XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 Planejamento estratégico de marketing: uma ferramenta viável para micro e pequenas empresas? Janaína Mikarla Dantas da Costa (UFRN) [email protected] Ilka dos Santos Miranda (UFRN) [email protected] Cândici Conceição Paiva (UFRN) [email protected] Daniela Carreira (UFRN) [email protected] Françoise Dominique Valéry (UFRN) [email protected] Resumo: Apesar do avanço percebido, ainda são poucos os estudos sobre planejamento estratégico de marketing, em micro e pequenas empresas, o que demonstra a oportunidade do desenvolvimento deste estudo. Sabendo-se da relevância sócio-econômica das MPE´s para o RN, desenvolveu-se uma pesquisa em uma tecelagem, cujo problema elegido de pesquisa elegido foi: Como fomentar um plano de marketing para a Tecelagem X? O artigo, baseia-se nos referenciais teóricos que consideram o marketing como um processo amplo que envolve a intenção de “entender” e “atender” determinado mercado, destacando-se, o planejamento estratégico de marketing. Metodologicamente, o presente trabalho, enquadra-se como estudo de caso. Constatou que na empresa estudada o principal fator que afeta o poder de compra e os padrões de dispêndio do consumidor é o preço de sua principal matéria-prima-fio de algodão a base de resíduos. Conclui-se que a empresa estudada conhece bem as suas potencialidades e sabe aonde quer chegar, contudo, segue a tendência, da maioria das micro e pequenas empresas brasileiras, qual seja, não colocar no papel as metas, os objetivos e as estratégias de marketing. Conclui-se, ainda, que é viável o planejamento formal para micro e pequenas empresas. Palavras-chave: Planejamento estratégico de marketing; Mix de marketing, Análise SWOT; Endomarketing. 1. Introdução Em um ambiente altamente competitivo e mutante, sob a égide da globalização, em que se trava uma verdadeira guerra econômica entre diferentes blocos, as empresas são desafiadas constantemente a superarem a concorrência. Ressaltando-se que os consumidores, a cada dia, estão se tornando mais exigentes, buscando qualidade e preços baixos. Logo, as empresas necessitam cada vez mais de ferramentas de gestão. Nesse contexto, o marketing representa uma relevante “arma” para o sucesso organizacional, haja vista, que representa a intenção de entender e atender o mercado. Para que a empresa possa “entender e atender” o mercado ela precisa estar em constante sintonia com ele. Para tal, uma das ferramentas indicadas é planejamento estratégico de marketing para um determinado produto ou linha de produtos. No caso de micro epequenas, pode abranger todas as atividades de marketing da empresa. Apesar dos avanços percebidos, ainda há poucos estudos sobre planejamento estratégico de marketing em micro e pequenas empresas. Ademais, um estudo acerca de plano de marketing é relevante por mostrar a viabilidade do planejamento estratégico de marketing em micro e pequenas empresas; como também proporcionar a melhor racionalização das informações na empresa investigada. O objetivo geral deste trabalho foi desenvolver o planejamento estratégico de marketing da Tecelagem X. O objetivo supra, foi operacionalizado através dos objetivos específicos, a saber: desenvolver a análise dos ambientes interno e externo da organização 1 XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 objeto deste estudo; realizar a análise SWOT; identificar a missão e a visão da empresa estudada; descrever o composto mercadológico da Tecelagem estudada; oferecer sugestões de metas, objetivos e estratégias de marketing para a referida empresa. Encontra-se na literatura especializada, inúmeros conceitos de marketing, alguns restritos outros mais abrangentes como o seguinte: “(...) processo social e gerencial através do qual indivíduos e grupos obtêm aquilo que desejam e de que necessitam, criando e trocando produtos e valores uns com os outros”. (KOTLER&ARMSTRONG, 1998). De um modo geral, o conceito de marketing gravita em torno das vertentes, a saber: necessidades, desejos e demandas; produtos; valor, satisfação e qualidade; troca, transações e relacionamentos; e mercados. Contudo, em conseqüência das repercussões dos movimentos dos consumidores mundiais e do reconhecimento por parte dos profissionais de marketing de que o conceito de marketing poderia ter aplicação e utilidade em áreas não necessariamente restritas à atuação das empresas privadas, o