INDISCIPLINA NA VISÃO PSICOPEDAGÓGICA¹ Clebea Lima de Almeida² “Não é possível refazer este país, democratiza-lo, humaniza-lo, torna-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, oferecendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Paulo Freire RESUMO: Este artigo apresenta uma reflexão teórica a respeito da indisciplina como desvio das normas propagadas nos sistemas escolares na educação das séries iniciais. O foco central é mostrar os motivos de indisciplinas na instituição escolar e o aluno na sua dimensão humana. Baseado em uma reflexão sobre diferentes sentidos da indisciplina, sujeitos e inserção escolar do referencial teórico, aponta-se a indisciplina como uma atitude de desrespeito, de intolerância e não cumprimento de regras capazes de orientar a convivência de um grupo. Palavras-chave: Indisciplina, Psicopedagogia, Família, Aprendizagem. ABSTRACT: This article it presents one reflection theory the respect of the indiscipline as deviation of norms propagated in to school systems in the education of the initial series. The central focus it is to show the reasons of indisciplines in the pertaining to school institution and the student in the dimension human being. Based in one reflection on different felt of indiscipline, subjects and school insert of the theoretical reference, it is pointed the indiscipline as an attitude of disrespect, of intolerance and not fulfilment of rules capable to guide the to coexistence of one group. Keywords: Indiscipline, Psicopedagogy, Family, Learning. ¹Artigo Científico elaborado para obtenção do título de especialista em Psicopedagogia Institucional oferecido pela FAP, Faculdade de Pimenta Bueno, orientado por Silvia Andrade Cardozo, Graduada em Pedagogia pela UNIR, Universidade Federal de Rondônia, 2001, Pós Graduada em Alfabetização pela UNIR, Professora substituta da UNIR, Campos de Rolim de Moura, Tutora de sala do Curso de Pedagogia da UNOPAR, Universidade do Norte do Paraná, pólo de Rolim de Moura. ²Graduada em Pedagogia pela UNOPAR, 2008, especialista em Psicopedagogia pela FAP, Faculdade de Pimenta Bueno, professora Classe ‘A’ pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, lotada na Semecel como Coordenadora Pedagógica, Coordenadora Técnica Pedagógica da UNOPAR, Pólo de Rolim de Moura. 1 INTRODUÇÃO Refletir sobre indisciplina é retratar um fenômeno complexo, multifacetado e que não encontra sentido único. Esta questão vem se tornando um desafio para professores e gestores educacionais desde a educação infantil até o nível superior. A violência nas escolas não é um fenômeno novo. Todavia tem vindo a assumir grandes proporções e uma gama de indecisões sobre quais medidas tomar para sanar este problema. Ao longo deste artigo será alvo de reflexão o papel da família na educação, o fenômeno da violência e como o trabalho do Psicopedagogo Institucional situa-se no processo e diagnóstico da dificuldade. Em suma, procurou-se aprofundar os conhecimentos em torno desta temática, com o intuito ávido de conhecer como a escola, a família e a sociedade se organizam na gestão desta problemática tão grave nos dias de hoje. É preocupante o desperdício de tempo aplicado à questão da indisciplina, este agravante é visto como resultado da falta de limites que hoje acontece na maioria das escolas, o que trás a tona reflexão sobre como manter a ordem na sala de aula e no ambiente escolar. 2- Desafios da disciplina no ambiente escolar O professor é um elemento fundamental no processo ensino aprendizagem, mas estas relações são permeadas de outras situações, em que posições antagônicas sobre as dificuldades exigentes no ambiente escolar se confrontam, neste contexto apresentam-se discursos distintos: carência afetiva, influência da mídia, conforme afirma Vasconcelos (2004, p.84). O professor que quer ser efetivamente professor tem de trabalhar com a realidade que tem em sala de aula; não adianta ficar se lamuriando, jogando a culpa aqui e acolá. São estes os alunos que tem e com eles tem que trabalhar; é esta a escola, é esta o país. Este é o ponto de partida. Deve superar as explicações do novo senso comum pedagógico (de cunho pseudopsicológico ou pseudosociológico): “São problemas afetivos” “e problemas de família”, “é problema de carência” “é influência de televisão”, etc. È claro que tudo isso tem a ver com a (in) disciplina em sala de aula, o que demanda a atuação dos educadores de maneira organizada e articulada em todas as frentes. Mas de forma alguma deve servi de álibi para que o educador não assuma sua responsabilidade em sala de aula. Simultaneamente podese