FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS ESUDA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROPSICOLOGIA DANDRÉA LEMOS PEREIRA LEÇA AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO PARA CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS RECIFE AGOSTO/2014 FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS ESUDA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROPSICOLOGIA DANDRÉA LEMOS PEREIRA LEÇA AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO PARA CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS Trabalho de Pós-graduação desenvolvido pela aluna Dandréa Lemos Pereira Leça, orientada pelo Prof. e Biólogo Fábio Torres Cunha, e, apresentado ao Curso de Especialização em Neuropsicologia da Faculdade de Ciências Humanas Esuda, como requisito final para obtenção do grau de Especialista. RECIFE AGOSTO/2014 FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS ESUDA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROPSICOLOGIA AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO PARA CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS DANDRÉA LEMOS PEREIRA LEÇA Monografia submetida ao Corpo Docente do Curso de Especialização em Neuropsicologia da Faculdade de Ciências Humanas Esuda e ______________________________ com __________________________ em 14 de agosto de 2014. Banca Examinadora: _______________________________________________________________ Orientador: Fábio Torres da Cunha, Professor, Biólogo, Especialista em Neuropsicologia e Mestre em Patologia - Faculdade de Ciências Humanas Esuda _________________________________________________________ Examinador. Dedico esta monografia à minha avó materna Carmella Amorelli por seus cuidados, carinho e preocupação que sempre teve comigo. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Sônia Maria e Carlos Alberto Pereira, pelo incentivo aos meus estudos. Ao meu marido, Lupércio Leça, pela importante ajuda durante o período de realização deste trabalho. Aos professores que contribuíram para o meu crescimento intelectual. Aos profissionais da Faculdade Esuda pela confiança e respeito ao meu trabalho que contribuíram para a conclusão desta monografia. LISTA DE FIGURAS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS ................................................................................... 12 LOBOS CEREBRAIS ............................................................................................... 14 HIPOCAMPO E AMÍGDALA ..................................................................................... 15 FUNÇÕES CEREBRAIS .......................................................................................... 15 NEURÔNIO .............................................................................................................. 17 SINAPSE .................................................................................................................. 18 HOMÚNCULO .......................................................................................................... 20 POTENCIAÇÃO DE LONGO PRAZO ...................................................................... 24 ÁREAS DA MEMÓRIA ............................................................................................. 31 NEUROANATOMIA DA LEMBRANÇA .................................................................... 31 DIVISÃO DO TRABALHO ........................................................................................ 32 FORMAÇÃO DE UMA MEMÓRIA ............................................................................ 35 PRANCHA DE COMUNICAÇÃO .............................................................................. 72 VOCALIZADOR ........................................................................................................ 73 ACIONADORES ....................................................................................................... 73 INTELLIKEYS ........................................................................................................... 73 SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................... 09 1 O PAPEL DO CÉREBRO NA APRENDIZAGEM .................................................. 10 1.1 A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO ................................................... 10 1.2 CÓRTEX CEREBRAL ........................................................................................ 11 1.3 HEMISFÉRIOS CEREBRAIS ............................................................................. 12 1.4 LOBOS DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS ....................................................... 13 1.5 NEURÔNIOS ...................................................................................................... 16 1.6 SINAPSE ............................................................................................................ 17 1.7 NEUROPLASTICIDADE OU PLASTICIDADE CEREBRAL ............................... 18 2 MEMÓRIA ............................................................................................................. 22 2.1 FONTE DO APRENDIZADO E DA VIDA ........................................................... 22 2.2 A MEMÓRIA E O APRENDIZADO ..................................................................... 22 2.3 A MEMÓRIA E OS NEURÔNIOS ....................................................................... 23 2.3.1 POTENCIAÇÃO DE LONGO PRAZO ............................................................. 24 2.4 TIPOS DE MEMÓRIA ......................................................................................... 25 2.4.1 MEMÓRIA SENSORIAL .................................................................................. 25 2.4.2 MEMÓRIA DE CURTA DURAÇÃO ................................................................. 26 2.4.3 MEMÓRIA DE TRABALHO ............................................................................. 26 2.4.4 MEMÓRIA DE LONGA DURAÇÃO ................................................................. 27 2.4.4.1 MEMÓRIA DECLARATIVA .......................................................................... 28 2.4.4.1.1 MEMÓRIA EPISÓDICA ............................................................................. 28 2.4.4.1.2 MEMÓRIA SEMÂNTICA ........................................................................... 29 2.4.4.2 MEMÓRIA NÃO-DECLARATIVA ................................................................. 29 2.4.4.2.1 MEMÓRIA PROCEDURAL ....................................................................... 30 2.4.4.2.2 SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO PERCEPTIVA – PRIMING ................ 30 2.5 A MEMÓRIA E A PLASTICIDADE CEREBRAL ................................................. 32 2.6 A MEMÓRIA E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ............................................... 33 3 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO, DO COMPORTAMENTO E DA APRENDIZAGEM ..................................................................................................... 37 3.1 PIAGET .............................................................................................................. 37 3.1.1 EQUILIBRAÇÃO E ABSTRAÇÃO ................................................................... 38 3.1.2 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO .......................................................... 39 3.1.2.1 ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR .................................................................. 39 3.1.2.2 ESTÁGIO PRÉ-OPERATÓRIO .................................................................... 41 3.1.2.3 ESTÁGIO OPERATÓRIO ............................................................................. 43 3.2 VYGOTSKY ........................................................................................................ 44 3.2.1 PLANOS GENÉTICOS DE DESENVOLVIMENTO.......................................... 45 3.2.1.1 FILOGÊNESE ............................................................................................... 45 3.2.1.2 ONTOGÊNESE ............................................................................................ 46 3.2.1.3 SOCIOGÊNESE ........................................................................................... 46 3.2.1.4 MICROGÊNESE .......................................................................................... 47 3.2.2 MEDIAÇÃO SIMBÓLICA ................................................................................. 48 3.2.3 PENSAMENTO E LINGUAGEM ..................................................................... 49 3.2.4 ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL ................................................ 51 3.2.5 CAMINHOS ISOTRÓPICOS ........................................................................... 52 3.2.6 DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM ........................... 53 4 UMA EDUCAÇÃO ESPECIAL ............................................................................... 56 4.1 CONTEXTO HISTÓRICO ................................................................................... 56 4.2 A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL ............................................................. 60 4.3 A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS ....... 61 4.4 A EDUCAÇÃO ESPECIAL, AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM ..................................................................................................... 62 5 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO .... 65 5.1 UM BREVE HISTÓRICO ................................................................................... 65 5.2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO PARA PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS ............................................................................................................... 68 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 74 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 79 9 CONSIDERAÇÕES INICIAIS “Nós somos quem somos em consequência do que aprendemos e do que nos lembramos” (Eric Kandel). Esse pensamento demonstra o quanto o aprendizado é o componente fundamental que caracteriza o ser humano. É importante dizer, que a aprendizagem envolve o cérebro que precisa processar a informação a ser aprendida. E, que a memória é a atividade cerebral que faz o aprendizado acontecer. Para a memória guardar a informação é preciso que a mesma chegue à Memória de Longo Prazo, para este fato ocorrer, é necessário que a informação venha permeada de significados e códigos que dê sentido à necessidade e à vontade da informação se fixar na memória. Assim, se desenvolve o aprendizado do ponto de vista neurocientífico. E para a Pedagogia, o aprendizado se fundamenta na Teoria Construtivista de Piaget e na Teoria Sociointeracionista de Vygotsky conforme se demonstra no decorrer do presente trabalho. A Pedagogia se alicerça na Neurociência promovendo ao aluno o que é significativo e interessante para ele e finalmente com o suporte da Tecnologia da Informação e Comunicação promove os meios necessários para o desenvolvimento do aprendizado de pessoas com necessidades especiais. 10 CAPÍTULO 1 O PAPEL DO CÉREBRO NA APRENDIZAGEM Aprendizagem é a aquisição de um desempenho gerado pela obtenção de conhecimento produzido através do exercício e da experiência. É a passagem do momento inicial de produção da tarefa onde ela ainda não é dominada para um estágio onde a tarefa passa a ser internalizada e automatizada (FONSECA, 2008). A aprendizagem envolve o sujeito que necessita do cérebro para processar a informação. O cérebro precisa captar, categorizar, decodificar, armazenar e finalmente evocar a informação para que se verifique a aprendizagem (FONSECA, 2008). Portanto, neste capítulo são apresentadas as estruturas cerebrais responsáveis pelo processo de aprendizagem, considerando-se que o cérebro é a parte principal deste estudo, pois abriga as estruturas responsáveis pela memória e esta por sua vez, é a função executiva superior responsável pelo aprendizado. 1.1 A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO O Sistema Nervoso é a rede de comunicação e controle do corpo. “O sistema nervoso é a base de nossa capacidade de percebermos, de nos adaptar e de interagirmos com o mundo ao nosso redor” (GAZZANIGA, 1995, 2000; GAZZANIGA et al., 1998 apud STERNBERG, 2010, p. 30). O Sistema Nervoso recebe, processa e responde informações provenientes do meio ambiente (PINKER 1997; RUGGI 1997 apud STERNBERG, 2010, p. 30), através dos sentidos. O Sistema Nervoso se divide em duas partes: o Sistema Nervoso Central (SNC) formado pelo Encéfalo e pela Medula Espinhal e o Sistema Nervoso Periférico (SNP) formado por tudo o que está fora do SNC. O SNC é o comando e o controle do Sistema Nervoso (GAZZANIGA et al., 2006, p. 88). O SNP representa uma rede de mensageiros que entrega informação sensorial ao SNC e, então, leva os comandos motores do SNC aos músculos, para controlar os músculos voluntários do corpo (sistema motor somático) e a atividade involuntária dos músculos lisos, do coração e das glândulas (sistema motor autônomo). (GAZZANIGA, et al, 2006, p.88). 