conceito ampliou-se para abranger áreas de ordem macro, como algumas das funções do Estado ou de uma sociedade, bem como as atividades de organizações do terceiro setor. (RICHERS, 2000). Este estudo não despreza essa maior amplitude do conceito contemporâneo de marketing, contudo, pretende-se, acima de tudo, focalizar o lado pragmático do marketing – aquele que procura prestar serviços à empresa, para que esta possa, sobretudo, conhecer os ambientes interno e externo, fortalecer sua imagem e vender mais; enfim utilizamos a definição de Richers (2000, p.5): “Nesse sentido definimos marketing simplesmente como a intenção de entender e atender o mercado”. Para que a empresa possa “entender e atender” o mercado ela precisa estar em constante sintonia com ele. Para tal, uma das ferramentas indicadas é o planejamento de marketing. 2. Planejamento estratégico de marketing 2.1 Ambientes interno e externo, e Análise SWOT O processo de planejamento começa com a definição da missão organizacional, a qual representa a razão de ser da empresa, ou seja, qual o seu papel na sociedade. Segundo Boone e Kurtz (1998) a definição da missão deve especificar os objetivos globais e a dimensão operacional da organização. Nessa perspectiva Kotler & Armstrong (1998), alertando as empresas, quanto ao perigo de deixarem a missão tornar-se obscura, ou não se comprometerem com ela, afirma que a empresa deve sempre indagar: “Qual é o nosso negócio? Quem é o cliente? O que os clientes valorizam? Qual será nosso negócio? Como deveria ser nosso negócio?”( KOTLER&ARMSTRONG, 1998). A missão da empresa deve ser traduzida em objetivos detalhados para cada nível da organização. Os objetivos devem ser “executáveis” e especificar o prazo para serem realizados. ( BOONE E KURTZ, 1998; KOTLER, 2000). Para que a empresa possa desenvolver o seu planejamento estratégico é necessário também que ela conheça tanto o micro quanto o macro ambiente da empresas. De acordo com Kotler & Armstrong (1998), o microambiente da empresa é composto pelos seguintes elementos: A empresa - é composta por vários departamentos: a administração, finanças, pesquisas e desenvolvimento (P&D), compras, produção e contabilidade. Todos esses grupos inter-relacionados formam o micro ambiente da empresa. Os fornecedores - representam um elo importante no sistema geral da empresa de “oferta de valor” ao consumidor. Eles provêm os recursos necessários para a empresa produzir os seus bens e serviços e podem afetar seriamente o marketing. Os intermediários de marketing - ajudam a empresa a promover, mover, vender e distribuir seus bens e ou serviços aos consumidores. Incluem revendedores, firmas de distribuição física, agências de serviço de marketing e intermediários financeiros. 2 XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 Os clientes - a empresa dever ter conhecimento de seus clientes que podem ser divididos em Mercado Consumidor, que são indivíduos e famílias que compram bens e serviços para consumo pessoal; Mercado Industrial, constituído por empresas que compram bens e serviços para processamento posterior ou para usá-los em seu processo de produção; Mercado Revendedor, caracteriza-se pela compra de bens e serviços para revendê-los com lucro. Mercados Governamentais, composto por órgãos do governo que compram bens e serviços para oferecer serviço público ou transferir esses bens e serviços para outros que necessitem; e Mercados Internacionais composto por compradores estrangeiros, incluindo consumidores, produtores, revendedores e governo. Cada tipo de mercado exige um estudo detalhado por parte do vendedor. No que se refere aos concorrentes, à empresa deve satisfazer as necessidades e os desejos de seus consumidores melhor que seus concorrentes. Portanto os profissionais de marketing não devem apenas visar às necessidades dos consumidores – alvo; devem também alcançar vantagens estratégicas, posicionando suas ofertas contra a de seus concorrentes na cabeça de seus consumidores. Já o público que é qualquer grupo que tenha interesse real ou potencial ou que cause impacto na capacidade da empresa de atingir seus objetivos, os principais são o Público Financeiro influenciando a capacidade da empresa em obter fundos; os Públicos de Mídia Divulgando novidades noticiam e opiniões editoriais, incluem jornais, revistas, estações de rádio e canais de televisão; Públicos Governamentais, em que a empresa deve