Centro Universitário do Triângulo Curso : SISTEMAS DA INFORMAÇAO Disciplina: COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Profª: Roseli Período : 2º Aula : Data: 03/03/06 ESTUDO DA PERCEPÇÃO INTRODUÇÃO O Homem já fez imensos progressos no estudo do mundo físico e da vida. Por meio das capacidades de sua mente, o Homem vem realizando prodígios tecnológicos: chegou à Lua, inventou máquinas impressionantes, consegue transmitir quantidades imensas de informação a uma velocidade incrível, encontrou tratamento para muitas doenças e já desvendou uma grande parte de nosso código genético. Mas em que medida o Homem entende a si mesmo, em que medida nós entendemos nosso comportamento, nossa mente? De que forma nossas crenças e valores afetam nossa forma de ver o mundo? A importância do estudo da percepção para a compreensão do comportamento organizacional se justifica, pois o comportamento, seja ele analisado dentro dos limites das organizações ou fora delas, está diretamente ligado à percepção que o indivíduo possui do mundo externo e não da realidade propriamente dita. A diversidade de interpretações que se faz da realidade evoca o estudo da percepção. Vários processos organizacionais podem ser analisados e estudados a partir da compreensão da percepção dos indivíduos, como por exemplo, a motivação, a resistência às mudanças, a insatisfação no trabalho. Mas então o que é percepção, quais os fatores que a afetam e qual a relação que possui com o comportamento organizacional? DEFINIÇÕES Existem diversas definições e conceitos para a percepção, como: A percepção pode ser definida como a imagem da realidade que provoca no ser humano uma reação, um comportamento. A percepção é o processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais, com a finalidade de dar sentido ao seu ambiente. (Robbins, 2002) Percepção se refere ao modo como interpretamos as mensagens de nossos órgãos dos sentidos para dar alguma ordem e significado ao nosso meio ambiente. (Bowditch & Buono, 2000). Os conceitos de percepção aqui apresentados, embora se diferenciem em alguns detalhes, convergem em uma explanação: existe um mundo externo e cada ser humano percebe esse mundo e os fenômenos que nele ocorrem, de forma absolutamente única e pessoal e não exatamente como o são na realidade. Uma interpretação e imagem são feitas através dos sentidos: olfato, audição, visão, paladar e tato. Portanto, a percepção seria o processo de assimilação e interpretação da realidade que se faz através destes sentidos. Cria-se uma imagem da realidade e não a realidade propriamente dita. 1 Transpondo para a questão do comportamento organizacional, segundo Leavitt (1976), um grande engano cometido por supervisores, é o de supor que todos trabalham para chegar às mesmas metas, pressupondo que o “real” é percebido por todos de forma igual. Hernandez & Caldas (2001), em seu estudo sobre a resistência à mudança nas organizações, afirmam que: “A realidade para cada indivíduo corresponderia à sua percepção individual daquilo que existe ou acontece ao seu redor, e, conseqüentemente, suas ações e reações estariam baseadas na realidade percebida, e não, necessariamente, na realidade objetiva dos fatos e acontecimentos”. Se então, a realidade não é vista como ocorre, mas sim através de uma interpretação, podemos concluir que não existe uma única realidade. Cada pessoa interpreta e vê uma mesma realidade de forma exclusiva e pessoal de acordo com o ângulo em que observa. Os fatores ou estímulos internos (do indivíduo) ou externos (ambientais) se encontram no observador, no alvo observado ou na situação em que se encontram observador e alvo. O observador, através de suas atitudes, sua motivação pessoal, seus interesses, experiências passadas e expectativas, influência o objeto observado. O estado emocional e a motivação pessoal influenciam, de forma decisiva, na percepção. Simões & Tidemann (1985) relatam uma pesquisa realizada nos Estados Unidos onde se concluiu que grupos opostos vêem as coisas de forma diferenciada. Apesar de não nos apresentar a época e as condições em que a mesma fora realizada, seus resultados são interessantes. Expectadores de um jogo de futebol foram entrevistados. O jogo havia sido muito violento e com muitas penalidades. Os torcedores do