Engenharia do Ambiente Mecânica dos Fluidos Ambiental (1º semestre, 3º ano) (Primeiro Teste, 17 de Novembro de 2009) Duração 1.5 horas. Justifique todas as respostas. VC X2 F X1 Representação esquemática de um escoamento estacionário com superfície livre sobre uma sobreelevação do fundo. “F” representa a força exercida pelo ressalto sobre o escoamento. “VC” representa um volume de controlo. a) Explique porque baixa a superfície livre sobre o ressalto. Calcule a velocidade V 1 e o caudal (por unidade de largura) admitindo que a velocidade é uniforme na coluna de água. (3 val). Res: A superfície livre sobre o ressalto baixa por conservação da energia mecânica. A sobre-elevação faz diminuir a área de passagem e por isso aumentar a velocidade. O aumento de velocidade tem associado o aumento de energia cinética e por isso outra forma de energia tem que baixar (pressão ou energia potencial). Na superfície livre a pressão é atmosférica e não pode variar. Só a energia potencial é que pode baixar. A velocidade pode ser calculada aplicando a equação de Bernoulli entre um ponto à superfície antes do ressalto (cota = 2 metros) e o ponto sobre o ressalto, também à superfície onde a cota é 1.9 metros e a pressão é também atmosférica. A equação tem duas incógnitas e por isso precisamos de mais uma equação: Balanço de massa. O caudal é igual nas duas secções, sendo numa a área de passagem de 2 m2 e na outra (2-0.1-0.4=1.6m2). A resolução do sistema de equações dá a velocidade em ambas as secções, tal como no caso do tubo de Ventouri que fizemos nas aulas. [NOTA: verão em Hidráulica que no caso de o nº de Froude antes da sobre da sobre-elevação ser superior a 1, tudo seria ao contrário, o nível aumentaria em cima da sobre-elevação e a energia cinética teria que baixar. Isto pode acontecer porque a equação da energia é quadrática e por isso pode ter duas soluções]. b) Calcule os fluxos de quantidade de movimento na secção antes da sobre-elevação e sobre a sobreelevação. (2 val). Res: Os fluxos de quantidade de movimento são dados pelo integral na área da quantidade de movimento por unidade de volume pelo volume por unidade de tempo. Se a quantidade de movimento por unidade de volume for uniforme na área pode sair do integral e o fluxo é dado por (ρVQ). No caso deste problema temos que fazer esta hipótese e por isso os fluxos calculam-se algebricamente. c) Calcule a componente horizontal da força F exercida pelo ressalto sobre o escoamento. Como poderia calcular a componente vertical? (3 val). Res: A força calcula-se fazendo um balanço de “força e variação do fluxo de quantidade de movimento”. A alínea anterior mostra que o fluxo de quantidade de movimento é maior sobre o ressalto (a velocidade aumenta e o caudal mantém-se) e por isso a resultante das forças é no sentido do ressalto. Ignorando o atrito (não temos a tensão de corte sobre o fundo) as forças são de pressão e a força no ressalto (que é negativa). A força de pressão é hidrostática e por isso é dada pela pressão no centro de gravidade (meia profundidade) vezes a área. A força sobre o ressalto é a única incógnita. A componente vertical (na hipótese hidrostática) é o peso do fluido. Para calcular teríamos que conhecer a forma da superfície livre, que poderia ser calculada usando a equação de Bernoulli, se conhecêssemos a forma do obstáculo. d) Efectivamente a pressão sobre o ressalto não é hidrostática. Desenhe uma linha de corrente na face anterior do obstáculo e indique o ponto de pressão máxima. Explique os processos que determinam a variação vertical da pressão no topo do ressalto. (3 val). Res:A linha de corrente é mais ou menos paralela ao fundo. Isso significa que no início do obstáculo tem curvatura virada para cima e sobre o obstáculo tem curvatura virada para baixo. Antes do obstáculo a pressão no fundo são 2 metros. Quando o fluido que está perto do fundo se aproxima do obstáculo fica sujeito a uma trajectória com curvatura e por isso a pressão aumenta no fundo devido à força centrífuga. O ponto de pressão máxima é por isso nessa zona e a pressão é superior à hidrostática. À medida que o fluido se aproxima do topo do obstáculo a pressão hidrostática baixa, mas a pressão tem ainda uma redução adicional devido à curvatura das linhas de corrente que contribui neste caso para a redução da pressão junto ao fundo por a curvatura ser ao contrário da curvatura na zona de aproximação. e) Efectivamente a velocidade não é uniforme na vertical. Esboce os perfis verticais de velocidade e de tensão de corte antes e sobre o ressalto. Tenha em atenção o gradiente horizontal e vertical de velocidade e diga onde é máxima a tensão de corte. Diga também onde se dissipa a energia mecânica e onde é máxima a taxa de dissipação. (3 val). Res:Os perfis de velocidade são do tipo parabólico se o escoamento for laminar ou logarítmico se for turbulento. Em qualquer dos casos a velocidade será nula junto ao fundo e será junto ao fundo que o gradiente de velocidades será máximo e por isso a tensão de corte será máxima. À superfície a tensão de corte será nula. Se admitirmos pressão hidrostática o gradiente de pressão só vai depender da inclinação da superfície livre e por isso não depende da profundidade. Como consequência, antes do obstáculo a tensão de corte tem um perfil linear. Sobre o obstáculo o gradiente de pressão seria também independente da profundidade, mas o termo advectivo é diferente de zero e por isso a tensão de corte não tem que ter um perfil linear. A dissipação de energia é proporcional ao quadrado do gradiente de velocidade e por isso existe em todos os pontos onde existe gradiente de velocidade (e tensão de corte). Vai ser máxima no fundo. f) Escreva a equação de transporte de quantidade de movimento para a componente horizontal da velocidade. Para o volume de controlo “VC” diga qual o sinal do termo convectivo na direcção horizontal. (3 val). Res: A equação de transporte de quantidade de movimento obtém-se da equação de Navier Stokes eliminando a derivada temporal (o escoamento é estacionário). Os outros termos dependem da zona onde estamos. Antes do ressalto o perfil está completamente desenvolvido (desprezando o atrito) e por isso o termo convectivo é nulo (não há aceleração). Fica só equilíbrio entre o gradiente de pressão e a difusão vertical como no caso do filme líquido. Sobre o ressalto temos aceleração e velocidade vertical, pelo que temos termo advectivo na horizontal e na vertical (embora o termo horizontal deva ser mais importante) e temos também difusão vertical. O volume de controlo está nesta segunda zona. O termo convectivo é positivo porque a aceleração é positiva. g) Para o mesmo volume diga qual o sinal do fluxo difusivo vertical de quantidade de movimento e qual o sinal do termo difusivo da equação de Navier-Stokes. Qual o fluxo difusivo mais importante: o vertical ou o horizontal? (3 val). Res: O fluxo difusivo é a tensão de corte. Ele é perpendicular à velocidade e no sentido contrário ao gradiente. Neste acaso a componente mais importante do gradiente de velocidade é a vertical e por isso o fluxo difusivo é essencialmente vertical e é no sentido descendente porque é nesse sentido que a velocidade baixa. O termo difusivo das equações é a divergência do fluxo difusivo. Como a tensão de corte na parte de cima do volume é menos do que na parte de baixo, o volume perde quantidade de movimento por difusão. O termo difusivo é por isso negativo. Também se poderia chegar a esta conclusão pela concavidade do perfil de velocidades, mas seria menos interessante do ponto de vista dos conceitos de MFA.