e deve-se trabalhar com os pais, com a formação mais geral do aluno, com as contradições da escola, com a influência da sociedade, etc., mas não podemos nos esquivar de um dos focos principais da lutas que é a sala de aula. O professor tem que ser sujeito da história pedagógica de sua classe e de sua escola; não pode ficar 2 sonhando com alunos ideais... O professor, do século XXI, deve funcionar como um facilitador no acesso a informações. Deve funcionar como um bom amigo que assistência o sujeito a avaliar o mundo e seus problemas, seus fatos, suas iniqüidades e suas solidariedades, de forma que o aluno possa caminhar com livre-arbítrio de expressão e, por conseguinte, de ação. Em contrapeso, o aluno deve respeitar o ambiente escolar e valorizar o professor, sabendo aproveitar a magia do momento, o encantamento do aprender-ensinar-aprender. A conversa franca, o limite imposto, a organização pedida e o autocontrole do docente concretizam as relações no ambiente escolar, não demonstrar insegurança e fraqueza diante de seus educandos, pode fazer a diferença. O professor possui autoridade, e não deve usá-la de forma abusiva, deve apresentar suas idéias, conhecimentos e experiências, sem desrespeitar o conhecimento dos alunos, sempre os encorajando à participação, encarando-os como sujeitos conscientes e responsáveis pelo seu próprio processo de aprendizagem. De acordo com Clark (2005, p.157,158). Não me importo que tipo de notas tiveram no passado e não me importa em que tipo de encrenca se meteram antes: este é um novo ano e vamos começar novamente. Podem ter certeza de que, se estiverem dispostos a seguirem as regras e os procedimentos e tentarem fazer o melhor, neste ano todos vocês serão astros. Poderemos ser não somente a melhor turma desta escola como a melhor turma do país. Talvez esse discurso pareça uma grande encenação, mas o fato é que creio honestamente que é possível, e, portanto é possível. Eu acreditaria nisso não importando quais trinta crianças do país encontrasse em minha sala no primeiro dia de aula. É importante que eu transmita essa mensagem de determinada maneira. Por isso, digo essas palavras de total entusiasmo, ando de um lado para o outro, olho nos olhos dos alunos e falo com convicção. Ao passar os olhos pela sala, vejo nos rostos das crianças que elas estão começando a acreditar. Por quê? Simplesmente porque querem acreditar que é verdade. O professor como facilitador da aprendizagem, aberto às novas experiências, procura compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tenta levá-los à auto-realização. A responsabilidade da aprendizagem fica também ligada ao aluno, àquilo que é mais significativo para ele, e deve ser facilitada pelo professor. Portanto, o processo de ensino depende da capacidade individual de cada professor, de sua aceitação, compreensão e do relacionamento com seus alunos. O papel do professor é essencial não como aspecto central, mas como coordenador do seguimento educativo, já que, usando de autoridade democrática, cria, em conjunto com os alunos, espaços pedagógicos importantes, estimulantes e desafiadores, para que neles ocorra a edificação de um conhecimento escolar expressivo. 3 Nos últimos anos, a imagem da sala de aula como ambiente de respeito e disciplina vem sendo confrontada por agressões verbais e físicas. Professores confessam ter dificuldades para lidar com a indisciplina dos alunos e demonstram ter menos controle sobre a sala de aula, reagem de forma agressiva aos atos indisciplinares dos alunos, gerando assim cada vez mais agressividade. De acordo com Clark (2005) “Um bom programa de disciplina nos ajuda a conquistar respeito, mas há algumas crianças que podem não gostar de nós. E cativá-las é bem trabalhoso às vezes”. A falta de interesse está muito grande. Os alunos estão dispersos, não respeitam mais o professor. O que muitos alunos de hoje fazem é desafiar os professores, provocá-los, considerando-se vitoriosos por conseguirem que estes não dêem adequadamente suas aulas. Do ponto de vista de Antunez (2002, p.15,16). De onde provêm, hoje em dia, as dificuldades para se criar este clima? Alguns estão inclinados a pensar que o descontrole intensificou-se (observem-se, por exemplo, as queixas manifestadas diante das normas sobre os direitos dos alunos). Outros, por considerar que os instrumentos de controle tornaram-se ultrapassados. Também podemos considerar que os alunos estão muito afastados da escola e que, na realidade, a indisciplina é uma forma de inconformismo. Obrigados a estar juntos, educadores e alunos também descarregam mutuamente suas