UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE PESSOAS MIRIAN FERNANDES ALOPÉCIA AREATA E AS RELAÇÕES COM ESTRESSE, DEPRESSÃO E PSICOSSOMÁTICA: UMA REVISÃO. CRICIUMA, MARÇO DE 2010 MIRIAN FERNANDES ALOPÉCIA AREATA E AS RELAÇÕES COM ESTRESSE, DEPRESSÃO E PSICOSSOMÁTICA: UMA REVISÃO. Monografia apresentada à Diretoria de PósGraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Gestão de Pessoas. Orientador: Profª M. Eng. Patricia Jantsch Fiuza CRICIÚIMA, MARÇO DE 2010. DEDICATÓRIA À Deus Aos meus filhos: Guilherme, Gabriela e Gustavo. Aos meus pais: Wilmar e Mercedes. Aos meus irmãos: Jefferson e Nilma AGRADECIMENTOS À Deus, essa força divina que sempre nos ilumina o caminho a ser seguido e que está sempre em nosso meio nos guiando em nossa caminhada. Agradeço aos meus filhos Guilherme, Gabriela e Gustavo pelo carinho, dedicação, compreensão e companheirismo. Agradeço em especial meus pais Wilmar e Mercedes que acreditaram em mim, na minha capacidade e contribuíram para meu crescimento. . A LIÇÃO DA BORBOLETA (Autor Desconhecido) Um dia, uma pequena abertura apareceu em um casulo. Um homem sentou e observou a borboleta por várias horas, conforme ela se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco. Então pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso. Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia, e não conseguia ir mais. O homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta então saiu facilmente. Mas seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observar a borboleta porque ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para serem capazes de suportar o corpo que iria se afirmar com o tempo. Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar não compreendia era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura era o modo com que Deus fazia com que o fluido do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de modo que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo. "Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vidas. Se Deus nos permitisse passar através de nossas vidas sem quaisquer obstáculos, ele nos deixaria aleijados. Nós não iríamos ser tão fortes como poderíamos ter sido. Nós nunca poderíamos voar." RESUMO A pesquisa realizada é parte integrante do curso de especialização em Gestão de Pessoas – segunda modalidade Metodologia e Didática de Ensino Superior. Conhecer os fatores intervenientes no desenvolvimento e evolução da Alopecia Areata (Queda do cabelo). Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com artigos de cunho científico. A Alopécia Areata (AA) é uma doença comum e muito antiga, mas desconhecida por muitos. AA define como a perda do fio de cabelo em áreas circunscritas. Apresenta-se de forma redonda, oval ou irregular, de tamanho variável e acompanhando de sinais de inflamação insignificantes ou nulos. Pode afetar outras partes pilosas, como barba, cílios, bigode, sobrancelhas, axilas e regiões genitais. Sua etiologia é desconhecida até hoje. Há várias hipóteses que contribuem para o desenvolvimento da AA, a genética é uma delas, como é caso da Síndrome de Down e gêmeos idênticos, destaca-se também o imunológico, as doenças como hipotireoidismo, vitiligo, sífilis, alterações hormonais, entre outras, e os aspectos psicológicos, muito importantes, inclusive com alterações psiquiátricas como ansiedade e depressão. Existem vários tipos de alopécias. Estima-se que o couro cabeludo tem cerca de cem mil a cento e cinqüenta mil fios de cabelos, diminuindo progressivamente com a idade. O cabelo é um anexo cutâneo e faz parte do folículo pilossebáceo, localizado na pele. Este, se desenvolve em três estágios: a fase de crescimento, fase da pausa, e a fase de queda. É preocupante a perda do fio cabelo quando chega perder mais de cem fios por dia. Portanto é importante e significativo o conhecimento desta afecção, tanto para a dermatologia quanto a psicologia, pois ambas trabalham junto neste caso. A falta de conhecimento da doença leva o paciente ao desespero e à angústia. Palavras Chaves: Alopécia areata. Depressão. Estresse. Psicossomático. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Anatomia do cabelo ..................................................................................05 Figura 2 – Ciclo pilar...................................................................................................07 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Critérios Diagnósticos para Fatores Psicológicos que Afetam a Condição Médica.................................................................................................................43 Tabela 2 - Escala de Classificação do Reajustamento Social...................................44 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AA – Alopécia Areata NAAF – National Alopecia Areata Foundation SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................2 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...............................................................................4 2.1 Cabelo ..................................................................................................................4 2.2 Alopécia Areata ...................................................................................................9 2.3 Aspectos Históricos..........................................................................................11 2.4 Aspectos Epidemiológicos...............................................................................12 2.5 Aspectos Clínicos .............................................................................................12 2.6 Comorbidades da alopécia areata ...................................................................15 2.7 Fatores Causadores da Alopécia Areata.........................................................17 2.8 Depressão ..........................................................................................................22 2.9 Estresse ou Stress ............................................................................................31 2.10 Psicossomática ...............................................................................................39 3 CONCLUSÃO ........................................................................................................46 REFERÊNCIAS.........................................................................................................49 2 1 INTRODUÇÃO O cabelo não é essencial para o organismo, porém a queda do mesmo é muito importante, principalmente se a queda dá-se por total. O processo se agrava quando acontece em crianças, especialmente do sexo feminino. A queda de cabelo tem um impacto negativo sobre a auto-imagem das pessoas, principalmente as mulheres levando ao sofrimento psíquico, a ponto de não mais sair de casa, isolando-se do ambiente social e às vezes do familiar. Uma imagem corporal negativa pode determinar o aparecimento da baixa auto-estima, insatisfação corporal e sofrimento psicológico. Isso porque as pessoas aprendem a avaliar sua imagem corporal por meio da sua interação com o ambiente. Assim, sua autoimagem é desenvolvida e reavaliada continuamente durante a vida inteira. A Alopecia Areata (AA) é uma doença que se caracteriza pela perda de cabelo e este trabalho apresenta uma pesquisa que buscou compreender seus aspectos psicológicos, sua etiologia e seus aspectos clínicos, bem como suas relações com a depressão, o estresse e a compreensão psicossomática dessas doenças. O tema da pesquisa envolve, portanto, fatores intervenientes no desenvolvimento e evolução da alopécia areata. A problemática partiu do fato de ser uma doença comum, porém desconhecida para a maioria das pessoas o que instigou a conhecer e entender um pouco mais. Tornou-se um estudo muito interessante que possibilitou perceber o efeito dos aspectos psicológicos sobre a saúde física e mental, muito comum em casos de estresse no trabalho. O trabalho apresenta dados obtidos por meio da revisão de artigos científicos indexados, que podem ser consultados nos bancos de dados informatizados como Medline, compreendendo o período de 30 de março de 2009 a 30 de setembro do ano de 2009, no Pubmed a revisão de artigos abrangeu o dia 01 3 de janeiro de 1966 ao dia 08 de setembro de 2005. Outros bancos de dados, como lilacs, e adolec foram acessados da mesma maneira, em 08 de setembro de 2005, onde se percebeu a ausência de data inicial para consulta, disponível na página da internet. Para execução da pesquisa foram utilizados as seguintes palavras-chave: alopecia areata, depressão, psicossomática e estresse (em português); na língua inglesa alopecia areata, depression, stress and psychosomatic. A revisão destes artigos teve como objetivo verificar e relacionar as causas da alopecia areata. A doença pode iniciar em qualquer idade, sem prevalência de sexo e raça. O primeiro episódio de AA costuma incidir com a infância. (MORAES, 1999). É uma doença relativamente comum afetando 2% da população, mais de 4 milhões de norte-americanos, são portadores da doença, ocorrendo, cerca de 20% dos casos, em crianças. Estima-se que, a queda de mais de cem fios de cabelos por dia pode ser patológica, sendo necessária uma boa investigação, com uma anamnese bem elaborada, detalhada e completa, sendo que vários fatores e situações podem estar envolvidas na queda do cabelo. Quando caracterizado AA, os fatores podem ser variados, já que as causas reais são desconhecidas. Conforme alguns autores, os fatores podem ser genéticos, imunológicos e psicológicos. A primeira hipótese apresentada na pesquisa é que alopécia areata é uma doença psicossomática. A segunda hipótese é que o estresse e a depressão são causadores da doença ou vice-versa. O trabalho está estruturado com uma revisão teórica sobre os componentes da AA tais como: o cabelo, a alopecia e seus aspectos históricos, epidemiológicos e clínicos, comorbidades, fatores causadores, depressão, stress e psicossomática. Apresenta-se também uma análise nas conclusões do trabalho. 