Os indivíduos com TOC utilizam os rituais obsessivos para reduzir ativamente o sofrimento porque o que aciona as obsessões é tão proeminente que não pode ser evitado de forma passiva. Por exemplo, os indivíduos lavam as mãos dezenas de vezes porque não conseguem evitar a sujeira e os germes por completo. Métodos Com base na teoria de que as obsessões provocam ansiedade e desconforto, os quais são estão reduzidos pelas compulsões, os primeiro teóricos comportamentais acreditavam que o tratamento do TOC deveria incluir procedimentos para reduzir a ansiedade e uma forma de bloquear o reforço incluído na realização dos rituais. Os primeiros tratamentos comportamentais enfatizavam a redução da ansiedade associada às obsessões. Os médicos pensavam que, depois que os estímulos ou situações deixassem de evocar ansiedade, o comportamento compulsivo cessaria porque não seria mais reforçado por suas propriedades de reduzir a ansiedade. Por exemplo, assim que uma pessoa não se sentisse mais tão ansiosa diante do pensamento de ser contaminada, reduziria ou interromperia os rituais de limpeza excessivos. Os clínicos esperavam que esses tratamentos para redução da ansiedade fizessem com que o paciente se sentisse mais confortável em situações que o deixavam ansioso, pelo uso da exposição prolongada. Essa exposição mental ou física também rompe a conexão entre o estímulo que produz ansiedade e a desgraça temida uma vez que, na prática, não resulta em desgraça. As expectativas dos pacientes quanto às consequências negativas não são reforçadas e eles adotam expectativas novas e mais racionais quando se defrontam com uma situação que, anteriormente, produzia ansiedade. Abaixo segue a lista dos tratamentos comportamentais mais utilizados nos dias de hoje. ● Dessensibilização sistemática: o relaxamento do paciente é o objetivo desse processo, para depois expor os objetos e as situações que antes provocavam ansiedade no paciente. Os elaboradores desse método acreditavam que, expondo os dois extremos, o relaxamento e aquilo que acarreta em ansiedade extrema, era possível encontrar um meio termo e o estímulo perturbador desapareceria. ● Intenção paradoxal: esse tratamento envolve tentativas deliberadas de aumentar a frequência ou a intensidade das obsessões ou compulsões para reduzir o desconforto. Po exemplo, um clínico solicita que o paciente pense deliberadamente em germes e na necessidade de lavar-se mais do que o usual devido ao acentuado perigo dos germes. O clínico determina, então, uma tarefa para casa com base nesse cenário. ● Inundação na imaginação: em geral, a inundação na imaginação consiste no fato de o clínico encorajar o paciente a experimentar mentalmente seus temores durante a sessão de terapia. Por exemplo, um paciente que verifica compulsivamente as coisas poderia ser solicitado a se ver saindo de casa sem verificar qualquer fechadura e experimentando como se sentiria. O clínico também poderia pedir que o paciente visualizasse um resultado temido, como, por exemplo, ser roubado. ● Saciação: a saciação focaliza a repetição verbal. Por exemplo, um paciente temeroso de que repetir certas palavras ou expressões levaria sua mãe à morte poderia ser solicitado a discutir repetidamente esses temores em detalhes com a ajuda do clínico. A obsessão verbalizada também poderia ser gravada para ser reproduzida como tarefa de casa. Outros tratamentos comportamentais iniciais, como terapia aversiva e interrupção do pensamento, tinham o objetivo de bloquear obsessões e compulsões. A terapia aversiva envolve punir um comportamento ou ritual indesejado e interromper a punição assim que esse comportamento cesse. Por exemplo, o clínico pode emitir um choque elétrico contingente à realização de um ritual, como lavar as mãos. Ele, então, interrompe o choque assim que a pessoa toca em um objeto contaminado. Dessa forma, os pacientes sentem desconforto quando executam um ritual e alívio quando tocam os objetos temidos, o inverso do seu padrão usual. Esse método também pode ser aplicado a rituais mentais, de modo que a pessoa experimenta alívio quando não se ocupa mais com os pensamentos obsessivos. Como efeito, o choque reciprocamente inibe os rituais problemáticos em razão de sua natureza aversiva. Tal tratamento pretende ensinar o paciente a resistir aos rituais mesmo em face do estímulo que evoca a obsessão. O processo de interromper o pensamento tem por objetivo proibir as obsessões, substituindo-as por pensamentos mais agradáveis e calmantes. Isso envolve a interrupção dos pensamentos obsessivos por meio da utilização de uma palavra-chave, como “Pare!”. O clínico ensina o paciente a utilizar a palavra-chave em caso de pensamentos obsessivos indesejáveis. Além disso, o instrui a visualizar uma cena agradável imediatamente depois de dizer a palavra-chave. Por exemplo, o clínico ensina um indivíduo que sempre teme atropelar alguém enquanto dirige a dizer “Pare!” quando tal pensamento surgir. Logo após dizêlo, o paciente visualiza uma cena feliz e agradável. Ele decide que cena imaginar. Esses primeiros tratamentos comportamentais para o transtorno incluíam alguma forma de exposição ao material obsessivo. Contudo, os rituais, de modo geral, não eram incluídos no tratamento, possivelmente porque a maioria dessas abordagens mostrou-se eficaz apenas de forma parcial no tratamento do TOC. Hoje em dia, o tratamento comportamental de exposição e prevenção de resposta de mais sucesso incorpora os aspectos mais úteis dessas primeiras intervenções, como exposição aos estímulos temidos. Abordagem da terapia cognitiva para o tratamento do TOC Os teóricos cognitivos acreditam que as pessoas com TOC apresentam capacidade prejudicada para organizar e integrar informações. Elas podem processar sinais emocionais e responder a eles com maior dificuldade e desconforto e interpretar de maneira equivocada pensamentos intrusivos, de modo que esses se transformem em obsessões. Uma explicação cognitiva do TOC sugere que os indivíduos sofrem desse transtorno por terem expectativas negativas incomumente altas em relação aos resultados. Por exemplo, acreditando que irão morrer ao tocarem em uma lata de lixo. Além disso, superestimam as consequências negativas para uma variedade de ações, por exemplo, achando que atropelaram alguém com seu carro quando, na verdade, simplesmente passaram por algum buraco ou bueiro na rua. O conteúdo obsessivo envolve tipicamente exageros nas preocupações normais. Os teóricos cognitivos acreditam que as pessoas com TOC sofrem por crenças irracionais comuns associadas a temores obsessivos. Entre elas, podemos citar: ● Ter um pensamento sobre executar uma ação é o mesmo que executá-la. ● Não tentar evitar algum dano a si mesmo ou aos outros é o mesmo que tê-lo causado. ● Ser pessoalmente responsável por pensamentos ou ações não se modifica mesmo quando existem outros fatores como baixa probabilidade de que um evento aconteça ou que outras pessoas exerçam algum papel para que ocorra um determinado desfecho. ● Falhar em corrigir ou desfazer um pensamento agressivo ou violento é o mesmo que buscar ou desejar que tal dano realmente aconteça. ● Exercer o controle sobre os próprios pensamentos é obrigatório. ● Ser especialmente vigilante previne desastres. ● É importante estar aconteceu ou acontecerá. absolutamente certo de que nenhum dano ● Não executar com perfeição é o mesmo que fracassar. Alguns teóricos cognitivos acreditam que pensamentos intrusivos normais podem se transformar em obsessões quando a pessoa interpreta ou avalia a intrusão como potencialmente meléfica e assume a responsabilidade por causar esse mal. Essa avaliação resulta em crescente ansiedade e culpa. O indivíduo desenvolve, então, comportamentos evitativos e compulsões abertas ou encobertas, a