DANOS PROVOCADOS POR PULGÕES INFECTADOS COM A VIROSE MOSAICO DAS NERVURAS, NOS DIFERENTES ESTÁDIOS DE CRESCIMENTO DE PLANTAS DA CULTIVAR CNPA-ITA 90, SUSCETÍVEL A ESTA ENFERMIDADE. Walter Jorge dos Santos1, Karen Bianchi dos Santos2, Rachel Bianchi dos Santos3. (1) Instituto Agronômico do Paraná, [email protected], (2) Mestrado - Universidade Estadual de Londrina, (3) Acadêmica - Universidade Estadual de Londrina. RESUMO O pulgão Aphis gossypii é um inseto sugador de seiva e vetor da virose denominada Mosaico das Nervuras (VMN) para o algodão. O objetivo deste trabalho foi avaliar o período de incubação e a extensão dos danos provocados por pulgões infectados com a VMN, nos diferentes estádios de crescimento de plantas da cultivar CNPA-ITA 90. A partir do 5o internódio foram marcadas plantas com sintomas da enfermidade, contados e pesados os capulhos viáveis e anotada a altura. O delineamento experimental utilizado foi blocos inteiramente ao acaso. A análise dos dados indicou que foram significativas as diferenças entre os estádios de crescimento para o número de capulhos e altura das plantas com VMN. Os sintomas da virose se manifestaram entre 15 e 45 dias da inoculação. O período crítico com maior intensidade de danos provocados pela doença ocorreu entre o 5o e 10o internódios, com plantas apresentando cerca de 12,8 e 2,4 vezes menor número e peso de capulhos, respectivamente. As plantas entre o 5o e 10o internódios apresentaram seu crescimento reduzido 2,4 vezes, quando comparadas às plantas sadias. Do 6º ao 21º estádio o índice de virose cresceu de 5,4% a 97,04% e a infestação inicial de 5 pulgões/planta determinou o surgimento de 73,3% de plantas infectadas em 45 dias. A manifestação da VMN nos entrenós 11º e 12º reduziu a produção em cerca de 60%. INTRODUÇÃO O pulgão Aphis gossypii é um inseto polífago, hospedeiro de muitas espécies vegetais silvestres e cultivadas, e está distribuído por todo Brasil. Os pulgões ocorrem durante todo o ciclo de desenvolvimento do algodoeiro. Nas populações de pulgões ocorrem formas aladas e ápteras. As aladas são responsáveis pela disseminação da espécie na lavoura, enquanto que as ápteras fazem colônias nas folhas e brotos das plantas. Os pulgões são sugadores de seiva e a ocorrência de fortes e continuadas infestações paralisam o crescimento das plantas, podendo reduzir a produção em até 24,09% no peso de algodão em caroço (Vendramim & Nakano, 1981). Aphis gossypii é vetor de doenças de vírus para o algodoeiro, entre elas a virose Mosaico das Nervuras (VMN), é uma das principais enfermidades para a cultura. Os pulgões alados migram para as áreas cultivadas com algodão, e caso estejam infectados, podem inocular vírus às plantas, e seus descendentes continuarão disseminando a doença entre plantas e lavouras (Santos, 2001). O objetivo deste trabalho foi avaliar o período de incubação e a extensão dos danos provocados por pulgões infectados com a VMN nos diferentes estádios de crescimento das plantas de cultivar suscetível a enfermidade. MATERIAL E MÉTODOS Os trabalhos foram realizados com a cultivar CNPA-ITA 90, instalada em uma área de 1.600 m2 (Fazenda-IAPAR), em Londrina – PR, safra 2002/03. A semeadura foi realizada em 29/10/02, com densidade de 8,75 plantas/metro e espaçamento de 1m entre linhas, recebendo a área os tratos culturais recomendados para o algodoeiro. A área foi dividida em 16 parcelas de 100 m2. Nas quais foram identificadas plantas em diferentes estádios com sintomas da virose mosaico das nervuras (VMN), caracterizadas por apresentarem crescimento paralisado, internódios curtos e bordas das folhas curvadas, e rugosidade no limbo foliar (Costa & Carvalho, 1965). Nas parcelas foram anotadas e marcadas plantas com sintomas da VMN em cada estádio de crescimento, compreendidos entre o 5o e o 21o. Ao final do desenvolvimento, e para efeito comparativo, foram identificadas plantas que não apresentavam os sintomas da enfermidade. Em cada planta marcada foram contados o número de maçãs, o peso dos capulhos e a altura das plantas. Nas parcelas foram contados o número de plantas com sintomas da VMN nos estádios 6o, 7o e 21o. Para avaliação da produtividade procurou-se identificar plantas infectadas nos diferentes estádios que mostrassem seu maior potencial produtivo. Para determinar o período de incubação do vírus, foram inoculadas 30 plantas da cultivar CNPA-ITA 90 conduzidas no interior de gaiolas. Cada planta recebeu 5 pulgões provenientes de plantas infectadas com a VMN. Com delineamento estatístico inteiramente ao acaso, os