considerar as ações do governo, consultando advogados sobre questões de segurança do produto, características da propaganda enganosa e outros assuntos; Grupos de Interesse, nestes as decisões de marketing da empresa podem ser questionadas por organizações de consumidores. Grupos ambientalistas, representantes de minoria se outros; os Públicos Locais, São os vizinhos e organizações comunitárias; com o Público Geral a empresa deve se preocupar com sua atitude em relação aos seus produtos e atividades, pois a imagem que o público tem da empresa afeta suas compras, por fim, os Públicos Internos incluindo empregados, gerentes voluntários e diretores. Na literatura especializada, encontra-se, algumas variações quanto à nomeclatura dos elementos do ambiente externo da empresa. O presente artigo, baseia-se nas denominações dos seguintes autores: (KOTLER, 1998; BOONE & KURTZ, 1998; LAS CASAS, 2001; CHRISTENSEN, 1999; CHURCHILL Jr & PETER, 2000). Ambiente Demográfico – corresponde ao estudo da população humana em termos de tamanho, densidade, localização, idade, sexo, raça, ocupação e outros dados estatísticos. Ambiente Econômico - consiste em fatores que afetam o poder de compra e os padrões de dispêndio do consumidor. Ambiente Natural - inclui os recursos naturais que os profissionais de marketing usam como insumos ou que são afetados pelas atividades de marketing. Ambiente Tecnológico novas tecnologias para a fabricação de produtos são desenvolvidas, o que gera grandes oportunidades de mercado. Ambiente Político - o ambiente político é constituído de leis, agências governamentais e grupos de pressão que influenciam e limita várias organizações e indivíduos em uma dada sociedade. Ambiente Cultural - é constituído de instituições e outras forças que afetam os valores básicos, as percepções, as preferências e os comportamentos da sociedade. Uma vez analisados micro e macro ambientes, a empresa necessita analisar as oportunidades de mercado, selecionar os consumidores-alvo, desenvolver o mix de marketing e administrar o esforço de marketing (KOTLER, 2000). Para tanto, é imprescindível que ela defina, conheça e analise, sistematicamente os seus consumidores-alvo. 3 XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 Consumidores-alvo – são as pessoas que a empresa deseja ou escolheu atender. Para tal, a empresa a empresa identifica o mercado total, divide-o em menores segmentos, seleciona os mais promissores e concentra-se em servir e satisfazer esses segmentos (KOTLER & ARMSTRONG,1998). Após a análise dos ambientes interno e externo, desenvolve-se no planejamento estratégico, a Análise SWOT. O termo SWOT vem do inglês e representa as iniciais das palavras Streghts (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças). (GOLDSCHMIDT, 2003). Como o nome sugere, a idéia central da análise SWOT é analisar os pontos fortes, os pontos francos (relacionados ao ambiente interno da organização), as oportunidades e ameaças (envolvem o ambiente externo à organização) O ambiente interno pode ser controlado pelos dirigentes da organização, já que ele é o resultado de estratégias de atuação definidas pela empresa. Desta forma, quando a organização percebe um ponto fraco, deve-se agir para controlá-lo ou, pelo menos, minimizar seu efeito. Já o ambiente externo está fora do controle da organização, o que não significa que não seja útil conhece-lo, pode-se monitorá-lo e procurar aproveitar as oportunidades da maneira mais ágil e eficiente e evitar as ameaças enquanto for possível. (KOTLER, 2000). Diversos fatores externos à organização podem afetar o seu desempenho. E as mudanças no ambiente externo podem representar oportunidades ou ameaças ao desenvolvimento do plano estratégico de qualquer organização. A avaliação do ambiente externo costuma ser dividida em duas partes: a) fatores macroambientais - entre os quais podemos citar questões demográficas, econômicas, tecnológicas, políticas, legais, etc; b) fatores microambientais – entre os quais podemos citar os beneficiários, suas famílias, as organizações congêneres, os principais parceiros, os potenciais parceiros, etc. 2.2 Mix de marketing Outro fator preponderante ao planejamento estratégico é o desenvolvimento e conhecimento do composto de marketing, o qual representa o grupo de variáveis controláveis de marketing que a empresa usa para produzir a resposta que deseja no mercado-alvo. Nessa perspectiva, Kotler