fim de se sentir menos ansioso. O elemento-chave nessa visão sobre o TOC envolve pensamentos automáticos ou interpretações negativas que acompanham experiências intrusivas. Esses pensamentos podem incluir: - “Esqueci-me de verificar o fogão e o forno? Não posso arriscar a sorte, ou minha casa vai incendiar”. - “Pensar sobre um acidente me torna responsável por evitá-lo” Outra explicação cognitiva para as pessoas com TOC é que elas pensam erroneamente sobre as crenças básicas. Um exemplo é “Para valer a pena, as pessoas precisam ser completamente competentes em todos os seus esforços; portanto, eu não posso cometer erro algum”. Esse tipo de pensamento acarreta em uma personalidade perfeccionista e que acaba provocando ansiedade extrema, pois cada vez que algo precisar ser feito, o indivíduo vai colocar muita pressão em si mesmo, sobre seu sucesso. Além disso, os obsessivos-compulsivos podem acreditar que não conseguem tolerar tal ansiedade e, portanto, desvalorizam sua habilidade para lidar de forma adequada com essas ameaças. Os teóricos cognitvos encaram compulsões do tipo “Preciso dar a volta com o carro a fim de verificar e ter certeza de que não atropelei alguém”, como tentativas de reduzir um dano superestimado e o excessivo sentimento de responsabilidade vivenciado. Métodos Existem duas técnicas cognitivas principais, que são utilizadas para o tratamento de pessoas portadoras de TOC: -Terapia racional-emotiva - Terapia cognitiva de Beck Terapia racional-emotiva A determinação dos tipos de pensamentos irracionais generalizados e os tipos de pressupostos errôneos que controlam os sentimentos de ansiedade, de desconforto e de tensão do paciente é o elemento-chave desse método. O clínico responsável elabora uma menira de modificar os pensamentos irracionais ou a ansiedade indevida. Se o paciente não se sentir mais desconfortável, deixa de dar atenção às compulsões, ou seja, elas já não serão mais necessárias. Por exemplo, com um limpador compulsivo, o clínico primeiro ajudaria o paciente a se dar conta do caráter irracional de seus pensamentos, como: “Se eu tocar em uma lata de lixo vou ficar doente e talvez morra” ou “Preciso lavar as minhas mãos muitas vezes para ficarem realmente limpas”. O clínico responsável deve desenvolver uma prática com o paciente, de forma que o paciente revise seus pensamentos e desenvolva percepções mais corretas. Um exemplo é: “Tocar em uma lata de lixo não vai me causar danos” ou “Lavar uma vez é suficiente para limpar minhas mãos”. A linha de raciocínio está baseada no fato de que, no momento em que o paciente substitui os pensamentos irracionais por pensamentos corretos e reais, ele não executará mais suas compulsões, pois a ansiedade extrema foi limitada e controlada. Em resumo, a terapia racional-emotiva consiste em: - Acontecimentos ativadores: situações desencadeantes, tais como ver uma placa de limite de velocidade enquanto dirige. - Crenças: pensamentos racionais e irracionais, tais como: “Se eu não estiver absolutamente certo do limite de velocidade causarei um acidente”. - Consequências: obsessões e desconforto; por exemplo, repetidamente para verificar a placa com o limite de velocidade. voltar ACONTECIMENTOS ATIVADORES -> CRENÇAS -> CONSEQUÊNCIAS Onde acontecimentos ativadores são situações desencadeantes, crenças são racionais ou irracionais e consequências são depressão, raiva, tentativas de suicídio. Terapia cognitiva de Beck Diferentemente da TRE, a terapia cognitiva concentra-se em questionar pensamentos negativos automáticos ou interpretações associadas a intrusões. Esses pensamentos automáticos negativos diferem dos obsessivos por serem mais abrangentes, mais generalizados e pertencerem aos significados que os pacientes vinculam a seus pensamentos obsessivos. Por exemplo, os pensamentos automáticos de uma pessoa podem incluir: - “Sou uma pessoa perigosa e posso perder o controle a qualquer momento”; - “Não tenho capacidade para lidar com meus problemas”; - “Se eu não verificar o fogão de novo, a casa pode pegar fogo”; - “Se eu não lavar minhas mãos de novo, vou pegar uma doença”. As interpretações negativas das experiências intrusivas são percursoras dos pensamentos obsessivos. O questionamento desses pensamentos automáticos é similar à utilização da TER. O clínico primeiro identifica os temas contidos nas respostas às experiências intrusivas, usando formulários de registros para os pensamentos, os quais o paciente completa como tarefa de casa. O clínico, então, questiona o pensamento do paciente de modo socrático, com perguntas e reiterações das crenças relatadas por ele. Esse diálogo o força a defender e explicar racionalmente seus pensamentos irracionais, ajudando-o a dar-se conta da irracionalidade e do prejuízo de tais pensamentos. Abordagem psicanalítica para o tratamento do TOC As abordagens de cunho psicanalítico modernas trazem o conceito de que os problemas psicológicos atuaiis resultam de experiências passadas e do desenvolvimento da personalidade. Ainda não há comprovações de que essas abordagens são de fato eficazes para o tratamento de pessoas portadoras de transtorno obsessivocompulsivo, mas também não existem contraindicações explícitas. Métodos Não existia um tratamento que fosse menor do que alguns meses, antigamente. Com o avanço da tecnologia, foi possível desenvolver alguns métodos de curta duração para o TOC. Esses métodos estão baseados na ação do clínico, ou seja, o clínico responsável tenta ajudar o paciente a encontrar e a enfrentar a origem de sua ansiedade. Desse modo, o paciente compreende melhor sua situação e os motivos que o levaram para ela. Os principais componentes do tratamento psicanalítico são: ● Proporcionar insight: o tratamento analítico de curta duração é muito ativo e envolve diretamente a produção de insight do paciente. O clínico consegue isso expondo o paciente aos conflitos subjacentes por meio da interpretação de como suas declarações e ações atuais refletem conflitos e desejos subjacentes. ● Tolerar a ansiedade: como as interpretações podem produzir grande ansiedade, os pacientes devem ter força de ego para suportar as interpretações que provocam ansiedade e o insight. As características da força de ego incluem estar motivado para mudar, possuir uma sofisticação psicológica acima da média e ter tido uma relação significativa durante a infância. ● Formulação psicanalítica dos sintomas e das defesas: depois de obter a história pessoa do paciente e certificar-se de que ele atende aos critérios de seleção, por exemplo, força de ego, para o tratamento psicanalítico de curta duração, o clínico desenvolve e comunica uma formulação analítica que oferece uma resolução a seus problemas. Juntos, clínico e paciente, chegam a um acordo sobre essa visão dos problemas antes de continuarem o tratamento. ● Experiências emocional corretiva na relação terapêutica: o estabelecimento de uma aliança ou vínculo terapêutico entre o clínico e o paciente no início da relação terapêutica, geralmente, resulta em uma experiência emocional corretiva, que ajuda o último a resolver sues conflitos. O resultado da utilização da transferência positiva pode ser uma força motivadora poderosa que leva o paciente a desistir dos comportamentos mladaptativos. ● Confrontação ativa: o clínico confronta o paciente diretamente com os padrões comportamentais paradoxais e usa exemplos claros para evidenciar a conexão entre as dificuldades atuais e as experiências passadas. Abordagem da terapia em grupo para o tratamento do TOC A terapia em grupo tem um custo-benefício melhor do que o tratamento com terapia individual, já que requer muito menos horas da equipe para tratar o mesmo número de pessoas. Os efeitos terapêuticos associados de forma única à terapia em grupo podem aumentar