11 As informações recebidas e enviadas são sinais elétricos que trafegam por meio de redes neurais que são milhares de neurônios que se conectam através das sinapses. O Encéfalo é o principal órgão do SNC, é formado pelo Cérebro, Tronco Encefálico e Cerebelo e é protegido pelo crânio. A Medula Espinhal, por sua vez, é protegida pela coluna vertebral (MORAES, 2009). 1.2 CÓRTEX CEREBRAL A superfície do cérebro é coberta por uma camada de substância cinzenta denominada córtex cerebral, formada por corpos de células neurais que processam toda a informação que o cérebro recebe e envia e sob o córtex ficam as estruturas centrais do Cérebro (STERNBERG, 2010). Ainda de acordo com esse autor, “é o córtex cerebral que possibilita ao homem pensar, planejar, coordenar pensamentos e ações, perceber padrões visuais e sonoros e utilizar a linguagem” (STERNBERG, 2010, p. 51). É o que diferencia os seres humanos dos outros seres. O Córtex Cerebral tem dois Hemisférios, o direito e o esquerdo, divididos por uma fissura longitudinal e mede cerca de 2.200 a 2.400cm2 (Gazzaniga, et al, 2006) o que compreende 80% do cérebro (Kolb e Whisaw (1990) apud Sternberg (2010, p.51) é formado por circunvoluções, ou seja, elevações arredondadas, chamadas giros, pequenas depressões chamadas sulcos e depressões maiores chamadas fissuras, por causa desse dobramento seu tamanho é reduzido a um terço da área definida (GAZZANIGA et al., 2006; STERNBERG, 2010 e LUNDY-EKMAN, 2008). O córtex é dividido em quatro Lobos, são eles: Lobo Frontal, Lobo Parietal, Lobo Temporal e Lobo Occipital, ou cinco, se considerar o Sistema Límbico como Lobo Límbico (GAZZANIGA et al., 2006; MORAES 2009 e STERBENG, 2010). 12 1.3 HEMISFÉRIOS CEREBRAIS Os Hemisférios Cerebrais são parecidos, porém, funcionam de maneiras diferentes, pois cada um é especializado em uma atividade, entretanto, necessitam integrar-se para que as funções desempenhadas por eles funcionem perfeitamente (STERNBERG, 2010). Na concepção de Sternberg (2010), tem-se o entendimento de que grande parte da informação é transmitida de forma contralateral, isto significa que o hemisfério esquerdo do cérebro comanda as respostas motoras do lado direito do corpo e o hemisfério cerebral direito, comanda as respostas motoras do lado esquerdo do corpo. Contudo, também ocorre a transmissão de informação chamada ipsilateral, que se processa entre o mesmo lado do hemisfério cerebral e do corpo. Ainda de acordo com esse autor, uma via constituída de milhões de fibras nervosas chamada Corpo Caloso liga os dois hemisférios cerebrais, sendo responsável pela comunicação entre eles. Mesmo que algumas funções sejam lateralizadas, todas, para funcionarem perfeitamente, dependem da integração dos dois hemisférios. Portanto, o Corpo Caloso, desempenha a importante função de transmitir a informação de um hemisfério para o outro (STERNBERG, 2010, GAZANIGA et al., 2006). Hemisférios Cerebrais Fonte: STENBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Tradução de LUCHE, A M D e GALMAN, R. 5ª. ed. Norte americana. SÃO PAULO: CENGAGE LEARNING, 2010, p. 55. 13 1.4 LOBOS DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS Cada lobo realiza uma função específica, contudo, interagem entre si para realizar processos complexos. Em seguida, uma breve explicação sobre algumas das funções que cada lobo executa: Lobo Frontal, localizado na parte da frente do cérebro, está associado ao processamento motor para realizar o movimento intencional e ao processamento mais elaborado do pensamento que é o raciocínio, a resolução de problemas, o planejamento, o julgamento e também a personalidade. Portanto, é ativado quando é solicitada uma sequência de pensamentos ou de ações, bem como para a produção do discurso (STENBERG, 2010). “O córtex pré-frontal, região próxima à frente do lobo frontal, é responsável pela realização de complexas tarefas motoras e de controle que exigem integração de informação ao longo do tempo”. GAZZANIGA, et al., 2002 apud STERNBERG, 2010, p. 55). Lobo Parietal, localizado na parte superior e posterior do cérebro, está associado ao processamento somatossensorial, onde recebe dos neurônios dados relativos ao toque, como pressão e textura, à dor, à sensação de temperatura e à posição dos membros, percebendo a relação que se ocupa no espaço. Também é ativado quanto à consciência e à atenção (STERNBERG, 2010). Lobo Temporal, localizado sob as têmporas, está associado ao processamento auditivo, à compreensão da linguagem e à retenção da memória visual. Também combina coisas novas que se vê com aquilo que já está retido na memória visual. (STERNBERG, 2010). Lobo Occipital, localizado na parte de trás do cérebro, está associado ao processamento visual. Contém diversas áreas visuais, cada uma especializada em analisar os aspectos específicos de uma cena, inclusive cor, movimento, localização e forma. (Gazzaniga, et al., 2002 apud Sternberg 2010, p. 55). Ainda de acordo com Sternberg (2010), também opera na percepção das palavras ao ler um texto. Lobo Límbico, localizado nas superfícies internas dos hemisférios cerebrais, tanto acima como abaixo do corpo caloso, forma um anel que contorna as porções mais 14 interiores e centrais do encéfalo e se estende até o tronco encefálico. O nome límbico deriva da palavra latina limbus, que significa “limite” ou margem”. Contém as estruturas do sistema límbico que responde pelos comportamentos instintivos, pelas emoções e pelos impulsos básicos, como sexo, ira, prazer e sobrevivência (MORAES, 2009), também participa do processamento da aprendizagem e da memória (GAZZANIGA et al., 2006). “Forma um elo entre os centros de consciência superiores, no córtex cerebral, e o tronco encefálico, que regula os sistemas corporais” é o que explica Moraes (2009, p.64). O sistema límbico contém o hipocampo e a amídala, componentes responsáveis pela memória e pela emoção (MORAES, 2009). Lobos Cerebrais Lobo Límbico Fonte: MORAES, A P Q de. O livro do cérebro 1: Funções e anatomia. São Paulo: Duetto, 2009, p. 66. 15 Hipocampo e Amígdala Fonte: MORAES, A P Q de. O livro do cérebro 1: Funções e anatomia. São Paulo: Duetto, 2009, p. 65. Funções Cerebrais Fonte: MORAES, A P Q de. O livro do cérebro 1: Funções e anatomia. São Paulo: Duetto, 2009, p. 39. 16 1.5 NEURÔNIOS Neurônio ou célula nervosa é o principal componente do sistema nervoso (RELVAS, 2009, p. 38). Os neurônios têm como função receber, integrar, transmitir e transferir informações, ou seja, eles se destinam a receber informações, processá-las e gerar um estímulo resposta (LUNDY-EKMAN, 2008, p. 24). Estima-se que existam aproximadamente 100 bilhões de neurônios no cérebro humano, células eletricamente ativas responsáveis por todas as funções do sistema (RELVAS, 2009, p. 38). Existem diversos tipos de neurônios, com diferentes funções, que se classificam quanto à sua localização e sua estrutura morfológica. Mas são constituídos pelos mesmos componentes que são (RELVAS, 2009, p. 38): Soma - Corpo do neurônio que dá suporte metabólico a toda célula (RELVAS, 2009, p. 38). Axônio - Prolongamento de fibra nervosa que sai do soma. A maioria dos neurônios tem apenas um axônio principal, longo e grosso. É responsável pela condução do impulso nervoso para o próximo neurônio (RELVAS, 2009, p. 38). Dendritos – Prolongamentos menores em forma de ramificações que saem do soma e do final do axônio, sendo, na maioria das vezes, responsáveis pela comunicação entre os neurônios por meio das sinapses (RELVAS, 2009, p. 38). Os neurônios transmitem informações a respeito de sua atividade por meio de compostos químicos denominados neurotransmissores (Lundy-Ekman, 2008, p. 24), dos terminais pré-sinápticos passando pela fenda sináptica até os terminais póssinápticos. Terminal pré-sináptico é uma projeção localizada na extremidade do axônio especializada para liberação dos neurotransmissores (LUNDY-EKMAN, 2008, p. 46). Terminal pós-sináptico é a região da membrana da célula receptora que pode ser uma glândula, uma célula muscular ou outro neurônio (LUNDY-EKMAN, 2008, p. 46). A fenda sináptica é o espaço entre os dois terminais que serve como local de comunicação interneuronal (LUNDY-EKMAN, 2008, p. 46). 17 O aprendizado está associado com a formação de novas conexões neurais (Sternberg, 2010, p.30), ou seja, novas sinapses. Neurônio Fonte: GAZZANIGA, M S; IVRY, R B; MANGUN, G R. Neurociência cognitiva A biologia da mente. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2006, p. 44. 1.6 SINAPSE É a comunicação neural (Lundy-Ekman, 2008, p. 46), ou seja, a troca de informações entre os neurônios. Um neurônio pré-sináptico libera um neurotransmissor na fenda sináptica, o neurotransmissor se espalha na fenda e, então, se liga em receptores da membrana pós-sináptica com moléculas especializadas visando à fixação de neurotransmissores específicos (LUNDY-EKMAN, 2008, p. 46). O desenvolvimento da memória está relacionado com um aumento na atividade sináptica e a alterações metabólicas que aumentam a eficiência das descargas celulares. A formação da memória necessita da síntese de novas proteínas e do crescimento de novas conexões sinápticas. Na repetição de um estímulo específico, a síntese e a ativação de novas proteínas alteram a excitabilidade neuronal e promovem o estabelecimento de novas conexões sinápticas persistentes e duradouras (LUNDY-EKMAN, 2008, p. 62). Como dito anteriormente, a memória é a função cognitiva responsável pelo aprendizado, será detalhada no próximo capítulo. 18 Doenças e transtornos que interferem com a comunicação sináptica podem interromper qualquer aspecto da função neural, desde o pensamento, à sinalização neuromuscular, até a regulação do humor (LUNDY-EKMAN, 2008, p. 46) Porém, existe a plasticidade cerebral onde os neurônios estão constantemente estabelecendo conexões sinápticas e até mesmo desfazendo-as. Sinapse Fonte: GAZZANIGA, M S; IVRY, R B; MANGUN, G R. Neurociência cognitiva A biologia da mente. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2006, p. 72. 1.7 NEUROPLASTICIDADE OU PLASTICIDADE CEREBRAL Neuroplasticidade é a capacidade de remapeamento das conexões neuronais, ou seja, como o cérebro age e reage às mudanças ocorridas no ambiente, bem como ao desenvolvimento de uma habilidade (LUNDY-EKMAN, 2008, p. 61). Significa dizer que a neuroplasticidade é a capacidade dos neurônios de alterar sua função, seu perfil químico (quantidade e tipos de neurotransmissores produzidos) ou sua estrutura (Woolf e Salter, 2000 apud Lundy-Ekman, 2008, p. 61) para dar conta de transformações. Pesquisas demonstraram que o cérebro continua se desenvolvendo ao longo da vida, ao contrário do que se pensava, de que a fase de desenvolvimento cerebral acontecia apenas no período da infância (GAZZANIGA et al., 2006, p. 658). Exercícios, estímulos e novos aprendizados promovem novos caminhos para novas comunicações neuronais (RELVAS, 2009, p. 17) 19 O cérebro muda de forma de acordo com as áreas que são mais utilizadas, dependendo da atividade mental realizada. Por exemplo, pesquisadores da Universidade de Londres descobriram nos taxistas da cidade, uma região cerebral mais desenvolvida, o hipocampo, área responsável pela fixação da memória, pois os taxistas exercitam constantemente essa zona cerebral memorizando novas rotas (ERIC KANDEL, s/d). Ainda segundo o mesmo autor, cientistas alemães encontraram nos músicos um maior desenvolvimento cerebral na área responsável pelo processamento da música, enquanto que, no Instituto de Neurologia de Londres descobriu-se nas pessoas bilíngues uma maior atividade na estrutura cerebral importante para a linguagem. Pode-se então completar que a atividade mental modifica o cérebro. O treinamento pode induzir mudanças relativamente rápidas na organização cortical que refletem a habilidade plástica do sistema nervoso de adquirir e reter novas informações e habilidades. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 668). O cérebro possui mapas corticais que são pontos do corpo representados em seções no córtex cerebral. Os neurônios, por sua vez, respondem às estimulações externas como, audição, visão, e sensações, a partir dessas seções representadas no córtex cerebral. Os mapas corticais sensoriais e motores são representados por córtex visual, córtex auditivo e córtex somatossensorial (GAZZANIGA et al., 2006). Os pesquisadores Merzenich e Kass de São Francisco fizeram um experimento, cortaram o nervo de um dedo de um macaco e descobriram que parte relevante do córtex não respondia mais ao toque do dedo denervado, pois o córtex não estava mais recebendo os sinais desse dedo. A área do córtex que formalmente representa o dedo denervado logo em seguida se torna ativa novamente e responde à estimulação do dedo adjacente ao amputado. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 665). As áreas corticais ao redor preenchem a área silenciosa e tomam conta. Essa plasticidade funcional sugere que o córtex adulto é um lugar dinâmico, onde mudanças ainda podem acontecer. Tal fenômeno demonstra uma plasticidade extraordinária. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 665). O professor Ramachandran da Universidade da Califórnia estudou um jovem que teve seu antebraço e mão amputados. O professor esfregou um cotonete no rosto do jovem e o mesmo informou sentir que a mão que foi amputada estava sendo tocada. Esta sensação em membros que estão faltando é conhecida como sensação 20 do membro-fantasma. De acordo com as pesquisas realizadas, o que aconteceu foi que a região que codifica o braço amputado foi inervada funcionalmente pelo córtex ao redor. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 667 e 668). A representação do córtex somatossensorial é chamada de homúnculo, do latim, pessoa pequena (Sternberg, 2010, p. 56), começa com a faringe, depois vem a face, em seguida o lábio e próximo à face estão os dedos e as mãos, seguidos pelos braços e pelas pernas. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 667). Como o mapa cortical das mãos e dos braços está próximo ao da face, explica o fato do jovem ter sentido a mão amputada ao ser tocado no rosto. Homúnculo Fonte: STENBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Tradução de LUCHE, A M D e GALMAN, R. 5ª. ed. Norte americana. SÃO PAULO: CENGAGE LEARNING, 2010, p. 57. Quanto maior for o uso de uma superfície corporal, maior será o número de neurônios que representarão àquela área, por exemplo, os lábios com maior sensibilidade, portanto maior área de representação, assim como, mais neurônios são direcionados para as pontas dos dedos do que para as costas das mãos (GAZZANIGA et al., 2006). Portanto, o cérebro pode se regenerar mediante seu uso e potenciação. As áreas de representação cortical, denominadas mapas corticais, podem ser modificadas por estímulos sensoriais, experiência e aprendizado e após lesões cerebrais (LUNDYEKMAN, 2008, p.65). 21 Por esta razão, o aprendizado pode e deve ser provocado, inclusive em pessoas com necessidades especiais, pois o cérebro é capaz de se modificar para dar conta desses novos estímulos. Até aqui foi mostrado a plasticidade neural do sistema nervoso, mas ainda existe a intervenção dos processos cognitivos, que será visto no capítulo 2 e o desenvolvimento do comportamento, sob o ponto de vista das teorias dos psicólogos Piaget e Vygotsky, que será discutido no capítulo 3. 22 CAPÍTULO 2 MEMÓRIA 2.1 FONTE DO APRENDIZADO E DA VIDA Memória é um termo que engloba diversas funções cerebrais responsáveis pela capacidade de recriar e aperfeiçoar experiências vividas anteriormente (PINTO, 2009, p. 172). Lembrar de um evento antigo ou de onde guardou alguma coisa, saber recitar um poema sem precisar ler, reconhecer a fisionomia de uma pessoa, executar movimentos corporais empenhados na habilidade de andar de bicicleta, dirigir ou simplesmente escovar os dentes, são atividades realizadas pela memória que envolve o aprendizado e a reconstrução total ou parcial de uma experiência passada (PINTO, 2009, p. 172). A memória dá continuidade à nossa vida, ela nos dá uma imagem coerente do passado e traz experiências atuais à sua perspectiva. A memória é a cola que liga a nossa vida mental, que permite lembrar do que se fez e dar continuidade à vida. É a característica da vida mental. (ERIC KANDEL, s/d). 2.2 A MEMÓRIA E O APRENDIZADO O aprendizado é o processo de aquisição de informação, enquanto memória referese à persistência do aprendizado em um estado que pode ser evidenciado posteriormente (SQUIRE, 1987 apud GAZZANIGA et al., 2006, p. 320). O aprendizado e o resultado dele chamado de memória são divididos em três estágios: codificação, armazenamento e evocação. Codificação – é o processamento da nova informação a ser armazenada, primeiramente pela fase de aquisição onde as informações são registradas em arquivos sensoriais e estágios de análise sensorial e depois pela fase de consolidação onde é criada uma forte representação da informação através do tempo. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 320). Armazenamento – é o resultado da aquisição e da consolidação onde é criado e mantido um registro permanente da informação. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 320). 23 Evocação – utiliza a informação armazenada para criar uma representação consciente ou para executar um comportamento aprendido como um ato motor. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 320). A formação de memórias, desde a aquisição, passando pela consolidação até chegar à evocação ou à lembrança, é um processo dependente da transmissão de informações célula a célula por meio da ajuda de neurotransmissores, que agem no espaço existente entre dois neurônios, ou seja, nas sinapses (RELVAS, 2009, p.82). 2.3 A MEMÓRIA E OS NEURÔNIOS A memória envolve ampla gama de facetas e funções, dos instintos enraizados ao conhecimento factual consciente, eles são associados a diferentes áreas do cérebro. (PINTO, 2009, p.172). Depois de consolidadas, as memórias de longo prazo são armazenadas pelo cérebro como grupos de neurônios, preparados para disparar juntos no mesmo padrão criado pela experiência original (PINTO, 2009, p.177). Pinto acrescenta que “memórias inteiras são divididas em componentes de sensações, emoções, pensamentos, etc” e que cada um deles é armazenado na área do cérebro que a iniciou, ou seja, as memórias são armazenadas em fragmentos por todo o cérebro, onde cada elemento de uma lembrança, visão, som, palavra ou emoção, está codificado na mesma parte do cérebro que originalmente criou aquele fragmento. Uma experiência quando é lembrada, é recriada em sua essência, reativando os padrões neurais gerados durante a vivência original, codificada em memória, significa dizer, por exemplo, que grupos de neurônios no córtex visual decodificam uma imagem, neurônios no córtex auditivo decodificam os sons e neurônios na amídala armazenam uma emoção, enquanto que o hipocampo os une. (PINTO, 2009). O hipocampo está embutido no fundo dos lobos temporais, as experiências “fluem” por ele constantemente e ainda está envolvido na recuperação da maior parte dos tipos de memória (PINTO, 2009, p.175). 24 2.3.1 POTENCIAÇÃO DE LONGO PRAZO A descarga simultânea de todos os grupos constrói a memória em sua totalidade. (PINTO, 2009, p.177). A percepção de uma experiência é gerada por um subgrupo de neurônios que disparam em conjunto. A descarga sincrônica torna esses neurônios inclinados a dispararem juntos de novo no futuro, tendência conhecida como “potenciação”, que recria a experiência original. Se os mesmos neurônios disparam juntos com frequência, podem se tornar sensíveis de forma permanente uns aos outros; quando um disparar, os outros também o farão, processo conhecido como “potenciação de longa duração”. (PINTO, 2009, p.174). Pinto explica que na aprendizagem, os neurônios acionados em conjunto para produzir determinada experiência são alterados e tendem a disparar juntos novamente. O disparo conjunto posterior reconstrói a experiência original, produzindo uma “lembrança” desta. Recordar aumenta a probabilidade de os neurônios envolvidos dispararem de novo, a reconstrução repetida de um acontecimento o torna mais fácil de ser lembrado. (PINTO, 2009, p.172). O aprendizado envolve a formação de novas conexões entre conglomerados de neurônios em diferentes partes cerebrais. Quanto mais conexões são criadas, melhor é usado o que se aprende e leva-se mais tempo para esquecer. (PINTO, 2009, p.173). Potenciação de Longo Prazo Fonte: PINTO, G C – Traduzido por Frances Jones. O livro do cérebro, 3: Memória, pensamento e consciência. São Paulo: Duetto, 2009, p. 174. 25 2.4 TIPOS DE MEMÓRIA Psicólogos cognitivos e autores conceitualizam a memória em modelos de armazenagem de memória e níveis de processamento da memória. Porém, para este trabalho, relevantes são os tipos de memória, sem importar a sua classificação, pois o aprendizado se processa na memória, e para promover ao educando um aprendizado eficiente, é importante o conhecimento dos tipos de memória existentes para que seja possível a criação de procedimentos pedagógicos mnemônicos para a diversidade dos educandos, inclusive, para pessoas com necessidades especiais. Todos os modelos de memória são conceitos mentais e não observáveis que atuam somente para a compreensão de como opera o fenômeno psicológico denominado memória (STERNBERG, 2010, p.158). 2.4.1 MEMÓRIA SENSORIAL Representa a informação com base em sensações auditivas, visuais e táteis. Os traços sensoriais não são diretamente acessíveis à consciência, embora a informação possa ser recuperada da memória sensorial, analisada e trazida à consciência, se o processo for imediato, pois a principal característica dessa memória é que ela decai rapidamente. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 323). A informação auditiva é chamada de memória de eco, pois a informação apresentada parece persistir na memória como um tipo de “eco”. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 322). A informação visual é chamada de memória icônica, são imagens visuais que representam algo, (Sternberg, 2010, p. 159) nesta, podemos “ver” muito mais do que podemos lembrar, pois é um processo muito rico em informações, contudo, a memória impõe um limite ao que consegue lembrar-se sobre o que foi visto. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 323). Porém, tanto a memória de eco como a icônica, ficam disponíveis por pouquíssimo tempo. A informação da memória sensorial pode ser transferida para outra memória, como a de longo prazo, por exemplo, ou ser apagada se outra informação for superposta à primeira antes de existir tempo suficiente para a transferência. (STERNBERG, 2010, p. 162). 26 2.4.2 MEMÓRIA DE CURTA DURAÇÃO Tem capacidade muito limitada, duração de segundos a minutos e está prontamente acessível ao processamento consciente. (GAZZANIGA et al., 2006, p. 325). Um exemplo de memória de curta duração é lembrar-se de um número de telefone que foi dito enquanto tenta-se digitá-lo. Normalmente os dados permanecem na memória de curto prazo por cerca de 30 segundos, a não ser que seja treinado para ser retido. (STERNBERG, 2010, p. 163). O ensaio da informação foi considerado fundamental para preservar a informação da destruição da memória de curta duração e, consequentemente, importante pela sua capacidade de favorecer a transferência da informação para um arquivo de memória de longa duração. (GAZZANIGA, et al, 2006, p. 326). 2.4.3 MEMÓRIA DE TRABALHO Representa um armazenamento de capacidade limitada de reter informações por um curto período e de realizar operações mentais com o conteúdo armazenado, ou seja, a memória de trabalho contém informação que pode ser trabalhada e processada, e não simplesmente mantida para repetição (GAZZANIGA, et al, 2006, p. 329). A memória de trabalho consiste em três partes: um sistema executivo central e dois sistemas subordinados, a alça fonológica e o esboço visuoespacial. O mecanismo central executivo é um centro de comando e controle das interações entre os dois sistemas subordinados e a memória de longa duração. A alça fonológica é um mecanismo para a informação codificada acusticamente (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 329). E o esboço visuoespacial permite o armazenamento de informação visual e em códigos visuoespaciais. (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 330). A memória de trabalho gera e manipula continuamente imagens e sons coordenando a integração dessas informações fonológicas e visuoespaciais para formar arranjos com significado, ou seja, integra informações acústicas e visuais por meio de interação cruzada, organizando as informações em conjuntos significativos e unindo novas informações a formas existentes de representação do conhecimento na memória de longo prazo (STERNBERG, 2010, p. 170). 27 Após imagens, sons e outras informações serem armazenadas, ainda se encontram disponíveis para reformatação e reintegração de maneiras distintas à medida que novas demandas e novas informações se tornam disponíveis (STERNBERG, 2010, p. 170). 