4 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Cabelo De acordo com Macedo (1989), a anatomia do fio de cabelo é uma unidade anatômica que é demonstrada a partir de uma glândula sebácea anexada ao pêlo. Esta estrutura se chama folículo piloso. O folículo piloso se encontra na derme1, ligado por um músculo eretor. Papila dérmica é a extremidade inferior do pêlo, que é o elemento essencial do cabelo porque o afluxo sangüíneo proveniente do organismo se faz por seu intermédio. Embriologicamente, conforme Macedo (1989, p.141) “o pêlo e a glândula sebácea provêm de um folheto de embrião chamado ectoderma2, enquanto a papila dérmica deriva de outro folheto, o mesoderma3”. Toda patologia do couro cabeludo desenvolve-se a partir desta distinção. O pêlo é constituído por uma raiz e uma haste (talo). A raiz é composta de várias camadas de queratina e possui uma extremidade inferior em forma de bulbo que cobre a papila dérmica. A haste (talo) é a parte livre do pêlo: é a massa de queratina. Segundo Steiner (2000, p.123), o “cabelo é um anexo cutâneo e faz parte do folículo pilossebáceo”. Do ponto de vista embriológico, o folículo pilossebáceo é uma estrutura complexa formada pela glândula sebácea e do folículo propriamente dito. Origina-se de um núcleo de células da ectoderme e também de um conjunto de células da mesoderme que orienta o crescimento das células da coluna epitelial. No 1 Camada profunda da pele. Camada celular exterior da forma embrionária, denominada gástrula. 3 Parte da casca entre a camada tuberosa e o invólucro herbáceo. 2 5 folículo pilossebáceo, existe o bulbo capilar que é conhecido como raiz do cabelo, em que estão as células matriciais que dão origem à haste capilar, além da papiladérmica, formada de células do tecido conjuntivo, por onde chegam os vasos para a nutrição do folículo. A haste, que é o cabelo propriamente dito, é formada de três partes, de dentro para fora: medula, córtex e cutícula, além das bainhas interna e externa (figura 1). Figura 1 – Anatomia do cabelo Fonte: Steiner, 2000 Estima-se que o couro cabeludo tem cerca de cem mil (100.000) a cento e cinqüenta mil (150.000) fios de cabelo, diminuindo progressivamente com a idade. Desde o nascimento é determinado o número de folículos. Os pêlos crescem ciclicamente. Nos mamíferos os pêlos crescem todos iguais em uma mesma região, sendo visível. Já no homem, cada folículo cresce independentemente e apresenta importantes variações determinadas geneticamente. (MACEDO, 1989, p. 141). 6 Segundo Steiner (2000), o folículo está em constante movimento, caracterizando o chamado ciclo capilar, que consta de três fases. Azulay (1992) descreve os ciclos evolutivos dos cabelos (figura 2) como: - Anagênese ou fase de crescimento, na qual existe uma grande atividade mitótica e ceratogênica (divisão celular) e dura de dois a três anos, no homem, e de seis a oito anos na mulher. - Catagênese, em que há uma parada dessas duas atividades, havendo uma regressão da matriz pilar e se processa em cerca de três semanas. - Telogênese, ou de repouso, que dura de três a seis meses, com a queda final. Dá-se a queda do pêlo na fase telogênica, enquanto que um novo pêlo anagênico se inicia. Macedo (1989) também descreve o ciclo pilar compreendendo as três fases: - Fase anágena – Fase de crescimento do cabelo. O cabelo é grande de tamanho, a haste escura e o bulbo, pigmentado. É considerada anormal e patológica quando há queda de fios com bulbo pigmentado, porque trata-se de cabelos vivos. É normal a queda de 30 a 50 fios/dia nessa fase. - Fase Catágena – Tem duração de duas (2) semanas. Nesta fase, o cabelo é formado por uma ponta proximal arredondada em clava e ligeiramente escura. - Fase Telógena – É a etapa de repouso e morte do cabelo, que está prestes a cair. Tem duração de três (3) há quatro meses (4). 7 Figura 2 – Ciclo Pilar Fonte: Steiner (2000) A queda do cabelo morto se dá quando o mesmo apresenta um bulbo descolorido sendo considerado um cabelo telógeno. Uma vez que ele cai, será substituído por outro desde que o folículo esteja ativo, dessa forma, o ciclo recomeça. Macedo (1989), descreve que desde o nascimento somos programados para ter em média de vinte (20) a quarenta (40) ciclos. Steiner (2000) concorda com Macedo (1989), em relação ao número total de ciclos, porém considera a média de seis anos para cada fase anágena, dessa forma, vinte (20) ciclos correspondem um total de 120 anos, quando então a atividade folicular estaria totalmente encerrada. O couro cabeludo é constituído normalmente com oitenta por cento (80%) dos cabelos na fase anágena, de um a dois por cento (1 – 2%) na fase catágena e de dez a quinze por cento (10 – 15%) na telógena. (MACEDO, 1989, p. 143). Pereira (1993) descreve que o tricograma é um exame que avalia o ciclo de crescimento do cabelo. Desta forma pode ser usado para o diagnóstico, evolução e prognóstico de um processo patológico. 8 De acordo com Azulay (1992), o tricograma é realizado pelo arracamento de um punhado de cabelo seguido de diferentes pêlos. O tricograma normal compreende em oitenta e cinco a noventa por cento (85 – 90%) de pêlos anágenos, um por cento (1%) de catágenos e de dez a quinze por cento (10 – 15%) de telógenos. É muito importante a exploração patogênica desse parâmetro em muitas alopécias. Exemplos de patologias alopécias, conforme Azulay (1992): - Quando ocorre uma maduração precoce, através da aceleração do ciclo biológico do pêlo, a alopécia aloja-se por diminuição dos pêlos anágenos, com predominância dos pêlos telógenos (alopécia andrógena, alopécia da gravidez). - No sentido inibitório, predominam no tricograma os pêlos anágenos (alopécia areata, alopécia a citostáticos). Assim, é cada vez mais sofisticado o diagnóstico das doenças pilosas segundo Azulay (1992). A queda patológica deve ser considerada quando for maior de cem (100) fios por dia (Macedo, 1989). Esta queda é chamada de alopécia ou alopecia. Ormsby et al (1947) evidenciam que o termo “alopécia” significa perda do cabelo. Macedo (1989) enfatiza que alopécia é a ausência ou a perda de cabelos e pêlos. A alopécia se concentra mais no couro cabeludo, porém pode acontecer em qualquer parte pilosa. Apresenta-se sob duas formas clínicas – a alopécia circunscrita ou rareamento difuso e alopécia total. O autor comenta, que a perda completa de todos os pêlos do corpo é rara e que acontece no caso de alopécia generalizada. Etiologicamente falando, a perda do cabelo pode ser transitória ou permanente, sendo cicatricial ou não. 9 Steiner (2000) escreve que a classificação das alopécias é realizada segundo as características clínicas, a extensão e a localização e/ou etiopatogenia4. Alopécias cicatriciais 1. Genodermatoses; 2. Lúpus eritematoso; 3. Líquen plano; 4. Pseudopelada de Brocq; 5. Foliculite decalvante. Alopécias não cicatriciais: 1. Genodermatoses; 2. Infecciosas; 3. Tricotilomania; 4. Alopécia areata 5. Eflúvio anágeno; 6. Alopécia de tração 7. Eflúvio telógeno agudo e crônico; 8. Alopécia androgenética. 2.2 Alopécia Areata Ormsby et al (1947) definem a alopécia areata pela perda do cabelo em áreas circunscritas5. Apresenta-se de forma redonda, oval ou irregular, de tamanho 4 5 Estudo de origem do desenvolvimento das doenças. Linha que limita a extensão de um corpo ou de uma superfície. 10 variável e acompanhamento de sinais de inflamação insignificantes ou nulos. Pode afetar outras regiões além do couro cabeludo como sobrancelhas, cílios, barba, axila e regiões genitais, porém é raro que ocorra uma perda total de cabelos e pêlos. De acordo com Rivitti (2005), a AA é uma doença crônica dos folículos pilosos e das unhas. Determina queda dos cabelos e/ou pêlos, por interrupção de sua síntese, sem que ocorra atrofia ou destruição dos folículos, motivo pelo qual pode ser reversível. Moraes (2000) diz que a alopécia areata ou pelada, como também é chamada esta doença, vem sendo descrita como uma súbita queda de cabelos, circunscrita a uma área circular ou oval bem delimitada, concomitante ou simultânea, única ou múltipla, lisa e brilhante. Quando a área se amplia e atinge a extensão da cabeça (ou quase), denomina-se alopécia total. A alopécia universal é quando os pêlos do rosto e do corpo também sofrem queda, havendo uma generalização. Alopécia Areata apresenta áreas bem delimitadas de queda de cabelo sem apresentar qualquer inflamação ou sintomatologia local. Com bom prognóstico pode ocorrer em placas, já com o prognóstico mais reservado torna-se generalizada ou universal com perda dos cílios, sobrancelhas e pêlos do corpo, de acordo com Steiner (2000). A alopecia areata ou 'pelada' “caracteriza-se por perda assintomática, não cicatricial e recorrente de pêlos em qualquer área pilosa, com atingimento preferencial do couro cabeludo”. (ALMEIDA et al 2004, p. 33). No CID 10, a alopécia areata é classificada como L63. 11 2.3 Aspectos Históricos Rivitti (2005) menciona que a primeira descrição clínica da AA refere-se a Celsius (14 a 37 a.C.) e que a denominação de alopécia areata deu-se a Sauvages. Em 1843, correntes foram criadas: uma que defendia a teoria parasitória, e outra a teoria neutrófica, uma vez que alguns pacientes relatavam eventos psicológicos traumáticos ou estresse físico, juntamente com a queda do cabelo. Na doença nunca foi encontrada uma evidência de que fosse provocado por um agente infecciosos, mas a teoria neutrófica ainda apresenta adeptos. No início do Séc. XX alguns pesquisadores sugeriam algumas fontes de irritação dos nervos, tais como doenças odontológicas, mas tal hipótese não foi mais sustentada. Dessa forma, a etiologia da AA ainda permanece desconhecida. (MORAES, 1997; PÉREZ, 2001; RIVITTI, 2005). AA é uma doença comum, para qual tem-se procurado, desde há muito tempo, uma explicação etiopatogênica satisfatória sem que até o momento se tenha conseguido. (HONEYMANN e SANCHEZ, 1985). Como não se têm uma definição quanto à etiologia da AA, há várias hipóteses, inclusive as que consideram os distúrbios psiquiátricos, as doenças associadas e os aspectos psicológicos. (MORAES, 1999). Atualmente, considera-se a AA como uma doença auto-imune. (RIVITTI, 2005, PÉREZ-COTAPOS, 2001; SPINER, 1996). 12 2.4 Aspectos Epidemiológicos Os dados estatísticos registrados pela literatura são variados. A doença pode iniciar em qualquer idade, sem prevalência de sexo e raça. O primeiro episódio de AA costuma incidir na infância (MORAES, 1999). Para Rivitti (2005), a afecção pode haver um pico de incidência entre os 20 e 50 anos, sendo que 60% apresentam o primeiro episódio antes dos 20 anos. É uma doença relativamente comum, afetando 2% da população e ocorrendo em cerca de 20% dos casos, em crianças, habitualmente depois dos 5 anos, e em 2/3 dos adultos afetados inicia-se antes dos 20 anos (ALMEIDA et al, 2004). Segundo Naaf (2005), a AA compreende aproximadamente 2% da população mundial, mais de quatro milhões de norte-americanos, são portadores da doença. 