a eficácia da terapia comportamental individual. ● Universalidade: a consciência de que aquele paciente não é o único com tal problema, ajuda na terapia, já que ter o conhecimento de que o indivíduo pertence a um grupo é uma evolução e um estímulo para o paciente. ● Altruísmo: em grupo, os portadores de TOC conseguem dar-se conta de que têm como contribuir com os outros em termos de sugestão, apoio, retorno e reaseguramentos. ● Aprendizagem por observação: os membros de um grupo de TOC podem aprender pela observação dos demais enquanto estes elaboram questões similares. ● Aprendizagem interpessoal: os pacientes obsessivo-compulsivos geralmente perdem a perspectiva em relação a um comportamento anormal. A maioria dos membros do grupo sofre de diferentes sintomas do TOC. Assim sendo, vários deles comportam-se normalmente em algumas áreas de suas vidas que para outros membros do grupo são problemáticas. ● Flexibilidade de papéis: cada membro pode agir tanto como paciente quando como facilitador. ● Coesão grupal: os grupos coesos possuem um sentimento de confiança. Receptividade, compreensão, aceitação e solidariedade. A definição de objetivos na presença do grupo é um fator motivacional importante porque os membros estão cientes de que deverão compartilhar seus progressos com os demais na reunião seguinte. Métodos Existem apenas dois métodos que podem ser utilizados na abordagem de terapia em grupo: 1. Métodos utilizados em um grupo psicoeducativo e de apoio para pacientes com TOC que podem ajudar aqueles que também estão se submetendo ou já se submeteram à terapia comportamental individual ou à terapia medicamentosa. 2. Métodos utilizados em terapia comportamental em grupo que incluem exposição ao vivo ou na imaginação, bem como prevenção de resposta. Terapia psicoeducativa em grupo Essa terapia baseia-se em nove sessões, das quais o paciente precisa participar sequencialmente e deve trabalhar cada passo de cada vez. A. O facilitador apresenta o propósito e os objetivos do grupo, bem como uma visão geral dos sintomas do TOC e os dados de prevalência. B. O facilitador examina os critérios diagnósticos para o TOC, com exemplos relevantes similares aos sintomas encontrados entre os membros do grupo, além de informações sobre a relação entre o TOC e outros transtornos mentais. C. O facilitador lidera uma discussão sobre as causa do TOC e por que este persiste, geralmente enriquecida por um debate acerca das cognições associadas ao transtorno. Por exemplo, crenças irracionais e avaliações exagerada dos riscos. D. Os membros do grupo recebem instruções sobre as bases biológicas do TOC, incluindo informações sobre a hipótese da serotonina e das estruturas cerebrais associadas ao TOC, seguidas de uma revisão das pesquisas sobre a eficácia do tratamento medicamentoso. E. o facilitador apresenta uma visão geral sobre a terapia comportamental do TOC, abordando a exposição e a prevenção de resposta. O líder do grupo ensina os pacientes a classificar e ordenar suas obsessões e compulsões na escala SUDs (Subjective Units of Disturbance, escala de níveis de distúrbios). Cada paciente identifica aproximadamente dez situações, acontecimentos ou objetos que causam ansiedade e os classifica de acordo com o quanto de ansiedade provocam. O facilitador pode ainda demonstrar a exposição gradual ao vivo, utilizando-a para ilustrar a eficácia da terapia comportamental individual para o transtorno obsessivo-compulsivo. F. Os pacientes recebem informações sobre exposição e prevenção de resposta e encorajamento por parte dos membros do grupo para experimentarem tarefas simples de exposição e prevenção de resposta durante a sessão. Por exemplo, um indivíduo que tem medo de ser contaminado por tocar em outra pessoa pode ser solicitado a apertar a mão de um dos líderes ou de outro membro do grupo sem lavar as mãos imediatamente depois. G. O grupo discute o papel da família na acomodação ao TOC e na ajuda durante o tratamento. Como os familiares podem tanto ajudar quanto atrapalhar a terapia comportamental, o líder do grupo passa algum tempo explicando como os membros da família devem ou não agir em relação ao paciente, especialmente durante a terapia comportamental. H. O facilitador aborda os medicamentos atuais disponíveis para o tratamento do TOC, bem como os efeitos colaterais e as limitações da farmacologia. Por exemplo, adição de agentes ocasionalmente utilizados para tratar o transtorno. I. O facilitador aborda os fatores que promovem tratamento, como envolvimento ativo do paciente independentemente da forma de tratamento utilizada. o sucesso do e da família, Ao final da sessão, os líderes do grupo abordam a prevenção da recaída e o fato de o TOC ser um transtorno crônico que talvez nunca vá ceder por completo. J. O facilitador resume as sessões anteriores, discute a respeito das questões em aberto em aberto para a pesquisa do TOC e examina os planos dos membros do grupo e seu envolvimento nas terapias atuais. Tratamento com terapia comportamental em grupo Já a terapia comportamental em grupo abrange apenas cinco passos, os quais cada paciente deve executar cuidadosamente e de maneira que compreenda o objetivo de cada um desses passos. A. Fazer uma avaliação diagnóstica: ela é necessária para aferir se o paciente realmente tem TOC, pois outros transtornos mentais, como esquizofrenia e depressão, apresentam sintomas parecidos com os sintomas do TOC. B. Avaliar o tipo e a gravidade dos sintomas: os sintomas do TOC causam diferentes níveis de sofrimento e esses níveis são medidos a cada sessão, para acompanhar o melhoramento do paciente. C. Recomendar sessões de terapia psicoeducativa em grupo: a discussão sobre a composição do grupo e do processo ajuda a fazer uma transição suave para as sessões de tratamento comportamental em grupo intensivo e interativo que virá a seguir. D. Discutir as opções de tratamento: o líder do grupo e o paciente discutem as opções de tratamento, chegando a uma compreensão clara sobre exposição e prevenção de resposta, sem a qual o paciente poderia ficar temeroso demais para entrar nesse programa de tratamento. Em tais casos, o clínico discute com o paciente as outras opções de tratamento, que incluem terapia individual ou farmacoterapia. Os pacientes temerosos podem optar por entrar em um grupo após começarem outra terapia. E. desenvolver uma hierarquia dos estímulos que despertam ansiedade: esse é o passo antes de começar o tratamento comportamental em grupo. Um membro da equipe de tratamento realiza essa tarefa individualmente com cada paciente. Clínico e paciente utilizam a SUDs para criar uma lista de aproximadamente 25 itens ou situações que causam ansiedade em diferentes graus. O clínico e o paciente ordenam os itens a partir do menos até o mais ameaçador com base na pontuação atribuída a cada situação. Essa hierarquia estará então pronta para ser usada durante o tratamento em grupo. Abordagem da terapia de família para tratamento de TOC A família é a parte mais importante do tratamento do TOC. Como dissemos anteriormente, é preciso o apoio, a atenção e ajuda familiar para que o paciente tenha resultados positivos em seu tratamento. O papel dos familiares está dividido em duas partes: 1. Os familiares devem apoiar o indivíduo com TOC, em vez de se irritarem e ficarem impacientes. 