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INDISCIPLINA NA VISÃO PSICOPEDAGÓGICA¹
Clebea Lima de Almeida²
“Não é possível refazer este país, democratiza-lo,
humaniza-lo, torna-lo sério, com adolescentes
brincando de matar gente, oferecendo a vida,
destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a
Educação sozinha não transforma a sociedade, sem
ela tampouco a sociedade muda”.
Paulo Freire
RESUMO: Este artigo apresenta uma reflexão teórica a respeito da indisciplina como desvio
das normas propagadas nos sistemas escolares na educação das séries iniciais. O foco central
é mostrar os motivos de indisciplinas na instituição escolar e o aluno na sua dimensão
humana. Baseado em uma reflexão sobre diferentes sentidos da indisciplina, sujeitos e
inserção escolar do referencial teórico, aponta-se a indisciplina como uma atitude de
desrespeito, de intolerância e não cumprimento de regras capazes de orientar a convivência de
um grupo.
Palavras-chave: Indisciplina, Psicopedagogia, Família, Aprendizagem.
ABSTRACT:
This article it presents one reflection theory the respect of the indiscipline
as deviation of norms propagated in to school systems in the education of the initial series.
The central focus it is to show the reasons of indisciplines in the pertaining to school
institution and the student in the dimension human being. Based in one reflection on different
felt of indiscipline, subjects and school insert of the theoretical reference, it is pointed the
indiscipline as an attitude of disrespect, of intolerance and not fulfilment of rules capable to
guide the to coexistence of one group.
Keywords: Indiscipline, Psicopedagogy, Family, Learning.
¹Artigo Científico elaborado para obtenção do título de especialista em Psicopedagogia Institucional oferecido
pela FAP, Faculdade de Pimenta Bueno, orientado por Silvia Andrade Cardozo, Graduada em Pedagogia pela
UNIR, Universidade Federal de Rondônia, 2001, Pós Graduada em Alfabetização pela UNIR, Professora
substituta da UNIR, Campos de Rolim de Moura, Tutora de sala do Curso de Pedagogia da UNOPAR,
Universidade do Norte do Paraná, pólo de Rolim de Moura.
²Graduada em Pedagogia pela UNOPAR, 2008, especialista em Psicopedagogia pela FAP, Faculdade de Pimenta
Bueno, professora Classe ‘A’ pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, lotada na
Semecel como Coordenadora Pedagógica, Coordenadora Técnica Pedagógica da UNOPAR, Pólo de Rolim de
Moura.
1 INTRODUÇÃO
Refletir sobre indisciplina é retratar um fenômeno complexo, multifacetado e que
não encontra sentido único. Esta questão vem se tornando um desafio para professores e
gestores educacionais desde a educação infantil até o nível superior.
A violência nas escolas não é um fenômeno novo. Todavia tem vindo a assumir
grandes proporções e uma gama de indecisões sobre quais medidas tomar para sanar este
problema.
Ao longo deste artigo será alvo de reflexão o papel da família na educação, o
fenômeno da violência e como o trabalho do Psicopedagogo Institucional situa-se no processo
e diagnóstico da dificuldade.
Em suma, procurou-se aprofundar os conhecimentos em torno desta temática, com o
intuito ávido de conhecer como a escola, a família e a sociedade se organizam na gestão desta
problemática tão grave nos dias de hoje.
É preocupante o desperdício de tempo aplicado à questão da indisciplina, este
agravante é visto como resultado da falta de limites que hoje acontece na maioria das escolas,
o que trás a tona reflexão sobre como manter a ordem na sala de aula e no ambiente escolar.
2- Desafios da disciplina no ambiente escolar
O professor é um elemento fundamental no processo ensino aprendizagem, mas estas
relações são permeadas de outras situações, em que posições antagônicas sobre as
dificuldades exigentes no ambiente escolar se confrontam, neste contexto apresentam-se
discursos distintos: carência afetiva, influência da mídia, conforme afirma Vasconcelos (2004,
p.84).