2.5 Aspectos Clínicos Steiner (2000) menciona que para esclarecimento das causas da queda do cabelo deve-se realizar uma anamnese muito bem elaborada, detalhada e completa, pois vários fatores e situações podem estar envolvidos. 1. Tempo de duração e freqüência: verificar se a queixa é aguda, crônica, persistente ou em surtos; 2. Queda de cabelo ou alteração da estrutura da haste: é essencial diferenciar se a queixa é de afinamento e rarefação dos cabelos, ou se refere ao aumento da perda dos fios; 3. Histórico familiar: doenças genéticas; 13 4. Histórico completo sobre saúde: é importante verificar todo o histórico de doença que pré-existem ou que ocorram no momento. Hipotireoidismo é causa freqüente de queda de cabelo, assim como anemia, sífilis, entre outras; 5. Histórico hormonal: os hormônios principalmente andrógenos estimulam o afinamento e queda de cabelo. Sendo assim, tensão pré-menstrual, climatério podem estar associados à queda de cabelo. Alterações dos hormônios tireoideanos, também podem resultar em acentuada queda de cabelos; 6. Dietas: a qualidade e normalidade do fio de cabelo estão diretamente relacionadas à ingestão equilibrada de proteínas e vitaminas. Regimes drásticos, assim como dietas restritivas, podem provocar alterações capilares; 7. Hábitos: uso de produtos químicos, freqüência de lavagem, tipos de penteado, devem ser avaliados em detalhes; 8. Drogas: as drogas estão envolvidas com a perda dos cabelos. Tratamentos de tumores causam perda abrupta dos mesmos; 9. Estresse: alterações emocionais, excesso de trabalho, ansiedade, depressão, todos podem indiretamente alterar o ciclo capilar, e provocar queda de cabelo. Após a anamnese o exame físico deve ser cuidadoso, pois é primordial para determinar o tipo de alopécia. Rivitti (2005) enfatiza que há uma perda importante de cabelos e presença abrupta de área ou áreas alopécicas. A lesão característica da AA é uma placa alopécica lisa com coloração da pele normal atingindo o couro cabeludo ou qualquer área pilosa do corpo. Nas fases agudas as lesões surgem na volta das placas os pêlos peládicos ou pêlos em ponto de exclamação. 14 Steiner (1999, p. 125) define que nos casos de AA “é característico o pêlo em ponto de exclamação que se torna mais fino e claro na inserção do couro cabeludo”. Almeida et al (2004), mencionam que são patognomônicos6 os pêlos em ponto de exclamação nas áreas de fronteira, pêlos distróficos7, curtos, mais largos na sua extremidade do que ao nível do couro cabeludo. Conforme Rivitti (2005), AA é classificada de acordo com o número de lesões, a dimensão e a topografia das perdas de cabelos ou pêlos, descrevendo assim: A) Formas clássicas Alopécia areata em placa única ou unifocal – apresenta somente uma placa alopécica redonda ou ovalada lisa, sendo que a coloração da pele e os pêlos se apresentam normais, na periferia da placa, podendo estar presentes típicos pêlos peládicos. Alopécia areata em placas múltiplas ou multifocal – apresenta múltiplas placas alopécicas típicas, afetando apenas o couro cabeludo ou também outras áreas pilosas. Alopecia areata ofiásica - Nessa forma, a perda dos cabelos ocorre na linha de implantação temporo-occipital, surgindo área alopécica extensa, em faixa que atinge as margens inferiores do couro cabeludo. Alopécia areata total – Existe perda total dos pêlos do couro cabeludo sem afetar os demais pêlos corpóreos, podendo haver acometimento ungueal8. Alopécia areata universal – Conta com a perda total dos pêlos corpóreos sendo afetados o couro cabeludo, os cílios, supercílios, sobrancelhas, a barba e o 6 7 Diz-se dos sinais característicos de uma doença ou de uma afecção. Relativo a distrofia. 15 bigode, axilas e áreas genitais. Geralmente, ocorrem lesões ungueais variáveis associadamente. B) Formas Atípicas a) Alopécia areata tipo sisaifo – É a imagem clínica inversa a ofiásica inversa. b) Alopécia areata reticular – Apresenta com múltiplas placas alopécicas separadas por estreitas faixas de cabelos preservados, configurando aspecto reticulado ao conjunto. c) Alopécia areata difusa - Nessa forma, a perda de cabelos é aguda e difusa9. Desta forma, pode ser inicial, principalmente em crianças e adolescentes, ou pode surgir a partir de formas em placa. A alopécia total ou universal evolui a partir desta forma. Apresenta o diagnóstico mais difícil, exigindo diagnose diferencial. 2.6 Comorbidades da alopécia areata Rivitti (2005) demonstra que um portador de AA está sujeito a acometimentos extrafoliculares, apresenta alterações ungueais, alterações oculares e também manchas salmão da nuca. Segundo Almeida at al (2004, p. 35) as alterações ungueais pode ser as seguintes: [...] habitualmente na forma de ponteado ('pitting'), mas podendo surgir diversas alterações como espessamento10 ou adelgaçamento11 da unha 8 Pertencente ou relativo a unha. Apresenta falta a propagação. 10 Torna-se grosso, denso. 9 16 12 (aspecto pseudomicótico), opacificação , traquioniquia (estriações longitudinais conferindo um aspecto de lixa), coiloníquia (unha de concavidade dorsal), lúnula13 vermelha, entre outras. Rivitti (2005, p. 59-60), descreve que sobre as alterações oftalmológicas: [..] são descritas várias alterações oculares aparentemente relacionadas a disfunções do epitélio14 pigmentar da retina. Foram descritas presença de drusas (excrescências hialinas na coróide), hipopigmentações focais da retina, opacidades do cristalino, catarata subcapsular posterior, diminuição da acuidade15 visual, síndrome de Horner, ectopia papilar, heterocromia e atrofia da íris, miose e ptose palpebral. Almeida at al (2004) contribui e compartilha da opinião de outros autores que os olhos poderão estar igualmente afetados (cataratas ou opacificação do cristalino). Do ponto de vista de Herzog Neto (2000), os relatos na literatura médica sobre as manifestações oculares em AA são controvertidos e geralmente restritos a casos isolados. Em sua pesquisa com 20 pacientes portadores de AA, foram encontradas presenças marcantes de madorose (20%), diminuição do fluxo lacrimal (15%) e opacidade do cristalino (25%). Não foram encontradas quaisquer alterações pigmentárias da retina, coróide ou da íris, ao contrário dos relatos da literatura, sendo que isto pode representar um novo achado desta patologia. A mancha salmão da nuca é outra comorbidade, sendo descrita por Rivitti (2005), conforme sua pesquisa, que procurou correlacionar a presença de hemangioma plano com a gravidade de AA. No caso de AA universal, 95% apresentou a hemangioma plano, em 86,7% dos casos em AA total e em 55,5% dos casos de AA ofiásica. Estes resultados levaram à hipótese que os casos mais graves pode representar o indício de pior prognose. Porém, esta hipótese ainda não está 11 Torna-se fino, transparente. Escuro, turvo. 13 Manchas em forma de meia lua. 14 Epitélio: Camada de células, que reveste as membranas mucosas. 15 Maior intensidade. 12 17 comprovada, devido à alta freqüência da mancha salmão da população geral, sendo necessários estudos mais aprofundados. 2.7 Fatores Causadores da Alopécia Areata Quando caracterizada a AA, os fatores podem ser variados, já que as causas reais são desconhecidas. Conforme alguns autores, os fatores podem ser genéticos, imunológicos e psicológicos. Do ponto de vista genético, é grande o índice no contexto familiar, que varia de 10% a 40% das pessoas portadoras de AA. Alcança os 37% dos doentes, com início do processo antes de 30 anos, considerada AA precoce e 7,1% quando a afecção se inicia aos 30 anos. Destaca-se também a importância dos fatores genéticos, na ocorrência de AA, em gêmeos idênticos e também em portadores de síndrome de Down. (RIVITTI, 2005). Partindo do ponto de vista imunológico, estes mecanismos têm muita participação na patogênese da AA, conforme Rivitti (2005, p. 61). São inúmeros os relatos de associação entre alopécia areata e doenças auto-imunes, principalmente doenças auto-imunes da tireóide e vitiligo, mas também anemia perniciosa, lúpus eritematoso, miastenia grave, artrite reumatóide, polimialgia reumática, colite ulcerativa, diabetes, síndrome endocrinopática associada à candida. Moraes (1999) descreve que AA está associada a doenças e alergias respiratórias, como a asma, a rinite e a pneumonia, também a doenças ou alergias dermatológicas, como vitiligo, a urticária e a dermatite atópica e eczema. Almeida et al (2004, p.37), contribui descrevendo as comorbidades existentes: 18 Está descrita a sua associação com patologia tiroideia (tiroidite de Hashimoto) e outras doenças como doença de Addison, anemia perniciosa, diabetes, LES, artrite reumatóide, polimialgia reumática, miastenia gravis, timoma, síndrome auto-imune poliglandular, colite ulcerosa, líquen plano e vitiligo. Ocorre também mais frequentemente em indivíduos com síndrome de Down (5-10%). Habif (2002, p. 454), refere-se que a AA se “associa as outras doenças como da tireóide, anemia permiciosa, doença de Addison, vitiligo, lúpus eritemoitoso, colite ulcerativa, diabete melito e síndrome de down”. Bruno et al (1985), descrevem que AA pode manifestar-se por perda total do pêlo corporal (Alopécia Universal), havendo descrito alterações da tireóide e autoimunidade associada. Rivitti (2005) informa que a presença de auto-anticorpos em afecções AA é bastante freqüente, e que existem também evidências incontestáveis da participação de mecanismos imunocelulares na patogenia de AA, ainda que existam controvérsias nos estudos de imunidade celular. Sob o ponto de vista psicológico, vários autores contribuem sobre as causas que a afecção pode acarretar em um portador de AA. Moraes (1997) enfatiza que é necessário conhecer a história pessoal, familiar e cultural, bem como a história médica, o início, duração, agravamento e recorrência da patologia dermatológica e a incidência de eventos de vida estressante que a precedem. Estudos realizados comprovaram que, um primeiro episódio desta desordem costuma acontecer com dissoluções na dinâmica familiar, incluindo a separação parental, morte de um dos seus membros. Esta afecção afeta a comunicação tátil, a relação corporal e a auto-estima significativamente, seguidos por estigmas sociais que costumam ser as conseqüências mais comuns entre populações acometidas, particularmente devido ao efeito das desfigurações. Já em um artigo de 1999, a autora explora ainda mais os acontecimentos dos antecedentes da AA: morte dos pais ou familiares, conflito e ruptura familiar, 19 acidentes, nascimento de