2. Os membros da família devem conter-se a fim de não reforçarem nem se acomodarem às obsessões ou às compulsões do membro da família que apresenta TOC. Métodos Vamos expor aqui alguns componentes essenciais para o sucesso na terapia de família para portadores de transtorno obsessivo-compulsivo. ● Educação da família: os membros da família que ajudam durante o tratamento devem participar de algumas das primeiras sessões de terapia do paciente para saberem mais sobre sintomas, etiologia e métodos de tratamento. ● Treinamento para apoio durante a exposição e a prevenção de respostas: os assistentes familiares precisam aprender a ser úteis quando o paciente praticar tarefas de exposição e de prevenção de respostas em casa. ● Redução na acomodação da família: além de apoiar os pacientes quando eles se expuserem a situações temidas, os membros da família devem reduzir a sua acomodação aos sintomas do paciente com TOC. ● Treinamento em comunicação e resolução de problemas: em certas famílias, o paciente e o familiar aprenderam a comunicar-se de forma irritada ou não conseguem discutir os problemas familiares relacionados ao TOC. Quando isso acontece, o clínico pode pedir que ambos discutam durante a sessão os problemas relacionados com o transtorno. Dessa forma, o médico pode interromper as interações ineficientes e irritadas e estimular uma comunicação clara e de resolução dos problemas. Pós-tratamento Depois de sair da clínica, caso o paciente esteja internado, ou mesmo de parar ou diminuir as sessões de terapia, não acaba o esforço e a dedicação contra o transtorno obsessivo-compulsivo. A fase mais difícil depois de iniciar e dar continuidade ao tratamento é após todas as etapas, quando vem a abstinência e acontece a recaída. É mais fácil controlar os impulsos no começo do tratamento do que do meio para o final. Isso acontece porque o paciente começa o tratamento motivado e cria uma resistência contra si mesmo. Já ao longo do tratamento, existem momentos de desistência, em que o paciente se deixa levar por um instante de fraqueza e segue sua compulsão ou sua obsessão. A maioria dos casos que desiste no início do tratamento é por uma questão de arrependimento, ou seja, os pacientes ou são obrigados pelos familiares a se tratar ou pensam que vai ser “fácil” se tratar. Quando estão de fato no tratamento, esses pacientes percebem que de fácil não há qualquer etapa e sentem que o fracasso pode dominá-lo. Em outras palavras, o TOC e o medo tomam conta da mente e do corpo desses pacientes. Já do meio para o final, os pacientes estão cansados e sentem muita falta de executar seus rituais. Fazendo uma analogia, é a mesma situação de uma pessoa que está numa dieta rigorosa e na qual é impossível o consumo de chocolate. Nas primeiras semanas, a pessoa consegue saciar sua vontade de chocolate com frutas. Na realidade, ela se engana e tenta forçar para o cérebro que uma manga ou uma banana, por exemplo, são mais saborosas que uma barra de chocolate. Depois de um mês, dois meses, a pessoa não aguenta sua vontade e sua mentira, atacando uma barra de um quilo, por exemplo, de chocolate, em vez de comer apenas um bombom. Essa atitude demonstra cansaço e compensação. Cansaço porque toda a mentira que contou para seu cérebro e para seu corpo não foi suficiente para segurar sua determinação. Mesmo sendo muito forte e muito esforçada, a pessoa não aguenta a falta do chocolate. Compensação porque ela comeu uma barra de um quilo de chocolate, pois ficou tanto tempo sem ingeri-lo que precisou compensar todos esses dias sem chocolate. Isso é um perigo, principalmente quando se fala de portadores de TOC. A explicação é que essas pessoas são obsessivas e, se têm uma recaída, algo muito ruim pode acontecer. Por exemplo, um indivíduo que tem muitos pensamentos negativos e uma obsessão sobre números: enquanto esse indivíduo não atinge o número sete, não consegue ficar tranquilo. Acontece que essa pessoa começou o tratamento quando estava limpando suas janelas e seu marido e filhos a convenceram a parar na sexta janela. Muito aflita, ela foi e iniciou o tratamento. Mesmo após semanas com sessões de terapia, essa mulher não conseguia parar de pensar naquela última janela que ficou sem uma limpeza adequada. Num dia, seu marido a encontra com os dedos já esfolados de tanto que ela esfregou os vidros da janela. Ela já havia usado mais de cinco embalagens do mesmo produto de limpeza para vidros e certamente ela ainda iria acreditar que a janela estava suja. Passadas todas aquelas semanas sem limpar especificamente essa janela fez com que juntasse muita sujeira e essa mulher tinha no pensamento que precisava esfregar e esfregar até que a janela estivesse limpa. O problema é que já fazia mais de cinco horas que a mulher estava esfregando e tentando limpar a tal janela. Esse tipo de situação não é rara e Aristides Volpato comenta sobre como os pacientes portadores de TOC e os familiares podem evitar as recaídas e os problemas em reviver os rituais. Vamos supor que o paciente tenha encerrado com sucesso a luta contra os sintomas obsessivo-compulsivos. Venceu seus medos e controlou suas manias. Os pensamentos ruins ou impróprios que tanto o atormentavam praticamente não passam mais pela sua cabeça, raras vezes aparecem ou, quando aparecem, é com menor intensidade ou por período breve. Contudo, eles estão lá, querendo reaparecer. Uma paciente comentava que o TOC “é como uma árvore da qual a gente pode os galhos, mas eles estão sempre lá, brotando. A gente tem que estar sempre atento e cortar todo e qualquer broto novo que aparece”. De fato, a terapia cognitivo-comportamental e os medicamentos não curam o TOC. Também é pouco provável que o paciente fique livre dos seus sintomas para sempre. Sabe-se que muitos pacientes tem predisposição genética ao transtorno. Sabemos, também, que os tratamentos não removem as causas, pois elas não são bem conhecidas. Entretanto, diminuem ou eliminam fatores que contribuem para a manutenção e o agravamento dos sintomas. A terapia cognitivocomportamental, especificamente, atua sobre aprendizagens e crenças distorcidas que, com certeza, exercem tal papel. Quando um paciente identifica os pensamento e crenças errados e consegue corrigi-los, isso, sem dúvida, representa a eliminação de um dos fatores que contribuem para os surgimentos e a manutenção dos sintomas. Certamente, se esses objetivos foram atingidos, há boa chance de ele se ver livre dos sintomas por muito tempo e, talvez, para sempre. Ele fez progressos, reduziu ou eliminou os seus sintomas e dispõe de diversas ferramentas para lidar com eles (as técnicas comportamentais e cognitivas). O importante é continuar utilizando tais ferramentas para não retroceder e, se possível, melhorar ainda mais. Isso será mais fácil se planejar algumas medidas para adotar no futuro. O TOC é uma doença crônica, ou seja, dificilmente os sintomas desaparecem de forma espontânea, sem tratamento. Em sua maioria, os sintomas acompanham os indivíduos para o resto da vida. Uma pesquisa que acompanhou 144 portadores de TOC ao longo de 40 anos verificou que em apenas 20% deles os sintomas haviam desaparecido por completo. Outras duas pesquisas que procuraram determinar o curso da doença em pacientes que não haviam se tratado constataram que a maioria deles (entre 64% e 85%) tendia a ter sintomas crônicos com pequenas oscilações e aproximadamente 10% tendiam a evoluir, com o passar do tempo, para deterioração progressiva, acarretando grave incapacitação. Apenas uma minoria (2% a 26%) apresentava a doença sob a forma de episódios, permanecendo sem sintomas durante intervalos. Lapsos Pela natureza crônica do transtorno, por sua etiologia neuropsiquiátrica, pela possibilidade de que fatores genéticos concorram, é de se esperar que, com o tempo, aconteçam recaídas. O mais comum, entretanto, é que, na fase final do tratamento, quando as melhores ainda não estão bem-consolidadas, lapsos passageiros ocorram. Contudo, eles não significam o retorno dos sintomas e, portanto, não constituem recaídas. Pequenos lapsos são muito comuns, particularmente na fase de mudança. Isso porque os rituais constituíam hábitos arraigados e é difícil, de uma hora para outra, desaprender