agressividades. Descontrole ou revolta? A escola e as famílias estão isentando-se de proporcionar às crianças e aos adolescentes o desenvolvimento de habilidades que propiciem contatos interpessoais, cordiais e de boa convivência. Nesse contexto, fica claro haver um jogo de “empurra” entre a família e a escola, não assumindo ambos seus verdadeiros papéis na educação. ANTIGAMENTE, a instrução dos filhos era dever exclusivo da família. Mas a vida foi se complicando e o conjunto dos conhecimentos e serem adquiridos por uma pessoa também se estendeu indefinidamente. O resultado disto é que a escola tomou, aos poucos, o encargo de instruir as crianças a os adolescentes. Muitos até lhe atribuem à missão de formar-lhes o caráter. Se a importância da escola é tão grande na educação dos nossos filhos, convém aos pais cercar de todo o carinho não somente a escolha do colégio, mas ainda a relação entre a família e o diretor e professores. (WEIL, 1988, p. 61). O que a sociedade, em especial os educadores, desejam é uma disciplina ativa e consciente, marcada pelo respeito, responsabilidade, construção do conhecimento, interação, participação, formação do caráter e da cidadania. E isto começa em casa, com os pais, que têm que construir nas relações cotidianas o saber fazer à criança, eles são os primeiros modelos. A disciplina, como criadora de condições para aprender, não pode cuidar só de condições individuais, deve cuidar também de criar um clima, que ajude as pessoas a aprender. Cada um deve contribuir com o seu modo de ser e estar pronto para ajudar a construir um ambiente escolar estimulante. Conforme advoga BENEVIDES (1994, p.15). 4 “Á educação para a cidadania deve ser entendida como preparo para a participação na vida pública, com dois registros: o político e o social. O registro político significa organização e participação pela base e o registro social significa reconhecer e reivindicar os direitos e a existência, a criação e a consolidação de novos sujeitos políticos, de novos indivíduos ou grupos com a consciência de seus direitos e deveres”. A participação dos pais na escola é importante para a escola e para o filho. Pais e escola devem educar juntos, e não separados, para um bem maior. A criação de um verdadeiro cidadão, construtor de um futuro melhor para as próximas gerações, depende dessa aliança. Outro vilão apontado nessa relação disciplina/indisciplina são os Meios de Comunicação, os aparelhos de televisão, computadores e vídeo games a cada dia estão mais presentes nas famílias, porém a programação e jogos de violência acompanham essa aproximação. Habituadas à TV desde a infância, as novas gerações cresceram em um ambiente muito distinto daquele que cercava as crianças da primeira metade do século. A principal diferença encontra-se na maneira de ocupar o dia: antes da TV, havia mais tempo para o convívio com pais, parentes e amigos, assim como para atividades solitárias como a leitura; hoje, estima-se que as crianças dediquem em média quase a metade do seu período de vigília à televisão. A percepção de que a televisão visa sobre tudo estar a serviço da lógica do mercado, poderia ter como instrumentos de manipulação e manobras políticas. Às vezes trás falsas ilusões as pessoas na ânsia de vender produtos, afinal sobrevivem de propagandas, e esse ínterim causa intervenção de valores na sociedade. Hoje se fala que a televisão é uma escola paralela, a qual, mesmo sem licença para ensinar, tem ocupado o lugar antes destinado à família e a escola. Para Vasconcellos (1994, p.182). Os agentes sociais-igreja, os partidos, a família, a escola, a ciência. -não estão com seus autogovernos definidos, vitimando e desorientado os alunos. Estão em uma crise que merece um enfrentamento e um envolvimento maduro e consciente por parte de todo. Não se trata de descobrir os culpados. As causas da indisciplina estão entrelaçadas com a sociedade, a família, a escola, o professor e o aluno. São problemas familiares, carências, influências da TV, de toda a mídia, o que demanda uma atuação organizada e articulada em todas as frentes. Entretanto, percebemos que a televisão ensina muito, não só a respeito de conteúdos, mas também sobre atitudes e valores. A televisão pode não ser uma concorrente da escola e sim uma parceira, a depender da atuação do educador. Neste contexto, ao lado da sedução praticada pela televisão, a mediação escolar permitiria a educação de telespectadores mais críticos e protagonistas quanto aos conteúdos da programação televisiva. 