2.4.4 MEMÓRIA DE LONGA DURAÇÃO Quando a maioria das pessoas se refere à memória, usualmente está se referindo à memória de longa duração ou memória de longo prazo. Pois as informações armazenadas na memória de longo prazo permanecem ao longo de períodos extensos, talvez indefinidamente. (STERNBERG, 2010, p. 164). Sternberg, (2010) ressalta que não se sabe quanta informação pode ser retida na memória de longo prazo, como também não se sabe o tempo de duração da informação nesta memória. Existem experimentos para atestar a capacidade da memória de curta duração, porém, os pesquisadores não descobriram como testar os limites da memória de longa duração. Muitos fatores determinam se uma experiência ou conhecimento será uma informação passada pela memória de curto prazo ou se tornará registrada na memória de longo prazo. A atenção, a emoção e o esforço empregados na memorização são importantes para definir o registro da informação, na memória de curto prazo ou na memória de longo prazo. Alguns mecanismos podem ser utilizados para auxiliar na retenção da informação. São eles, a repetição elaborada, ensaiada e a codificação que geram códigos baseados em significados que relacionam a informação diretamente ao conhecimento adquirido previamente. (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 328). Ainda de acordo com esses autores, quanto mais profundamente e mais significante um item é processado, mais ele é consolidado e armazenado em memória de longa duração. Além disso, quanto mais profundamente a informação penetrar na memória, maior a probabilidade de um item ser recuperado. Também pode-se codificar mais facilmente na memória de longa duração as informações que sejam similares àquelas que já se encontram guardadas nesta memória, ou que se relacionam com interesses pessoais. Ou seja, relacionar novas 28 informações às antigas já armazenadas, melhora o desempenho da memória para a aquisição de novas informações, como também é mais fácil aprender novas informações que tenham correspondência com interesses pessoais. (STERNBERG, 2010, p. 180). Existem duas formas de memória de longa duração, a memória declarativa e a memória não-declarativa. 2.4.4.1 MEMÓRIA DECLARATIVA É também chamada de memória explícita. Trata-se do conhecimento pessoal e conhecimento do mundo externo, aos quais se tem acesso de forma consciente, ou seja, “declarada” (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 332). Congrega tudo o que foi aprendido e pode ser expresso por palavras. A memória explícita tem a capacidade de refletir conscientemente sobre a experiência anterior e envolve tarefas de conhecimento declarativo que se fundamenta em “saber isso”, isto é, acessa informações factuais, como a data do Descobrimento do Brasil (STERNBERG, 2010, p. 182). Existem duas formas de memória declarativa, a memória episódica e a memória semântica. 2.4.4.1.1 MEMÓRIA EPISÓDICA Armazena eventos ou episódios que a pessoa vivenciou organizados com um referente de tempo específico (STERNBERG, 2010, p. 173). É o conhecimento pessoal, as lembranças sobre a vida, envolve a consciência dos eventos passados, é a memória autobiográfica (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 332). Exemplo de memória episódica: lembrar-se das circunstâncias (onde, quando, com quem) que aprendeu que Lisboa é a capital de Portugal. A memória episódica reconstrói experiências passadas, incluindo sensações e emoções que se desenrolam como em um filme (PINTO, 2009, p.173). 29 2.4.4.1.2 MEMÓRIA SEMÂNTICA Armazena conhecimento geral do mundo. É a memória para fatos que não são diferenciados e não são lembrados em qualquer contexto temporal específico (STERNBERG, 2010, p. 173). A memória semântica é o conhecimento do mundo externo que é lembrado na ausência de qualquer correlação com a circunstância específica na qual ocorreu o aprendizado. (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 332). Exemplo de memória semântica: aprender que Lisboa é a capital de Portugal. É o conhecimento factual, impessoal e autônomo (PINTO, 2009, p.173). 2.4.4.2 MEMÓRIA NÃO-DECLARATIVA Também chamada de memória implícita, pois é o conhecimento ao qual se tem acesso inconscientemente, são sequências de ações automatizadas e abrange várias formas de conhecimento que podemos observar no dia-a-dia (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 332 e 333). A memória não-declarativa é revelada quando a experiência prévia facilita o desempenho em tarefas que não requerem a lembrança intencional das experiências. A memória não-declarativa inclui formas que são aprendidas e retidas mesmo quando a memória explícita para esse conhecimento não existe (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 333). A memória implícita tem a capacidade de lembrar do aprendizado de forma automática, sem lembrança consciente e envolve tarefas de conhecimento de processamentos que se fundamenta em “saber como”, isto é, desempenho em aptidões motoras, como andar de bicicleta (STERNBERG, 2010, p. 182). A memória não-declarativa envolve a memória procedural e o priming. 30 2.4.4.2.1 MEMÓRIA PROCEDURAL É o aprendizado de uma variedade de habilidades motoras (como andar de bicicleta) e cognitivas (como a aquisição da habilidade de leitura) (GAZZANINGA, et al., 2006, p. 333). As memórias procedimentais do “corpo” permitem às pessoas executarem ações motoras comuns, automaticamente, depois de terem sido aprendidas. Por exemplo, para amarrar o cordão dos sapatos o indivíduo não precisa pensar na coordenação dos dedos, isso seria até mesmo um empecilho nas tarefas cotidianas, também existe a dificuldade em descrever com exatidão o processo de amarrar o cordão dos sapatos, pois os respectivos programas motores foram armazenados implicitamente pelo cérebro (PINTO, 2009, p. 173). 2.4.4.2.2 SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO PERCEPTIVA – PRIMING Essa memória age no sistema de percepção quando a estrutura e a forma de objetos e palavras podem ser facilitadas por experiências anteriores. O priming refere-se à mudança na resposta frente a um estímulo ou a habilidade em identificálo, como resultado de exposição prévia a esse estímulo (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 333). Testes de priming têm sido usados extensivamente para demonstrar a informação armazenada no sistema de representação perceptiva. Um exemplo é a tarefa de conclusão de fragmentos de palavras, o sujeito olha as letras (m _ m _ r i _) e completa os fragmentos formando a palavra “memória” (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 348). 31 Áreas da Memória Fonte: PINTO, G C – Traduzido por Frances Jones. O livro do cérebro, 3:: Memória, pensamento e consciência. São Paulo: Duetto, 2009, p. 172. Neuroanatomia da Lembrança Fonte: EINZMANN, Simone. Onde você estava em 11 de setembro? Revista mente cérebro – Psicologia// Psicanálise// Neurociência s/d, p. 43. 32 Divisão do Trabalho Fonte: EINZMANN, Simone. Onde você estava em 11 de setembro? Revista mente cérebro – Psicologia// Psicanálise// Neurociência s/d, p. 45. 2.5 A MEMÓRIA E A PLASTICIDADE CEREBRAL Os estudos neurocientíficos de memória contribuem para a investigação de como circuitos e sistemas neurais específicos permitem o aprendizado e a retenção de formas específicas de conhecimento, bem como examinam que danos encefálicos, doenças ou traumas psicológicos podem causar deficiências de memória, afetando de maneiras diferentes erentes as habilidades de memória de curta duração, de trabalho e de longa duração (GAZZANIGA, et al., 2006, p. 333 e 335). A cada nova experiência do indivíduo, redes de neurônios são rearranjadas, outras tantas sinapses são reforçadas, e múltiplas possibilidades possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se se possíveis (RELVAS, 2009, 2009 p. 49). O cérebro pode promover reconexão de circuitos neuronais até quando há uma pequena perda de conectividade, pois tende a uma recuperação autônoma, enquanto uma grande perda altera alte permanentemente a função, porém, para tanto, necessita de objetivos precisos, mantendo níveis adequados de estímulos facilitadores e inibidores, possibilitando alguma reconstrução dessa 33 conexão. Os neurônios desenvolvem brotamentos axonais, promovendo um aumento na habilidade funcional e um aumento aparente na força por intermédio do aprendizado. A prática de um exercício ou uma atividade leva a uma melhora nas habilidades e no desenpenho dos indivíduos comprometidos com lesões cerebrais. (RELVAS, 2009, p.50). Essa autora ressalva ainda, que: A recuperação das funções perdidas em uma lesão cerebral deve ser medida por partes adjacentes de tecido nervoso que não foram lesadas, e o efeito da lesão depende mais da quantidade de tecido poupado do que da sua localização, pela alteração qualitativa de uma via nervosa íntegra, controlando uma função que antes não era sua, por meio de estratégias diferentes para realizar uma atividade que esteja perdida (RELVAS, 2009, p.52). 2.6 A MEMÓRIA E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS A realização de uma prática pedagógica eficiente com exercícios orientados e utilizando estratégias didáticas diferenciadas permite estimular as sinapses nervosas para que ocorra um arranjo ou rearranjo, no caso de haver a necessidade da plasticidade cerebral, das informações neurais, sejam elas sensitivas e/ou motoras, visando estabelecer rotas alternativas para aquisição da aprendizagem (RELVAS, 2009). De acordo com Eric Kandell (s/d), neurocientista austríaco responsável por importantes descobertas sobre a memória, quando a pessoa guarda uma lembrança, utiliza várias pistas diferentes para armazenar a informação e para se lembrar dela depois, quanto mais a informação estiver codificada na memória, mais fácil será recordar da mesma posteriormente. Por esta razão, promover atividades educacionais permeadas de codificações facilita o processo de aprendizagem. Algumas das codificações que ajudam a informação a se fixar na memória são: atenção, organização, emoção e revisão: Atenção: A atenção intensifica a memória, portanto, fazer um esforço consciente para pensar sobre a tarefa que está sendo executada e ainda falar em voz alta o que está fazendo, ajuda a fixar a informação (JAFFARD, s/d, p.8). Organização: Arquivar as informações de forma relacionadas facilita o processo de aquisição do conhecimento. Ou seja, estabelecer relações entre novos conteúdos e 34 aprendizados anteriores, faz com que a informação percorra o mesmo caminho já praticado anteriormente, o que facilita o seu reconhecimento (RELVAS, 2009, p. 68). Emoção: O estímulo emocional intensifica as memórias, mesmo quando não são propriamente emotivas, conforme Jaffard (s/d, p.8), quer dizer, a informação a ser aprendida, não precisa necessariamente ser um fato emocionante, porém, o momento do aprendizado pode ser permeado de alegria. Acontecimentos com maior carga emocional são relembrados com mais nitidez, os neuroquímicos são estimulados, o que garante a memorização (RELVAS, 2009 p. 56). Revisão: Recuperar itens da memória aumenta a probabilidade de se recordar deles no futuro e impedir que sejam removidos ou substituídos por novas memórias (JAFFARD, s/d, p.8). Repetir a atividade algumas vezes e em intervalos crescentes de tempo ajuda a formar “ganchos” que facilitam a aprendizagem (RELVAS, 2009, p. 58). Além de utilizar os mecanismos de codificação, o educador deve fornecer imagens, sons, cores, palavras, oferecer ao aluno a possibilidade de usar o corpo em movimentos e ainda reproduzir um cheiro, uma linguagem, dessa forma, diversas partes do cérebro serão ativadas e quando esse conteúdo precisar ser resgatado será mais fácil a sua lembrança, pois, diferentes áreas cerebrais tentarão recuperar esta memória (RELVAS, 2009, p. 58). Um recurso que proporciona ao aluno todas essas estimulações é o computador, como será visto no capítulo 5, até mesmo para crianças com necessidades especiais, cuja abordagem será vista no capítulo 4. Situações desafiadoras e ambientes complexos, agradáveis e divertidos fornecem capacidade extra para o cérebro se configurar (RELVAS, 2009, p. 54). 35 Formação de uma Memória 36 Fonte: PINTO, G C – Traduzido por Frances Jones. O livro do cérebro, 3: Memória, pensamento e consciência. São Paulo: Duetto, 2009, p. 176 e 177. 37 CAPÍTULO 3 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO, DO COMPORTAMENTO E DA APRENDIZAGEM As teorias de desenvolvimento cognitivo e comportamental sob as pesquisas de dois dos mais importantes psicólogos, Piaget e Vygotsky, fundamentam propostas para a formação da aprendizagem. Neste capítulo essas duas teorias são abordadas conforme se observará a seguir. 