comportamentos automatizados, realizados sem que o indivíduo se dê conta. Nesse sentido, os plapsos não tem significado maior e não representam recaída. É mais preocupante quando o paciente realiza um ritual de forma consciente – o que não deixa de ser um comportamento voluntário, sobre o qual poderia ter controle. Também pode ser considerado lapso o retorno por curto espaço de tempo (menos de duas semanas) de obsessões não acompanhadas de rituais, mas de níveis de ansiedade suficientes para causar desconforto. Recaídas As recaídas correspondem ao retorno dos sintomas de forma mais persistente, acompanhados de desconforto ou de interferência nas atividades diárias. Se, mesmo depois do tratamento, os sintomas persistem em certo grau, o aumento da intensidade é referido como piora. Alguns pesquisadores consideram duas semanas o tempo mínimo para que o retorno ou o agravamento dos sintomas sejam considerados recaída. Para identificar com maior precisão a recaída ou a piora pode-se utilizar a escala Y-BOCS. Essa escala está relacionada com a gravidade dos sintomas obsessivo-compulsivos. Se o paciente de fato apresentou recaída deve-se analisar os motivos que podem ter concorrido para isso: interrompeu os medicamentos, passou por período ou situação de estresse, estava deprimido etc. Estratégias Existem algumas estratégias para ajudar o paciente pós-tratamento de TOC a não ter uma recaída. Observe a lista abaixo. - Identificar situações-gatilho: os objetos e as situações que antes faziam com que a ansiedade do paciente ficasse fora do seu limite, ou seja, em excesso, são considerados gatilhos para que um novo ataque de ansiedade ocorra. No caso de evitar uma recaída, o mais recomendado é que esses objetos ou situações sejam distanciados do paciente. Não é porque ele acabou um tratamento de TOC que está completamente curado e não terá qualquer reação negativa, quando em contato com as situações-gatilho. O que os especialistas aconselham é que essas situações-gatilho sejam reapresentadas para os pacientes de maneira gradual e sem prejudicar ou pressionar as reações que os pacientes vão ter. - Manter-se vigilante: o próprio paciente precisa se manter vigilante com suas tarefas diárias e com seus pensamentos. Se o paciente baixar a guarda ele pode deixar-se levar pelos seus pensamentos e acabar reiniciando os rituais e obsessões das quais teve tanto trabalho para se livrar. Nota: o preço da liberdade é a eterna vigilância. - Preparar estratégias de enfrentamento com antecedência: Planejamento é a palavra-chave dessa etapa. Talvez esse seja o segredo principal do sucesso dos grandes aventureiros, descobridores ou daqueles que envolvem empreendimentos difíceis ou considerados até impossíveis. - Procurar distrair-se: o mais recomendado pelos especialistas é que o paciente se distraia com objetos e situações que não o fazem pensar em seus rituais ou mesmo no que precisa fazer para que nada de ruim aconteça com ele mesmo ou com seus familiares. - Conversas consigo mesmo: não é papo de doido, é uma recomendação médica. Falar consigo mesmo é fundamental para que o paciente se compreenda e tenha o controle de si mesmo. Muitas pessoas colocam recados para si mesmas na geladeira, no espelho e até dentro da bolsa, como “Você é forte”, “Você só precisa lavar as mãos uma única vez”. - Prevenir as consequências de ter cometido lapsos: o lapso pode desencadear pensamentos automáticos negativos de incapacidade e de fracasso terapêuticos, além de ativar crenças de fraqueza, de que a pessoa é incapaz de se autocontrolar ou de que é incompetente, pensamentos catastróficos, sentimentos de culpa, diminuição da autoestima. - Usar lembretes: o uso de lembretes como “Lapsos não devem ser interpretados como fracassos” e “Recaídas pode ser prevenidas” ajudam o paciente a entender que ele é um ser humano e que tem o direito de errar e que esse erro não significa que ele é incapaz de executar a tarefa em que ele falhou. - Fazer revisões periódicas com o terapeuta: caso tenham ocorrido lapsos, estes devem ser analisados: descobrir o que os provocou, quais foram os pensamentos automáticos ou crenças e suas consequências, relembrar os exercícios de exposição e prevenção de rituais e as técnicas de correção de pensamentos e crenças distorcidos. - Aprender a lidar com os estresses da vida: o paciente tem de aprender a lidar com os problemas existências que podem agravar os sintomas. Perdas, separações, mudanças de emprego, conflitos familiares ou profissionais e, até mesmo, acontecimentos positivos, como casamentos, nascimento de filho, ascensão na carreira, novas responsabilidades, excesso de trabalho, entre outros, podem provocar recaída. - Procurar comportar-se como as pessoas que não têm TOC: executar rituais e evitações pode ser uma tendência muito forte. O paciente tem dificuldade de prevenir esses comportamentos se não reconhece que são excessivos e, portanto, anormais. - Saber tudo sobre TOC: quanto mais informações o paciente obtiver sobre o transtorno obsessivo-compulsivo, menos chances ele tem de ter uma recaída. Isso acontece porque ele se mantém informado e percebe os indícios que podem levá-lo novamente aos rituais obsessivos que praticava e que traziam sofrimento e angústia para sua vida. - Participar de associações de portadores de TOC: quando se está em contato com outras pessoas que também têm TOC, o indivíduo aprende quais outros sintomas e manifestações que envolvem o transtorno obsessivocompulsivo. Organização e limpeza O transtorno obsessivo-compulsivo Aristides Volpato coloca em seu livro os diversos tipos de TOC, separados por associações. Colocamos para você quais são esses tipos e como os sintomas aparecem no individuo com TOC. Preocupação com sujeira, contaminação, medo de contrair doenças e lavagens excessivas Uma das obsessões mais comuns é a preocupação excessiva com sujeira ou contaminação, seguida de compulsões por limpeza, lavagens excessivas e necessidade de evitar tocar em objetos ou frequentar lugares considerados sujos ou contaminados. Manifesta-se sob diversas formas, como as relacionadas no quadro a seguir: Compulsões por limpeza ● Lavar as mãos inúmeras vezes ao longo do dia. ● Lavar imediatamente as roupas que tenham sido usadas fora de casa (mesmo limpas). ● Lavar as mãos imediatamente ao chegar da rua. ● Trocar de roupa muitas vezes. ● Tomar banhos muito demorados, esfregando demasiadamente o sabonete. ● Usar sistematicamente o álcool para limpeza das mãos ou do corpo. ● Lavar caixas de leite, garrafas de refrigerante, potes de margarina antes de guardá-los na geladeira. ● Passar o guardanapo nas louças ou nos talheres do restaurante antes de servir-se. ● Usar xampu, sabão, desinfetante ou detergente de forma excessiva. Evitações Os pacientes que têm obsessões relacionadas com sujeira ou contaminação, ou mesmo medos supersticiosos exagerados, adotam com muita frequência comportamentos evitativos (evitações), como forma de não desencadear obsessões. Se, por um lado, esses comportamentos evitam ansiedades e aflições, por outro acabem causando problemas que podem ser incapacitantes, em razão do comprometimento que acarretam à vida diária. Tais restrições são, em geral, impostas aos demais membros da família, o que inevitavelmente acaba provocando conflitos. Alguns exemplos de evitações comuns em portadores do TOC que têm obsessões por limpeza e medo de contaminação são mencionados no quadro a seguir: Evitações ● Não tocar em trincos de portas, corrimãos de escada ou de ônibus; ● Não tocar em portas, tampas de vasos, descargas ou torneiras de banheiros (ou usar lenço ou papel para tocá-las); ● Isolar compartimentos e impedir o acesso dos familiares quando estes chegam da rua; ● Obrigar os familiares a tirar os sapatos, trocar de roupas, lavar