Conversa de medico

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Conversa de médico
Crescem as críticas e as gozações com a atuação da classe médica.
Mostra uma reação das pessoas que não havia antes. São comentários até
saudáveis. Alinhavo alguns deles.
Quando aparece uma indisposição forte em alguém e o médico não
tem uma resposta, lasca que é uma virose. Ninguém sabe que diabo é isso.
A tal da virose serve para explicar quase tudo. Há outro achado recente: o
estresse. Este animalzinho é culpado por um número impressionante de
novos fenômenos físicos inexplicáveis.
Mas apareceu recentemente um outro que é mais interessante ainda.
É aquele em que o mal tem fundo genético. Quando não há uma explicação
dentro dos parâmetros médicos conhecidos, a causa é que um parente do
paciente, gerações atrás, tinha aquilo e que, por ações que só a genética
explicaria, aparece em você justamente agora. Tem jeito de contestar o
diagnóstico?
Há certas doenças em que a “cura” é transferida para os pacientes.
Normas médicas recomendam que, para curar certos males, o cara tem que
cumprir algumas clássicas recomendações. Se o paciente não cumpre uma
ou outra dela tem médico que se mostra até feliz. Está livre de cobranças.
A culpa é do outro.
O diabo é que as recomendações mudam constantemente. Essa ou
aquela recomendação fazia mal antes. Depois se recomenda o contrário.
Logo mais se descobre que não é assim. Passa a valer o que se dizia antes
mesmo. É até engraçado esse vai e vem de novas recomendações médicas.
A profissão continua quase nos moldes de anos atrás. O que evoluiu
foram os remédios e as máquinas para diagnósticos. As empresas querendo
ganhar dinheiro investiram em pesquisas. Os novos medicamentos e o que
dizem as máquinas é que fez evoluir a medicina.
A profissão encontra-se numa encruzilhada. Com máquinas novas e
remédios sofisticados, ela teria sua função limitada. A máquina é capaz de
fazer o diagnóstico de um paciente. É capaz de recomendar até melhor do
que um médico os remédios adequados, afastando aqueles que trariam
efeitos colaterais. Que, com exceção das operações cirúrgicas, a profissão
caminha agora para competir com um computador nos seus diagnósticos.
Há hoje um novo fator nessa conversa sobre médico. A internet
municia um interessado na doença dele com explicações incríveis. Uma
pessoa que sofre de um mal pode buscar ali explicações que antes teria
somente com médicos. Se a pessoa tem conhecimento de inglês o tamanho
da informação centuplica. Mesmo sem falar inglês os sites do exterior já
estão trazendo informações em espanhol.
O mais curioso é a reação quando alguém conversa com o médico
sobre o que viu na internet. No geral, eles não gostam, mostram-se
ofendidos quando o interlocutor tenta conversar numa área que somente
eles podem, em tese, fazer.
A profissão trabalha com a vida das pessoas. Quando alguém
procura um médico já se encontra numa posição fragilizada e aí o tamanho
dele cresce mais ainda. Além disso, a profissão goza de respeito em
qualquer sociedade.
Os que estão nela enfrentaram um vestibular e aprendizado dos mais
difíceis. As notas de centenas de candidatos ao curso de medicina, mesmo
dos que não passaram no vestibular, daria para preencher as primeiras
vagas de praticamente todos os outros cursos de qualquer universidade.
Daí talvez a distorção que se vê em muitos dessa profissão.
Colocam-se, em quase toda discussão em qualquer área do conhecimento
humano, numa imaginada posição de superioridade. Gostam de dar aulas.
A profissão daria sabedoria extra. Magoam-se se são contestados.
Há um novo relacionamento médico-paciente que não foi ainda
avaliado pela maioria dos que estão nessa importante profissão. Os cursos
de medicina deveriam observar esse novo fenômeno. Ficar no estilo antigo,
sem evoluir nessa relação, não é nada bom para os dois lados.
Alfredo da Mota Menezes escreve em A Gazeta. E-mail:
[email protected]
Julho de 2007
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