UNIVESIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL ANTÔNIO AUGUSTO MIRANDA FUNDAMENTOS DO COMPORTAMENTO INDIVIDUAL ROBBINS, Stephens P. , Fundamentos do Comportamento Organizacional. 7 ed. São Paulo. Prentice Hall, 2004, cap. 2 O comportamento organizacional se inicia com a análise do nível individual. Para tanto, utiliza a psicologia como disciplina que possibilita o exame dos fundamentos do comportamento individual, concentrando-se nos conceitos de valores, atitudes, percepção e aprendizagem. Os valores influenciam de forma decisiva nas atitudes, por isso, a compreensão do sistema de valores ajuda no entendimento das atitudes dos indivíduos. As atitudes, por sua vez, influenciam o comportamento. A percepção é a maneira como se organiza e se interpreta o que se vê, sendo um elemento essencial na relação indivíduo/trabalho. Por fim a aprendizagem, que modificando diretamente a capacidade dos indivíduos, afeta em seu comportamento individual, contribuindo definitivamente para o progresso das organizações. Os valores representam uma convicção básica sobre um modo de conduta ou de concepção individual ou social, contendo um elemento de julgamento que se fundamenta no que se acredita. Um sistema de valores permite aos indivíduos uma priorização dos mesmos, sendo eles identificados no sentido da importância relativa que se lhes atribui. Quanto à tipologia dos valores, salientam-se duas abordagens. A primeira, o levantamento de valores de Rokeach, consiste em dois conjuntos de valores, cada um contendo 18 itens. Um desses conjuntos é chamado de valores terminais, pois contém os valores constituídos pelas metas que uma pessoa gostaria de atingir na vida. O outro conjunto é denominado de valores instrumentais, sendo composto por modos preferenciais de comportamento ou pelos meios para se atingir os valores terminais. Os valores dentro dessa primeira abordagem variam bastante de grupo para grupo. Nota-se que os valores dos indivíduos que se encontram em categorias ocupacionais semelhantes são geralmente parecidos. Na segunda abordagem, o foco é a força de trabalho contemporânea que é uma análise sobre valores no trabalho seguindo um modelo de quatro estágios, com a intenção de se obter os valores de diferentes gerações da força de trabalho nos Estados Unidos, separados pela época em que nela ingressaram. Observa-se que os valores individuais variam entre si, no entanto, refletem os valores da sociedade na qual o indivíduo está inserido, sendo um instrumento importante para a explicação e previsão de comportamentos. Com relação às questões éticas nas organizações, notou-se um declínio nos valores éticos, sobretudo no final dos anos 70. Isto foi ocasionado pela mudança de foco dos indivíduos que passaram a ocupar os escalões médio e alto das empresas. Tais posições eram ocupadas antes por pessoas que tinham uma acentuada lealdade com o empregador. A geração dos indivíduos que os substituíram tinham o foco na carreira, em si mesmos, podendo isto ser considerado como principal explicação da mudança de comportamento. Contudo, nota-se uma tendência das novas gerações, mais leais aos relacionamentos, a mudarem este quadro elevando os padrões éticos nos negócios. A globalização trouxe a necessidade de se estudar culturas diferentes com a finalidade de se obter uma melhor harmonização entre elas e, em conseqüência, para melhor explicar e prever comportamentos. Neste sentido, os estudos desenvolvidos por Hofstede tem servido como referencial para a avaliação de culturas. Trata-se de uma pesquisa com mais de 116 mil funcionários da IBM em 40 países com foco na identificação de valores relativos ao trabalho, de acordo com cinco dimensões de valores quanto à cultura do país: distância do poder, individualismo X coletivismo, quantidade de vida X qualidade de vida, fuga de incertezas, orientação para longo prazo X orientação para curto prazo. Um aspecto importante que deve ser levado em consideração é que a maioria dos estudos sobre comportamento organizacional foram desenvolvidos tendo como principal referência a realidade dos Estados Unidos, o que mostra claramente que tais estudos nem sempre podem ser considerados aplicáveis universalmente, uma vez que considerações multiculturais são imprescindíveis para isto. Para se analisar o comportamento de pessoas em diferentes países é necessário uma análise dos valores culturais específicos de cada país em questão. As atitudes são afirmações avaliativas que refletem como os indivíduos se sentem em relação a algo. O comportamento organizacional se volta para as que estão relacionadas ao trabalho, sobretudo as ligadas à satisfação do trabalho. Satisfação com o trabalho diz respeito à atitude geral de um indivíduo em relação ao seu trabalho, podendo ser positiva ou negativa segundo a satisfação ou insatisfação daquele indivíduo no desempenho de seu trabalho. Tarefas desafiadoras, recompensas justas, condições de trabalho estimulantes e colegas colaboradores são considerados geralmente como fatores relevantes quanto à satisfação do trabalho. Ao contrário do que muitos defendiam, há evidências de que é através da produtividade que se atinge à satisfação. Realizar um bom trabalho significa sentir-se bem. Destaquese que as organizações recompensam a produtividade. Boa produtividade traz reconhecimento, aumento de remuneração e promoção, elevando o nível de satisfação com o trabalho. Nota-se também que a satisfação com o trabalho influencia a cidadania organizacional, e isto se dá principalmente pela percepção de justiça, englobando conceitos de resultados, tratamento e procedimentos justos, o que faz gerar confiança e mais empenho nos comportamentos em prol da organização. Ainda com relação às atitudes, surge uma interessante discussão envolvendo a então teoria da dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva surge quando há inconsistências entre duas ou mais atitudes de um indivíduo ou entre suas atitudes e seu comportamento. Essas inconsistências trazem desconforto, sendo assim, as pessoas tendem a reduzí-las para evitar os desconfortos. O desejo de reduzir a dissonância é dado