e Armstrong (1998, p. 31) afirmam: “O mix de marketing consiste em todas as ações da empresa com a intenção de influenciar a demanda do seu produto”. Existem várias abordagens do composto mercadológico: 4 As de Raimar Richers, 4 Cs do professor Robert Lauterborn, 4 Cs de Jerome McCarthy. (COBRA, 1994; KOTLER&ARMSTRONG, 1998; RICHERS, 2000) Para efeito deste estudo, optou-se pela abordagem dos 4 Ps, em virtude de considerar que essa abordagem é mais trabalhada no ambiente de marketing e por acreditarmos que ela define de forma clara e objetiva o composto mercadológico. Produto é qualquer coisa que possa ser oferecida a um mercado para atenção, aquisição, uso ou consumo e que posa satisfazer a um desejo ou necessidade. Serviço são produtos que consistem em atividades, benefícios ou satisfações que são ofertadas para venda. Kotler (2000) De acordo com Kotler & Armstrong (1998), o preço é o elemento do mix de marketing que produz receita, os demais produzem custos. Ele também é um dos elementos mais flexíveis, pode ser alterado com rapidez, ao contrário das características dos produtos e dos compromissos com canais de distribuição. Ao mesmo tempo, a concorrência de preços é o maior problema com o qual as empresas se deparam. E, mesmo assim, muitas empresas não lidam bem com a determinação de preços. Em um sentido mais amplo preço é a soma dos valores que os consumidores trocam pelo benefício de possuírem ou usarem um produto ou serviço. 4 XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 O termo praça corresponde às estratégias de distribuição que a empresa utiliza para assegurar que seus produtos estejam disponíveis nas quantidades apropriadas nos lugares e momentos certos. A distribuição envolve toda a atividade que visa conduzir fisicamente o produto do fabricante até o consumidor final. (KOTLER, 2000; RICHERS, 2000) Nessa perspectiva, Cobra (1994) afirma que a escolha dos canais ou vias de distribuição é uma importante decisão estratégica em marketing. A decisão pode ser feita em conjunto com outros elementos do composto de marketing ao levar em conta o produto ou o serviço, sua natureza, suas característica e respectiva promoção de vendas e o preço. Os canais ou vias de distribuição são parte integrante de um sistema complexo que tem envolvido forças sociais e culturais para facilitar trocas e transações de consumo, e são orientadas pelos aspectos legais, pela economia e pelas restrições políticas e sociais. Para Cides (1997) promoção de vendas é a atividade de curta duração, que visa aumentar o volume de vendas em determinado momento ou em determinado lugar. Pode-se promover todo o estoque ou, apenas, alguns itens, tudo dependendo do interesse do momento. A melhor época de fazer promoções depende de muitos fatores, algumas empresas possuem um verdadeiro calendário promocional. Esse calendário pode ser ligado a datas especiais, como, Natal, dia dos namorados, dia das mães, festas juninas e outras. Pode também estar ligado a estações do ano ou, mesmo, a eventos esportivos, culturais, estudantis profissionais, etc. tudo vai depender dos objetivos comerciais da empresa, do público – alvo e do ramo de negócio da empresa. Cada promoção exige planejamento de estoque, treinamento do pessoal envolvido, decoração do estabelecimento, embalagens, bem como a divulgação da promoção entre o público – alvo. Enfim, a promoção consiste na combinação específica de propaganda, promoção de vendas, relações públicas e venda pessoal que a empresa utiliza para perseguirem seus objetivos de propaganda e marketing. (CIDES, 1997; KOTLER, 1999). 2.3 Metas, valores compartilhados, estrutura de marketing, sistemas e processos, pessoas e endomarketing As metas e os valores compartilhados entre todos os funcionários da organização representam a “liga” da implementação de marketing bem-sucedida porque reúnem toda a organização em uma unidade funcional. Quando as metas e os valores da empresa são compartilhados por todos os funcionários, todas as ações estarão alinhadas e dirigidas para melhorar a organização. Sem uma direção comum para manter a organização coesa, as diferentes áreas da empresa podem trabalhar para resultados diferentes, limitando, assim, seu sucesso total. (ROCHA, 1999; SEMENIK & BAMOSSY, 1995). A estrutura de marketing, refere-se a como as atividades de marketing de uma organização estão organizadas. A estrutura de marketing de uma organização