3.1 PIAGET Piaget (1896-1980), epistemólogo suíço, professor de psicologia da Universidade de Genebra, destacado pelo seu estudo sobre o desenvolvimento cognitivo, conhecido mundialmente pela sua revolução em epistemologia genética (TAILLE, s/d). Na teoria de Piaget a epistemologia é a filosofia da ciência, a parte que estuda o fenômeno da ciência, do conhecimento, sua natureza e suas limitações e genética significa uma epistemologia da construção do conhecimento, no sentido de gênese, de evolução e não de gens (TAILLE, s/d). A pesquisa de Piaget atribui grande importância à maturação orgânica e à adaptação do sujeito ao meio em que vive conforme acentua Zanluchi (2006). A filosofia desse teórico segue a linha construtivista, que defende que o desenvolvimento da inteligência se dá através de ações mútuas entre o indivíduo e o meio ambiente no qual está inserido. Piaget concluiu que o homem não nasce inteligente, porém não é passivo sob a influência do meio, ele responde aos estímulos externos, agindo sobre o meio para construir e organizar o seu próprio conhecimento (TAILLE, s/d). Piaget modificou a teoria de que a mente de uma criança era vazia esperando ser preenchida por conhecimento. Para ele, “as crianças constroem seu mundo ao ordenar o material bruto fornecido pelos sentidos” conforme explica Zanluchi (2006, p. 8) 38 3.1.1 EQUILIBRAÇÃO E ABSTRAÇÃO Para Piaget, a inteligência é uma organização de informações e o crescimento da inteligência não se dá tanto por acúmulo de conhecimentos, mas, sobretudo, por uma reorganização dessa própria inteligência é o que acentua Taille (s/d). Zanluchi (2006) explica que na concepção de Piaget a inteligência consiste na capacidade individual de equilibração ao meio onde o processo cognitivo começa nos reflexos casuais do recém-nascido, sendo formado por estágios, até alcançar o nível adulto do raciocínio lógico. Esse procedimento acontece por meio de uma assimilação progressiva do meio ambiente e uma acomodação das estruturas mentais para os novos conhecimentos adquiridos do mundo em que vive. Assimilação é a integração de um novo dado perceptual, motor ou conceitual ao conhecimento e comportamento já existente, é o que acentua Zanluchi (2006), contudo, Piaget, entende que assimilar significa interpretar o mundo, ou seja, tornar seus, alguns elementos do mundo, para tanto, é preciso assimilar algumas informações e deixar outras de lado. Acomodação é a modificação da organização mental para dar conta das singularidades do objeto que está sendo assimilado, pois, um novo objeto oferece certas resistências causando conflitos cognitivos e o organismo é obrigado a se transformar para se ajustar às demandas impostas pelo meio ambiente de acordo com a teoria de Piaget, como bem acentua Zanluchi (2006) Em relação à equilibração tem-se o entendimento de que é a estabilização da organização mental para haver o conhecimento de acordo com os fundamentos de Piaget (TAILLE, s/d). O crescimento da inteligência se dá por desequilíbrio e reequilibração, já que a criança fica em conflito com um objeto novo porque o objeto não se deixa conhecer facilmente, porque tem algumas coisas diferentes, algumas singulares, então, o sujeito tem que se acomodar a esse objeto, ou seja, se modificar para aprender esse objeto. Esse processo é a busca do equilíbrio, ou seja, um estado de balanço entre assimilação e acomodação consoante explica Taille (s/d). 39 Vale ressaltar que Piaget prefere o termo equilibração em vez de equilíbrio porque remete a um processo dinâmico e não estável, além de o ser humano estar sempre processando um grande número de estímulos. É importante lembrar, que faz parte também da obra de Piaget, os conceitos de abstração empírica e abstração reflexiva conforme se discorre a seguir. Abstração empírica são as informações retiradas do objeto de conhecimento. Abstração reflexiva são as ações realizadas sobre o objeto de conhecimento, ou seja, as informações retiradas sobre a ação realizada. 3.1.2 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO Para Piaget, o desenvolvimento da inteligência acontece a partir do processo da criança pensar sobre o mundo e pensar sobre sua ação sobre o mundo. Ele divide o desenvolvimento em períodos de acordo com o aparecimento de novas qualidades do pensamento. Cada período é caracterizado por aquilo que a criança consegue fazer de melhor em cada faixa etária. A esse conceito, Piaget deu o nome de Estágios do Desenvolvimento de acordo com Zanluchi (2006, p. 9). Esses estágios representam a lógica de conhecimento de um determinado período que será superada por uma lógica mais refinada no período seguinte, aumentando a qualidade da inteligência. São eles: sensório-motor; pré-operatório e operatório (TAILLE, s/d). O primeiro estágio vai de 0 a 2 anos de idade. O segundo compreende a faixa entre 2 a 7 anos de idade. E, por fim, o terceiro a partir de 7 anos de idade em diante. Porém, o estágio operatório é dividido em operatório concreto, que vai de 7 a 12 anos de idade e operatório formal, que se inicia com 12 anos e perdura até a vida adulta (TAILLE, s/d). 3.1.2.1 ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR É o período de uma inteligência prática, onde a criança começa a estruturar sua inteligência através de ações e percepções, ainda não verbal, ainda em representação, porém, extremamente rica, com conquistas cotidianas que preparam 40 a criança para a linguagem, pois, em seus fundamentos teóricos, Piaget expressa que a inteligência é anterior à fala porque quando a criança começa a falar, ela só tem sobre o que falar porque construiu um mundo antes. Em sua teoria, ele fez uso do conceito de objeto para explicar o salto de qualidade na inteligência que ocorre no período sensório-motor (TAILLE, s/d). De acordo com as observações levantadas por Piaget, durante os primeiros meses de vida a criança imagina ser o centro do universo, chega a acreditar que só existem as coisas que ela consegue ver e que o mundo existe em função da sua percepção (TAILLE, s/d). Piaget a partir das suas análises chegou à concepção de que a criança não entende que existem objetos no universo em que ela se encontra, inclusive, que ela seja um objeto desse mundo. Por volta de 9 meses, é que a criança constrói a noção de objeto e entra na fase do objeto permanente. A partir dessa fase, ela começa a entender que o objeto existe mesmo estando fora do seu campo de percepção, é a atribuição de existência do objeto, ou seja, a criança não vê o objeto, mas sabe que ele ainda existe e, portanto, pode procurá-lo, entendendo que o mundo tem uma objetividade própria e que independe da sua percepção (TAILLE, s/d). Ocorre ainda na fase sensório-motor a diferenciação entre meios e fins, que significa hierarquizar ações para concluir um objetivo, por exemplo, pegar um boneco atrás de uma caixa. Uma criança com 5 ou 6 meses, sabe pegar a caixa, como também sabe pegar o boneco, mas não pensa em retirar a caixa da frente para pegar o boneco que está atrás, a criança só consegue raciocinar sequencialmente com 9 ou 10 meses, quando ela tem a compreensão que praticar uma ação serve de meio para outra ação atingir um fim. Durante essa conquista, ocorre uma nova organização na inteligência (TAILLE, s/d). Igualmente com 9 ou 10 meses, a criança entende a configuração espacial, isto é, que um objeto tem três dimensões e consegue situar o objeto dentro do espaço. A título de ilustração, pode-se dizer que quando uma criança dessa idade recebe uma mamadeira com o bico virado para baixo, ela sabe girar a mamadeira para colocar o bico para cima e então poder mamar, antes desse momento, com poucos meses de idade, a criança já reconhece a mamadeira, porém ainda não tem a formação espacial para virar a mamadeira (TAILLE, s/d). 41 O conceito de causalidade também é importante no estágio sensório-motor, pois é quando a criança vai perceber que os objetos do mundo, inclusive ela, como um objeto do mundo, interagem entre si e causam efeitos entre si (TAILLE, s/d). A criança com 3 ou 4 meses de idade tem a tendência da mágica, que é achar que os objetos se movem de acordo com suas próprias ações ou desejos. Um exemplo é quando a criança esbarra em algum brinquedo no seu berço e, por acaso, a luz acende, ela imagina que foi a sua ação que fez a luz acender, então, tende a repetir essa ação até cansar. Aos poucos a criança entende que o universo é regido por leis e percebe o que ela realmente causa no mundo e o que não é ela quem causa (TAILLE, s/d). De acordo com as explanações acima, o que ocorre no período sensório-motor é basicamente a construção do universo, a construção do real, pois num primeiro momento a criança imagina ter as rédeas do mundo e pouco a pouco, através das percepções e ações, a criança aprende que o universo tem regras para serem seguidas e que essas regras se aplicam a ela própria (TAILLE, s/d). Portanto, Taille (s/d) explica que a construção do objeto, a construção da ideia de causalidade e também a construção da configuração espacial que acontecem nos 2 primeiros anos de vida, faz com que a criança tenha uma objetividade do mundo para depois ser reconstruída no nível da linguagem. 3.1.2.2 ESTÁGIO PRÉ-OPERATÓRIO Este período é marcado pelo aparecimento da linguagem oral que acontece por volta dos 2 anos de idade. A criança entra no mundo da linguagem e concebe uma competência discursiva que permite uma socialização da inteligência, porque a linguagem possibilita a comunicação (TAILLE, s/d). Vale observar, que a linguagem ajuda a criança a construir ações interiorizadas, ações mentais, que é uma ideia preexistente a respeito de algo, constituindo o conceito de representação que é o principal conceito desse estágio. A representação é a capacidade de pensar um objeto através de outro objeto ou tomar uma situação por outra, por exemplo, brincar com um cabo de vassoura como se estivesse montado num cavalo, ou, colocar uma bolsa no braço e agir como se fosse a mãe (TAILLE, s/d). 42 Os comportamentos da fase de representação são refletidos através de desenhos, brincadeiras de faz-de-conta, imitação e reconhecimento no espelho. Este último, se reconhecer no espelho, é um comportamento complexo, pois, implica pensar que a imagem que a criança vê no espelho é ela e não é ela, ao mesmo tempo, é ela porque a representa, mas não é ela porque ela está “aqui” e não “lá”, então, a criança se percebe “duplificada”, ou seja, está numa posição real e outra em imagem (TAILLE, s/d). Para Piaget, representação é conseguir pensar o mundo através de imagens desse mundo, dessa forma, a qualidade da inteligência se modifica e a criança passa a ter a capacidade de empregar a linguagem com uma inteligência em representação, porém, com um trabalho de assimilação, acomodação e equilibração para organizar essas representações num todo coerente (TAILLE, s/d). Outro conceito associado ao período pré-operatório é o egocentrismo, que é o pensamento centrado no ego, no sujeito, ou seja, a criança tem dificuldade em perceber o ponto de vista do outro, vê o ponto de vista do outro centrado no seu próprio ponto de vista. Por exemplo, uma criança de 3, 4 anos, ao procurar por um brinquedo, pergunta para alguém, “cadê o MEU carrinho?”, a criança tem vários carrinhos, mas diz o “meu” carrinho, porque para ela, está claro qual carrinho ela está falando, portanto, a criança imagina que a outra pessoa também saiba qual o carrinho que ela está procurando (TAILLE, s/d). Ainda de acordo com Taille (s/d), Piaget observou em suas pesquisas que uma criança mais velha, no período seguinte, operatório, perguntará com mais detalhes, por exemplo, “cadê o carrinho amarelo que você me deu de aniversário?”. Mais um conceito importante do estágio pré-operatório é a entrada da criança no mundo da moralidade. O desenvolvimento da moralidade acontece por volta dos 4 anos, quando a criança penetra no mundo dos valores, das regras, das virtudes, do certo e do errado. Antes, se pensava que as crianças interiorizavam os valores e as regras ditadas pelos pais, professores e pela sociedade, porém, Piaget demonstrou com pesquisas que a moral é desenvolvida, assim como o conhecimento e a inteligência, e também tem estágios de desenvolvimento (TAILLE, s/d). O primeiro estágio da moral é anomia, quando a criança ainda está fora do universo moral. O segundo estágio é heteronomia, quando a criança entra no mundo da 43 moral baseada no respeito, autoridade e obediência. O terceiro estágio é autonomia quando a criança legitima a moral pelo respeito mútuo e pelas relações de reciprocidade. A criança é ativa na construção da sua própria moral (TAILLE, s/d). Pode-se entender o desenvolvimento da moral através de uma exemplificação, perguntar para uma criança quem ela considera mais culpado, uma pessoa que quebrou 10 copos sem querer, ou, uma pessoa que quebrou 1 copo de propósito, com o objetivo de saber o que é mais importante para a criança, o dano material ou a intencionalidade (TAILLE, s/d). A criança heterônoma (5, 6 anos) responde que as duas pessoas são culpadas, pois houve dano material, porém, considera a pessoa que quebrou 10 copos mais culpada do que a pessoa que quebrou 1 copo porque o prejuízo foi maior, a criança não se preocupa com a intencionalidade. A criança autônoma (estágio operatório) responde que a pessoa culpada é somente aquela que teve a intenção de quebrar, mesmo só tendo quebrado 1 copo (TAILLE, s/d). 