irmãos, desmame, doença, mudança de residência ou escola. Brajac et al (2003), evidenciam que os fatores psicológicos podem influenciar no início e o no curso da AA. Estudos realizados demonstram que são significativamente mais elevadas a ocorrência de ansiedade-traço e a aflição em portadores de AA (início e reincidência). As percepções da ansiedade e do stress foram maiores em portadores reincididos de AA. O estudo atual não fornece a evidência de papel significativo do stress no início do AA. Tovada et al (2001) em seu estudo, revelam que o estresse libera uma substância que é encontrada nos folículos pilosos, por onde se conclui que a substância está envolvida na patogênese do AA, o que por sua vez pôde explicar o significado patogênico de aspectos neurogenético e psicológico no processo da doença. Ruiz–Doblado et al (2003), em pesquisa realizada apresentaram indicadores de comorbidade psiquiátrica, principalmente desordens de ajuste (F43.2), desordens de ansiedade generalizada (F41.1) e episódios depressivos (F32). Afirmando que existe comorbidade psiquiátrica elevada no AA, requerendo avaliações psiquiátricas sistemáticas destes pacientes. Garcia-Hernandez et al (1999) evidenciam que os eventos da vida e o estresse intrapsíquico gerados podem ser um papel importante em provocar alguns episódios de AA. A comorbidade de desordens psiquiátricas, principalmente as desordens de ansiedade generalizada, depressão e estados fóbicos é elevada. Corroborando com Toback e Rajkumar (1979) que demonstram em sua pesquisa que a perda do cabelo desencadeia um distúrbio emocional. Moraes (1999) destaca que autores caracterizam as crianças com AA, como sendo imaturas afetivamente, retraídas, introvertidas, de difícil contato, 20 tímidas, passivas, dependentes e ansiosas, ou ainda, histéricas e neuróticas. Quando se tornam agressivas, vêm sentimentos de culpa e tendência autopunitiva, inclusive com idéias suicidas. Se a hostilidade permanece reprimida, expressa-se simbolicamente através do “choro da pele”. A autora destaca também que a relação familiar deve ser observada, principalmente no tocante à figura materna. Em sua pesquisa, verificou-se distorção no relacionamento com criança e mães ambivalentes, outra ainda, criança demasiadamente apegada à mãe superprotetora e autoritária, identificadas ao pai dócil. Menciona também, mães deprimidas e fóbicas, que rejeitam a criança, enquanto que o pai é rígido ou ausente. Outros casos foram encontrados em uma relação com a mãe precária, acrescida de ambiente familiar caótico e instável. Merece destaque que a família da criança com AA, atribui propriedades mágicas ao cabelo. Barcia (1993) relata um caso clínico de um menino de sete anos de idade que apresentava alopécia universal, com acometimentos ungueais. Relatou que é uma enfermidade do tipo familiar e hereditário com risco dominante que às vezes pode ser recessivo. Está associado aos transtornos do crescimento das unhas, catarata, defeitos com os dentes e nas glândulas sudoríparas. É um transtorno irreversível sem tratamento e que por causa da estética altera o estado psíquico do portador de AA. Candau et al (1993), em seu artigo, mostra que em uma revisão de tratamento da AA durante um período de dez (10) anos, concluíram que não existe ainda um medicamento eficaz para curar esta doença. Almeida et al (2004, p. 40) confirma: [...] na generalidade, os dados epidemiológicos publicados e referentes a diversas populações (europeias, asiáticas, árabes e norte-americanas): igual prevalência em ambos os sexos; história familiar em 9,6%; rara antes dos 5 anos (11,5%); remissão (total ou parcial) frequente (73%); duração curta da doença nos que remitem totalmente (<12 meses 57,1%; <24 21 meses 80,9%); associação com alterações ungueais (5,7%). Em relação aos factores de risco, salienta-se nesta amostra a associação com stress/ansiedade (23,1%), doenças atópicas (21,2%), cáries dentárias (15,4%) e síndrome de Down (3,8%). Moraes (1999) questiona sobre a incidência de distúrbios psiquiátricos em portadores de AA, pois apresentam-se controvertidos e não esclarecem se o paciente, ao consultar o dermatologista, apresentava anteriormente quadros psiquiátricos ou se passou a apresentá-los em conseqüência da AA. Esclarece que após uma ampla revisão bibliográfica, não foi possível ter clareza quanto à distinção entre aspectos psicológicos associados à etiologia da AA e aspectos psicológicos decorrentes da AA, denotando confusão entre causa e efeito. Rivitti (2005, p. 62), contribui que: [...] nesse tipo de doenças, em que a própria doença produz evidentes alterações psicológicas pelo prejuízo na auto-imagem, é preciso considerar não só a possibilidade de os fenômenos emocionais interferirem na afecção, como também a de a própria enfermidade produzir alterações psicológicas importantes. O aparecimento da AA, também se fundamenta em abordagens psicossomáticas, conforme Moraes (1999, p. 122). Pressupõem que há um mecanismo de conversão subjacente à ocorrência da AA, que conecta o processo psíquico ao distúrbio fisiológico. Mecanismo esse que supõe, de um lado, que a pele seja um órgão vulnerável e, de outro, que haja a presença de um acontecimento agudo ou crônico, simbólico ou real. Esse acontecimento antecedente causa sofrimento ou conflito, acompanhado de sentimentos de perda, derrota, desapontamento ou anulação e, ainda, a ele advém negação. A AA, então, seria a expressão "na pele" desse sofrimento, conflito, estresse, ansiedade aguda, crise, depressão, angústia ou dor. Caldera et al (1986) concluem que é uma enfermidade psicossomática, por tratar-se de um quadro com manifestações orgânicas presentes no contexto de um determinado modo de ser, haja visto que a pessoa é submetida a uma 22 sobrecarga de acontecimentos biográficos perturbadores, levando a um estado conflitual não superado. Chalub (1989) descreve que a carência afetiva materna e paterna, pode produzir um quadro ansioso na criança, contribuindo ao aparecimento de AA. Que a falta de sentimento de segurança produzido pela carência afetiva é o principal fator para aparecimento da afecção e que crianças que sofrem este tipo de carência apresentam perturbações neurovegetativas. A perturbação orgânica pode ser o meio que tem a criança para manter a atenção e os cuidados da mãe para com ela. Troielli et al (1981) realizaram um estudo através do eletroencefalograma em 108 pacientes afetados pela AA no qual apresentaram traços normais, de tensão e patológicos. Os adultos apresentaram traços de tensão, o que estaria vinculado à possível origem psicossomática desta enfermidade. 2.8 Depressão A depressão é encontrada em textos muito antigos, desde 400 a. C, na época eram usados os termos “mania” e “melancolia” para este tipo de perturbações mentais. Por volta do ano 30, a melancolia era compreendida como uma depressão causada pela bile negra. Em 1686, Bonet descreveu uma doença patológica à qual chamou de maniaco-melancholicus. Em 1854, Jules Falret descreveu que o paciente experimenta humores alternados de depressão e mania. Em 1882, o psiquiatra alemão Karl Kahlbaum, usando o termo “ciclotimia”, descreveu a mania e a depressão como estágios da mesma doença. (KAPLAN, 2003, p. 493). Caballo (2003) informa que aproximadamente a quatro décadas atrás, Skinner postulou que a depressão provinha de uma debilidade do comportamento, devido à interrupção de seqüências estabelecidas do mesmo que haviam sido reforçadas positivamente pelo ambiente social. 23 Esta conceitualização da condição da depressão, como um fenômeno em extinção e, como uma redução da freqüência de emissão do comportamento, foram básicas para todas as posições comportamentais. Outros autores, aprimorando essa idéia, confrontando com a prática e as pesquisas, como Fester em 1966 que, argumentava sobre o reforço perdido, tendo como conseqüência à diminuição de comportamentos desencadeados e trazendo a generalização, como forma de aparecimento da depressão. klaplan (2003, p.804), define que três princípios regem a depressão: os sujeitos se vêem numa perspectiva negativa, como se fosse defeituoso, inadequado, carente, inútil e indesejável. Há sempre uma tendência ao pessimismo e idéias de vivenciar o mundo, como um lugar negativo, exigente, frustrante e a esperar comumente o fracasso e a punição. Outro modo comum do paciente depressivo pensar e agir, e a expectativa de continua miséria, sofrimento, privação e fracasso. Para todas essas manifestações é necessário conhecer um pouco mais sobre essa patologia. Depressão caracteriza-se por denotar um transtorno de humor, que tem por apresentação, uma presente perturbação de humor (DSM-IV). A depressão pode ser considerada de forma leve, moderada ou severa. A classificação acontece por uma série de sintomas para cada episódio depressivo: baixa auto-estima, sentimento culposo sem causa definida, exacerbada intolerância consigo próprio, extrema submissão ao julgamento dos outros, sentimento de perda do amor e permanente estado de que há algum desejo inalcançável. Na Classificação Internacional de Doenças de 1993, o episódio depressivo é apresentado em três formas (F32. 0) leve, moderado (F32. 1) e grave (F32. 2 e F32. 