5 3- A família contribuindo na disciplina escolar A disciplina é um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos professores quanto pelos alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, trata-se de uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos. Costuma-se compreender a indisciplina, no meio educacional, como a manifestação de um individuo ou de um grupo com um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia, intransigência, desacato, traduzida na falta de educação ou de respeito pelas autoridades, na bagunça ou agitação. Como também na incapacidade do aluno em se ajustar às normas e padrões de comportamento esperados. A importância da colaboração da família é notória, pois, quando os familiares participam da vida escolar, torna-se mais fácil à integração dos alunos e melhora as relações professor/aluno no processo de ensino-aprendizagem. Os estudos que evidenciam o envolvimento dos pais estão positivamente correlacionados aos resultados escolares positivos dos educandos, são questões que merecem, por parte de todos os envolvidos, uma reflexão, não só mais profunda, mas também, crítica. É, portanto, necessário refletir sobre os papéis que devem desempenhar nesse processo também a escola e, conseqüentemente, os professores, valorizando a fundamental importância da família na formação e educação de crianças e adolescentes. Em muitos casos a família não tem colaborado, os alunos vêm sem limites de casa. A própria família não sabe o que fazer, as mães colocam os filhos na escola e acham que o problema da educação está resolvido. Hoje, a família não mais acredita em como a escola está lidando com a criança na parte disciplinar. É comum observar uma mãe que é chamada pela escola, que vem brava e desacredita no trabalho da instituição; fala mal da escola, do professor e equipe pedagógica na frente do aluno, que piora muito, ao invés de melhorar, o que era o objetivo da conversa conjunta. Conforme Macedo (1994, p.195, 196). Naturalmente, depois da família, é na escola que as crianças permanecem mais tempo e, dadas suas características e funções, é em geral um importante espaço de avaliação das crianças, cujo comportamento está marcado pelas idiossincrasias familiares. (...) Ao nosso ver não compete apenas a escola a função de educar, mas também à família. E se esta hoje tem a sobre carga da vida moderna (trabalho da mãe além do pai, falta de cuidado substituto para os filhos) é importante lembrar, entretanto, que não é o tempo que se estar junto com os filhos, mas a maneira como se estabelece a relação com eles, o que importa. Se os filhos sabem que podem contar com os pais onde estiverem quando necessário, se os pais têm uma parte de 6 seu tempo diário, e de lazer reservado para dar atenção ou fazer um programa com os filhos, se os limites são estabelecidos com flexibilidade e justeza, sem culpas, ou necessidades compensatórias, pode-se esperar menor probabilidade de problemas. Para isso, muito contribuiu o fato de que, se antigamente, a mulher do lar fazia todo um trabalho paralelo de atendimento complementar à criança na escola: cuidava do uniforme, materiais, lanches, higiene pessoal, etc., o pai não sofria o desgaste cotidiano da autoridade. Ele era poupado. A mãe administrava o cotidiano e fazia a mediação dos conflitos. A desintegração da família nestes dias se faz presente de uma maneira absurda, filhos que não se respeitam, filhos que não respeitam o próximo, pais que vivem com filhos e não os conhecem, pais que alimentam e não educam que trabalham demasiadamente para darem o melhor e acabam não dando o fundamental para a vida emocional dos filhos e, por conseguinte esses fatos estão impressos na face do que hoje chamamos de sociedade. É possível constatar que nem a família, nem a escola têm clareza sobre o que é realmente estabelecer limites. Os limites são o respeito ao ser humano, o respeito a si mesmo e ao outro, traduzido como respeito mútuo, enquanto disciplina seria um conjunto de regras a serem obedecidas por todos. É freqüente a afirmação, por parte de pais, que os alunos de hoje são indisciplinados na escola, devido as suas características pessoais (distúrbios psiquiátricos, neurológicos, deficiência mental, distúrbios de personalidade, neuróticos). Na opinião de Aquino (1998). O aluno-problema é tomado, em geral, como aquele que padece de certos supostos “distúrbios psico/pedagógicos” distúrbios esses que podem ser de natureza cognitiva (os tais “distúrbios de aprendizagem”) ou de natureza comportamental, e nessa ultima categoria enquadra-se um grande conjunto de ações que chamamos usualmente de “indisciplinadas”. Dessa forma a indisciplina e o baixo