as mãos ou tomar banho quando chegam da rua; ● Restringir o contato com sofás (cobri-los com lençóis, não sentar com a roupa ou com o pijama); ● Não sentar em bancos de praça ou de coletivos; ● Não encostar roupas usadas “contaminadas” nas roupas “limpas” dentro do guarda-roupa; ● Evitar sentar em salas de espera de clínicas ou (principalmente em lugares especializados em câncer ou AIDS); hospitais ● Não usar talheres de restaurantes ou de outras pessoas da família; ● Não usar telefones públicos; ● Não cumprimentar determinadas pessoas (mendigos, aidéticos, pessoas com câncer etc.); ● Não utilizar banheiros que não sejam os da própria casa; ● Evitar pisar no tapete ou piso do banheiro em casa ou escritório; ● Não frequentar piscinas coletivas ou tomar banho de mar. Na verdade, a preocupação com sujeira, germes, doenças e contaminação é o tema dominante dos pensamentos dessas pessoas. Elas a transformam em cuidados e preocupações excessivos e impõem esses zelos aos demais membros da família. Uma paciente, por exemplo, obrigava seus familiares a trocarem a roupa ou os sapatos para entrar em casa; outra exigia que o marido tomasse banho imediatamente antes das relações sexuais; uma terceira obrigava o marido a lavar a boca antes de lhe beijar ao chegar da rua e ainda outra paciente exigia que seu filho de dois anos usasse luvas para abrir a porta. Essas exigências causam conflitos constantes, o que compromete a harmonia conjugal e familiar. Nojo ou repugnância Nem sempre as evitações estão necessariamente associadas ao receio de contrair doenças ou ao medo de contaminação por germes ou pesticidas. Alguns pacientes referem que evitam tocar em certos objetos apenas por nojo ou repugnância, por exemplo, tocar em carne, gelatina, colas, urina, sêmen, sem que tenham necessariamente medo de contrair alguma doença específica ou que sejam invadidos por um pensamento catastrófico específico. O interessante é que esses sintomas também podem desaparecer com a mesma abordagem terapêutica – a terapia de exposição e prevenção de rituais – utilizada para o tratamento dos demais sintomas do TOC. Dúvidas e verificações Uma das preocupações mais comuns no TOC relaciona-se com a possibilidade de falhar e, em sequência, ocorrer algum desastre ou prejuízo (a casa incendiar, inundar ou ser arrombada). Tal preocupação se manifesta sob a forma de dúvidas, necessidade de ter certeza ou intolerância à incerteza, as quais, por sua vez, levam a pessoa a realizar verificações ou repetições como forma de ter certeza e aliviar-se da aflição. Quando o sofrimento associado à dúvida é grande, alguns portadores do TOC simplesmente se esquivam de situações de responsabilidade. Preferem não sentir a necessidade de realizar verificações, evitando, por exemplo, sair por último do local de trabalho, não sendo, assim, responsáveis por desligar os equipamentos ou por fechar as portas. Nota As verificações são geralmente precedidas por dúvidas e preocupações com falhas e se destinam a eliminá-las. As verificações devem ser consideradas sintomas de TOC quando repetidas ou quando o indivíduo sente grande aflição caso seja impedido de executá-las. As situações mais críticas, nas quais o impulso de realiza-las é mais intenso, são: a hora de sair de casa, antes de deitar, ao estacionar o carro e ao sair do trabalho. Verificações mais comuns ● Portas e janelas antes de deitar ou sair de casa; ● Eletrodomésticos (ferro de passar, fogão, chapinha de alisar os cabelos, TV), gás etc; ● Se as torneiras estão fechadas, com a necessidade de apertá-las (às vezes de forma demasiada, a ponto de quebra-las) ou de passar a mão por baixo para se certificar de que não está saindo gota de água; ● Acender e apagar novamente lâmpadas apagadas; ● Ligar e desligar o celular ou a TV de novo, com receio de que não tenham ficado “bem” desligados; ● A bolsa ou a carteira, documentos, chaves, etc; para certificar-se de que não faltam ● Se atropelou ou não com o carro alguém que passava na calçada ou ao lado, com a necessidade de verificar o espelho retrovisor ou até mesmo de refazer o trajeto para certificar-se de que o fato não ocorreu; ● Se as portas e os vidros do caro ficaram bem fechados, testando cada um deles mesmo vendo que os pinos de segurança estão abaixados. É comum que, além de fazer verificações repetidas, os pacientes toquem com as mãos ou olhem demoradamente os objetos (botões do fogão, abertura do gás, portas de geladeira, lâmpadas). Esses comportamentos não deixam de ser formas sutis de verificações e de eliminação de dúvidas. As compulsões associadas a dúvidas também podem ser mentais, como reler várias vezes um texto ou parágrafo e recitá-lo mentalmente para ver se foi memorizado de forma correta, visualizar repetidas vezes uma mesma cena ou, ainda, reproduzir mentalmente uma conversa para garantir que nenhum detalhe tenha sito esquecido, revisar várias vezes um cheque assinado para que não contenha erro, revisar muitas vezes listas para que nada seja esquecido etc. Pensamentos e impulsos São comuns no TOC os chamados “maus pensamentos”, “pensamentos ruins” ou simplesmente pensamentos impróprios. Eles em geral incluem em uma das seguintes categorias: pensamentos agressivos de caráter impróprio ou cenas violentas invadindo a cabeça, chamados popularmente de pensamentos “horríveis”; pensamentos de conteúdo sexual impróprio; pensamentos de conteúdo religioso blasfemo, escrupulosidade excessiva; e pensamentos “ruins”, de conteúdo catastrófico. Eles são muito mais comuns do que se imagina e eventualmente todos nós temos alguns desses pensamentos. É trivial, por exemplo, um adolescente imaginar-se momentaneamente fazendo sexo com a mãe ou a irmã. Como no mesmo instante ele se dá conta de que “estava pensando uma besteira”, não dá maior importância à ocorrência de tal pensamento ou à possibilidade de um dia vir a praticá-lo e o pensamento ou a cena desaparece por si. Já o portador do TOC fica chocado com tais cenas, que são acompanhadas de grande aflição, interpreta a presença destas como indicativa de risco de um dia vir a praticá-las e tenta, sem sucesso, afastá- las da mente. Passa ainda a vigiar os próprios pensamentos e, paradoxalmente, quanto mais tenta afastá-los ou quanto mais importância dá à sua presença, mais intensos eles se tornam. Pensamentos, impulsos ou cenas de conteúdo agressivo ou violento No TOC são bastante comuns pensamentos ou impulsos impróprios, cenas de conteúdo agressivo ou violento. Observe os exemplos a seguir. Obsessões de conteúdo agressivo ● Atirar um bebê pela janela; ● Intoxicar o filho com venenos domésticos, como raticidas ou gás; ● Empurrar alguém (um idoso, uma criança) escadaria abaixo; ● Dar um soco em uma pessoa ao cumprimentá-la; ● Jogar o carro em cima de um pedestre; ● Atropelar pessoas idosas. Como forma de diminuir a aflição e o medo que acompanham essas obsessões, os portadores do TOC, além de tentar afastá-las da cabeça, adotam medidas para impedir que um dia venham a praticá-las, como: - Colocar telas nas janelas para evitar jogar o bebê em momento de descontrole; - Evitar comparecer a eventos sociais ou cumprimentar pessoas; - Checar a sacola várias vezes para ver se não há algum veneno com o qual possa contaminar o filho. Pensamentos impróprios relacionados com sexo São comuns pensamentos, impulsos intrusivos e impróprios ou cenas de conteúdo sexual. Obsessões de conteúdo sexual ● Fixar os olhos nos genitais de outras pessoas; ● Molestar sexualmente crianças; ● Abaixar as calças ou arrancar a roupa de outras pessoas; ● Ter relação sexual com irmão, irmã, pais, tios; ● Violentar sexualmente pessoa conhecida ou desconhecida; ● Praticar sexo violento ou perverso (por exemplo, com animais). É importante destacar que fantasias sexuais de conteúdo