DEPRESSÃO NA PERSPECTIVA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Luiz Felipe Oliveira de Amorim1 A investigação a respeito desse tema é de profunda relevância, haja vista as inúmeras necessidades de atendimentos psicoterapêuticos que os alunos estagiários recebem na Clínica de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva. Essa demanda de tratamento da depressão pode ser quantificada conforme pesquisa dos autores Pinheiro e Estarque (2006). Segundo os autores, cerca de 4 a 24% da população vivem os efeitos da depressão, sendo que as mulheres apresentam duas vezes mais que os homens. Os mesmos autores destacam que esse é um distúrbio grave, que afeta os sentimentos, comportamentos, aparência, saúde, desempenho escolar, capacidade de tomar decisões e enfrentar situações que fazem parte do cotidiano. Apesar de toda uma literatura vasta sobre o tema da depressão, para Ballone (2008), as conseqüências e a sintomatologia são variadas de pessoa para pessoa. Para entendermos melhor essa diversidade dos sintomas depressivos, vamos considerar que, entre as pessoas, a depressão seria como uma bebedeira geral, na qual cada pessoa ficasse de um jeito; uns alegres, outros tristes, irritados, engraçados, dorminhocos, libertinos etc. A única coisa que todos teriam em comum é o fato de estarem sob efeito do álcool, todos estariam tontos, com os reflexos diminuídos etc. Na depressão, também, cada pessoa a manifestará de uma maneira, portanto deve-se tomar cuidado para diagnosticar a Depressão. Hunziker (1997) define depressão como sendo um termo técnico, que designa a “síndrome de desordem afetiva” ou “síndrome do humor deprimido”. A mesma autora ressalta alguns sintomas que possibilitam o diagnóstico, tais como tristeza intensa, agitação, passividade, falta de entusiasmo, autodepreciação, preocupação pessimista, insônia, anorexia, perda do interesse sexual. Além de sintomas, podem surgir sentimentos advindos do estado depressivo, como culpa ou a sensação de estar decepcionando amigos e familiares. Foi possível verificar alguns desses sintomas em casos atendidos pelo terapeuta-estagiário na clínica-escola. A cliente de nome fictício Maria, em seu primeiro atendimento, relatou dificuldades para dormir, baixo peso e uma tristeza intensa. Segundo ela, não tinha mais vontade de viver devido ao término de um namoro, para o qual tinha muitos planos, como, por exemplo, o casamento. Vale destacar que parte do enxoval já havia sido 96 l Revista de Psicologia - Edição 1 adquirida por ela. Outra cliente, também atendida, alega sentir um grande culpa por ter aceitado uma carona de um homem, que, posteriormente, a violentou sexualmente. As diversas abordagens em psicologia produzem vários estudos a respeito da depressão. Neste artigo será usada a Análise do Comportamento. De acordo com Ingberman (2001), o tratamento da depressão, na clínica comportamental, considera o comportamento como linha de fundo, no qual, pela via da análise funcional, buscam-se as variáveis controladoras que permitam predizer e controlar o comportamento. Para completar o processo, deve-se lançar mão desses dados para propiciar estratégias que modifiquem esses controles, alterando, dessa forma, o comportamento. Para Cupertino (2002), a relevância da análise funcional está embasada no pressuposto da existência de uma descrição sistemática, na qual a significância das atividades de uma pessoa é relacionada com o modo como ela opera no ambiente, e esta análise faz-se importante, porque comportamentos topograficamente diferentes podem estar sendo mantidos por um mesmo tipo de processo de controle. O autor também ressalta que o repertório do indivíduo deprimido apresenta uma baixa freqüência de respostas, principalmente daquelas que gerariam reforçadores, portanto o indivíduo deprimido sofre basicamente da falta de contingências reforçadoras. Hunziker (1997) afirma que na análise funcional da depressão deve-se considerar a genética, o histórico de vida e as contingências atuais presentes e atuantes na determinação do comportamento do indivíduo deprimido. Para Ferster (1973, citado por Ingberman, 2001, p. 198), “o comportamento humano é plástico e ilimitado”. Segundo