time ganhador haviam visto um jogo duro, porém honesto. Já os torcedores do time perdedor acharam o jogo desonesto e rude e culparam o time adversário por tal violência. É importante ressaltar que tal interpretação se refere a uma imagem percebida e influenciada pela emoção. Reforçando tal pensamento, Coelho Jr. (1999): “A percepção é determinada por fatores internos dos quais muitas vezes não se tem consciência, e é apenas por eles que a realidade ganha sentido. Pode-se afirmar que há consciência a respeito da forma como se entende o mundo, mas não a respeito do processo, do conteúdo ou das associações que foram sendo configuradas ao longo da vida através das experiências adquiridas, que por sua vez acabam configurando essa forma particular de percepção do mundo”. As necessidades também são fatores que afetam a percepção e fazem com que as pessoas percebam um mesmo evento de forma diferenciada. Leavitt (1976) relata uma experiência, na qual crianças deveriam desenhar moedas de 25 centavos. As crianças mais pobres desenhavam moedas maiores do que as crianças oriundas de lares mais favorecidos. O autor faz um paralelo desse experimento a outro no qual fora solicitado aos empregados de uma indústria para que descrevessem as pessoas com as quais trabalhavam. Eles falaram mais dos patrões do que dos colegas, levando o autor a levantar a hipótese de que as pessoas mais importantes para as suas necessidades eram os patrões. Comprova-se assim, a idéia de que as necessidades afetam a percepção. Vimos acima alguns dos fatores que influenciam a percepção e que se encontram no observador. Nos reportamos agora ao alvo. Os alvos não são observados isoladamente. Sua relação com o cenário influencia a percepção. O que percebemos vai depender de como separamos a figura de seu cenário geral. A proximidade física ou temporal nos faz relacionar determinados eventos. Robbins (2002) descreve o caso de dois esquiadores que morreram em acidentes de esqui com a diferença 2 de tempo de poucas semanas um do outro. O fato levou as pessoas a acreditarem que o esqui era um esporte perigoso, embora os acidentes não tivessem qualquer correlação. A situação é o outro foco dos fatores perceptivos. Vamos imaginar que nem o observador, nem o alvo mudaram, mas a situação é diferente. Por exemplo: uma pessoa vestida e maquiada para uma festa à noite, provavelmente, seria percebida mais rápida ou diferentemente se a mesma, assim se vestisse para um café da manhã. Se você está ciente de que seu departamento irá ser visitado por um superior, maior probabilidade haverá de você prestar mais atenção nas atitudes de seus empregados Analisamos até aqui os fatores que influenciam a percepção. Porém o processo perceptivo é ainda mais complexo. Existem falhas ou simplificações que agilizam o processo de percepção. Mas se ganhamos em tempo, podemos perder na eficácia e na veracidade da imagem percebida. Cinco simplificações mais comumente ocorrem nesse processo: a percepção seletiva, o efeito de halo, os efeitos de contraste, a projeção e a estereotipagem (Robbins, 2002). 1. Na percepção seletiva, a capacidade de percepção fica limitada. Não se pode perceber tudo o que ocorre em volta. Portanto, seleciona-se aquilo que se quer ver, baseando-se nos próprios interesses, motivações e experiências passadas. A percepção seletiva permite uma leitura rápida, mas com o risco de uma figura imprecisa. Exemplo: As pessoas podem resistir aos processos de mudanças organizacionais se elas não vislumbram ou não percebem tais mudanças como interessantes. As pessoas selecionam os estímulos que parecem agradáveis, rejeitando os estímulos ameaçadores. 