O professor que quer ser efetivamente professor tem de trabalhar com a realidade
que tem em sala de aula; não adianta ficar se lamuriando, jogando a culpa aqui e
acolá. São estes os alunos que tem e com eles tem que trabalhar; é esta a escola, é
esta o país. Este é o ponto de partida. Deve superar as explicações do novo senso
comum pedagógico (de cunho pseudopsicológico ou pseudosociológico): “São
problemas afetivos” “e problemas de família”, “é problema de carência” “é
influência de televisão”, etc. È claro que tudo isso tem a ver com a (in) disciplina em
sala de aula, o que demanda a atuação dos educadores de maneira organizada e
articulada em todas as frentes. Mas de forma alguma deve servi de álibi para que o
educador não assuma sua responsabilidade em sala de aula. Simultaneamente podese e deve-se trabalhar com os pais, com a formação mais geral do aluno, com as
contradições da escola, com a influência da sociedade, etc., mas não podemos nos
esquivar de um dos focos principais da lutas que é a sala de aula. O professor tem
que ser sujeito da história pedagógica de sua classe e de sua escola; não pode ficar
2
sonhando com alunos ideais...
O professor, do século XXI, deve funcionar como um facilitador no acesso a
informações. Deve funcionar como um bom amigo que assistência o sujeito a avaliar o mundo
e seus problemas, seus fatos, suas iniqüidades e suas solidariedades, de forma que o aluno
possa caminhar com livre-arbítrio de expressão e, por conseguinte, de ação. Em contrapeso, o
aluno deve respeitar o ambiente escolar e valorizar o professor, sabendo aproveitar a magia do
momento, o encantamento do aprender-ensinar-aprender.
A conversa franca, o limite imposto, a organização pedida e o autocontrole
do docente concretizam as relações no ambiente escolar, não demonstrar insegurança e
fraqueza diante de seus educandos, pode fazer a diferença.
O professor possui autoridade, e não deve usá-la de forma abusiva, deve
apresentar suas idéias, conhecimentos e experiências, sem desrespeitar o conhecimento dos
alunos, sempre os encorajando à participação, encarando-os como sujeitos conscientes e
responsáveis pelo seu próprio processo de aprendizagem. De acordo com Clark (2005,
p.157,158).
Não me importo que tipo de notas tiveram no passado e não me importa em que tipo
de encrenca se meteram antes: este é um novo ano e vamos começar novamente.
Podem ter certeza de que, se estiverem dispostos a seguirem as regras e os
procedimentos e tentarem fazer o melhor, neste ano todos vocês serão astros.
Poderemos ser não somente a melhor turma desta escola como a melhor turma do
país. Talvez esse discurso pareça uma grande encenação, mas o fato é que creio
honestamente que é possível, e, portanto é possível. Eu acreditaria nisso não
importando quais trinta crianças do país encontrasse em minha sala no primeiro dia
de aula.
É importante que eu transmita essa mensagem de determinada maneira. Por isso,
digo essas palavras de total entusiasmo, ando de um lado para o outro, olho nos
olhos dos alunos e falo com convicção. Ao passar os olhos pela sala, vejo nos rostos
das crianças que elas estão começando a acreditar. Por quê? Simplesmente porque
querem acreditar que é verdade.
O professor como facilitador da aprendizagem, aberto às novas experiências, procura
compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e
tenta levá-los à auto-realização. A responsabilidade da aprendizagem fica também ligada ao
aluno, àquilo que é mais significativo para ele, e deve ser facilitada pelo professor. Portanto, o
processo de ensino depende da capacidade individual de cada professor, de sua aceitação,
compreensão e do relacionamento com seus alunos.
O papel do professor é essencial não como aspecto central, mas como coordenador
do seguimento educativo, já que, usando de autoridade democrática, cria, em conjunto com os
alunos, espaços pedagógicos importantes, estimulantes e desafiadores, para que neles ocorra a
edificação de um conhecimento escolar expressivo.