3.1.2.3 ESTÁGIO OPERATÓRIO Piaget constatou na fase pré-operatória o que faltava para a criança ser operatória, portanto, para a fase operatória, Piaget definiu o conceito de operação que é uma ação interiorizada reversível (TAILLE, s/d). A ação significa manipular o mundo, trabalhar o mundo, agir sobre o mundo. Ação interiorizada é a ação através da representação, ou seja, mexer no mundo através da representação desse mundo, isto é, através da imaginação. E reversível significa pensar a ação e a anulação dessa mesma ação em imaginação, de forma interiorizada. Então, no estágio operatório, a criança consegue realizar uma ação física ou mental dirigida para um objetivo e reverter essa ação para o ponto de partida, dando início a capacidade de reflexão, de pensar antes de agir (TAILLE, s/d; ZANLUCHI, 2006). Portanto, no período sensório-motor a criança tem a ação, no período pré-operatório a criança tem ação interiorizada e no período operatório a criança tem ação interiorizada reversível. Outro conceito do período operatório é a parte do todo, a criança começa a entender, por exemplo, que Recife fica dentro de Pernambuco. Também aprende a 44 responder que um conjunto com 5 laranjas mais outro conjunto com 4 maçãs tem maior quantidade em frutas do que um conjunto com 6 doces, pois, as laranjas e maçãs compõem o todo das frutas (TAILLE, s/d). Mais um conceito do período operatório é o sentimento de necessidade, porque, no período pré-operatório, as coisas são prováveis e no período operatório, as coisas são necessárias. Um adulto consegue “enrolar” uma criança de 5 ou 6 anos sobre coisas lógicas, porém, não consegue mais com uma criança de 7 ou 8 anos. Contudo, Taille (s/d) explica que de acordo com Piaget, o período operatório é a conquista de uma organização lógica de representações do pensamento que permite chegar à verdade sem contradições. Estágio operatório concreto é um período em que a criança faz uso da sua capacidade operatória apenas em cima de objetos que possa manipular ou de situações que possa vivenciar ou lembrar a vivência. No período do operatório formal, a criança consegue trabalhar com hipóteses, aplicar a lógica a objetos e contextos que sejam puramente hipotéticos e estranhos à sua vivência. Então, operatório formal é conseguir pensar de maneira lógica, reversível e operatória, em cima de puras proposições, puras frases e puras hipóteses (TAILLE, s/d). Portanto, a diferença entre o operatório concreto e o formal é um grau de abstração. Uma criança com 12 ou 13 anos constrói o pensamento operatório formal que é o do adulto, porém o pensamento do adulto é mais elaborado e com mais conteúdo, todavia, desde os 12 anos, o ser humano é capaz de pensar, sem cometer contradições, através de hipóteses (TAILLE, s/d). 3.2 VYGOTSKY Lev Vygotsky, psicólogo bielo-russo (1896-1934), teórico do ensino como processo social, por atribuir importância significativa do papel social no processo de aprendizagem. Ele morreu jovem de tuberculose, seu trabalho só ganhou proporção após sua morte, inclusive Piaget lamentou não tê-lo conhecido pessoalmente. 45 A teoria de Vygotsky aponta para a concepção de que o homem é um ser que se forma em contato com a sociedade, numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade ao seu redor (OLIVEIRA, s/d). Para Vygotsky o ser humano nasce com a capacidade para desenvolver todas as potencialidades pertinentes à raça humana, todavia, as funções complexas superiores, ou seja, o funcionamento psíquico, típicos do ser humano, não são propriedades inatas, quer dizer, não nascem com as pessoas, nem se formam naturalmente, e sim, em contato com a sociedade, numa relação dialética entre o sujeito e a comunidade ao seu redor. O indivíduo, portanto, não é um reflexo passivo do meio e sim um resultado da relação, pois, enquanto o homem modifica o ambiente, o ambiente modifica o homem (ZANLUCHI, 2006). 3.2.1 PLANOS GENÉTICOS DE DESENVOLVIMENTO Vygotsky é um autor interacionista que considera acontecimentos que vem de dentro do sujeito, como também, acontecimentos que vem do ambiente, ele postula esta concepção como Planos Genéticos de Desenvolvimento. Para caracterizar o funcionamento psicológico do ser humano, Vygotsky define o Plano Genético em quatro entradas de desenvolvimento, que são a filogênese, que é a história da espécie humana, a ontogênese, que é a história do indivíduo da espécie, a sociogênese, que é a história cultural do meio onde o sujeito está inserido, e a microgênese, que é um aspecto mais microscópico do desenvolvimento (OLIVEIRA, s/d). 3.2.1.1 FILOGÊNESE Na teoria de Vygotsky, filogênese trata-se da história de uma espécie animal. Todas as espécies animais tem uma história própria. A história da espécie define limites e possibilidades de funcionamento psicológico, significa dizer, que o organismo e o corpo de uma determinada espécie tem uma série de características que vão servir de fundamento para o funcionamento psicológico (OLIVEIRA, s/d). Tem coisas que o humano consegue fazer e outras que não consegue, por exemplo, os humanos andam, mas não voam, os humanos são bípedes, tem as mãos 46 liberadas para executar várias atividades, como também a conformação das mãos permite realizar movimentos em pinça com os dedos, que é uma característica particular da espécie humana e muito importante para efetuar atividades motoras finas (OLIVEIRA, s/d). Outra característica muito importante da espécie humana, já vista no capítulo um deste trabalho, é a plasticidade do cérebro, ou seja, o cérebro humano é extremamente flexível, se adapta a muitas circunstâncias diferentes, pois a espécie humana é menos pronta ao nascer. O desenvolvimento humano se forma de acordo com o que o ambiente oferecer, desta forma, o cérebro se adapta e funciona de um determinado modo (OLIVEIRA, s/d). 3.2.1.2 ONTOGÊNESE Entende-se a ontogênese na teoria de Vygotsky como o desenvolvimento individual de um membro da espécie, pois cada ser tem seu próprio percurso de desenvolvimento, um ritmo e uma sequência. O plano genético da ontogênese está ligado ao da filogênese, pois os dois são de natureza biológica. Por exemplo, a criança quando nasce só fica na posição deitada, depois aprende a sentar, engatinhar e andar, é uma sequência pertinente à espécie do homem (OLIVEIRA, s/d). 3.2.1.3 SOCIOGÊNESE Trata-se da história da cultura onde o sujeito está inserido, pois, as propriedades culturais definem de certa forma, o funcionamento psicológico. A significação pela cultura tem dois aspectos, o primeiro aspecto é que a cultura funciona como um alargador das potencialidades humanas, por exemplo, o homem anda, mas não voa, porém, o homem criou o avião, portanto, agora consegue voar, o segundo aspecto é que cada cultura organiza o desenvolvimento de uma forma diferente, por exemplo, a puberdade e a terceira idade que são compreendidas historicamente de formas diferentes em cada cultura (OLIVEIRA, s/d). Ainda de acordo com Oliveira (s/d) para explicar a teoria de Vygotsky, tem-se o entendimento de que a puberdade é um fenômeno biológico, ou seja, é o amadurecimento sexual que possibilita a reprodução, todos os seres humanos 47 passam pela puberdade, porém, a fase de desenvolvimento, na qual acontece a puberdade, é chamada de adolescência, que é um conceito cultural e tem características próprias de cada cultura. No Brasil, por exemplo, a adolescência é um período que se estende cada vez mais, pois, as crianças ficam espertas mais cedo, porém, continuam morando com os pais até os trinta e poucos anos, diferentemente, de trinta anos atrás. E pode-se ilustrar o desenvolvimento da terceira idade como uma categoria que a cultura criou há pouco tempo, com produtos de mercado especiais, atividades e instituições específicas para um público que antes era chamado de velho. A cultura não diz respeito ao envelhecimento do corpo e sim como a sociedade cuida do idoso, acentua Oliveira (s/d). 3.2.1.4 MICROGÊNESE É a história do acontecimento de um fenômeno psicológico constituído por uma pessoa em sua forma micro de desenvolvimento, ou seja, é o que acontece minuciosamente durante um aprendizado, por exemplo, entre saber e não saber alguma coisa, algo acontece e um tempo se passa, então, cada pequeno fenômeno tem sua própria história de desenvolvimento (OLIVEIRA, s/d). Na realidade, ninguém tem uma história igual a do outro, portanto, na microgênese é que aparece a singularidade de cada pessoa, mesmo fatos tão parecidos, resultam formas diferentes, por causa de experiências diferentes, então, esses fatos na história de cada indivíduo é que vai definir a particularidade a cada momento da vida do sujeito (OLIVEIRA, s/d). É possível exemplificar, de acordo com Oliveira (s/d), dizendo que duas crianças com a mesma idade, cursando a mesma série escolar, com a mesma classe social, tem experiências de vida diferentes como a quantidade de irmãos, o tempo de assistir televisão, os tipos de brincadeiras, o que vai definir a singularidade de cada pessoa. A microgênese é o plano genético que caracteriza o não determinismo de um desenvolvimento, pois, de certa forma, a filogênese e a ontogênese carregam fatores biológicos que definem as possibilidades da espécie, e na sociogênese, 48 existe um direcionamento cultural dando limites por onde a pessoa pode se desenvolver (OLIVEIRA, s/d). Além dos Planos Genéticos, Vygotsky tem também outras concepções sobre o desenvolvimento, que são: Mediação Simbólica, Pensamento e Linguagem, Zona de Desenvolvimento Proximal e Caminhos Isotrópicos. À seguir, um resumo sobre cada uma dessas concepções. 3.2.2 MEDIAÇÃO SIMBÓLICA Para Vygotsky, a relação do homem com o mundo não se dá de forma direta e sim, mediada, assim sendo, mediação significa ter algum objeto ou evento ou pessoa intermediando um acontecimento e outro. A mediação pode ser feita através de instrumentos e de signos (OLIVEIRA, s/d). Para explicar a teoria de Vygotsky, Oliveira (s/d) acentua que a mediação feita por instrumentos é quando as pessoas se relacionam com os objetos do mundo usando ferramentas intermediárias, por exemplo, uma pessoa usar uma faca para cortar um pão. Os instrumentos da tecnologia fazem uma mediação entre a ação humana concreta sobre o objeto e o mundo. Oliveira (s/d) acrescenta que a mediação feita por signos é de natureza simbólica, não concreta, interposta entre o sujeito, o psiquismo e o mundo, por exemplo, as placas colocadas em sanitários públicos, elas tem signos que representam o homem e a mulher, o chapéu é para o banheiro masculino e a bolsa é para o banheiro feminino e todas as pessoas compartilham dessa representação porque são usuárias do sistema e sabem o que os signos traduzem. Outro exemplo, ainda segundo Oliveira (s/d), é trocar o anel de dedo para lembrarse de fazer algo, como telefonar para alguém, é um signo que não age direto ou concretamente sobre a ação, mas age num plano simbólico, a informação está interposta entre a intenção de realizar uma tarefa e a própria ação. Vale dizer que a mediação por signos ocorre de forma internalizada, ou seja, dentro do sistema psicológico, através de uma característica tipicamente humana que é a representação mental, que possibilita “viajar” por um mundo simbólico. O ser humano pode transitar entre dimensões e tempo, pensar em fatos que já 49 aconteceram, antecipar eventos futuros, pensar em coisas que está em outro espaço, tudo de forma simbólica, utilizando signos que fazem a intermediação entre a pessoa e o mundo (OLIVEIRA, s/d). A mediação pode acontecer pela lembrança de uma experiência, por exemplo, não colocar o dedo na chama da vela por lembrar que queima, ou seja, por experiência própria, não cometer o mesmo erro. Ou, pela transmissão de informação, por exemplo, a mãe dizer ao filho para não colocar o dedo na chama da vela porque queima e a criança obedecer (OLIVEIRA, s/d). Em termos educacionais, a mediação por transmissão de informação é extremamente importante, pois, grande parte da ação do homem no mundo é mediada por experiências anteriores. As pessoas não precisam viver tudo, a informação é essencial para os processos de crescimento histórico, caso contrário, cada ser humano estaria começando tudo do “zero” (OLIVEIRA, s/d). 3.2.3 PENSAMENTO E LINGUAGEM Vygotsky considera a relação pensamento e linguagem muito importante para o funcionamento psicológico humano, sua concepção é de que se trata de uma característica tipicamente humana, mas que não nasce com o sujeito, é formada ao longo do desenvolvimento psicológico, tanto na história da espécie, na filogênese, como na história do próprio indivíduo, na ontogênese (OLIVEIRA, s/d). Existem diversas formas de linguagem, como a linguagem dos gestos, a linguagem facial, a linguagem da dança e a principal forma de linguagem, para Vygotsky, a língua. Todos os grupos humanos tem uma língua, e a língua é o principal instrumento de representação simbólica de que os seres humanos dispõem (OLIVEIRA, s/d). Para Vygotsky, a linguagem tem duas funções, a primeira função é a de comunicação e a segunda função é do discurso interior onde a linguagem se encaixa com o pensamento e forma o pensamento generalizante (OLIVEIRA, s/d). Primeiramente, as pessoas desenvolvem a língua para se comunicar, portanto, o primeiro ato da língua é chorar, que acontece no bebê com uma função comunicativa, sem pretensão de transmissão (OLIVEIRA, s/d). 