3), onde os sintomas mais comuns são: as funções psíquicas deficitárias como atenção e concentração, baixa auto-estima ou idéias de culpa ou menos valia, pessimismo, ideação suicida em alguns casos, bem como sono perturbado e apetite geralmente diminuído. Dalgalarrondo (2000) escreve que do ponto de vista patológico, os quadros depressivos têm como elemento central o humor triste e os sintomas envolvidos podem ser de ordem afetiva, com uma série de alterações que vão do choro fácil e freqüente à apatia, angústia ou ansiedade, desespero, desesperança, irritabilidade aumentada (a ruídos, pessoas, vozes), melancolia e sentimento de falta de sentimento. Nas alterações de ordem neurovegetativa aparecem à fadiga, o 24 desânimo, a perda de apetite, diminuição da libido, insônia ou hipersonia e outras alterações. Tendo em vista que ocorrem também modificações de ordem ideativas, que compreendem o pessimismo, planos e atos suicidas, além das disfunções de ordem cognitiva, prevalecendo déficit de atenção, memória e concentração. Alterações da autovalorização sendo sentimento de baixa auto-estima, de insuficiência, de incapacidade, de vergonha e autodepreciação. Mudança na volição e psicomotricidade são uma constante. Podem ocorrer sintomas psicóticos, compostos de delírios e alucinações, também biológicos. O mesmo autor destaca também, que diversos fatores causais e desencadeantes nas síndromes depressivas. Fatores biológicos, genéticos e neuroquímicos têm um peso importante nos diversos quadros depressivos. Do ponto de vista psicológico, as síndromes depressivas têm uma relação fundamental com as experiências de perda (Hofer, 1996). As síndromes depressivas e reações depressivas surgem com muita freqüência após perdas significativas: de uma pessoa querida, de um emprego, de local de moradia, do status socioeconômico, ou de algo puramente simbólico. (DALGALLARONDO, 2000, p. 191). Segundo Castel et al in Cordás (1997) o quadro depresivo crónico chamase distimia. Dentro dos princípios etimológicos gregos, este termo refere-se ao indivíduo mal humorado. Dentro da prática clínica, a distimia revela-se de forma e intensidade branda. No entanto, causa sofrimento e significativos prejuízos em todos os seguimentos da vida do paciente. O paciente consegue lidar com o seu cotidiano. No entanto, é bastante comum sentir-se inadequado e com sensações ruins, que conseqüentemente fomentam insônia e preocupação. Versiani e Nardi in Cordás et al (1997) ressaltam as dificuldades de o paciente em relacionar seu sofrimento com uma condição psicológica e médica. No transtorno ciclotímico, por exemplo, necessita-se de uma permanência de dois anos, constando numerosos sintomas hipomaníacos, porém não satisfazendo os critérios para um episódio maníaco com numerosos períodos, onde os sintomas depressivos não satisfaçam os critérios para um episódio depressivo maior, segundo dados da OMS (1993) e DSM IV (APA-1994). 25 No transtorno bipolar sem outras especificações – há envolvimento nos seus critérios de classificação quatro sintomas, como a alternância rápida (mensurada em dias) com sintomatologia maníaca e depressiva, sem contemplar os critérios de duração mínima nos casos de episódio maníaco ou episódio depressivo maior. Em casos onde ocorra o episódio maníaco recorrente e sem sintomas intercorrentes. Nos episódios mistos, maníacos, mistos sobrepostos há um transtorno delirante, na esquizofrenia ou outro transtorno psicótico sem outra especificação e quando no diagnóstico há incapacidade de determinação se o transtorno é primário. Em face de uma condição médica geral ou por indução de alguma substância. Transtorno do humor devido a uma condição médica geral – refere-se a uma conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral. Transtorno de humor induzido por substância – diz respeito às substancias psicoativas, com uso e abuso de drogas, medicamentos, exposição tóxica, entre outros. Transtorno de humor sem outra especificação – agrupam-se dentre aqueles que não se encaixam na codificação dos sintomas, nem no transtorno bipolar sem outra especificação (por exemplo, casos de agitação aguda). Os episódios de humor podem ser depressivo maior, maníaco, misto e hipomaniaco. Dos transtornos depressivos observa-se o transtorno depressivo maior, distímico, e depressivo sem outra especificação. Já na classificação dos transtornos bipolares estão o transtorno bipolar I e II, ciclotímico e sem outra especificação. Fleck et al (2003) refere que a depressão denota uma situação bastante comum do ponto de vista médico. De curso crônico é geralmente recorrente. As pessoas acometidas desse mal se mostram limitadas para execução das suas atividades e do seu bem-estar. Os pacientes depressivos procuram muito mais os serviços de saúde. Quando o tratamento e diagnostico da depressão é feito corretamente efetua-se a possibilidade de prevenção da mortalidade, em torno de 70%. Muitos pacientes que sofrem de depressão não recebem o tratamento adequado e específico. Em serviços médicos primários a depressão não é diagnosticada com precisão, gerando uma porcentagem de 30 a 50% dos casos. 26 Dalgalarrondo (2000) escreve que os sintomas envolvidos podem ser de ordem afetiva, com uma série de alterações que vão do choro freqüente a apatia e melancolia. Nas alterações de ordem neurovegetativa aparecem à fadiga, o desânimo, a perda de apetite, diminuição da libido e outras alterações de forma exacerbada. Tendo em vista que ocorrem também modificações de ordem ideativas, que compreendem o pessimismo, planos e atos suicidas, além das disfunções de ordem cognitiva, prevalecendo déficit de atenção, memória e concentração. Mudança na volição e psicomotricidade são uma constante. Podem ocorrer sintomas psicóticos, compostos de delírios e alucinações. A prevalência da depressão é das mulheres, conforme resultado de pesquisas realizadas em 30 países durante as quatro últimas décadas. Holmes (2001), ressalta que os fatores contribuintes para a instalação desse diagnóstico, diz respeito a alguns itens que ele menciona: As mulheres e os papéis sociais que adotaram, como a liberdade de expressar seus sentimentos relacionados à depressão, serve como auxílio na sua identificação. O autor faz referência ainda a tendência à exposição nas situações de estresse, resultantes da depressão. Somado a isso está a predisposição fisiológica e hormonal em contraposição aos homens. Segundo Moreno et al (1999), a partir dos anos 50 houve avanços no que diz respeito ao manejo dos antidepressivos e o seu uso na clínica. A depressão aparece então de forma mais fácil de ser tratada e pesquisas na área são contempladas. Já nos anos 80 os estudos ressaltaram duas classes de antidepressivos, os triciclicos e os inibidores de monooxidase. Ambos possuíam efeitos colaterais indesejados e a superdosagem seria fatal. De maneira geral, os antidepressivos servem para corrigir as disfunções orgânicas e auxiliam as sinapses. O uso dessa medicação requer ingestão diária e observação dos efeitos no período de duas a quatro semanas continuamente. O tratamento segue as mesmas diretrizes da depressão. Em geral são utilizados antidepressivos em conformidade com a psicoterapia e orientação familiar. Ambas as interações podem ser utilizadas de forma individual ou conjunta, sendo a segunda opção geralmente a mais acertada. A terapia cognitivocomportamental integra a farmacoterapia por ir além do que as medicações podem ir. Isso implica efeitos mais rápidos e duradouros na busca da melhora do paciente. 27 Além disso, certos transtornos requerem equipes multiprofissionais que tratem o individuo de forma global levando em conta todos os aspectos concernentes a sua questão. De acordo com Zimerman (1999), não se pode falar de depressão sem antes conhecer o que significa melancolia, tristeza, posição depressiva e depressão, pois todos estão subjacentes às diversas doenças neuróticas e psicóticas da personalidade. Para este autor, a tristeza indica um estado de humor afetivo que pode estar presente ou não nos estados depressivos. O luto corresponde a um período necessário para a elaboração da perda de um objeto amado que foi introjetado no ego, sem maiores conflitos. A melancolia designa que o objeto perdido (por morte, abandono) processou-se de forma muito ambivalente e conflitada. Essa perda do objeto recaído sobre o ego. Posição depressiva é um termo que expressa uma constelação de relações objetais e ansiedades que constituem um estado psíquico na qual prevalece a tríade: objeto total (integração das suas partes dissociadas) – assunção da responsabilidade e de eventuais culpas – presença de sentimentos de consideração e de intentos de reparação frente aos objetos. Depressão subjacente às neuroses e psicoses refere-se ao fato que todo indivíduo, em maior ou menor grau, é portador de núcleos melancólicos da personalidade. Depressão melancólica apresenta uma ampla gama clínica de variações tanto quantitativas como qualitativas. É possível que um paciente seja portador de uma depressão crônica, cujos sinais clínicos nem percebemos que iludem nossos conhecimentos, porém existe, também o outro extremo, onde pode-se confrontar com bruscas e inesperadas interrupções de surtos melancólicos agudos, com sério risco de suicídio. (ZIMERMAN, 1999), Zimerman (1999) caracteriza nove tipos de causas depressivas, sendo que cada uma complementa a outra, às vezes, interpenetram-se, sendo elas: • Endógenas (orgânicas); • Depressão anaclítica; • Identificação do Ego com Objeto Perdido; • Por Perdas; • Por Culpas; 28 • Decorrente do Fracasso Narcisista; • Identificações Patógenas; • Rupturas com Papéis Designados; • Pseudodepressões; Todos as oito etapas acima têm uma especificidade, apesar de todas estarem em permanente interação entre si, o destaque em uma delas e pode servir como uma espécie de roteiro do tratamento psicanalítico. Trevisan (2004) escreveu que: A respeito de psicoterapia e depressão, vale repetir Freud em sua ressalva de que a melancolia não é um grupo homogêneo de afecções e que provavelmente envolve mais de uma etiologia, para depois tomarmos proveito da teoria psicanalítica, ampliando nossa visão acerca dos estados depressivos. Conforme Silva (2000), a depressão se instala, em conseqüência de uma sensação de perda. Esta sensação pode advir de um sentimento de decepção em relação aos outros ou até em relação a si mesmo. Silva (2000) enfatiza que na grande parte dos casos, quase que na totalidade, os estados depressivos associam–se a um rebaixamento da auto-estima, com maior ou menor grau de perda ou abalo da imagem idealizada que se tenha de si mesmo. O autor demonstra que entra-se na depressão por não saber lidar com as perdas e que a vida é uma sucessão de perdas, e que isto valeria para todos as pessoas. Na figura 3, o autor mostra que isto tudo não depende somente da personalidade e do psiquismo do indivíduo, mas também das influências do meiosócio-cultural em que ele está inserido. A partir da percepção da perda, ou o indivíduo a assimila e com ela convive, ou entra em depressão. A “escolha” de uma dessas alternativas dependerá tanto dos fatores biológicos de sua constituição como do grau de coesão do ego, e ainda de sua capacidade psíquica/emocional de “elaborar” o sofrimento. O fator constitucional (biológico), de origem genética, parece predominar nas chamadas depressões bipolares, como é o caso da psicose 29 maníaco-depressiva, na qual o indivíduo alterna períodos de grande euforia (mania) com profunda tristeza. (SILVA, 2000, p. 143). Silva (2000) ressalta que somos capazes de suportar o sofrimento ou frustração, sem que algo nos aconteça, mas este limite se dá em nosso interior. Quando o ego está frágil, ele se rompe com maior facilidade. Porém, se o sofrimento é bem trabalhado, enriquece a pessoa. No momento que se instala a depressão, seu grau, suas conseqüências e tempo de duração dependem de três fatores: o biológico, a coesão do eu e a capacidade de elaboração. A depressão não resolvida pode resultar em suicídio, em doenças orgânicas, ou persistir, implicando graus variáveis de incapacitação do indivíduo, mas acarretando sempre um comprometimento de sua alegria de viver. 