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Nos últimos anos, a imagem da sala de aula como ambiente de respeito e disciplina
vem sendo confrontada por agressões verbais e físicas. Professores confessam ter dificuldades
para lidar com a indisciplina dos alunos e demonstram ter menos controle sobre a sala de aula,
reagem de forma agressiva aos atos indisciplinares dos alunos, gerando assim cada vez mais
agressividade. De acordo com Clark (2005) “Um bom programa de disciplina nos ajuda a
conquistar respeito, mas há algumas crianças que podem não gostar de nós. E cativá-las é bem
trabalhoso às vezes”.
A falta de interesse está muito grande. Os alunos estão dispersos, não respeitam mais
o professor. O que muitos alunos de hoje fazem é desafiar os professores, provocá-los,
considerando-se vitoriosos por conseguirem que estes não dêem adequadamente suas aulas.
Do ponto de vista de Antunez (2002, p.15,16).
De onde provêm, hoje em dia, as dificuldades para se criar este clima? Alguns estão
inclinados a pensar que o descontrole intensificou-se (observem-se, por exemplo, as
queixas manifestadas diante das normas sobre os direitos dos alunos). Outros, por
considerar que os instrumentos de controle tornaram-se ultrapassados. Também
podemos considerar que os alunos estão muito afastados da escola e que, na
realidade, a indisciplina é uma forma de inconformismo. Obrigados a estar juntos,
educadores e alunos também descarregam mutuamente suas agressividades.
Descontrole ou revolta?
A escola e as famílias estão isentando-se de proporcionar às crianças e aos
adolescentes o desenvolvimento de habilidades que propiciem contatos interpessoais, cordiais
e de boa convivência. Nesse contexto, fica claro haver um jogo de “empurra” entre a família
e a escola, não assumindo ambos seus verdadeiros papéis na educação.
ANTIGAMENTE, a instrução dos filhos era dever exclusivo da família. Mas a vida
foi se complicando e o conjunto dos conhecimentos e serem adquiridos por uma
pessoa também se estendeu indefinidamente. O resultado disto é que a escola tomou,
aos poucos, o encargo de instruir as crianças a os adolescentes. Muitos até lhe
atribuem à missão de formar-lhes o caráter.
Se a importância da escola é tão grande na educação dos nossos filhos, convém aos
pais cercar de todo o carinho não somente a escolha do colégio, mas ainda a relação
entre a família e o diretor e professores. (WEIL, 1988, p. 61).
O que a sociedade, em especial os educadores, desejam é uma disciplina ativa e
consciente, marcada pelo respeito, responsabilidade, construção do conhecimento, interação,
participação, formação do caráter e da cidadania. E isto começa em casa, com os pais, que
têm que construir nas relações cotidianas o saber fazer à criança, eles são os primeiros
modelos.
A disciplina, como criadora de condições para aprender, não pode cuidar só de condições
individuais, deve cuidar também de criar um clima, que ajude as pessoas a aprender. Cada um deve
contribuir com o seu modo de ser e estar pronto para ajudar a construir um ambiente escolar
estimulante. Conforme advoga BENEVIDES (1994, p.15).
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“Á educação para a cidadania deve ser entendida como preparo para a participação
na vida pública, com dois registros: o político e o social. O registro político significa
organização e participação pela base e o registro social significa reconhecer e
reivindicar os direitos e a existência, a criação e a consolidação de novos sujeitos
políticos, de novos indivíduos ou grupos com a consciência de seus direitos e
deveres”.
A participação dos pais na escola é importante para a escola e para o filho. Pais e
escola devem educar juntos, e não separados, para um bem maior. A criação de um verdadeiro
cidadão, construtor de um futuro melhor para as próximas gerações, depende dessa aliança.
Outro vilão apontado nessa relação disciplina/indisciplina são os Meios de
Comunicação, os aparelhos de televisão, computadores e vídeo games a cada dia estão mais
presentes nas famílias, porém a programação e jogos de violência acompanham essa
aproximação.