50 Inicialmente, a língua está fora da pessoa, quer dizer, a criança nasce num meio falante, que já tem uma língua, porém, a criança vai se apropriar dessa língua ao longo do desenvolvimento. Então, para Vygotsky, a apropriação da língua é um movimento que vai acontecer de fora para dentro e o primeiro uso da linguagem é o que Vygotsky chama de fala socializada, que é a fala da criança com os outros, para os outros, só do lado de fora (OLIVEIRA, s/d). Nos fundamentos teóricos de Vygotsky, a criança pré-linguística, antes da aquisição da linguagem, também apresenta primórdios de pensamento, chamado na psicologia de inteligência prática, que significa uma ação sobre o mundo para resolver problemas. Chega-se a compreensão de que ela consegue agir inteligentemente no ambiente, usando instrumentos, num plano concreto, porém, sem mediação simbólica, por exemplo, a criança é capaz de usar um banquinho para pegar um brinquedo que não alcança sozinha ou usar um objeto para puxar outro objeto (OLIVEIRA, s/d). Depois, a segunda função da linguagem, que é o que Vygotsky chama de pensamento generalizante, vai aparecer mais tarde no desenvolvimento, com o discurso interior, quando a criança incorpora um sistema simbólico. O pensamento vai acontecer apoiado nas palavras, nos conceitos, mas não é necessário externalizar esse acontecimento, o pensamento vai funcionar dentro da cabeça, a criança pensa sozinha com o suporte das palavras, com as possibilidades de trânsito pelo mundo do simbólico que a língua oferece, desta forma, Vygotsky explica que a linguagem começa do lado de fora e termina internalizada (OLIVEIRA, s/d). Logo, as duas potencialidades, linguagem e pensamento, se unem para representar uma parte substancial do funcionamento psicológico humano, a inteligência abstrata, que permite ao ser humano trabalhar em planos simbólicos (OLIVEIRA, s/d). O sujeito passa a ser capaz de circular por espaços ausentes do tempo presente e perceptual, ter capacidade para imaginar, inventar e recuperar momentos que aconteceram no passado, contudo, passa a ter uma inteligência e um pensamento de natureza simbólica, tudo permitido pela função segunda da linguagem, a de pensamento generalizante (OLIVEIRA, s/d). 51 A linguagem permite realizar esse movimento pelo tempo também por apresentar características linguísticas como os tempos verbais, por exemplo, os verbos no presente, passado e futuro e pela existência dos termos de negação que permite ao interlocutor negar no discurso e conceber a ausência, a inexistência, com termos como o “não”, o “zero” e o “nenhum” (OLIVEIRA, s/d). O pensamento generalizante da teoria de Vygotsky, é de que a língua se encaixa com o pensamento e concebe que o uso da linguagem implica uma compreensão generalizada do mundo porque ao nomear um objeto é realizado um ato de classificação. Significa dizer, que ao nomear um elemento, este é colocado numa classe de componentes do mundo agrupáveis com ele, em uma mesma categoria e, consequentemente, este elemento é distinguido de todos os outros. Por exemplo, ao chamar um cachorro de cachorro, ele é colocado num grupo e diferenciado dos demais grupos, ou seja, ele não é um gato, não é um sapato, não é uma cadeira (OLIVEIRA, s/d). Dentro dessa contextualização, uma palavra serve para classificar o mundo em duas grandes categorias, em tudo o que é o objeto e tudo o que não é aquele objeto. Por exemplo, a palavra “copo” classifica tudo o que “é copo” e tudo o que “não é copo”. Assim, tem-se o entendimento de que a capacidade de classificar e generalizar representa um salto qualitativo na relação do homem com o mundo porque corresponde à capacidade de abstrair e esta qualidade só é possível porque os seres humanos dispõem de um sistema simbólico articulável, compartilhado e organizado por regras como a língua, que nenhuma outra espécie animal possui (OLIVEIRA, s/d). 3.2.4 ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL Na concepção de Vygotsky, o desenvolvimento deve ser olhado de maneira prospectiva, para frente e não de maneira retrospectiva, para o que já está pronto na criança, por esta opinião, ele formou o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal ou Potencial. Este conceito evidencia o aprendizado que está em processo, ou seja, que ainda está por acontecer, pois, é neste ponto que ele considera que deve acontecer a intervenção pedagógica, a ação educacional, porque é onde o desenvolvimento está efervescente (OLIVEIRA, s/d). 52 Para explicar a Zona de Desenvolvimento Proximal, Vygotsky trabalha com outros dois conceitos, o primeiro conceito é o nível de desenvolvimento real, que é o nível de conhecimento até o qual a criança já chegou e o que já está consolidado, considerado por ele, como olhar retrospectivo, isto é, do que já passou. E o segundo conceito é o nível de desenvolvimento potencial, que é o conhecimento do que a criança está próxima de adquirir, ou seja, é o que a criança ainda não tem, mas que está perto de obter (OLIVEIRA, s/d). A Zona de Desenvolvimento Proximal é identificada quando a criança consegue se relacionar sem autonomia com o objeto de conhecimento, o objeto de ação, e por isso, precisa da intervenção de um parceiro mais experiente. Esse aspecto observado por Vygotsky, de que a criança não consegue fazer sozinha, mas, consegue fazer com a ajuda de alguém, identifica que o conhecimento pertence a um plano de desenvolvimento que está próximo de se consolidar (OLIVEIRA, s/d). Com base nas concepções teóricas desse estudioso, observou-se que entre aquilo que está pronto e o que está perto da criança conseguir fazer sozinha, existe o desenvolvimento que está acontecendo “agora” e é a parte do desenvolvimento que permite intervenção para operar transformações. A Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas, que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas, que estão presentemente em estado embrionário (OLIVEIRA, s/d). 3.2.5 CAMINHOS ISOTRÓPICOS Vygotsky pesquisou também sobre o desenvolvimento de crianças com deficiência, cuja linha de estudos é denominada defectologia. Ele constatou que os métodos psicológicos utilizados para avaliar uma criança com deficiência eram completamente quantitativos, ou seja, caracterizavam-se por analisar o "defeito" da criança, e não sua personalidade e potencialidades. Então ele considerou a deficiência através da ótica de que a criança não é menos desenvolvida, mas apresenta um desenvolvimento especial. Vygotsky realizou estudos dinâmicos sobre a criança com deficiência e demonstrou que não basta determinar o nível e a gravidade da insuficiência, é necessário incluir a consideração dos processos compensatórios, ou seja, as capacidades da criança 53 com deficiência. Esses processos podem ser substitutivos e niveladores no desenvolvimento e na conduta da criança, buscando a reação do organismo e da personalidade ao "defeito". A teoria de Vygotsky leva a entender que a deficiência causa uma limitação no desenvolvimento da criança, porém, estimula uma intensificação em direção ao crescimento, justamente por causa das dificuldades geradas. Sua teoria também postula que a diminuição de uma faculdade pode ser total ou parcialmente substituída pelo fortalecimento do desenvolvimento de outra, por este motivo, Vygotsky direcionou suas pesquisas em defectologia para os estudos nos processos comutativos do desenvolvimento e do comportamento que substituem ou permitem transpor as deficiências e as reações físicas e psicológicas das pessoas com deficiência. Para Vygotsky, quando um evento mental é interrompido ou impedido, ocorre um aumento da energia psicológica no ponto de interrupção ou de obstrução causando uma represa que quando transborda origina outro caminho que permite atingir os mesmos objetivos. Para esse teórico, os conflitos que surgem a partir do contato da deficiência com o meio exterior podem criar estímulos para a superação e gerar processos comutativos que desenvolvam outras capacidades, criando desta forma, diferentes rotas de desenvolvimento. Esse processo comutativo, Vygotsky chamou de caminhos isotrópicos, porque isotrópico significa desvio e processos comutativos emite o sentido de substituição ou permutação. A teoria de Vygotsky constatou que cada criança, em cada etapa de seu desenvolvimento, é um ser único qualitativamente, ou seja, uma estrutura orgânica e psicológica específica, portanto, uma criança com uma deficiência apresenta um desenvolvimento qualitativamente diferente e único. 3.2.6 DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO E APRENDIZAGEM Compreender a natureza do desenvolvimento humano e sua relação com a educação é importante para planejar a intervenção pedagógica. 54 A teoria de Piaget defende que o processo de desenvolvimento ocorre independentemente, ou seja, sem ser determinado ou influenciado pelo processo de ensino, então, segundo essa teoria, o ensino deve ser adaptado e acompanhar a marcha do desenvolvimento da criança (ZANLUCHI, 2006). A obra de Piaget é sobre como o ser humano, mais especificamente como a criança, constrói o conhecimento e para explicar a construção do conhecimento, ele pesquisou as etapas de formação do crescimento da criança, porém, não era maturacionista, não pensava que a maturação orgânica, por si só, explicava o desenvolvimento (TAILLE s/d). Ainda segundo Taille (s/d), Piaget também não negava a importância do social na evolução da inteligência, só não aprofundou suas pesquisas na interação social, e sim, como dito acima, na construção do conhecimento. Ele acreditava que as “construções” internas, endógenas, são desencadeadas por demandas do meio, com os objetos do meio, por isso, cunhou o termo construtivista em suas teorias e sua obra então é considerada construtivista e interacionista. A pedagogia se interessa pela obra de Piaget por acreditar que o conhecimento de como se dá o desenvolvimento da criança em cada etapa de seu crescimento facilitará o planejamento pedagógico. A teoria de Vygotsky defende que aprendizagem é desenvolvimento, ou seja, o ser humano nasce em condições de se tornar um ser evoluído, porém, só é possível isso acontecer, se houver influência externa, então, segundo essa teoria, a aprendizagem propicia o desenvolvimento mental da criança, desencadeando processos que só acontecem mediante a aprendizagem (ZANLUCHI, 2006). Oliveira (s/d) acrescenta que Vygotsky considera a intervenção pedagógica essencial na promoção do desenvolvimento de cada indivíduo, pois, o sujeito não percorreria caminhos de desenvolvimento sem ter experiências de aprendizagem resultadas da intervenção deliberada de outras pessoas na vida dele. Porém, Vygotsky coloca uma posição muito ativa do próprio sujeito que está se relacionando com um mundo de informações e significados. O sujeito não é um ser passivo, ele age sobre o ambiente, dialoga, traz a sua subjetividade e a sua própria história. O ambiente, por sua vez, é estruturado pela cultura e a influência não se dá por imersão (OLIVEIRA, s/d). 55 Vygotsky destaca a importância da intervenção de outras pessoas no desenvolvimento de cada sujeito, ele evidencia o mundo humano, a cultura e o outro social, por este motivo, ele é um autor muito utilizado na pedagogia e na educação especial. As duas teorias unidas, proporcionam a formulação de um plano pedagógico rico para a educação, principalmente para pessoas com necessidades especiais. No próximo capítulo, será explicada a evolução da educação especial no contexto social e educacional. 56 CAPÍTULO 4 UMA EDUCAÇÃO ESPECIAL Conviver com pessoas com necessidades especiais é um grande desafio, trabalhar com o diferente, com o novo, causa ansiedade e inquietação em qualquer indivíduo, os educadores logo se perguntam se conseguirão interagir com esses alunos e principalmente, se serão capazes de realizar desenvolvimento nos mesmos. Para encarar o desafio, a primeira coisa que se deve ter em mente é que pessoas com necessidades especiais são capazes de fazer algumas coisas e outras não, como todo mundo, a segunda, é descobrir o que cada uma dessas pessoas tem de melhor, para se relacionar com elas através de suas qualidades e não se paralisar diante das dificuldades apresentadas. Pois, cada criança percebe e compreende o mundo no seu próprio tempo, cada uma tem seu jeito de ser e segue seu ritmo individual de desenvolvimento. 4.1 CONTEXTO HISTÓRICO Historicamente falando, as sociedades sempre tiveram dificuldades em lidar com as deficiências, portanto, um problema que vêm desde a antiguidade e observável até os dias atuais. Locatelli e Vagula (2009) acentuam que por vários séculos, os deficientes viveram sob preconceito, à margem da sociedade. Essa temática em torno de pessoas com necessidades especiais, ainda se permeia por concepções baseadas em preconceitos, discriminação, negligência e opressão. São conceitos que decorrem da superstição, ignorância e medo, que são frutos de uma construção histórico-social. Todavia, a educação especial no Brasil e no mundo foi paulatinamente evoluindo, mostrando especialmente, diversas conquistas dos direitos humanos (LOCATELLI e VAGULA (2009). Um longo caminho percorrido sobre esse tema permeia momentos históricos fundamentais à compreensão das políticas públicas vigentes, a literatura mostra etapas pelas quais o conceito sobre deficiente / diferente foi sendo modificado ao longo da história, como se demonstra nesse capítulo a partir de um breve resgate do contexto histórico sobre a deficiência. 