30 Magnitude da perda Fatores constitucionais (biológicos) Grau de coesão do ego Capacidade de elaboração Recuperação Doença orgânica Depressão persistente Suicídio Depressão Percepção pelo indivíduo Assimilação da perda Influências sócio-culturais Fig. 1 – Representação Personalidade e psiquismo esquemática dos fatores que determinam a depressão e suas conseqüências. 31 2.9 Estresse ou Stress Lipp (2003), descreve que stress é uma palavra latina usada na área da saúde no século XVII. Foi somente em 1926 que o pai da “estrossologia”, dr. Hans Selye, a usou para descrever um estado de tensão patogênico do organismo. Hoje em dia, já existe a palavra “estresse” nos dicionários da língua portuguesa, mas os especialistas continuam a fazer uso do termo em inglês “stress”. De acordo com Lipp (2005), no século XVII, na literatura inglesa, o termo stress era utilizado com o significado de aflição e adversidade. E no tempo atual a palavra vem denotar o complexo composto de tensão-angústia-desconforto que é tão característico na sociedade atual. No século XIX, começaram a ser feitas especulações sobre uma possível relação ente eventos emocionalmente relevantes e doenças físicas e mentais. No século XX, Sir William Osler, médico inglês, igualou o termo “stress” (eventos estressantes) com “trabalho excessivo” e termo “strain” (a relação do organismo ao stress) com “preocupação”, sugerindo que o excesso de trabalho e de preocupação estivessem ligados a doenças coronarianas. Hans Selye, estudante de medicina na Universidade de Praga, observou que alguns pacientes sofriam de patologias diferenciadas. O que lhe chamou a atenção foi a identificação de um conjunto de reações não específicas, semelhantes, nestes pacientes a situações que lhes haviam causado angústia e tristeza. Em 1926, Selye chamou este conjunto de reações de “síndrome geral de adaptação” ou “síndrome do stress biológico”, conhecida também como “a síndrome do simplesmente estar doente”. Em 1936, Selye sugeriu o uso da palavra stress para definir esta síndrome produzida por vários agentes aversivos. Dois fisiologista influenciaram Selye. Bernand sugeriu em 1879, que o ambiente interno dos organismos deve conservar constante apesar das mudanças no ambiente externo e em 1993, Cannon, propos propôs o nome “homeostase” para apontar o esforço dos processos fisiológicos para manterem um estado de equilíbrio interno no organismo. Selye, utilizou-se destes dois conceitos e definiu o stress como uma quebra neste equilíbrio. (LIPP, 2005). 32 Albrecht (1990) descreveu que em países altamente industrializado surgiu uma doença nova e estranha. A tal doença, que não é transmitida por qualquer bactéria ou outro microorganismo conhecido, tem-se expandido constatemente e atingido um número cada vez maior de pessoas, com consequencias cada vez mais graves e está em grandes porpoções. Os sintomas são diversos e amplos que deixa perplexo leigo e faz voltar aos livros os médicos. Os sintomas vão desde os ligeiros incônomodos até a morte, desde de dores de cabeça até os ataques cardiacos, da dermatite às úlceras hemorrágicas, da indigestão ao colapso, da fadiga à alta pressão arterial e do colapso dos órgãos. Saúde e bem estar emocioal dos humanos estão tendo um alto custo por causa desta doença. É uma condição de descontrole de função fisiológica normal do corpo humano, ou seja, estresse. Hoje, o estresse crônico provoca diversos tipos de doença, complica outras e induz ao incômodo e ao sofrimento os que são por eles afetados. Lipp (2005), define que o stress é como reação psicofisiológica muito complexa que tem sua origem na necessidade do organismo de fazer face a algo que ameace sua homeostase interna. Isto pode ocorrer quando uma pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro a amedronte, irrite, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz. Estresse é uma reação que envolve componentes emocionais, físicas, mentais e químicos a determinados estímulos que irritam, amedrontem, excitem, confudam e/ou façam a pessoa extremamente feliz. (LIPP apud O'NEILL (2002), pag.12 e SILVA e SANTOS, 2008). Ferrarezi et al (2006) descreve que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e especialistas em psicopatologia do trabalho as situações que causam ansiedade ao trabalhador, desencadeando o estresse, geram desgastes não só emocionais, como também físicos, com manifestações desagradáveis que podem, com o seu agravo, desencadear doenças. Segundo Silva e Santos (2008) e Selye (1956) apud Lipp (2005) o estresse tem três fases: Fase do alerta, quando o organismo se prepara para as reações de luta ou fuga; 33 Fase de resistência, momento em que tenta uma adaptação ao evento estressor, predominando a sensação de desgaste. Se o estressor é contínuo e a pessoa não possui estratégias para lidar com o estresse, o organismo exaure sua reserva de energia adaptativa. Fase de exaustão quando se manifesta. Já Lipp (2005) descreve que o stress se desenvolve em quatro fases: Fase Alerta – é fase boa do stress, onde se produz adrenalina e ficam cheios de energia e de vigor, prontos para, se necessário, varar a noite ou despender grande quantidade de energia se tivermos que lidar com uma emergência. Fase de Resistência – neste estágio ocorre um aumento na capacidade de resistência acima do normal. Fase de quase exaustão – é quando as defesas do organismo começam a ceder e ele já não consegue resistir às tensões e restabelecer a homeostase interior. Fase de exaustão – neste estágio há uma quebra total da resistência e alguns sintomas que aparecem são semelhantes aos da fase de alarme, embora sua magnitude seja muito maior. Há um aumento das estruturas linfáticas, exaustão psicológica em forma de depressão e exaustão física, na forma de doenças começaram a aparecer, podendo ocorrer a morte como resultado final. Já, Ferrareze et al (2006) descreve as três fases como reação de alerta ou alarme os sintomas como taquicardia, palidez, fadiga, insônia, falta de apetite, pressão no peito, estômago tenso, de resistência ou adaptativa os sintomas de isolamento social, incapacidade de se desligar do trabalho, impotência para as atividades, peso nos ombros e de exaustão com sintoma de depressão. 34 Lipp e Malagris (2001) descrevem alguns sintomas na fase do quase exaustão do stress: • Cansaço mental; • Dificuldade de concentração; • Perda de memória imediata; • Apatia ou indiferença emocional; • Impotência sexual ou perda da vontade de ter sexo; • Herpes; • Corrimentos; • Infecções ginecológicas; • Aumento de prolactina; • Tumores; • Problemas de pele; • Queda de cabelo; • Gastrite ou úlcera; • Perda ou ganho de peso; • Desânimo, apatia ou questionamento frente a vida; • Autodúvidas; • Ansiedade; • Crises de pânico; • Pressão alta; • Alteração dos níveis de colesterol e triglicérides; • Distúrbios de menstruação; • Queda na qualidade de vida. O´Neill (2002), cita que o estresse é acumulativo. Quanto mais intenso, mais sérias as reações a ele. As pessoas têm reações desmedidas a ocorrências triviais. A gota d’água pode ser suficiente para desencadear um abalo emocional. No entanto, Lipp (2005) relata as dificuldades das pessoas em cada fase do stress dividindo em sono, sexo, trabalho e Humor. 35 Fase de Alerta: • SONO: Devido à adrenalina a dificuldade em dormir é muito acentuada • SEXO: Vontade de ter sexo - libido alto. O sexo ajuda a relaxar. • TRABALHO: Produtividade e criatividade alta. Pode varar a noite sem dificuldade. • CORPO: Tenso. Músculos retesados. No início da fase aparece a taquicardia (coração disparado). Sem fome e sem sono. Sudorese. Mandíbula tensa. Respiração com dificuldade. No todo, o organismo reage em uma perfeita união entre mente e corpo. A tensão do corpo encontra correspondência na mente. • HUMOR: Eufórico. Pode ter grande irritabilidade devido à tensão física e mental experimentada. Fase de Resistência: • SONO: Normalizado. • SEXO: Vontade de ter sexo começa a baixar. Pouca energia. Não tem interesse pelo sexo. • TRABALHO: Às vezes não consegue ter novas idéias. A produtividade e a criatividade voltam ao normal. • CORPO: Cansado, mesmo tendo dormido bem. O esforço de resistir ao stress se manifesta em uma certa sensação de cansaço. A memória começa a falhar. Mesmo não estando com alguma doença, o organismo se sente “doente”. • HUMOR: Cansado. Só se preocupa com a fonte de seu stress. Repete o mesmo assunto e se torna tedioso. 36 Fase de Quase-exaustão: • SONO: Insônia. Acorda muito cedo e não consegue voltar a dormir. • SEXO: Libido (vontade de ter sexo) quase desaparece. A energia para o sexo está sendo usada na luta contra o stress e a pessoa perde o interesse. • TRABALHO: A produtividade e a criatividade caem dramaticamente. Consegue somente dar conta da rotina, mas não cria e nem tem idéias originais. • CORPO: Cansado. Uma sensação de desgaste aparece. A memória é muito afetada e a pessoa esquece fatos corriqueiros, até mesmo seu próprio telefone. Doenças começam a surgir. As mulheres apresentam dificuldades na área ginecológica. Todo o organismo se sente mal. Ansiedade passa a ser sentida quase que todo dia. • HUMOR: A vida começa a perder o brilho. Não acha graça nas coisas. Não quer socializar. Não sente vontade de aceitar convites ou de convidar. Considera tudo muito sem graça e as pessoas tediosas. Fase de Exaustão: • SONO: Dorme pouco. Acorda cedíssimo e não se sente revigorado pelo sono. • SEXO: Libido (vontade de ter sexo) desaparece quase que completamente. • TRABALHO: Não consegue mais trabalhar como normalmente. Não produz. Não consegue se concentrar e nem decidir. O trabalho perde o interesse. • CORPO: Desgastado e cansado. Doenças graves podem ocorrer, como depressão, úlceras, pressão alta, diabetes, enfarte, psoríase etc. Não há mais como resistir ao stress. A batalha foi perdida. A pessoa necessita de ajuda médica e psicológica para se recuperar. Em casos mais graves, pode ocorrer a morte. • HUMOR: Não socializa. Foge dos amigos. Não vai a festas. Perde o senso de humor. Fica apático. Muitas pessoas têm vontade de morrer. 