Habituadas à TV desde a infância, as novas gerações cresceram em um ambiente
muito distinto daquele que cercava as crianças da primeira metade do século. A principal
diferença encontra-se na maneira de ocupar o dia: antes da TV, havia mais tempo para o
convívio com pais, parentes e amigos, assim como para atividades solitárias como a leitura;
hoje, estima-se que as crianças dediquem em média quase a metade do seu período de vigília
à televisão.
A percepção de que a televisão visa sobre tudo estar a serviço da lógica do mercado,
poderia ter como instrumentos de manipulação e manobras políticas. Às vezes trás falsas
ilusões as pessoas na ânsia de vender produtos, afinal sobrevivem de propagandas, e esse
ínterim causa intervenção de valores na sociedade. Hoje se fala que a televisão é uma escola
paralela, a qual, mesmo sem licença para ensinar, tem ocupado o lugar antes destinado à
família e a escola. Para Vasconcellos (1994, p.182).
Os agentes sociais-igreja, os partidos, a família, a escola, a ciência. -não estão com
seus autogovernos definidos, vitimando e desorientado os alunos. Estão em uma
crise que merece um enfrentamento e um envolvimento maduro e consciente por
parte de todo. Não se trata de descobrir os culpados. As causas da indisciplina estão
entrelaçadas com a sociedade, a família, a escola, o professor e o aluno. São
problemas familiares, carências, influências da TV, de toda a mídia, o que demanda
uma atuação organizada e articulada em todas as frentes.
Entretanto, percebemos que a televisão ensina muito, não só a respeito de conteúdos,
mas também sobre atitudes e valores. A televisão pode não ser uma concorrente da escola e
sim uma parceira, a depender da atuação do educador. Neste contexto, ao lado da sedução
praticada pela televisão, a mediação escolar permitiria a educação de telespectadores mais
críticos e protagonistas quanto aos conteúdos da programação televisiva.
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3- A família contribuindo na disciplina escolar
A disciplina é um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos
professores quanto pelos alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, trata-se
de uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos.
Costuma-se compreender a indisciplina, no meio educacional, como a manifestação
de um individuo ou de um grupo com um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia,
intransigência, desacato, traduzida na falta de educação ou de respeito pelas autoridades, na
bagunça ou agitação. Como também na incapacidade do aluno em se ajustar às normas e
padrões de comportamento esperados.
A importância da colaboração da família é notória, pois, quando os familiares
participam da vida escolar, torna-se mais fácil à integração dos alunos e melhora as relações
professor/aluno no processo de ensino-aprendizagem. Os estudos que evidenciam o
envolvimento dos pais estão positivamente correlacionados aos resultados escolares positivos
dos educandos, são questões que merecem, por parte de todos os envolvidos, uma reflexão,
não só mais profunda, mas também, crítica. É, portanto, necessário refletir sobre os papéis que
devem desempenhar nesse processo também a escola e, conseqüentemente, os professores,
valorizando a fundamental importância da família na formação e educação de crianças e
adolescentes.
Em muitos casos a família não tem colaborado, os alunos vêm sem limites de casa. A
própria família não sabe o que fazer, as mães colocam os filhos na escola e acham que o
problema da educação está resolvido.
Hoje, a família não mais acredita em como a escola está lidando com a criança na
parte disciplinar. É comum observar uma mãe que é chamada pela escola, que vem brava e
desacredita no trabalho da instituição; fala mal da escola, do professor e equipe pedagógica na
frente do aluno, que piora muito, ao invés de melhorar, o que era o objetivo da conversa
conjunta. Conforme Macedo (1994, p.195, 196).