estabelece linhas formais de autoridade, bem como a divisão do trabalho na função marketing. A estrutura adequada dependerá da organização específica, da natureza de seus ambientes internos e externos e da estratégia de marketing escolhida. LAS CASAS, 2001; ROCHA, 1999). Os sistemas e os processos organizacionais são conjuntos de atividades que recebem uma variedade de inputs para criar outputs de informações e comunicações que assegurem a consistência das operações diárias da organização. Por exemplo, os sistemas de informações, o planejamento estratégico, o orçamento de capital, a atividade de compras, o atendimento de pedido, a fabricação, o controle de qualidade e a mensuração do desempenho. Embora todos os sistemas sejam importantes o sistema de informação de marketing é parte crítica do processo de planejamento e implementação. Ao fornecer um 5 XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 fluxo contínuo de informações, o SIM pode orientar a análise dos ambientes interno e externo antes das estratégias de marketing serem desenvolvidas. O SIM é também usado durante a implementação para orientar a avaliação e o controle de todas as atividades de marketing. (LAS CASAS, 2001; ROCHA, 1999) As pessoas significam o lado humano da implementação do plano de marketing. De fato, as pessoas são consideradas por muitos como o “quinto P” de marketing. (RICHERS, 2000; ROCHA, 1999). A implementação de qualquer estratégia de marketing é extremamente dependente da qualidade, da diversidade e das habilidades da força de trabalho da empresa. O componente “pessoas” pode também incluir a seleção e o treinamento de funcionários. Um dos aspectos mais críticos é ajustar as experiências e as habilidades dos funcionários às das tarefas de marketing a serem desempenhadas. Alguns indivíduos trabalham melhor com pessoas e outros com ferramentas e computadores. Uma das melhores formas de assegurar a identificação das habilidades para as atividades é selecionar indivíduos com boa formação e, depois, treina-los para desempenhar determinadas tarefas. Outro aspecto relevante a ser observado é o endomarketing, segundo Bekin (2004), refere-se às ações gerenciais necessárias para fazer com que todos os membros da organização entendam e aceitem seus respectivos papéis na implementação da estratégia de marketing. Isto significa que todos os funcionários, do executivo principal ao pessoal de marketing da linha da frente, devem perceber como cada tarefa individual participa da implementação da estratégia de marketing. O processo de marketing interno é direto e baseia-se em muitos dos princípios usados em marketing externo. Os elementos produto, preço, distribuição e promoção são os mesmos para o programa de marketing interno, todavia diferentes dos elementos do programa de marketing externo. Geralmente, os produtos internos referem-se às estratégias de marketing que devem ser internamente vendidas. Entretanto, mais especificamente os produtos internos referem-se a tarefas dos funcionários, aos comportamentos, às atitudes, os valores internos necessários para assegurar a implementação da estratégia de marketing. Por fim, ao passar por todas as etapas mencionadas do processo de planejamento estratégico de marketing, deve desenvolver-se a parte escrita do planejamento, ou seja, plano de marketing pode ter seus requisitos específicos (LAS CASAS, 2001). Conforme pontua Westwood (1997, p.239), “o documento escrito deve ser claro, conciso e de fácil leitura”. Para tal, o autor sugere dentre outras coisas, que o plano de marketing inicie cada seção completa em uma nova página e que não contenha palavreado profissional que possa não ser entendido por todos aqueles que receberão o plano. 2.4 O Estudo de caso O estudo foi desenvolvido em uma Tecelagem do Rio Grande do norte. A abordagem de pesquisa utilizada é qualitativa, haja vista que as variáveis estudadas são de difícil mensuração. A escolha dessa abordagem justifica-se ainda pela necessidade da presença do pesquisador em campo a fim de compreender e interpretar o ambiente de estudo, e também de captar a opinião dos indivíduos sobre as variáveis de estudo (BRYMAN, 1989). Utilizou-se como método de procedimento de pesquisa o estudo de caso, desenvolvido por meio de entrevistas semi-estruturadas efetuadas com o proprietário, gerente e funcionários da área de produção, além de observações in-loco realizadas em toda a