37 De acordo com Cantos et al (2004) as doenças cardiovasculares desenvolvidas estão relacionados com estresse psicológico. Heslop et al.(2002 apud CANTOS, 2004) exploraram a associação entre doenças cardiovasculares e satisfação no trabalho. Em outra publicação, esses mesmos autores, sugerem que a insuficiência de sono esteja associada a um aumento de risco de mortalidade. Em 2002, Vögele (apud CANTOS, 2004), concluiu que a combinação de fatores de risco, incluindo os psicológicos, contribuem para o melhor entendimento da morbidade e mortalidade cardiovascular. Algumas pesquisas indicam que doenças como as cardiovasculares, ou mesmo as cognitivas são desenvolvidas pelas influências de variáveis como depressão, ansiedade e estados de humor. No entanto, o estresse, considerado precursor de diversas doenças não tem recebido atenção especial em estudo, conforme Luft et al (2007). O mesmo autor relata que de acordo com Cohen & Williamson (1988 apud LUFT et al, 2007), existem três maneiras de medir o estresse. A primeira é à presença de agentes estressores específicos; a segunda, aos sintomas físicos e psicológicos do estresse e a terceira, independente dos agentes estressores, pretende mensurar a percepção de estresse individual de forma global. Há também escalas que mensuram o nível de estresse por meio de outras escalas que quantificam o impacto de eventos estressores específicos. Porém, esses instrumentos apresentam limitações, uma vez que os eventos relacionados ao estresse podem variar muito entre indivíduos. Lipp (2005) diz que o stress gera uma afecção dos folículos psicosebáceos provocando a alopecia. Que a etiologia de AA é desconhecida, porém não descarta a participação de fatores emocionais e de stress sendo como desencadeante ou agravante do quadro. A definição do estresse como um processo complexo e multidimensional, em que atuam estressores crônicos ou agudos é definido por Sparrenberger (2008), com os seguintes tipos: “ambientais (no trabalho, em casa ou na vizinhança, por exemplo), eventos maiores (como mudança de domicílio, morte ou doença em familiar, separação conjugal e desemprego), trauma (por exemplo, participar de um combate, ser vítima ou presenciar crime violento ou acidente de trânsito e 38 estar envolvido em desastres naturais ou industriais) e abuso ou negligência na infância e na velhice. Tais estressores são percebidos pelo indivíduo como ameaça, necessidade de ajuda ou alerta, o que dá início a uma resposta, visando a adaptar-se à situação. A adaptação, neste contexto, é entendida como processo dinâmico mediante o qual os pensamentos, os sentimentos, a conduta e os mecanismos biofisiológicos do indivíduo mudam continuamente para se ajustar a um ambiente em contínua transformação. (SPARRENBERGER et al, 2003, p. ) Cantos (2004) define também que o estresse provoca a elevação da pressão arterial, a hipertensão, a obesidade, a glicemia e o aumento do LDLColesterol. O estresse e o frio são fatores que aumentam a atividade simpática e levam à liberação de adrenalina, promovendo taquicardia e uma vasoconstrição, no aparelho circulatório. Palácios et al (2002) reconhecem que o estresse é uma ligação entre o trabalho e a saúde, há uma grande preocupação com a doença cardiovascular por um lado, e por outro com o esgotamento e o "burnout" que são manifestações psicopatológicas diretamente ligadas ao estresse. É importante ressaltar que o estresse em si não é patológico. É uma reação natural do organismo humano quando colocado diante de alguma situação de ameaça. Lipp e Malagris (2001) detalham que há três formas de Stress: Stress negativo: é o stress em excesso. Ocorre quando a pessoa ultrapassa seus limites e esgota sua capacidade de adaptação. O organismo fica destituído de nutrientes e a energia mental fica reduzida. A produtividade e a capacidade de trabalho ficam muito prejudicadas. A qualidade de vida sofre danos. Posteriormente a pessoa pode vir a adoecer. Stress positivo: é o stress em sua fase inicial, a do alerta. O organismo produz adrenalina que dá animo, vigor e energia fazendo a pessoa produzir mais e ser mais criativa. Ela pode passar por períodos em que dormir e descansar passa a não ter tanta importância. É a fase da produtividade, como se a pessoa estivesse "de alerta". Ninguém consegue ficar em alerta por muito tempo, pois o stress se transforma em excessivo quando dura demais. Stress ideal: é quando a pessoa aprende o manejo do stress e gerencia a fase de alerta de modo eficiente, alternando entre estar em alerta e sair de alerta. 39 Para quem aprende a fazer isto, o "céu é o limite". O organismo precisa entrar em equilíbrio após uma permanência em alerta para que se recupere. Após a recuperação, não há dano em entrar de novo em alerta. Se não há um período de recuperação, então doenças começam a ocorrer, pois o organismo se exaure e o stress fica excessivo. O stress pode se tornar excessivo porque o evento estressor é forte demais ou porque se prolonga por tempo muito longo. 2.10 Psicossomática Segundo Riechelmann (2000), na Grécia Antiga, as idéias de Sócrates, Platão e Aristóteles definiam o humano com ser unitário e indivisível, na concepção monista. O ser humano era compreendido por fatos objetivos e subjetivos, um conjunto com expressões variadas de uma única entidade. No início da história da medicina, duas teorias complementares divergiam quanto à concepção de doença e, em conclusão, quanto à natureza da prática médica. Riechemann (2000, p. 174-175) descreve a primeira teoria – Monista vem de Hipócrates (Séc. VI a.C) e da escola de Cos: - A pessoa doente é vista em sua totalidade; - O temperamento da pessoa e sua histeria são levados em conta; - Envolve corpo e espírito, a doença é vista como uma reação total da pessoa a um distúrbio (interno ou externo). - No seu ambiente a terapêutica deve restabelecer a harmonia da pessoa consigo mesma; - É uma medicina integrada e dinâmica, que corresponde aos primórdios da moderna medicina psicossomática. A Segunda – Dualista – Vem de Galeno (Séc.I d. C) e da escola de Cnide: 40 - O foco principal é a doença, algo autônomo em relação ao portador; - A doença é vista como uma lesão anatomoclínica; - Com o surgimento das descobertas das etiologias específicas das infecções do Pasteur, sob a forma de agentes patogênicos específicos, predominando sobre a corrente hipocrática. - A terapêutica tem como objetivo localizar a doença no corpo e extirpála, se possível; - É uma medicina compartimentalizada e mecanicista, que corresponde aos primórdios da medicina cartesiana e reducionista, base da medicina convencional da atualidade. O autor compartilha, que no Séc. XVII, o filosofo René Descartes sistematizou filosoficamente uma divisão entre corpo e mente, quando a concepção monista foi deixada de lado. Essa divisão do ser humano deu “bons” e “maus” frutos. Bons – O corpo humano foi visto como uma máquina pelos cientistas, que desenvolveram métodos para saber sobre os mecanismos fisiológicos e patológicos envolvidos na saúde e na doença, dissecando e estudando em laboratório o corpo humano. Maus – Nos laboratórios médicos, a relação médico-paciente foi reduzindo-se a um modelo, que foi de “cientista – objeto”. O mesmo autor descreve ainda que, o mérito de resgatar para a medicina a condição humana daquele corpo-máquina foi de Sigmund Freud, ao descobrir o inconsciente e seu respectivo método de estudo – a psicanálise. Freud demonstrou a importância de conhecer a biografia do indivíduo para a compreensão mais ampla da pessoa na saúde e na doença. 41 Uma simples máquina, o corpo deixa de ser, conforme Riechelmann (2000, p. 177). O corpo deixa de ser uma simples máquina e se torna uma pessoa quando visto em conjunto com a história de vida. E história de vida é basicamente construída como conseqüência da interação do indivíduo com o seu contexto social. Continuando, nas décadas de 30 a 60, o pensamento psicossomático foi dominado pelas Teorias de Franz Alexander, da Universidade de Chicago – EUA, apoiada por Helen F. Dubar. Esses autores defendiam que cada doença tem seu perfil psicológico específico. A Teoria da Especificidade Psicogenética levaria a crer que todo paciente que apresentar uma certa enfermidade deve obrigatoriamente portar as mesmas características psicológicas. Esclarece que a noção de especificidade não deve ser entendida no sentido único, mas sim no sentido de que uma intensidade maior de fenômenos e mecanismos psicológicos contribui para a propensão a determinadas doenças. A vida do ser humano é marcada por situações de conflito, consigo próprio ou com o ambiente, que podem estar ou não acessíveis à percepção consciente do indivíduo. Mesmo quando inconsciente, os conflitos mantêm a capacidade de mobilizar emoções, as quais têm manifestações em nível corporal. Winter (1997, p. 50), em relação à somatização: [..] diria que uma das chaves do processo de restabelecimento da unidade psicossomática, já que defendemos a tese do corte psicossomático durante o episódio de algumas ou mesmo de “todas” as enfermidades, seria a construção ou reconstrução de limites. A vivência da impotência revela, conseqüentemente, essa outra vivência, a de ser um ser limitado, descolado do outro, imperfeito, portanto sem condições de auto-abastecer. 42 Silva (2000) concorda com Reichelmann (2000) que a psicanálise, revolucionou a concepção de que as doenças eram causadas por agentes externos, isto é: vinham de fora para dentro. Freud construiu um novo conceito de que algumas doenças, os males do corpo constituíam uma mera expressão dos males do espírito, ou seja, provinham de dentro para fora. As primeiras afecções rotuladas de psicossomática são chamadas de “doenças clássicas ou maiores”. Segundo Silva (2000) em 1976, criou-se uma lista de doenças do que se chamou de “distúrbios psicossomáticos mais comuns”: 1) Distúrbios respiratórios: asma, rinite, febre do feno. 2) Distúrbios do aparelho digestivo: úlcera, doenças do cólon. 3) Doenças da pele (praticamente todas). 4) Doenças das articulações (“juntas”) e musculares: artrite reumatóide, “fribrosite” 5) Distúrbios endócrinos: hipertireoidismo, diabetes. 6) Doenças cardiovasculares: hipertensão arterial “essencial” (pressão alta, doenças das artérias coronárias (angina, infarto), acidentes vasculares cerebrais (derrame) e enxaquecas. 