Naturalmente, depois da família, é na escola que as crianças permanecem mais
tempo e, dadas suas características e funções, é em geral um importante espaço de
avaliação das crianças, cujo comportamento está marcado pelas idiossincrasias
familiares. (...) Ao nosso ver não compete apenas a escola a função de educar, mas
também à família. E se esta hoje tem a sobre carga da vida moderna (trabalho da
mãe além do pai, falta de cuidado substituto para os filhos) é importante lembrar,
entretanto, que não é o tempo que se estar junto com os filhos, mas a maneira como
se estabelece a relação com eles, o que importa. Se os filhos sabem que podem
contar com os pais onde estiverem quando necessário, se os pais têm uma parte de
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seu tempo diário, e de lazer reservado para dar atenção ou fazer um programa com
os filhos, se os limites são estabelecidos com flexibilidade e justeza, sem culpas, ou
necessidades compensatórias, pode-se esperar menor probabilidade de problemas.
Para isso, muito contribuiu o fato de que, se antigamente, a mulher do lar fazia todo
um trabalho paralelo de atendimento complementar à criança na escola: cuidava do uniforme,
materiais, lanches, higiene pessoal, etc., o pai não sofria o desgaste cotidiano da autoridade.
Ele era poupado. A mãe administrava o cotidiano e fazia a mediação dos conflitos.
A desintegração da família nestes dias se faz presente de uma maneira absurda, filhos
que não se respeitam, filhos que não respeitam o próximo, pais que vivem com filhos e não os
conhecem, pais que alimentam e não educam que trabalham demasiadamente para darem o
melhor e acabam não dando o fundamental para a vida emocional dos filhos e, por
conseguinte esses fatos estão impressos na face do que hoje chamamos de sociedade.
É possível constatar que nem a família, nem a escola têm clareza sobre o que é
realmente estabelecer limites. Os limites são o respeito ao ser humano, o respeito a si mesmo
e ao outro, traduzido como respeito mútuo, enquanto disciplina seria um conjunto de regras a
serem obedecidas por todos.
É freqüente a afirmação, por parte de pais, que os alunos de hoje são indisciplinados
na escola, devido as suas características pessoais (distúrbios psiquiátricos, neurológicos,
deficiência mental, distúrbios de personalidade, neuróticos). Na opinião de Aquino (1998).
O aluno-problema é tomado, em geral, como aquele que padece de certos supostos
“distúrbios psico/pedagógicos” distúrbios esses que podem ser de natureza cognitiva
(os tais “distúrbios de aprendizagem”) ou de natureza comportamental, e nessa
ultima categoria enquadra-se um grande conjunto de ações que chamamos
usualmente de “indisciplinadas”. Dessa forma a indisciplina e o baixo
aproveitamento dos alunos seriam como duas faces de uma moeda, representando
dois grandes males na escola contemporânea, geradores do fracasso escolar, e os
dois principais obstáculos para o trabalho docente.
A harmonia familiar deve atuar como fator de proteção e segurança necessários ao
desenvolvimento confortável da criança, contribuindo para uma melhor adaptação emocional
ao meio e favorecendo um desenvolvimento sadio de condutas sociais.
A questão dos limites tem muito a ver com a disciplina. Alunos que não tem limites
tendem a se tornar indisciplinados quando estes são impostos. Numa relação entre pais e
filhos, há sempre uma luta pelo poder.
Percebemos hoje duas realidades contraditórias nas famílias: ou a ausência de
regras, ou a imposição autoritária de normas. Muitas vezes por medo interno de não
serem aceitos, os pais acabam não estabelecendo e/ ou não fazendo cumprir os
limites, levando a uma relação muito permissiva. Outras vezes sentindo necessidade
de fazer alguma coisa, mas não tendo clareza, acabam impondo limites, sem explicar
a razão. A superação dessa situação pode se dar pelo diálogo, com afeto e segurança,
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chegando a limites razoáveis. Assim sendo, têm-se condições de não ceder diante de
insistência infantil (“manha”) ou da chantagem emocional.
Nunca dizer um não a um filho sem antes dize o porquê.”Por amor a seu filho,
fundamente o não que diz a ele”. Algumas vezes a criança pode não entender o que
se propõe como algo melhor para ela, mas nem por isso devemos ceder ou deixar de
explicar. A razão tem de ser dita, e não simplesmente dizer “Isto é para seu bem”.