aproveitamento dos alunos seriam como duas faces de uma moeda, representando dois grandes males na escola contemporânea, geradores do fracasso escolar, e os dois principais obstáculos para o trabalho docente. A harmonia familiar deve atuar como fator de proteção e segurança necessários ao desenvolvimento confortável da criança, contribuindo para uma melhor adaptação emocional ao meio e favorecendo um desenvolvimento sadio de condutas sociais. A questão dos limites tem muito a ver com a disciplina. Alunos que não tem limites tendem a se tornar indisciplinados quando estes são impostos. Numa relação entre pais e filhos, há sempre uma luta pelo poder. Percebemos hoje duas realidades contraditórias nas famílias: ou a ausência de regras, ou a imposição autoritária de normas. Muitas vezes por medo interno de não serem aceitos, os pais acabam não estabelecendo e/ ou não fazendo cumprir os limites, levando a uma relação muito permissiva. Outras vezes sentindo necessidade de fazer alguma coisa, mas não tendo clareza, acabam impondo limites, sem explicar a razão. A superação dessa situação pode se dar pelo diálogo, com afeto e segurança, 7 chegando a limites razoáveis. Assim sendo, têm-se condições de não ceder diante de insistência infantil (“manha”) ou da chantagem emocional. Nunca dizer um não a um filho sem antes dize o porquê.”Por amor a seu filho, fundamente o não que diz a ele”. Algumas vezes a criança pode não entender o que se propõe como algo melhor para ela, mas nem por isso devemos ceder ou deixar de explicar. A razão tem de ser dita, e não simplesmente dizer “Isto é para seu bem”. Assim como já apontamos em relação à escola, não podemos cair no argumento do senso comum: “na vida toda você vai ter regras, então aqui em casa também”; se fizermos isso, estamos apenas preparando os filhos para a adaptação passiva à lógica atual da sociedade, ao invés de desenvolver uma atitude consciente, ou seja, de saber o sentido, de questionar a legitimidade do limite. (VASCONCELLOS, 2004, p.125). Se a criança encontra espaço para exercitar sua indisciplina, ela utiliza seu espaço. Daí a importância dos limites, começando de casa para a escola. De acordo com Clark (2005, p. 144). Para que um plano de disciplina na sala de aula funcione é imprescindível termos o apoio dos pais. O amparo deles e sua confiança no nosso julgamento são fundamentais para que o ano transcorra de forma agradável e livre de discussões. Mas se não desenvolvermos o relacionamento certo, lidar com os pais pode ser um dos piores aspectos da profissão do professor. 4- O papel do psicopedagogo no contexto escolar. Ponderando que a escola responsável por grande parte do conhecimento profissional do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios que reúnem em um todo a família e a escola, a interferência psicopedagógica esta adquirindo espaço nas instituições de ensino. A psicopedagogia surgiu da indispensável necessidade de compreensão do processo de aprendizagem, devido ao enorme número de crianças com perda escolar e ciências como a psicologia e a pedagogia, separadamente, não conseguirem resolver tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de examinar minuciosamente e avaliar qual a real necessidade da instituição escolar em atender aos seus desejos, bem como investigar, junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola comanda o processo ensino-aprendizagem, como garante o bom êxito de seus alunos e como a família exerce o seu papel de companheira nesse processo. À instituição escolar caberia trabalhar com o processo de aprendizagem, desenvolvendo habilidades de raciocínio lógico, solução de problemas, apropriação de conhecimentos vitais ao indivíduo e a coletividade... enfim, preparar o sujeito para o futuro , baseando nos saberes passíveis de adaptação e atualização que as incertezas provocam. Ou seja, trabalhar com o “como pensar” e não o “que pensar”. 8 Através dos estudos realizados baseando-se na psicopedagogia institucional pôdese observar quais os aspectos que, pertencentes ao processo de “ensinagem”, estavam obstacularizando o processo de aprendizagem de muitas crianças. (Frazão, http://www.psicopedagogia.com.br/artigo.asp?entrID=338). Ao Psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar os problemas de aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em suas dificuldades, encaminhandoo, por meio de um relatório, quando necessário, para outros profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. Pain sustenta que (1985, p. 13). Cabe diferenciar dos problemas de aprendizagem aquelas perturbações que se produzem