2. No efeito de halo avalia-se uma pessoa, baseando-se em um único traço de sua personalidade. É como se olhasse com uma lupa essa característica e todas as outras ficassem embotadas. Bowditch & Buono (2000), comentam que “é particularmente importante estar consciente do efeito halo ao realizar uma entrevista de avaliação de desempenho, de modo que uma característica não influencie a avaliação global”. Exemplo: Pode-se dar excessiva atenção a detalhes do comportamento de um empregado, como por exemplo, avalia-lo negativamente apenas em função de seus atrasos na chegada ao trabalho e desconsiderar a sua ótima produtividade, criatividade, responsabilidade e etc. 3. As simplificações ou atalhos, denominados efeitos de contraste, se caracterizam pelo julgamento que se faz entre as coisas e as pessoas, comparando-as entre si. Percebe-se o belo porque se tem o feio por referência. Exemplo: Numa entrevista de seleção um candidato pode ser beneficiado ou prejudicado em função da ordem em que ele se apresenta à entrevista. A qualidade profissional de seu antecessor é que irá definir a percepção que o entrevistador terá dele. 4. A projeção, muito estudada pela psicanálise, é a tendência que se tem de projetar nos outros a própria imagem. Fazem-se julgamentos distorcidos dos outros projetando as próprias características. Exemplo: O que comumente ocorre em negociações sindicais. Tanto empresas quanto sindicatos costumam projetar, mutuamente, seus próprios sentimentos de desconfiança. 5. Por último, temos a estereotipagem, que é a tendência que se tem de julgar as pessoas, baseando-se no grupo a qual pertencem. Formam-se impressões sobre um indivíduo a partir da impressão que se tem de seu grupo. Essa generalização tem algumas vantagens. Se 3 obtiver sucesso ao contratar profissionais oriundos de uma determinada universidade, o processo de uma nova contratação poderia ser agilizado, buscando-se novos profissionais na mesma fonte. Porém, não significa que todos os universitários dessa determinada instituição irão corresponder a essa expectativa (ROBBINS, 2002). Exemplo: “Japoneses são inteligentes”, daí contratam japoneses pelo simples fato de o serem. Qual a importância dessas teoria de percepção para o ambiente organizacional? O comportamento e vários processos organizacionais, tais como a tomada de decisão nas organizações, a motivação, a liderança, a satisfação no trabalho, mudanças organizacionais e outros são afetados pela percepção, podendo ser estudados a partir desse referencial. O que é um problema para um pode ser estado satisfatório para outro. O conhecimento da existência de um problema e da necessidade de uma decisão depende da percepção. E, ainda, a conscientização de como as falhas perceptivas ocorrem torna-se fundamental para a diminuição de erros nas decisões que são tomadas nas empresas. Um outro exemplo de processo organizacional permeado pela percepção é a pesquisa de clima organizacional. Trata-se de um levantamento que se faz para a obtenção da percepção que os empregados têm sobre a empresa. Assim a pesquisa estaria apresentando ou mapeando as percepções sobre o ambiente interno da organização como ponto de partida para a mudança organizacional. Uma visão coletiva, provavelmente represente uma percepção mais próxima da realidade.“Configura, portanto, um diagnóstico sobre a situação atual da empresa, tomando como base às opiniões de seus integrantes, quase em caráter clínico, ou seja, visando levantar disfunções ou problemas que mereçam correção”, conforme Coda (1997). O estudo da percepção permite aos estudiosos do comportamento organizacional uma visão mais clara das sutis e diversificadas formas que o mesmo se apresenta. Para a administração sua importância é clara: se o comportamento é uma reação a uma percepção, a compreensão de como ela ocorre poderá ser extremamente útil para a promoção de mudanças comportamentais tão necessárias num mundo globalizado. EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO 1. 2. 3. 4. Defina percepção Cite 3 (três) ganhos para o gerente o estudo da percepção? Quais fatores influenciam uma percepção? Se você e eu concordamos com o que vemos, isto sugere que temos formações e experiências similares. Você concorda ou discorda? Discuta 5. Cite exemplos de cada um dos processos de percepção abaixo: a) A percepção seletiva; b) O efeito de halo; c) Os efeitos de contraste; d) A projeção;e e) A estereotipagem. PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO 1. ROBBINS, Stephen P. Percepção e Tomada de Decisões Individuais. In: ________. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002. 2. BOWDITCH, James L.; BUONO, Anthony F. Percepção, Atitudes e Diferenças Individuais. In: ________. Elementos de comportamento organizacional. São Paulo: Pioneira, 1992. Cap. 4, p. 62-79. 7. SIMÕES, Edda Augusta Quirino; TIEDEMANN, Klaus Bruno. Psicologia da percepção. São Paulo: EPU, 1985. 4