Assim como já apontamos em relação à escola, não podemos cair no argumento do
senso comum: “na vida toda você vai ter regras, então aqui em casa também”; se
fizermos isso, estamos apenas preparando os filhos para a adaptação passiva à lógica
atual da sociedade, ao invés de desenvolver uma atitude consciente, ou seja, de saber
o sentido, de questionar a legitimidade do limite. (VASCONCELLOS, 2004, p.125).
Se a criança encontra espaço para exercitar sua indisciplina, ela utiliza seu espaço.
Daí a importância dos limites, começando de casa para a escola. De acordo com Clark (2005, p.
144).
Para que um plano de disciplina na sala de aula funcione é imprescindível termos o
apoio dos pais. O amparo deles e sua confiança no nosso julgamento são
fundamentais para que o ano transcorra de forma agradável e livre de discussões.
Mas se não desenvolvermos o relacionamento certo, lidar com os pais pode ser um
dos piores aspectos da profissão do professor.
4- O papel do psicopedagogo no contexto escolar.
Ponderando que a escola responsável por grande parte do conhecimento profissional
do ser humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo
no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com
esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de
aprendizagem e de outros desafios que reúnem em um todo a família e a escola, a
interferência psicopedagógica esta adquirindo espaço nas instituições de ensino.
A psicopedagogia surgiu da indispensável necessidade de compreensão do processo
de aprendizagem, devido ao enorme número de crianças com perda escolar e ciências como a
psicologia e a pedagogia, separadamente, não conseguirem resolver tais fracassos. O
Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de examinar minuciosamente e avaliar qual a real
necessidade da instituição escolar em atender aos seus desejos, bem como investigar, junto ao
Projeto Político-Pedagógico, como a escola comanda o processo ensino-aprendizagem, como
garante o bom êxito de seus alunos e como a família exerce o seu papel de companheira nesse
processo.
À instituição escolar caberia trabalhar com o processo de aprendizagem,
desenvolvendo habilidades de raciocínio lógico, solução de problemas, apropriação
de conhecimentos vitais ao indivíduo e a coletividade... enfim, preparar o sujeito
para o futuro , baseando nos saberes passíveis de adaptação e atualização que as
incertezas provocam. Ou seja, trabalhar com o “como pensar” e não o “que pensar”.
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Através dos estudos realizados baseando-se na psicopedagogia institucional pôdese observar quais os aspectos que, pertencentes ao processo de “ensinagem”,
estavam obstacularizando o processo de aprendizagem de muitas crianças.
(Frazão, http://www.psicopedagogia.com.br/artigo.asp?entrID=338).
Ao Psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar os problemas de aprendizagem,
buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em suas dificuldades, encaminhandoo, por meio de um relatório, quando necessário, para outros profissionais - psicólogo,
fonoaudiólogo, neurologista, etc. Pain sustenta que (1985, p. 13).
Cabe diferenciar dos problemas de aprendizagem aquelas perturbações que se
produzem exclusivamente no marco da instituição escolar. Os problemas escolares
se manifestam na resistência às normas disciplinares, na má integração no grupo de
pares, na desqualificação do professor, na inibição mental ou expressiva., etc., e
geralmente aparecem como formações reativas diante de uma enlutada e mal
elaborada transição do grupo familiar ao grupo social. Em tais casos a orientação se
inclina por um tratamento psicoterapêutico grupal com apoio pedagógico a fim de
evitar o iminente fracasso escolar.
O olhar psicopedagógico tem que buscar as respostas para então propor, investigar,
indagar: Por que este indivíduo não aprende? Ou por que ele não está conseguindo fazer uso
das suas propriedades em toda sua extensão? Ou o que está impossibilitando-o de progredir?
Não são respostas simples de serem defrontadas, todavia pode ser possível encontrálas. Quando se observa a queixa apresentada, pelos responsáveis ou pelo professor, para o
auxílio psicopedagógico com uma visão de Psicopedagogo, iniciando o porquê de o sujeito
não aprender algumas coisas, mas o quê ele pode aprender e como, com o processo
diagnóstico na busca do conhecimento anterior, visando o presente com olhar no futuro. A
isso chamamos de visão psicopedagógica.