dados foram analisados pelo teste de significância F, e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados obtidos em relação ao período de incubação, demonstraram que 73,33% dos sintomas da VMN manifestaram-se entre 15 e 45 dias após a inoculação do vírus pelo vetor (Fig. 1). A maior severidade dos danos provocados pela virose ocorreu entre os estádios 5o e 10o, coincidindo com os relatos de Costa & Carvalho (1965). Os resultados das análises indicaram que ocorreram diferenças estatisticamente significativas entre os estádios de infecção para número de capulhos e altura média das plantas (Tabela 1). As plantas que manifestaram sintomas entre os internódios 5o e 10o apresentaram cerca de 12,8 e 2,4 vezes menor número e peso de capulhos, respectivamente, quando comparadas às plantas sadias (Fig. 2). Nos estádios 5o e 6o, somente 18,65% das plantas doentes produziram pequenos capulhos. As plantas infectadas entre o 5o e 10o internódios apresentaram crescimento reduzido em 2,4 vezes em relação às plantas sadias. Os levantamentos a campo demonstraram que entre os internódios 5o e 8o até os 15o e 17o, a incidência da VMN em plantas cresceu de 5,46% a 76,35%, e cerca de 48,5% apresentaram os sintomas até o 14º (Fig.3). Constatou-se que a expansão da enfermidade ocorreu em reboleiras, estendendo-se principalmente entre plantas adjacentes na mesma linha. As observações indicaram certa coincidência temporal na manifestação da enfermidade entre plantas vizinhas. CONCLUSÕES O período de incubação encontrado para a VMN foi de 15 a 45 dias para 73,33% das plantas da cultivar CNPA-ITA 90. A fase mais crítica com maior intensidade de danos ocorreu entre o 5o e 10o internódio para as plantas infectadas com a virose. Foram significativamente menores em número e peso os capulhos das plantas que manifestaram a VMN até o 15o internódio, as quais também sofreram forte redução no crescimento. Entre o 9o e 10o internódio, os capulhos foram reduzidos em 78,74% e 62,12% em número e peso, respectivamente, quando comparados a plantas sadias. Até o 14º entrenó cerca de 48,5% das plantas apresentaram os sintomas da virose. A manifestação da enfermidade entre os internódios 11º e 12º reduziu a produção em cerca de 60,0%. Os dados permitiram concluir que índices de 5,4% de plantas infectadas a partir do 6º internódio, podem determinar a expansão da enfermidade para toda a área cultivada. Níveis de 5 pulgões/planta determinaram a ocorrência de 73,33% contaminadas pela VMN em 45 dias, demonstrando que se medidas efetivas de controle do vetor não forem adequadamente adotadas, baixas populações do inseto podem causar grandes prejuízos. Tabela 1. Efeitos da virose mosaico das nervuras na produção e desenvolvimento das plantas de algodão, cultivar CNPA ITA 90. Londrina, 2003. Nós (internódios) 5/6 7/8 9/10 11/12 13/14 15/16 17/18 19/20 21/24 CV (4) F Número de capulhos * 0,1875 g 1,5000 fg 2,9375 ef 4,5625 de 4,8750 d 6,3125 cd 7,8750 c 10,0625 b 13,8125 a 30,00 97,71 Altura média das plantas (cm) * 24,00 f 30,93 b 33,18 e 39,18 de 46,25 cd 51,43 c 60,18 b 68,93 a 77,25 a 15,65 93,17 % de plantas com virose (*)Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade; dados para análise de número de capulhos foram transformados segundo raiz (x+0,5). 120 100 80 60 40 20 0 15 20 25 30 35 40 45 50 55 Dias após incubação Fig. 1- Período de incubação da virose mosaico das nervuras em algodoeiro, CNPA-ITA 90. Londrina 2003. 15 10 5 0 5º-6º 7º-8º 9º-10º 11º-12º 13º-14º 15º-16º 17º-18º 19º-20º 19º-23º Internódios Número de capulhos Peso do capulho (g/cap) % de plantas com virose Fig. 2- Efeito da virose mosaico das nervuras na produção e peso de capulhos, CNPA-ITA 90. Londrina, 2003. 120 100 80 60 40 20 0 6º-8º 9º-11º 12º-14º 15º-17º 18º-20º internódios Fig 3- Estádios de ocorrência da virose mosaico das nervuras em algodoeiro, CNPA-ITA 90. Londrina, 2003. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, A.S.; CARVALHO, A.M.B. Moléstias de vírus, p.433-455. In: Instituto Brasileiro de Potassa. Cultura e adubação do algodoeiro. São Paulo, 1965. 567p. SANTOS, W.J. Identificação, biologia, amostragem e controle das pragas do algodoeiro, p.181-226. In: EMBRAPA AGROPÉCUÁRIA OESTE (Dourados, MS). Algodão: tecnologia de produção. Dourados:Embrapa Agropecuária Oeste/ Embrapa Algodão, 2001. 296p. VENDRAMIM, J.D.; NAKANO, O. Avaliação e danos de Aphis gossypii Glover, 1877 (Homoptera: Aphididae) no algodoeiro, cultivar IAC17. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Itabuna, v.10, n.1, p.89-96, 1981.