o autor, é possível observar padrões comportamentais característicos em pessoas com o comportamento deprimido. Normalmente, essas pessoas comportam-se no ambiente, mas não encontram fontes de reforçamento suficientemente fortes, sendo constantemente punidas. Segundo Ingberman (2001), em função da baixa taxa de reforçamento, a ação e aproximação em direção a outras pessoas ficam comprometidas, podendo não existir essa ação ou ela ocorrer de forma inadequada, gerando assim estimulações aversivas por parte de outras pessoas. Como as pessoas de- primidas normalmente têm um repertório insuficiente para lidar com essas conseqüências sociais, aplicadas por outras pessoas, desorganizam-se facilmente a quaisquer mudanças, reagindo com mecanismo de fuga. A esse respeito, o terapeuta-estagiário pôde perceber que as clientes demonstravam certa inabilidade com algumas situações, com as quais talvez não tivessem nenhum problema no passado. Certo dia, uma cliente relata que estava dentro de um ônibus e apertou a campainha para que o motorista parasse no próximo ponto. Entretanto ele parece não ter escutado o sinal e não parou, ela não o avisou sobre este equívoco e se sentiu extremamente culpada por não ter avisado. E repetia insistentemente na terapia, “eu sou uma derrotada”. Para a condução de qualquer tratamento, segundo Skinner (1989), o terapeuta comportamental deve atentar, principalmente, para os eventos observáveis, nas variáveis independentes, que se deve deter a atenção para realizar uma análise funcional das contingências que se encontram em operação. E, mais para além da descrição, deve-se analisar o controle pela função que o comportamento adquiriu ao longo da história passada e atual e sua relação com a queixa específica trazida pelo cliente. Por fim, Delitti (2000) considera que, em um processo terapêutico bem sucedido, o terapeuta deve estar atento não só às contingências que mantêm o comportamento do cliente, mas também àquelas que atuam sobre o seu próprio comportamento, além das que atuam sobre a relação terapêutica durante a sessão. Os benefícios de identificar e tratar adequadamente a depressão são muitos e independem do modelo teórico. O tratamento envolve a instalação e manutenção de comportamentos fundamentais e preciosos ao ser humano: a capacidade de pensar, amar, interagir e cuidar das pessoas, trabalhar, sentir-se reforçado e saber ser reforçador e assumir responsabilidades, bem como tomar decisões sobre sua vida. ceitos pesquisa e aplicação, a ênfase no ensinar, na emoção e no questionamento clínico. 1 ed. Santo André: Editora ESEtec, 2000. Vol.5, cap. 32, p. 269-272. HUNZIKER, Maria Helena. O desamparo aprendido e a análise funcional da depressão. In: ZAMIGNANI, Denis Roberto (Org.). Sobre o comportamento e Cognição. São Paulo: ARBytes, 1997. Vol.3, cap.20, p. 251-260. INGBERMAN, Yara K.. Análise Funcional de um caso de depressão. In: RANGÉ, Bernard (org.). Psicoterapia Comportamental e cognitiva. 2 ed. São Paulo: Editorial Psy, 2001, p. 198-201. apud FERSTER, C. B. A function analysis of depression. American Psychologist. 28, 857-870, 1973. PINHEIRO, Marcelo; ESTARQUE, Márcia. Depressão. Disponível em www. geocites.com/hotSprings/8478/depressão.html. Acesso em: 3 nov.2007. SKINNER, Burrus Frederic. Questões recentes na análise comportamental. Tradução de Anita Liberalesso Neri. Campinas: Papirus, 1989. 195p. NOTA DE RODAPÉ 1 Aluno do curso de Psicologia do Centro universitário Newton Paiva do estágio supervisionado pela professora Maxleila Reis. REFERÊNCIAS BALLONE, GJ. Depressão. Disponível em <http://www.psiqweb.med.br/deptexto.html>. Acesso em: 10 out. 2008. PINHEIRO, Marcelo; ESTARQUE, Márcia. Depressão. Disponível em www. geocites.com/hotSprings/8478/depressão.html. Acesso em: 7 out. 2008. CUPERTINO, Giovana Alves Castro. Terapia cognitivo comportamental: depressão na terceira idade. 2002. 37 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Psicologia)-Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, 2002. DELITTI, Maly. Depressão: a solução depende de vários modelos teóricos? In: KERBAUY, Rachel Rodrigues (org.). Sobre o comportamento e Cognição: ConRevista de Psicologia - Edição 1 l 97