empresa. Conforme pontua Yin (1994), este método é utilizado quando se busca uma compreensão mais ampla sobre os fatos pesquisados. Seguindo a classificação oferecida pelo 6 XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 autor supracitado para a realização de estudo de caso, a presente pesquisa pode ser caracterizada da seguinte maneira: a) Simples-Caso: apenas uma organização foi investigada neste estudo. b) Exploratório: investigação de questões .como. e .por quê., analisando a relação entre teorias. c) Descritivo: ilustração da teoria por meio da caracterização prática de uma organização. d) Holístico: examinado a natureza global da organização. Análise ambiental Na empresa estudada, constatou-se, que o principal fator que afeta o poder de compra e os padrões de dispêndio do consumidor é o preço da principal matéria-prima, fio de algodão a base de resíduos, se estabilizou no primeiro semestre de 2006, de forma que a concorrência entre fornecedores possibilitou a compra de um fio com melhor qualidade por preços mais competitivos. Com este novo panorama algumas tecelagens optaram por baixar preços e outras por investir mais na qualidade de seus produtos. A tecelagem estudada optou pela última opção. Quanto ao ambiente político, a empresa está inserida em um contexto bem favorável. Existem incentivos por parte do Governo, através da criação de um decreto que dá isenção de 99% do ICMS para empresas que trabalham com os produtos a base de algodão. O Governo também investiu em qualificação profissional para as tecelagens do Rio Grande do Norte, haja vista, elas representarem um impacto positivo na geração de emprego e renda do Rio Grande do Norte. O incentivo também se deu através da prestação de serviços de consultoria com técnicos do SENAI (Serviço Nacional da Indústria). A consultoria faz parte de um convênio do Governo do estado com o Sebrae, é o programa SEBRAETEC. Existe uma forte exigência em relação ao meio ambiente, as tecelagens têm que ter tratamento da água que é utilizada para alvejamento e tingimento dos tecidos. No que concerne o ambiente competitivo, a empresa estudada possui vários concorrentes. A concorrência é por preço, pois o público-alvo compra, segundo os entrevistados, o produto pelo menor preço, pesando para o cliente à diferença de centavos de um produto para outro. Para se sobrepor à concorrência a Tecelagem X tem como diferencial competitivo à assistência aos clientes, através de visitas freqüentes. A empresa atende a públicos diferentes em mercados diferentes. Em Currais NovosRN atende a vendedores autônomos, supermercados, mercadinhos que revendem os produtos, mas em pequena parcela atende também a donas de casa que compram os produtos para o consumo e para agregar valor aos produtos, do tipo: crochê, macramé, ponto cruz e bordados em geral, desta forma valorizando o produto e revendendo para as amigas. Em Fortaleza – CE atende a lojas no mercado central que revendem os produtos para turistas, que muitas vezes compram os produtos para dar de presente aos entes queridos ou para o próprio consumo. A empresa vende também para empresas que utilizam seus produtos como brindes, para distribuir junto com os seus produtos. Constatou-se que os consumidores finais, de um modo geral, são pessoas das classes C, D e E; os quais compram os produtos da Tecelagem estudada em supermercados, mercadinhos, lojas de conveniência, na feira livre, em suas casas, através de sacoleiras e crediaristas, além da opção de comprar na própria tecelagem. O ambiente interno está assim disposto: Pessoal – o quadro funcional da empresa é composto por 35 pessoas. A instituição possui três setores: Financeiro – a empresa trabalha com capital próprio e capital de terceiros para 7 XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 financiar seus investimentos bem como o capital de giro. Utiliza de ferramentas de controle financeiro para auxiliar na tomada de decisões, tais como: fluxo de caixa, balancete, DRE, balanço e outros. O índice de inadimplência chegou a 30 % em 2005, mas em 2006 baixou para cerca de 15%. Produção- o processo de produção se dá em dois galpões distintos. Em um dos galpões se dá o processo de tecelagem onde se transforma o fio em tecido. E no outro galpão se confeccionam os produtos. Processo da tecelagem: Urdideira – máquina que transfere o fio que são recebidos em cones para um carretel que abastece o tear. Tear – máquina