5- Refletindo sobre a atividade do psicopedagogo
Visando elucidar a importância deste profissional para a instituição escolar, optou-se
por apresentar uma das atividades realizadas pelo psicopedagogo em uma escola pública do
interior do estado de Rondônia.
IDENTIFICAÇÃO
NOME: F.J.A.
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IDADE: 10 anos
SÉRIE: 2ª ano do Ensino Fundamental
QUEIXA PRINCIPAL: Aluna não tem bom relacionamento com os colegas, apresenta
dificuldade na leitura, escrita, cálculo e raciocínio lógico matemático com freqüência.
ASPECTOS AFETIVOS: É retraído, isola-se, chora durante as brincadeiras.
ASPECTOS PSICOMOTORES: Na realização das atividades, comprometimento na
coordenação motora fina, apresenta dificuldade em escrever letras cursivas, devido o traçado
das letras, não consegue escrever em linha horizontal, dessa forma não concluir as atividades.
ASPECTOS PEDAGÓGICOS: Ao iniciar uma leitura, aluno reclama que a cabeça dói, os
olhos ficam vermelhos e lacrimejantes. Na tentativa da leitura confunde as letras como M e
N, P e B, ficando irritado por não conseguir realizar e interpretar a palavra escrita. Aluno
encontra-se silábico com valor sonoro.
ASPECTOS ORGÂNICOS: Sem comprometimento.
NÚMEROS DE ENCONTROS: 09 encontros; 03 encontros para anamnese, 02 para ficha de
queixa e 04 para atividades com aluno.
DESENVOLVIMENTOS: Durante as avaliações, o aluno demonstrou interesse em aprender
e efetuar as atividades propostas.
ENCAMINHAMENTOS: Recomenda-se que a família encaminhe a criança para um
oftalmologista, continue com as sessões psicopedagogicas, concomitante com as aulas de
reforço, visando minimizar as lacunas existentes em sua aprendizagem que causam-lhe
insegurança e baixa auto-estima.
CONSIDERAÇÕES DO PSICOPEDAGOGO
Durante o atendimento a mãe mostrou bastante preocupada com o filho, porém
estava sempre informando que não tinha dinheiro e tempo para levá-lo aos profissionais
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recomendados, que o padrasto achava que a criança não tinha nada, estava só querendo
chamar a atenção e que não aprendia por que a professora não ensinava de maneira correta.
Neste momento a mãe começou a chorar dizendo que o marido não se preocupava com a
filha e que isso a deixava muito triste. Salientando que no que se foi observado é que a mãe
queria que o marido participasse da educação de sua filha, o que não acontecia.
A mãe foi informada dos possíveis caminhos que poderiam auxiliá-la nesta tarefa,
bem como o acompanhamento da psicopedagoga e demais profissionais sem nenhum custo
financeiro. Destaca-se que a intervenção foi de forma paliativa. (Doc. do Setor de
Psicopedagogia da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer).
Auxiliando na identificação e na resolução dos problemas no processo de aprender, o
psicopedagogo está capacitado a lidar com as mais diversas dificuldades de aprendizagem, um
dos fatores atuais que leva uma boa parcela de alunos à multirrepetência, ao fracasso escolar
e, conseqüentemente, à evasão.
O fracasso escolar pode ocasionar problemas sociais, que também perpassam por
esta trajetória de marginalização e exclusão social. A identificação dos problemas de
aprendizagem necessita de um novo olhar a partir das organizações educadoras.
O profissional da psicopedagogia detém de dados científicos particulares oriundos da
articulação de várias áreas envolvidas nos processos e caminhos do aprender. Cabe a ele
intervir, visando à solução dos problemas de aprendizagem e tendo como foco o aluno ou a
organização educadora.
