Como é que as plantas detectam o oxigénio? Autor(es): Correia, Cristina Sousa Publicado por: Publindústria URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/25835 Accessed : 30-May-2017 21:22:30 A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. 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Contudo, até recentemente, a etapa anterior da cadeia de transporte dos açúcares estava ainda por investigar, ou seja, não se conseguia explicar detalhadamente como é que os açúcares se moviam das células de parênquima, onde se realiza a maior parte da actividade fotossintética, para dentro das células condutoras do floema. Num estudo recente de cientistas americanos foram identificadas varias proteínas, pertencentes à família proteica SWEET que fazem exactamente isso. As Sweets localizam-se nas membranas celulares das células de parênquima e actuam como moléculas bombeadoras dos açúcares através destas células. De forma a investigar a função das Sweets, várias linhas transgénicas foram criadas em Arabidopsis thaliana e em plantas de arroz, nas quais os genes correspondentes a cada uma das proteínas Sweet envolvidas foram desligados. Verificou-se que quando proteínas Sweet não estavam presentes, a concentração dos açúcares nas folhas aumentava significativamente devido a estes não poderem ser transportados através das células de parênquima. Da mesma forma, verificou-se que as sementes, frutos e raízes das plantas mutantes não recebiam um fornecimento adequado de açúcares. Em termos de melhoramento de plantas, a identificação destas proteínas representa a possibilidade de optimização do sistema de transporte de açúcares, o que poderá levar a um aumento dos açúcares em órgãos vegetais agronomicamente interessantes tais como raízes, tubérculos, frutos e sementes. Por outro lado, as proteínas Sweet prometem ser uma ajuda na luta contra pragas e doenças. Por exemplo, a bactéria Xanthomonas oryzae, que afecta as folhas do arroz, aproveita-se destes sistemas transportadores SWEET para aceder às reservas de sacarose da planta para delas se alimentar. Estudos que clarificam o papel destes transportadores durante os ataques de pragas estão presentemente a decorrer. Mais ainda, os investigadores suspeitam que estas proteínas bombeadoras dos açúcares tenham função semelhante em animais e humanos. Se isto for confirmado, estas proteínas vão tornar-se importantes no controlo da diabetes e da obesidade. As proteínas responsáveis pelo transporte de hidratos de carbono do intestino para o sangue e das células do fígado ainda não são conhecidas. 102 COMO É QUE AS PLANTAS DETECTAM O OXIGÉNIO? Esta importante questão da fisiologia vegetal foi parcialmente resolvida por cientistas da Universidade de Nottingham, Reino Unido, que conseguiram isolar e quantificar certas proteínas que se acumulam nas células quando estas se encontram em condições de deficiência em oxigénio (hipoxia), tal como acontece durante períodos de cheias. As proteínas envolvidas nesta resposta biológica funcionam como detectores directos do oxigénio pois, sob níveis normais de oxigénio, sofrem oxidação ficando dessa forma marcadas para degradação celular. A degradação controlada de certas proteínas (proteólise específica) é absolutamente necessária para o funcionamento metabólico normal das plantas. Este mecanismo de degradação proteica é homeostático: quando os níveis de oxigénio baixam estas mesmas proteínas tornam-se estáveis, pois não sofrem oxidação, e acumulam-se nas células. Quando as condições voltam à normalidade e os níveis de oxigénio sobem, estas proteínas voltam a ser oxidadas e subsequentemente degradadas, o que resulta no retorno ao funcionamento metabólico normal da planta. As proteínas identificadas detêm uma estrutura inicial idêntica que as caracteriza e as torna alvos específicos das enzimas envolvidas neste processo de degradação proteica. O processo enzimático em si é considerado o mecanismo regulador da resposta das plantas à deficiência em oxigénio, na medida em que reconhece e regula a acumulação destas proteínas nas células. A presença destas proteínas sob condições de hipoxia resulta em modificações metabólicas que permitem a sobrevivência da planta durante períodos de submersão. Modificações genéticas que bloqueiem as enzimas que as degradam, levando à sua acumulação celular, poderão resultar em plantas com maior tolerância a cheias. A tolerância das plantas a períodos de cheias é um dos aspectos mais importantes da segurança alimentar, especialmente nos países em vias de desenvolvimento.