excitante e prazeroso, quando folheamos uma revista, assistimos a uma cena ou a um filme de conteúdo erótico ou vemos uma pessoa sexualmente atraente, fazem parte da nossa vida mental e não só devem ser consideradas normais como indicam boa saúde. Seu conteúdo é agradável, excitante, provoca o desejo e, sobretudo, é prazeroso. Já as obsessões de conteúdo sexual impróprio do TOC são acompanhadas de aflição ou angústia, são desagradáveis, consideradas claramente impróprias ou antinaturais e contrariam os próprios desejos e princípios dos seus portadores. Por esses motivos, as consequências imediatas, em vez de desejo, excitação ou prazer, são angústia, aflição, medo e até depressão. Por isso, são adotadas medidas destinadas a neutralizar esses sentimentos desagradáveis, como lutar contra tais pensamentos e tentar afastá-los ou realizar rituais como lavar-se, confessar-se, rezar ou flagelar-se. Pensamentos de conteúdo blasfemo No TOC também são comuns pensamentos de conteúdo considerado blasfemo por seus portadores. Pensamentos de conteúdo blasfemo ● Cenas repetitivas praticando sexo com Virgem Maria ou com santos; ● Cenas ou pensamentos de conteúdo sexual com Jesus Cristo na cruz; ● Pensar no demônio ou em “entidades” ou divindades de outras religiões; ● Dizer obscenidades ou blasfêmias em um momento em que todos estão em silêncio durante a missa de domingo. Essas obsessões são provocadoras de grande ansiedade particularmente em pessoas religiosas. Na religião católica, em particular, os pensamentos de conteúdo blasfemo foram associados à noção de pecado e, eventualmente, de pecado mortal, representando o risco de “condenação ao fogo do inferno”. É comum a necessidade de confessar-se repetidamente ou de fazer outros rituais de purificação, tais como rezas, banhos, lavagens ou penitências, como forma de neutralizar a aflição associada. Obsessões ou compulsões de conteúdo supersticioso Todos temos algumas superstições que fazem parte da nossa cultura, assim como da cultura de todos os povos, particularmente entre os povos primitivos. Não passar embaixo de escadas, evitar cruzar com um gato preto na rua são atitudes que, para muitos, podem prevenir o azar. Bater três vezes na madeira dá sorte; deixar os chinelos virados pode dar grande azar. O número 13 é considerado por muitos o número do azar, especialmente se o dia 13 cair na sexta-feira. O número 27 é de sorte. Em outros casos, sonhar com um número pode representar a possibilidade de ganhar na loteria. O que distingue as superstições que fazem parte da cultura das obsessões como sintomas do TOC é a intensidade com que se acredita nelas, o quanto interferem na vida diária e o grau de aflição que provocam caso sejam contrariadas. No TOC as superstições têm alguma conexão com objetos temidos que ficaram associados a azares (doença, morte) e, como consequência, são evitados objetos ou lugares que possam provocar tais azares. Se você não sai de casa de forma alguma ou se sair será com grande aflição, nos dias que contêm o número 3, o número 7, ou números ímpares, ou necessita interromper completamente suas atividades quando o ponteiro do relógio estiver ultrapassando o número 6, caso contrário poderá ocorrer alguma desgraça, então você pode ter as chamadas obsessões de conteúdo supersticioso ou mágico. Sequências e coleções Contar mentalmente é bastante comum em momentos de ansiedade. Enquanto você espera o resultado do vestibular no saguão da faculdade ou aguarda na fila do banco ou na sala de recepção do seu médico, mentalmente você passa a contar os quadros na parede, o número de janelas do prédio, de pessoas na fila, ou fica assoviando repetidamente uma música. Essas contagens e repetições são normais, porque, se você desejar, pode interrompê-las sem ficar aflito. Em portadores do TOC é comum a necessidade de contar mentalmente enquanto realiza uma determinada atividade ou de repetir certas tarefas ou certos comportamentos: contar as janelas dos edifícios; repetir uma reza um número exato de vezes antes de deitar, lavar cada lado do corpo ou escovar os dentes três vezes, ler letreiros ou placas da rua, somar os números das placas dos carros na rua (e eventualmente tirar os noves fora). Outras repetições eventualmente são realizadas num determinado número previamente determinado. Ler ou reler o mesmo parágrafo ou página de um jornal ou de um livro, pôr e tirar uma determinada peça de roupa, atar e desatar o cadarço dos sapatos, apagar e acender a luz, sentar e levantar da cadeira, entrar e sair de uma peça da casa, esfregar o sabonete ou passar o xampu no cabelo um número “X” de vezes, são alguns exemplos muito comuns. O pensamento que está por trás de tais contagens e repetições é de que algo ruim poderá acontecer se tais atos não forem executados na forma ou no número exato de vezes ou pré-determinado, e somente procedendo dessa maneira ritualística você conseguirá impedir o pior. E, se por acaso se distrai, erra a contagem ou não segue exatamente a sequência estabelecida, recomeça tudo, até executar o número exato previamente estabelecido, o que faz com que se sinta um verdadeiro prisioneiro de seus medos e dos seus rituais. Essas repetições podem tomar muito tempo atrasando sua saída mais de casa ou seu trabalho. Compulsões por ordem, simetria, sequência ou alinhamento Manter os papéis em cima da escrivaninha ou as roupas nas prateleiras do guarda roupa numa certa ordem é desejável. Mas quando se perde muito tempo alinhando objetos no armário do banheiro, os livros na estante, os pratos e talheres na mesa, ou quando qualquer objeto fora do lugar ou não provoca grande aflição e desencadeando o impulso de alinhá- lo, estamos diante de mais um típico sintoma do TOC. Também é comum ter que realizar determinadas tarefas numa determinada sequência ou de acordo com certa regra. Observe os exemplos de pacientes a seguir. - Uma paciente, ao entrar em casa, sentia-se obrigada a contar os quadros da sala em uma determinada ordem (sempre a mesma); - Outra se obrigava ao entrar no edifício e em seu apartamento fazendo sempre o mesmo trajeto: passando entre duas colunas e depois, no apartamento, repassar na mesma ordem todas as peças da casa; - Outro paciente tinha uma detalhada sequência de procedimentos antes do banho: alinhava as roupas em certa ordem sobre uma banqueta, colocava o tapete de borracha exatamente no centro do boxe e alinhava outro tapete do lado de fora, consumindo entre 10 e 15 minutos nesse ritual. Armazenar, poupar, guardar ou colecionar objetos inúteis (colecionismo) É a tendência a guardar e a dificuldade em se desvencilhar de objetos sem valor, ou inúteis, ou demasiados, que passam a ocupar espaços de tal forma a causar transtornos. As pessoas que têm obsessões e compulsões de armazenagem, também chamadas de colecionismo, apresentam ansiedade intensa se necessitam se desfazer de algum objeto, mas ao mesmo tempo têm dificuldade em classificar e organizar e se sentem bem, com grande quantidade de coisas à sua volta. Nós todos guardamos certos objetos que tem algum valor afetivo. Os portadores do TOC, entretanto, não conseguem distinguir entre objetos de valor afetivo e lixo. Guardar papéis ou recortes de jornais pode ser útil em algumas circunstâncias. Porém, ter prateleiras ou até peças da casa cheias de revistas ou jornais velhos, caixas de sapato vazias, embalagens e garrafas de vazias, recibos de contas vencidas e pagas há muito tempo, roupas que não servem mais ou que estão fora de moda, sapatos que não serão mais usados, etc., pode caracterizar um sintoma do TOC: o colecionismo, ou seja, a tendência a guardar e armazenar coisas inúteis. No caso do TOC são objetos efetivamente sem valor real. Discute-se se os armazenadores constituem ou não um grupo distinto de TOC, pois não