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Colaborar com as escolas para a melhoria da qualidade de ensino e dos processos e
fatores educativos que neles ocorrem, foi objetivo desta pesquisa de campo, enfocando a
Psicopedagogia Institucional. A violência protagonizada pelos jovens nas escolas é uma
realidade inegável. A sociedade terá que se organizar e insurgir-se contra este fenômeno. De
igual modo, a escola terá que ajustar os seus conteúdos programáticos e acercar-se mais às
crianças. Devido às exigências, as famílias muitas vezes destituem-se da sua função
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educativa, delegando-a a escola, dado que é no contexto educativo que as crianças passam boa
parte do dia.
Todavia, nenhuma outra instituição poderá jamais substituir as condições educativas
da família, nem parece ser razoável que seja unicamente a escola a ensinar valores tão
necessários para o normal desenvolvimento da criança tais como: a democracia, as regras para
a sã convivência, o respeito pelo outro, a solidariedade, a tolerância, o esforço pessoal, etc. No
meio de toda esta confusão, estão as crianças, que, atuam conforme aquilo que observam e
agem consoante os estímulos do meio. Meio esse que por vezes oferece modelos de conduta e
referências positivas questionáveis.
Assuntos como indisciplina e violência, infelizmente ainda não constam no currículo
de formação dos professores. Hoje não basta ao professor dominar os conteúdos. Os
profissionais do ensino devem estar preparados tanto para despertar nos alunos o interesse
pelo saber como lidar com a indisciplina e eventuais casos de violências físicas e psicológicas
produzidas na escola. À escola não se pode pedir que além de ensinar os conteúdos
programáticos exigidos pelo Ministério da Educação, tenha também que ter a função
educativa que compete aos pais. No meio de tudo isto, a verdade é que a indisciplina continua
a existir e a registra-se cada vez mais.
A escola não pode ignorar que os conflitos e problemas sociais existem, e por isso
tem vindo a adaptar-se como pode. E é precisamente na escola que as crianças imitem
comportamentos que diariamente são observados, em alguns casos, onde proliferam os maus
tratos físicos e psicológicos, onde as privações, a promiscuidade, a baixa escolarização, a
pobreza andam de mãos dadas. Neste campo, urge uma intervenção conjunta realmente eficaz,
fornecendo à população em risco modelos de conduta adequados ao desenvolvimento afetivo,
intelectual e moral de todos os implicados. Nós, sociedade democrática, somos responsáveis
pelas conseqüências educativas das nossas ações.
Terá que haver um esforço financeiro governamental, não só econômico, mas
também em nível de recursos humanos para que programas e ações de combate à violência e
exclusão social sejam realmente concretizados e obtenham bons resultados. Não podemos
deixar que as crianças se transformem em futuros marginais, só porque não tiveram
referências positivas na infância e porque diversas entidades educativas se foram esquecendo
que essas crianças também necessitam de carinho, de afeto, que também são seres humanos
como todas as outras crianças.
Ficou evidente no trabalho a necessidade dos profissionais encarregados da área
educacional manter-se atualizados e preparados para atender as demandas da sociedade,
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deixando de ser simples depositários do saber para tornarem-se pontes, responsáveis pela
formação de cidadãos críticos e conscientes.
O acompanhamento psicopedagógico é importante porque que auxilia no trabalho,
atuando diretamente sobre a dificuldade escolar apresentada pela criança, suprindo a
defasagem, reforçando o conteúdo, possibilitando condições para que novas aprendizagens
ocorram, investindo na questão do não-aprender em algumas crianças.
Consciente de que este trabalho é insuficiente na abordagem desta temática, pois
muito mais haveria a dizer, dado que o fenômeno da indisciplina é muito amplo e surge em
variado contexto, resta então cogitar que toda a sociedade se deveria mobilizar para proteger
os cidadãos de amanhã, para que não tenham um futuro sombrio, enredado em sofrimentos,
privações e sem projetos de vida. A escola pode e deve mudar o contexto social, consciente
que por suas mãos passam vidas, dessa forma, estará com certeza construindo um futuro
melhor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANTUNEZ, Serafin. Disciplina e convivência na instituição escolar/ Serafin
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