que transforma o carretel de fios em tecido. Alvejamento – máquina que recebe o rolo de tecido crú para o processo de alvejamento ou tingimento. Processo de confecção: Corte Calandra : máquina que recebe o rolo de tecido alvejado e transforma o rolo em tiras de tecido. Costureiras de Lateral: são costuradas as laterais das tiras de tecido. Corte de tesouras: as tiras costuradas são recortadas no tamanho de cada produto Costura: os produtos já costurados nas laterais e cortados são costurados. Auxiliares de produção: destacam os produtos que são costurados emendados por linha, organizam em lotes de 50 unidades, limpam as pontas de linha e fazem o controle de qualidade. Serigrafia – os produtos são estampados com motivos diversos. Embalagem – embalagem dos produtos que põem ser em embalagens padronizadas com sete unidades ou com doze. Em seguida são embalados em grandes volumes que são transportados para o lugar de destino. Marketing – a empresa está patrocinando um programa de rádio voltado para as donas de casa, no qual são disponibilizados brindes e veiculam-se propagandas dos produtos da empresa. Dentre outras ações de marketing detectadas pelo estudo, observou-se que a empresa patrocina um time de futebol dos seus funcionários; e que desenvolveu um catálogo para demonstração dos produtos. No tocante aos fornecedores, percebeu-se que a empresa dispõe de uma ampla variedade de fornecedores. Com alguns deles o relacionamento é de parceria, nesse sentido, o prazo de entrega é atendido dentro da necessidade da empresa, já que a empresa não pode trabalhar com grandes estoques em virtude da falta de espaço nas instalações físicas. Porém com outros fornecedores a relação é apenas de venda, valendo o preço e qualidade melhor. A empresa não dispõe de espaço físico suficiente para absorver o volume de produção atual. No entanto, já está sendo construído um galpão com espaço suficiente para triplicar a produção atual, o que no momento ficará com parte da capacidade produtiva ociosa, em virtude da demanda. Na cultura organizacional, a tecelagem tem como ponto positivo uma relação aberta com os funcionários. São feitas reuniões constantes para troca de idéias, existindo liberdade para todos colocarem suas reais opiniões. Isso representa um dos motivos que os funcionários afirmaram como fator de satisfação e motivação. Outro ponto considerado positivo na empresa é o fato dela possuir um organograma definido de forma que todos sabem exatamente quais suas responsabilidades e atribuições. A administração é descentralizada, as atividades são delegadas e acompanhadas pelo gestor. A empresa apresenta como principais pontos fortes: a) assistência oferecida aos 8 XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 clientes, especialmente no seu principal mercado, qual seja, Fortaleza – CE, através de um sistema de pós-venda; b) variação de artes que utiliza em seu produto principal-pano de prato; c) mão de obra qualificada; d) processo produtivo direcionando corretamente; e)controle de custos e despesas; f) funcionários comprometidos; e) baixo nível de turnover. Os pontos fracos foram evidenciados pela deficiência no atendimento de pedidos em períodos sazonais, a não existência de estratégias de vendas diversificadas, a qualificação profissional de seus vendedores, a qualidade dos produtos em relação aos seus concorrentes, o espaço físico não é suficiente para atender suas necessidades e o preço é alto em relação aos concorrentes, falta de investimentos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e inexistência de um SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor). A principal ameaça é a entrada de concorrentes praticando preços a baixo do preço que a empresa vem praticando no mercado. Como também, os aumentos de preços constantes de matéria-prima. Também representa ameaça os produtos diferenciados que os concorrentes utilizam. Contatou-se que a empresa pode ampliar seu leque de produtos já que atualmente trabalha com produtos populares, ampliando o seu mercado para atender a um público mais selecionado. Existe a demanda por produtos de maior qualidade para vendedores de crediário, que é um público que ainda não é atendido. Outros mercados possíveis de serem atendido são lojas de tecido que também existe a demanda pelo tecido para vender a costureiras autônomas que fazem os produtos para revender. Composto de marketing (4 P’s) Produto