7) Distúrbios do aparelho reprodutor feminino: ausência de menstruação ou menstruação escassa, cólicas menstruais, tensão pré-menstrual, perturbação da menopausa. Segundo Kaplan (1997), na quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), o termo “psicossomático” foi substituído pela categoria diagnóstica “fatores psicológicos que afetam a condição médica”. O mesmo esclarece, que a medicina psicossomática compreende a 43 unidade de interação entre corpo e mente, dando a certeza que os fatores psicológicos são importantes no desenvolvimento de todas as doenças. O DSM-IV classifica os critérios diagnósticos para fatores psicológicos que afetam a condição médica de acordo com a tabela 1. Tabela 1 - Critérios diagnósticos para fatores psicológicos que afetam a condição médica. Transtorno Mental Afetando a condição Médica (por ex.: um transtorno do Eixo I, com transtorno Depressivo Maior, atrasando a recuperação de infarto miocárdio) Sintoma Psicológico Afetando a Condição Médica (por ex.: sintomas depressivos atrasando a recuperação de uma cirurgia; ansiedade exacerbando a mesma). Traços da Personalidade ou Forma de Manutenção Afetando a Condição Médica (por ex.: negação patológica da necessidade de cirurgia em uma paciente com câncer; comportamento hostil e pressionado contribuindo para uma doença cardiovascular). Comportamentos de Saúde Mal-Adaptativos Afetando a Condição Médica (por ex.: excessos alimentares, falta de exercícios, sexo inseguro). Resposta Fisiológica Relacionada ao Estresse Afetando a Condição Médica (por ex.: exacerbações de úlceras relacionadas ao estresse, hipertensão, arritmia ou cefaléia tensional) Fatores Psicológicos ou Outros Inespecificados Afetando a Condição Médica (por ex.: fatores interpessoais, culturais e religiosos) Fonte: Kaplan (1997, p. 706). Kaplan (1997) esclarece que muitos estudiosos questionam o conceito de medicina psicofisiológica. Consideram o termo muito vago, mas a maioria concorda que o estresse grave, crônico e perceptível exerce algum papel causal no desenvolvimento de muitas afecções somáticas. Uma situação de vida ou um evento estressante (interno ou externo, agudo ou crônico) gera provocações às quais o organismo não consegue responder adequadamente. Em função disso foi criada uma escala de 43 eventos estressantes, na qual um acúmulo de 200 ou mais 44 unidades de mudança de vida em único ano, aumentava a incidência de transtornos psicossomáticos. Tabela 2 – Escala de Classificação do Reajustamento Social. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 Acontecimento Vital Valor médio Morte do cônjuge 100 Divórcio 73 Separação Conjugal 65 Detenção em presídio ou outra instituição 63 Morte de um membro familiar próximo 63 Lesão ou doença pessoal importante 53 Casamento 50 Ser demitido do emprego 47 Reconciliação conjugal 45 Aposentaria 45 Alteração importante na saúde ou comportamento de uma família 44 Gravidez 40 Dificuldades sexuais 39 Entrada de um novo membro na família (através de nascimento, adoção, avós que 39 vêm morar com a família, etc) Reajustamento importante nos negócios (sociedade, reorganização, falência, etc) 39 Importante mudança na condição financeira (muito pior ou muito melhor do que o 38 costumeiro Morte de amigo íntimo 37 Mudança de ramo profissional 36 Importante mudança no número de discussões com cônjuge (muito mais ou muito 35 menos discussões do que o habitual, por causa da criação dos filhos, hábitos pessoais, etc) Empréstimo maior que o equivalente a $ 10.000 (compra de casa, negócios, etc)* 31 Execução de hipoteca ou empréstimo 30 Alteração importante nas responsabilidades profissionais (promoção, 29 rebaixamento, transferência lateral) Saída de filho ou filha de casa (casamento, faculdade, etc) 29 Problemas com sogros ou cunhados 29 Conquista pessoal notável 28 Esposa começa ou deixa de trabalhar fora de casa 26 Começo ou término de escolarização formal 26 Alteração importante nas condições de vida (construção de casa nova, 25 deterioração de casa ou vizinhança) Revisão de hábitos pessoais (roupas, maneiras, associações) 24 Problemas com o chefe/patrão 23 Alteração importante nos horários ou condições de trabalho 20 Mudança de residência 20 Mudança para nova escola 20 Alteração importante no tipo ou quantidade habitual de recreação 19 Mudança importante nas atividades religiosas (muito mais ou muito menos do que 19 o habitual) Mudança importante nas atividades sociais (clubes, cinema, visitas, etc.) 18 Tomada de hipoteca ou empréstimo menor de que o equivalente a $ 10.000,00 17 (compra de automóvel, TV, freezer, etc) Mudanças importantes nos hábitos de sono (muito mais ou muito menos tempo de 16 sono ou alteração no turno usado para o sono) Mudanças importantes no número de reuniões familiares (muito mais ou muito 15 45 menos do que o habitual) Mudança importante nos hábitos alimentares (ingestão alimentar muito maior ou 15 menor que o habitual ou horários ou locais muito diferentes para as refeições). 41 Férias 15 42 Natal 12 43 Infrações menores à lei (multas de trânsito, vadiagem, desordem, etc) 11 * Este número não mais possui qualquer relevância, em vista da inflação; o que importa é o montante da dívida. Tabela extraída de Kaplan (1997, p. 708). 40 Mello Filho (1992) descreve que a medicina psicossomática é mais estruturada devido à intervenção maciça do Estado, com a mobilização maior de atividades paramédicas e a formação de equipes multidisciplinares. E explica como se dá esta mobilização: Funções como a de Enfermagem, Assistência Social, Nutrição e Psicologia, comprometidas com o cuidado geral e a dimensão social da patologia, além da condição existencial do doente, abrem perspectivas conectadas com a Psicossomática [...].(MELLO FILHO, 1992, p. 33). Kaplan (1997) conclui que a medicina psicossomática e a medicina comportamental estão juntas com a interação entre a psique e o soma. 46 3 CONCLUSÃO Após o estudo realizado, percebe-se que os objetivos de compreender os aspectos psicológicos da alopécia areata, sua etiologia seus aspectos clínicos, bem como suas relações com a depressão, o estresse e a compreensão psicossomática dessas doenças foram alcançados. Embora existam poucos estudos sistemáticos sobre a AA e suas relações com as doenças psicossomáticas elencadas, a maioria dos estudos de AA citam, mesmo que rapidamente, a importância dos fatores psicológicos na causa ou desenvolvimento da doença. Sendo a AA uma afecção caracterizada pela perda de cabelo do couro cabeludo e/ou de qualquer outro lugar do corpo (barba, cílios, sobrancelhas, axilas) e sabendo que esta doença afeta cerca de 2% da população mundial, evidencia-se a necessidade de mais estudos, visto que o cabelo é uma característica importante na apresentação pessoal das pessoas e, portanto, fundamental para a autoestima. A investigação constatou que a etiologia é desconhecida podendo ocorrer em homens e mulheres de qualquer idade e raça. No entanto, a alopécia areata, possui um fator importante que é a hereditariedade, pois as pesquisas apontam grande índice no contexto familiar, sendo comum em pacientes com alteração cromossômica como a Síndrome de Down e também em gêmeos idênticos. Esses achados são importantes pois, indicam que não há muito controle nem grupo de risco e que a prevenção, por meio do equilíbrio psicológico das pessoas é fundamental. Como comorbidade podem ocorrer diversos tipos de deformações nas unhas, transtornos oftalmicos e manchas salmão na nuca. Ainda na pesquisa 47 realizada, o sistema imunológico apresentou-se como importante em relação às doenças e alergias respiratórias e dermatológicas, bem como nas alterações hormonais. O estresse também apresentou-se como responsável pelo aparecimento da AA. Encontrou-se algumas pesquisas que trazem este tema, porém novos estudos são necessários, pois o número de artigos encontrados ainda é reduzido. Os aspectos psicossomáticos aparecem como fatores importantes no processo da AA. Nessa visão supõe-se, de um lado, que a pele seja um órgão vulnerável e, de outro, que haja a presença de um acontecimento agudo ou crônico, simbólico ou real. Esse acontecimento antecedente causou sofrimento ou conflito, acompanhado de sentimentos de perda e/ou derrota. Entre os sintomas que mais aparecem nos artigos pode-se citar a ansiedade generalizada, a depressão e os estados fóbicos. No que se refere aos sintomas psicológicos é muito importante o que Moraes (1999) coloca, já que não se sabe se os pacientes estavam com os sintomas psicológicos anteriormente ou se os sintomas psicológicos surgiram durante ou após o desenvolvimento da AA. Porém, foram encontrados alguns fatores que contribuem para a afecção, tais como: dissoluções na dinâmica familiar, morte de um ente querido, acidentes, nascimento de irmãos, desmame, doença, mudança de residência ou escola. Ficou claro, porém que a própria doença traz alterações psicológicas pelo prejuízo na auto-imagem, principalmente em crianças, que tornam-se imaturas afetivamente, retraídas, introvertidas, de difícil contato, tímidas, passivas, dependentes e ansiosas, ou ainda, histéricas e neuróticas. Quando se tornam 48 agressivas, vêm sentimentos de culpa e tendência autopunitiva, inclusive com idéias suicidas. Não se encontrou na literatura científica pesquisada um tratamento eficaz na cura da doença. Mas, existem sim, vários processos que podem dar certo ou não. Destaca-se a importância da participação do psicólogo durante todo o tratamento da alopécia areata. Este profissional desenvolve um papel especial procurando conhecer o paciente e levando-o em busca da cura ou aceitação da alopécia areata. Após o estudo realizado percebe-se que é de grande importância que se dê continuidade a este trabalho, principalmente em função das dificuldades de encontrar bibliografia em relação aos aspectos psicológicos, já que a maioria dos artigos versavam sobre a fisiologia da doença. É interessante estudar futuramente se, dentro da psicossomática, há diferença na localização da alopécia. Outro fato importante é que não foi encontrado, nas bases de dados consultadas, nenhum artigo escrito por psicólogo sobre os aspectos psicológicos. Desta forma, estudos mais detalhados, realizados por psicólogos serão de grande valia para ajudar os profissionais da saúde, os portadores de AA e seus familiares a lidarem com desconhecida. esta afecção, mesmo que sua etiologia ainda permaneça 49 REFERÊNCIAS ALBRECHT, Karl. O gerente e o estresse: faça o estresse trabalhar para você. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990. 291 p. ALMEIDA, Rui et al. Alopecia areata: descrição clínica de uma população pediátrica. 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