respondem aos medicamentos inibidores da recaptação da serotonina, e respondem menos à Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) que os portadores de outros tipos de sintomas. Lentidão obsessiva É comum, em portadores do TOC, a lentidão ao executar tarefas. Essa lentidão pode ocorrer em razão de dúvidas, repetições para “fazer a coisa certa ou exata...” (tirar e colocar a roupa várias vezes, sentar e levantar, sair e entrar etc) verificações repetidas (trabalho, lista, documentos) banho demorado, tempo demasiado para se arrumar (perfeccionismo) ou do adiamento de tarefas devidoo à indecisão (necessidade de ter certeza). Hipervigilância Atualmente, sabe-se que a hipervigilância aumenta a frequência e a intensidade das obsessões. Assim, os esforços constantes feitos pelo portador do TOC para neutralizar as obsessões, ficar permanentemente com a atenção focalizada em certos temas ou vigiar de forma constante objetos, situações, lugares ou pessoas que as possam desencadear constituem exemplos desse tipo de comportamento. Esforçar-se por afastar um pensamento ruim exerce, por vezes, o efeito contrário: faz com que ele ocorra ainda mais intensa e frequentemente. É como diz o ditado: “quanto mais se pensa no demônio, mais ele aparece”, ou quanto mais a pessoa se preocupa com sujeira, mais vê sujeira. Um paciente tinha obsessões com mosquitos. A primeira coisa que fazia ao chegar em casa era revisar o seu quarto (atrás da cama, dentro dos armários, atrás dos livros) à procura desses insetos. Chegou a uma sessão triunfante: “Matei 102 ontem à noite. E o curioso é que, na minha casa, só eu vejo mosquitos”. Relatos de pacientes A seguir, colocaremos os pensamentos que rodeiam a cabeça de pacientes com TOC, que foram exteriorizados durante sessões de terapia e ao longo do tratamento para o transtorno. A maioria desses pensamentos foram retirados do livro Transtorno obsessivo-compulsivo: as mais recentes estratégias de avaliação e tratamento 1. Pensamentos negativos Fui a um terapeuta hoje. Não consigo parar de pensar em coisas terríveis que podem acontecer com meu marido e meus filhos. Gasto cada vez mais tempo desfazendo e refazendo quase tudo o que faço. Estou começando a evitar fazer a tarefa seguinte por medo de ficar emperrada de novo nessas repetições. Isso está afetando meus relacionamentos e o volume de trabalho de que consigo dar conta. 2. Frequência Vi Owen hoje. Ela fez muitas perguntas e disse que me ajudaria a ter as coisas sob controle de novo. Sei que me preocupo com minha família de forma irracional e venho tentando parar de fazer tudo muitas vezes. Tudo isso é tão deprimente e estou cansada. Owen diz que devo preencher esse questionário com todas essas perguntas sobre frequência com que faço as coisas e como penso e me sinto. Espero que todo esse trabalho valha a pena! 3. Repetição Já vimos Owen por três vezes. Jim tem sido ótimo; agradeço a Deus pelo auxílio dele. As pílulas parecem ajudar a aliviar um pouco as preocupações e sinto-me mais controlada. Preciso perguntar a Owen sobre meus problemas de sono. Questiono-me se isso tem a ver com a medicação. Estou começando a me sentir melhor – finalmente! Hoje não tive de repetir os passos ao caminhar. Ainda tenho momentos ruins, especialmente quando o bebê está irritadiço e estou cansada. Mas, no final, sinto que vou ter tudo isso sob controle. 4. Pensamentos positivos Hoje me recordei do evento que obrigou meus pais a trazerem-me para o tratamento. Ainda não consigo entender como cheguei num estado tão grave e como não percebi que meu problema com TOC realmente era sério. Toda vez que eu tomava banho, antes de sair do banheiro, precisava pensar em algo positivo, caso contrário, minha família estaria em risco. Enquanto eu não pensasse em algo positivo, não poderia sair do banheiro. Somente recordo-me de estar tentando encontrar esse pensamento positivo, quando, de repente, meu pai arromba a porta e me levanta. Pergunto-lhe o que havia acontecido e ele me responde “Você estava no banheiro fazia mais de quatro horas!”. Como poderia eu nem ter percebido tal situação? 5. Terapia comportamental Jim está ficando cansado das minhas manias e eu não posso culpá- lo. Owen quer conversar conosco sobre a terapia comportamental. Isso me assusta, mas tenho de fazer alguma coisa. Ela diz que posso sentir menos medo se minha depressão melhorar. Ela também recomendou medicamentos para a depressão antes do começa da terapia comportamental. 6. Falhas Não consigo admitir que perdi aquele concurso. Será que sou tão ruim assim? Preciso de mais esforço. Sou um fracasso! Se não consigo ganhar um simples concurso público, Lixo é tudo que roda minha mente e caracteriza o que sou, quem eu sou. Nunca serei tão bom quanto preciso e vou fracassar sempre que tentar ganhar. Fracasso atrás de fracasso. 7. Sujeira Ontem falei com Owen. Ela me recordou de quando apareci pela primeira vez na terapia. Fiquei tanto tempo segurando a urina, que acabei desenvolvendo uma infecção urinária. Mesmo assim, sentia-me feliz, pois uma infecção urinária não estava relacionada com a contaminação que poderia adquirir sentando naquele vaso sanitário. Que alívio! 8. Contaminação Como odeio quando misturam roupa limpa com roupa suja! Owen diz que não tenho com o que me preocupar, mas não consigo parar de pensar que as roupas sujas contaminaram minhas roupas limpas. Por que as pessoas não entendem que é errado misturar as roupas limpas com as roupas sujas? 9. Mistura Ao abrir meu armário, quase tive uma parada cardíaca. Meu coração não estava ritmado e tudo por causa que alguém colocou uma blusa verde em meio as camisas amarelas. Como alguém consegue viver com isso? Eu preciso tirar aquela blusa daquela posição. Está errado! 10. Pensamentos negativos Hoje vi Owen e ela ainda tenta convencer-me de que não é preciso fazer o que faço. Como não fazê-lo? Contei a ela que acordei no meio da noite desesperada e não conseguia mais encontrar o sono. O motivo é que não conseguia parar de pensar que um rato poderia adentrar minha casa, caso a janela da cozinha estivesse aberta. E se ele entrasse? Poderia soltar suas excreções pelos pratos e copos na pia. Poderia comer os restos de comida que caem do prato ou ficam próximos do lixo. Minha família inteira está correndo risco de morrer! Tenho que ir até a cozinha e fechar a janela. 11. Simetria Owen não demonstrou, mas percebi que ela ficou chateada comigo. Semana passada tive uma prova de vestibular, mas não consegui responder nenhuma questão. O grande problema é que eu não me concentrava. Como alguém consegue se concentrar em contas e poemas, quando as provas não entregues, que estavam em cima da mesa do professor, estavam completamente desalinhadas? Eu precisava levantar e arrumá-las, decentemente. Por que Owen não entende que eu tinha que consertá-las? 12. Números Sempre que inicio uma tarefa, preciso contar até o número 1313. Não pode ser 1331 ou 1312. Precisa ser 1313. Antes de assinar um cheque para uma loja de roupas que eu fazia compras, comecei a minha contagem. A mulher do caixa simplesmente pediu que eu assinasse o cheque, que havia outras clientes querendo pagar pelas compras. Ainda perguntou-me por que eu não havia começado a contagem enquanto estava na fila. Essa mulher do caixa é louca? Por que eu começaria a contagem na fila, se eu somente preciso iniciá-la quando estou começando uma tarefa? Bibliografia Associação de Terapias Cognitivas do Estado do Paraná. Terapia cognitivoem: <http://www.atcpr.com.br/PDF/A%20TCC%20no%20TOC%203%20ed.pdf Cordioli, A. V. TOC : manual de terapia cognitivo-comportamental para o transtorno obsessivo-compulsivo. Porto Alegre : Artmed, 2008 Terapia cognitivo- comportamental no Transtorno Obsessivo-Compulsivo. <http://www.ufrgs.br/toc/tcc.pdf