A empresa dispõe de 8 linhas de produtos: panos de prato, panos de chão, tapetes, toalhas, flanelas, sacos e panos de pia e mesa. Preço O preço pode variar de acordo com o volume, a maioria dos clientes da empresa compra com o prazo médio de quarenta e cinco dias para pagar, mas se o volume dessa compra for grande o cliente pode ter até 60 dias de prazo. O preço é reajustado em função dos custos, mas com grande influência dos preços praticados no mercado. Praça A distribuição é feita para Fortaleza onde se encontra grande parte da clientela da empresa, a entrega é feita no estabelecimento de cada cliente. A distribuição é feita pela própria empresa que utiliza dois transportes próprios. A empresa também faz as entregas locais com seu transporte próprio. PROMOÇÃO A empresa é parceira em um programa de rádio onde oferece os produtos como brindes e veicula uma propaganda que incentiva os consumidores a procurarem os seus produtos nas prateleiras dos supermercados. Contudo, a TCN poderia ampliar seus mecanismos de promoção, como por exemplo, utilizando o marketing digital, haja vista que a empresa possui um microcomputador com internet a rádio e uma gerente que tem ótimas noções de marketing e internet, o que mostra que a empresa pode utilizar uma estratégia de marketing eficaz sem necessitar de muitos esforços a curto prazo. Outro mecanismo que a empresa poderia utilizar seria a colocação de stand em feiras e eventos que atraem o públicoalvo. Constatou-se que a empresa desenvolve o marketing interno, através de reuniões, elogios individuais e em equipe, e de patrocínio ao time de futebol dos funcionários da tecelagem. Contudo, entende-se, que a empresa pode diversificar e intensificar suas ações de marketing interno, especialmente para que seus funcionários conheçam em profundidade a realidade da empresa na qual trabalha, bem como sua missão e visão de futuro, ou seja, para que os funcionários conheçam realmente os objetivos da empresa e assim consigam atender as 9 XIII SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 reais necessidades dos consumidores. 2.5 Conclusões Após o confronto das idéias dos diversos autores que tratam da literatura especializada e a pesquisa empírica levada a efeito, fica a evidência da relevância do planejamento estratégico de marketing para qualquer tipo de empresa. Acredita-se, ao contrário do que muitos administradores pensam, que é viável o planejamento formal para micro e pequenas empresas. Conclui-se que a empresa, objeto desse estudo, conhece bem as suas potencialidades e sabe aonde quer chegar. Contudo, segue a tendência, da maioria das micro e pequenas empresas brasileiras, qual seja, não colocar no papel as metas, os objetivos e as estratégias de marketing sistematicamente. Conclui-se, também que a tecelagem estudade deve aprimorar o seu composto mercadológico, seu processo produtivo e seu sitema de informações. Por fim, sugere-se que a empresa estudada desenvolva continuamente o seu planejamento estratégico de marketing, haja vista, dentre outros aspectos, que o mercado no qual ela atua é “hipercompetitivo” e que o mercado consumidor a cada dia torna-se mais exigente. 3. Referências Bibliográficas KOTLER, P. Administração de Marketing. 10. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. 764 p. (obra, livro, folheto, trabalho acadêmico com único autor) BEKIN, S. Endomarketing: como praticá-lo com sucesso. São Paulo: Prentice Hall, 2004. BRYMAN, A. Research methods and organization studies. London, Unwin Hyman, 1998. BOONE, L. E.; KURTZ, D. L. Marketing Contemporâneo. 8 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1998. CHURCHILL Jr., G. A.; PETER, J. Paul. Marketing: criando valor para os clientes. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2000. CIDES, J. S. Introdução ao Marketing: Princípios e Aplicações para Micros e Pequenas Empresas. São Paulo: Atlas, 1997. COBRA, M. Administração de Marketing. São Paulo: Pioneira, 1994. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de Marketing. 7 ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall, 1998. KOTLER, P. Administração de marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1998. ______. Administração de marketing: a edição do novo milênio. 10 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. LAS CASAS, A. Marketing: conceitos, exercícios e casos. 5 ed. 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