pela importância dos elementos que a criam, o grau de influência que se acredita ter sobre esses elementos além das recompensas que podem estar envolvidas. Como principal implicação organizacional da teoria da dissonância cognitiva cita-se a possibilidade de previsão da propensão às mudanças de atitudes e comportamentos. Segundo estudos sobre a relação entre atitudes e comportamento, as atitudes influenciam o comportamento, principalmente quando se leva em consideração variáveis moderadoras de contingências. Quanto mais específica a atitude que se estiver medindo e quanto mais específico se for na identificação do comportamento relacionado, maior a chance de se demonstrar a relação ente atitude e comportamento. Deve-se levar em consideração outro tipo de moderador, que são as pressões sociais sobre o comportamento. Além disso, outros motivos também podem levar ao desacordo. Entende-se a percepção como sendo um processo através do qual indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais com o objetivo de dar um sentido ao ambiente em que vivem. Sendo assim, pessoas diferentes podem perceber uma mesma coisa de formas diferentes. Isso se dá pelo fato de vários fatores operarem moldando a percepção, podendo estar presentes no observador, no objeto da percepção ou na situação em que se dá a percepção. O observador é influenciado por suas características pessoais, dentre as quais, suas atitudes, a personalidade, as motivações, os interesses, as experiências passadas e as expectativas. As características do objeto que está sendo observado, por motivos óbvios, podem afetar a percepção. Assim se dá também com o contexto em os objetos são percebidos: localização, iluminação, temperatura, etc. O comportamento organizacional, como não poderia deixar de ser, concentra-se na percepção das pessoas, levando em consideração que, diferentemente dos objetos inanimados, as pessoas têm crenças, motivações e intenções, o que faz com que aquele que percebe seja conduzido por inferências, por suposições. Neste sentido, a teoria da atribuição procura a explicação de como as pessoas são julgadas de maneiras diferentes, baseando-se em um determinado comportamento no seu aspecto motivacional (interno ou externo) e nos três fatores seguintes: diferenciação, consenso e coerência. Os comportamentos determinados por causa interna são os que estão sob o controle do indivíduo e os determinados por causa externa são os resultantes de estímulos externos, de fora. A diferenciação refere-se à manifestação de comportamentos diferentes em situações diferentes. O comportamento mostra consenso quando todas as pessoas que enfrentam determinada situação respondem de maneira semelhante. Por último, busca-se a coerência nas ações de um indivíduo para se chegar a uma percepção correta. A percepção, portanto, depende de um contexto situacional. Erros e vieses podem distorcer as atribuições. O erro fundamental de atribuição consiste em seu julgar o comportamento de outras pessoas subestimando a influência dos fatores externos e superestimando a influência dos fatores internos. Por outro lado o viés da autoconveniência sugere que existe uma tendência de se atribuir o próprio sucesso a fatores internos, como capacidade e esforço e se culpar os fatores externos pelo fracasso, como a falta de sorte ou a sorte. O ato de julgar os outros dentro das organizações não é considerado como sendo um ato simples e fácil. Com o intuito de facilitar essa tarefa, costuma-se fazer simplificações para que se chegue de uma forma mais rápida a percepções mais precisas, que ofereçam dados válidos para as previsões. No entanto, tais simplificações podem resultar em distorções. Na percepção seletiva se assimila apenas uma parte do que se vê, já que não se pode observar tudo. Essa parte assimilada é escolhida de maneira seletiva, conforme os interesses, conhecimentos, experiências e atitudes por parte do observador, permitindo uma leitura rápida dos outros. Por isso, há um evidente risco de se obter uma figura imprecisa. A similaridade assumida resulta na percepção dos outros de acordo com as características do observador, afastando-se, assim, da percepção de como a pessoa é de verdade. Quando se adota a esteriotipagem o julgamento é feito com base na percepção que se tem a respeito do grupo do qual a pessoa julgada faz parte. Ao se adotar tal simplificação pode-se ajudar na elaboração de julgamentos precisos, assim como, podem conduzir a distorções quando não têm nenhum fundamento. O efeito halo se dá quando se constrói uma impressão geral de uma pessoa com base em uma característica isolada, como inteligência, sociabilidade ou aparência. A aprendizagem pode ser entendida como um processo que gera mudança relativamente permanente no comportamento resultante de uma experiência, sendo que através dela consegue-se uma melhor adaptação, assim como um melhor controle do ambiente. A aprendizagem se dá pela lei do efeito. O comportamento seguido de efeitos favoráveis tende a ser repetido. Contrariamente, o comportamento seguido de efeitos desfavoráveis não tende a ser repetido. O efeito pode ser entendido como recompensas(dinheiro, promoções, elogios, etc). Por meio das teorias da formação e da modelagem procura-se explicar como se aprende. A formação se dá quando a aprendizagem ocorre em etapas graduais, quando o comportamento vai sendo moldado com a utilização do reforço sistemático de cada etapa, até que se chegue à resposta desejada. É um processo que envolve tentativas e erros, onde se desenvolve uma determinada habilidade. A modelagem, por sua vez, se dá quando a aprendizagem ocorre como resultado da observação de outras pessoas, havendo, em função disso, uma modelagem no comportamento, podendo produzir rapidamente mudanças complexas. Considerando o indivíduo como a menor parte de uma organização, percebe-se nele um conjunto de valores e atitudes, além de sua personalidade. A sua percepção do ambiente de trabalho, envolvendo todas as demais pessoas ali presentes, afetará o seu nível de motivação, bem como a sua aprendizagem, sendo esses os determinantes de seu comportamento individual.