exclusivamente no marco da instituição escolar. Os problemas escolares se manifestam na resistência às normas disciplinares, na má integração no grupo de pares, na desqualificação do professor, na inibição mental ou expressiva., etc., e geralmente aparecem como formações reativas diante de uma enlutada e mal elaborada transição do grupo familiar ao grupo social. Em tais casos a orientação se inclina por um tratamento psicoterapêutico grupal com apoio pedagógico a fim de evitar o iminente fracasso escolar. O olhar psicopedagógico tem que buscar as respostas para então propor, investigar, indagar: Por que este indivíduo não aprende? Ou por que ele não está conseguindo fazer uso das suas propriedades em toda sua extensão? Ou o que está impossibilitando-o de progredir? Não são respostas simples de serem defrontadas, todavia pode ser possível encontrálas. Quando se observa a queixa apresentada, pelos responsáveis ou pelo professor, para o auxílio psicopedagógico com uma visão de Psicopedagogo, iniciando o porquê de o sujeito não aprender algumas coisas, mas o quê ele pode aprender e como, com o processo diagnóstico na busca do conhecimento anterior, visando o presente com olhar no futuro. A isso chamamos de visão psicopedagógica. 5- Refletindo sobre a atividade do psicopedagogo Visando elucidar a importância deste profissional para a instituição escolar, optou-se por apresentar uma das atividades realizadas pelo psicopedagogo em uma escola pública do interior do estado de Rondônia. IDENTIFICAÇÃO NOME: F.J.A. 9 IDADE: 10 anos SÉRIE: 2ª ano do Ensino Fundamental QUEIXA PRINCIPAL: Aluna não tem bom relacionamento com os colegas, apresenta dificuldade na leitura, escrita, cálculo e raciocínio lógico matemático com freqüência. ASPECTOS AFETIVOS: É retraído, isola-se, chora durante as brincadeiras. ASPECTOS PSICOMOTORES: Na realização das atividades, comprometimento na coordenação motora fina, apresenta dificuldade em escrever letras cursivas, devido o traçado das letras, não consegue escrever em linha horizontal, dessa forma não concluir as atividades. ASPECTOS PEDAGÓGICOS: Ao iniciar uma leitura, aluno reclama que a cabeça dói, os olhos ficam vermelhos e lacrimejantes. Na tentativa da leitura confunde as letras como M e N, P e B, ficando irritado por não conseguir realizar e interpretar a palavra escrita. Aluno encontra-se silábico com valor sonoro. ASPECTOS ORGÂNICOS: Sem comprometimento. NÚMEROS DE ENCONTROS: 09 encontros; 03 encontros para anamnese, 02 para ficha de queixa e 04 para atividades com aluno. DESENVOLVIMENTOS: Durante as avaliações, o aluno demonstrou interesse em aprender e efetuar as atividades propostas. ENCAMINHAMENTOS: Recomenda-se que a família encaminhe a criança para um oftalmologista, continue com as sessões psicopedagogicas, concomitante com as aulas de reforço, visando minimizar as lacunas existentes em sua aprendizagem que causam-lhe insegurança e baixa auto-estima. CONSIDERAÇÕES DO PSICOPEDAGOGO Durante o atendimento a mãe mostrou bastante preocupada com o filho, porém estava sempre informando que não tinha dinheiro e tempo para levá-lo aos profissionais 10 recomendados, que o padrasto achava que a criança não tinha nada, estava só querendo chamar a atenção e que não aprendia por que a professora não ensinava de maneira correta. Neste momento a mãe começou a chorar dizendo que o marido não se preocupava com a filha e que isso a deixava muito triste. Salientando que no que se foi observado é que a mãe queria que o marido participasse da educação de sua filha, o que não acontecia. A mãe foi informada dos possíveis caminhos que poderiam auxiliá-la nesta tarefa, bem como o acompanhamento da psicopedagoga e demais profissionais sem nenhum custo financeiro. Destaca-se que a intervenção foi de forma paliativa. (Doc. do Setor de Psicopedagogia da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer). Auxiliando na identificação e na resolução dos problemas no processo de aprender, o psicopedagogo está capacitado a lidar com as mais diversas dificuldades de aprendizagem, um dos fatores atuais que leva uma boa parcela de alunos à multirrepetência, ao fracasso escolar e, conseqüentemente, à evasão. O fracasso escolar pode ocasionar problemas sociais, que também perpassam por esta trajetória de marginalização e exclusão social. A identificação dos problemas de aprendizagem necessita de um novo olhar a partir das organizações educadoras. O profissional da psicopedagogia detém de dados científicos particulares oriundos da articulação de várias áreas envolvidas nos processos e caminhos do aprender. Cabe a ele intervir, visando à solução dos problemas de aprendizagem e tendo como foco o aluno ou a organização educadora. 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Colaborar com as escolas para a melhoria da qualidade de ensino e dos processos e fatores educativos que neles ocorrem, foi objetivo desta pesquisa de campo, enfocando a Psicopedagogia Institucional. A violência protagonizada pelos jovens nas escolas é uma realidade inegável. A sociedade terá que se organizar e insurgir-se contra este fenômeno. De igual modo, a escola terá que ajustar os seus conteúdos programáticos e acercar-se mais às crianças. Devido às exigências, as famílias muitas vezes destituem-se da sua função 11 educativa, delegando-a a escola, dado que é no contexto educativo que as crianças passam boa parte do dia. Todavia, nenhuma outra instituição poderá jamais substituir as condições educativas da família, nem parece ser razoável que seja unicamente a escola a ensinar valores tão necessários para o normal desenvolvimento da criança tais como: a democracia, as regras para a sã convivência, o respeito pelo outro, a solidariedade, a tolerância, o esforço pessoal, etc. No meio de toda esta confusão, estão as crianças, que, atuam conforme aquilo que observam e agem consoante os estímulos do meio. Meio esse que por vezes oferece modelos de conduta e referências positivas questionáveis. Assuntos como indisciplina e violência, infelizmente ainda não constam no currículo de formação dos professores. Hoje não basta ao professor dominar os conteúdos. Os profissionais do ensino devem estar preparados tanto para despertar nos alunos o interesse pelo saber como lidar com a indisciplina e eventuais casos de violências físicas e psicológicas produzidas na escola. À escola não se pode pedir que além de ensinar os conteúdos programáticos exigidos pelo Ministério da Educação, tenha também que ter a função educativa que compete aos pais. No meio de tudo isto, a verdade é que a indisciplina continua a existir e a registra-se cada vez mais. A escola não pode ignorar que os conflitos e problemas sociais existem, e por isso tem vindo a adaptar-se como pode. E é precisamente na escola que as crianças imitem comportamentos que diariamente são observados, em alguns casos, onde proliferam os maus tratos físicos e psicológicos, onde as privações, a promiscuidade, a baixa escolarização, a pobreza andam de mãos dadas. Neste campo, urge uma intervenção conjunta realmente eficaz, fornecendo à população em risco modelos de conduta adequados ao desenvolvimento afetivo, intelectual e moral de todos os implicados. Nós, sociedade democrática, somos responsáveis pelas conseqüências educativas das nossas ações. Terá que haver um esforço financeiro governamental, não só econômico, mas também em nível de recursos humanos para que programas e ações de combate à violência e exclusão social sejam realmente concretizados e obtenham bons resultados. Não podemos deixar que as crianças se transformem em futuros marginais, só porque não tiveram referências positivas na infância e porque diversas entidades educativas se foram esquecendo que essas crianças também necessitam de carinho, de afeto, que também são seres humanos como todas as outras crianças. Ficou evidente no trabalho a necessidade dos profissionais encarregados da área educacional manter-se atualizados e preparados para atender as demandas da sociedade, 12 deixando de ser simples depositários do saber para tornarem-se pontes, responsáveis pela formação de cidadãos críticos e conscientes. O acompanhamento psicopedagógico é importante porque que auxilia no trabalho, atuando diretamente sobre a dificuldade escolar apresentada pela criança, suprindo a defasagem, reforçando o conteúdo, possibilitando condições para que novas aprendizagens ocorram, investindo na questão do não-aprender em algumas crianças. Consciente de que este trabalho é insuficiente na abordagem desta temática, pois muito mais haveria a dizer, dado que o fenômeno da indisciplina é muito amplo e surge em variado contexto, resta então cogitar que toda a sociedade se deveria mobilizar para proteger os cidadãos de amanhã, para que não tenham um futuro sombrio, enredado em sofrimentos, privações e sem projetos de vida. A escola pode e deve mudar o contexto social, consciente que por suas mãos passam vidas, dessa forma, estará com certeza construindo um futuro melhor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANTUNEZ, Serafin. Disciplina e convivência na instituição escolar/ Serafin Antunez... [et al.]; trad. 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