57 Na antiguidade, a pessoa com deficiência não tinha direito à vida, era banida da sociedade com a morte. Essa foi a primeira etapa, chamada de extermínio. (LOCATELLI E VAGULA, 2009, p. 10). Ainda de acordo com esses autores, na antiguidade, ter um filho deficiente significava castigo dos céus para pagar os pecados de seus ancestrais, ou, a criança era considerada uma criatura possuída por demônios. Na Grécia antiga, por exemplo, havia o culto à perfeição do corpo, e assim sendo, [...] sacrificavam ou escondiam os portadores de deficiência, ou eles eram submetidos a um “conselho” que decidia se a criança deveria viver ou morrer, em razão de se acreditar que o comportamento diferente era consequência de forças sobrenaturais, principalmente a deficiência mental. [...] Na Roma antiga, as crianças com má formação eram abandonadas em cestos à margem do rio. A Bíblia também contém relatos que a sociedade rejeitava e fugia das pessoas com deficiência, como se estas tivessem alguma doença ou por considerá-las amaldiçoadas pelos deuses (LOCATELLI e VAGULA, 2009, p. 10). Com o surgimento do cristianismo no período da Idade Média observou-se uma mudança na organização político-administrativa e o clero ingressou no cenário religioso e político trazendo valores éticos à sociedade. A partir de então, as pessoas com deficiência foram reconhecidas como portadoras de alma e filhos de Deus, apresentando a concepção cristã de amor ao próximo. Então, por caridade, as pessoas com deficiência passaram a ser acolhidas em instituições religiosas como doentes e incapazes dando início à etapa do assistencialismo. Nesta fase, não era mais permitido exterminar os deficientes, porém, passaram a depender da caridade humana (LOCATELLI e VAGULA, 2009). No século XVI o tema deficiência [...] passou a ser tratada por meio da alquimia, magia e astrologia. E, já no século XVII a medicina trouxe avanços, contudo, a pessoa com deficiência continuou exilada em conventos, asilos e hospitais psiquiátricos, onde permaneceu por mais quinhentos anos (LOCATELLI e VAGULA, 2009, p. 12). Ainda de acordo com os esses autores, no século XVIII a medicina verificou que muitas deficiências eram resultado de lesões e disfunções no organismo, questionou dogmas religiosos e aprofundou estudos visando explicar os comportamentos dos 58 deficientes, tal iniciativa, representou um marco nas necessidades básicas de saúde das pessoas com deficiência (LOCATELLI e VAGULA, 2009). A partir de então, foi constituída a fase da segregação institucional, onde os deficientes continuavam em asilos e hospitais, porém, com o objetivo de aliviar a sobrecarga da família e da sociedade, entretanto, nestas instituições conviviam com doentes psiquiátricos, delinquentes e prostitutas (LOCATELLI e VAGULA, 2009). Durante o século XVIII, principalmente com a Revolução Industrial, observou-se que: [...] houve transformações econômicas e sociais e que foram bastante significativas e intensificadas por causa do modo de produção capitalista, um fato histórico que modificou o tipo de capacitação dos trabalhadores, ou seja, passou-se a exigir uma melhor escolarização da população conforme acentua LOCATELLI e VAGULA (2009, p. 12). Ainda de acordo com Locatelli e Vagula, (2009), tal acontecimento modificou a concepção de deficiência, pois, parte da população passou a ser classificada como menos eficiente o que quer dizer “deficiente”, já que não eram pessoas capazes de aprender de acordo com as normas estabelecidas pela escola da época. Esta situação continuou durante o século XIX, quando o termo deficiência era relacionado diretamente a um quadro de incapacidade, dependência, inutilidade, que não era interessante para os governantes, nem para os donos de indústria, portanto, abandonar e ignorar eram atitudes naturais que não provocavam nenhum constrangimento ético ou moral devido às leis sociais da época (LOCATELLI e VAGULA, 2009, p. 13). No final do século XIX e início do século XX foram criadas instituições para atender os deficientes mentais moderados e profundos, porém, o intuito era diminuir o incômodo causado por esse tipo de população e não atender suas especificidades e necessidades. Continuando assim, com a fase da segregação institucional, onde, escolas, hospitais e residências clínicas eram utilizados como locais de educação especial (LOCATELLI e VAGULA, 2009). No século XX, entre as décadas de sessenta e setenta deu-se início a uma reação contra a segregação institucional dos portadores de deficiência, surgiu então, a ideia de educar em ambientes menos restritivos (LOCATELLI e VAGULA 2009). Ainda de acordo com esses autores, crianças e jovens mais aptos começaram a ser encaminhados para escolas regulares, classes especiais e salas de recursos. Esse 59 período recebeu o nome de etapa de integração. O termo “deficiência” foi substituído pelo conceito de “necessidades educativas especiais”. Com base em diagnósticos clínicos e psicopedagógicos as crianças com necessidades especiais foram inseridas no ensino regular que era dividido em duas formas de atendimento, em classes especiais, que atendia os menos prejudicados ou comprometidos, e em escolas especiais, que atendia os casos considerados de maior gravidade. Nesta fase, a integração dependia da avaliação e condições pessoais do aluno em se adaptar ao processo escolar, não existia a preocupação com a estrutura das instituições educacionais, pois, o importante era integrar a criança ao sistema educacional (LOCATELLI e VAGULA, 2009, p. 24 – 25). Todavia, os mesmos autores explicam que a política de integração adotada foi criticada por apresentar um caráter excludente, uma vez que isolava o aluno mais comprometido e só integrava os alunos que não constituíam um desafio à competência da escola. Além dessa questão, as classes especiais das escolas regulares serviram para depositar todos os alunos que, de alguma forma, não se encaixavam no sistema escolar, portanto, ao invés de oferecer oportunidades educacionais, as classes especiais se tornaram espaços de discriminação socioeducacional (LOCATELLI e VAGULA, 2009). O que se esperava era que a integração pudesse ser um processo dinâmico, com o objetivo de encontrar a melhor situação para um aluno se desenvolver em sua potencialidade, pois, o desenvolvimento varia de acordo com a necessidade de cada indivíduo. Além disso, o processo de integração não deve ser específico da vida escolar e sim, atingir todas as manifestações e atividades das pessoas com necessidades especiais (LOCATELLI e VAGULA, 2009). Ainda no transcurso do século XX, avanços significativos foram conquistados e atualmente, no século XXI, encontra-se a etapa da inclusão, onde consiste o direito de ser diferente, de viver e conviver em comunidade. Essa etapa passou a exigir atenção específica e maiores recursos para os alunos que apresentam algum problema de aprendizagem. Assuntos de readequações na escola como a reorganização curricular, novos métodos de ensino, formação dos professores e novas posturas das administrações educacionais estão sendo discutidos para haver uma verdadeira inclusão das necessidades especias nas escolas atuais. (LOCATELLI e VAGULA, 2009). 60 A educação inclusiva desloca o enfoque centrado no aluno para a escola. Busca a adaptação dos ambientes físicos com modificações estruturais e a adequação dos procedimentos educativos com o propósito de atender à diversidade do aluno. Também cria uma nova política educacional, uma política multicultural que reconhece as diferenças individuais, físicas, culturais e sociais. Direciona o foco para o pedagógico, onde os profissionais trabalham com as capacidades e habilidades das pessoas com necessidades especiais. Enfim, insere a educação especial na educação geral de forma que todos aprendam juntos convivendo com as diferenças. 4.2 A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL Durante o período colonial a população com deficiência era tratada com descaso e vivia sob o aspecto assistencialista, passou até o período republicano sem nenhum tipo de atendimento educacional especializado, teve apenas alguns registros de internamentos em instituições psiquiátricas (LOCATELLI e VAGULA, 2009). Ainda de acordo com esses autores, a educação especial no Brasil teve início em meados do século XIX, no final do período Brasil Colônia, com a criação do Instituto dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant. Esse instituto foi criado na cidade do Rio de Janeiro, pelo imperador D. Pedro II, através do Decreto Imperial n. 1.428, de 12 de setembro de 1854 é o que afirma Mazzota (1996) apud (LOCATELLI e VAGULA, 2009). De acordo com Locatelli e Vagula (2009) em 1889, havia no Brasil seis instituições de ensino para atender deficientes físicos, auditivos e visuais, porém, os deficientes mentais continuaram isolados em instituições psiquiátricas. E, em 1920 ocorreu a preocupação com o deficiente mental, então, foi criada a primeira instituição de caráter privado, o Instituto Pestalozzi, em Canoas (RS). Aos poucos, de forma autônoma e de caráter filantrópico, foram surgindo instituições especializadas no atendimento ao portador de deficiências, como por exemplo, as APAEs (Associação de Pais dos Excepcionais), que se tornaram a maior prestadora de serviços na educação e habilitação das pessoas portadoras de deficiência em todo o país (LOCATELLI e VAGULA, 2009). 61 Esses autores acentuam ainda que em 1962 foi criada a Federação Nacional das APAEs, contendo doze instituições, com o objetivo de articular e congregar esforços mútuos entre os filiados. Essa federação viabilizou conquistas legais, que passaram a garantir os direitos de cidadania das pessoas portadoras de deficiência. Atualmente as APAEs representam o maior movimento social do Brasil e do mundo em sua área de atuação, com mais de duas mil unidades implantadas (LOCATELLI e VAGULA, 2009). 4.3 A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS O movimento em favor da educação inclusiva começou nos Estados Unidos em 1975 com a Lei Pública de n. 94.142. Essa Lei estendeu o direito à educação pública gratuita a todas as crianças independentemente de qualquer deficiência, no ambiente menos restritivo possível (LOCATELLI e VAGULA, 2009). No Brasil, a inserção da educação especial na política pública educacional teve início em 1990 quando o MEC (Ministério da Educação) desenvolveu o documento intitulado Declaração Mundial sobre a Educação para Todos em um debate internacional. O documento buscou garantir a igualdade de acesso à educação a pessoas com qualquer tipo de limitação (MANZZOTA, 1996 apud LOCATELLI e VAGULA 2009, p. 23). Em 1994, houve outro encontro internacional, em Salamanca, na Espanha, a Conferência Mundial de Educação Especial, representando 88 governos e 25 organizações internacionais, para reafirmar o compromisso com a educação para todos. A Conferência reconheceu a necessidade e urgência da educação para as crianças, os jovens e os adultos com necessidades especiais dentro do sistema regular de ensino (LOCATELLI e VAGULA, 2009). No Brasil, a educação inclusiva também está presente como política educacional em textos oficiais como, a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, o Plano Decenal de Educação para Todos de 1993, a Política Nacional de Educação Especial de 1994, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência Física de 1999, a Resolução do Conselho Nacional de Educação 62 CNE/CEB de 2001, entre outros (BRASIL, 1999 apud LOCATELLI e VAGULA, 2009). Em todos os documentos a inclusão significa, não apenas, matricular os educandos com necessidades especiais na classe comum, mas, dar ao professor e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica para assegurar uma educação de qualidade. A escola inclusiva propõe no projeto político-pedagógico e em seu currículo a renovação da metodologia de ensino e da avaliação, além de práticas educativas diferenciadas para atender a todos os alunos, como ações efetivas para a inclusão social (LOCATELLI e VAGULA, 2009). Ainda de acordo com esses autores, a prática da inclusão propõe um modo de interação social que produz transformações de valores, atitudes e normas sociais. Traz novos desafios às escolas comuns e especiais, como também provoca mudanças na estrutura da sociedade como um todo. Portanto, é possível concluir que a educação inclusiva tem por princípio a valorização da diversidade humana em seus múltiplos aspectos, culturais, sensoriais, étnicos, físicos e mentais. 4.4 A EDUCAÇÃO ESPECIAL, AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM Os atrasos apresentados no desenvolvimento e no comportamento de pessoas com necessidades especiais derivados de déficits motores, cognitivos e de linguagem alteram as experiências da criança com relação ao mundo físico e social e consequentemente, comprometem a aquisição da aprendizagem, bem como, afetam a motivação e a disposição (BASIL, 1995 apud SCHLÜNZEN, 2005). A ausência de experiências socioculturais durante a trajetória de vida de uma pessoa com necessidades especiais forma uma delimitação secundária para deficiência que pode se tornar tão forte nas características pessoais do indivíduo fazendo parte do quadro das suas patologias que contribui para classificar o sujeito como alienado, com comportamentos ritualísticos e dificuldade na socialização, conforme explica Russo (1994) apud Schlünzen (2005). 63 As crianças também podem sofrer com problemas de desenvolvimento da linguagem, sendo mal interpretadas e estigmatizadas socialmente como deficientes mentais, por não conseguirem expressar claramente suas ideias, assim, muitas vezes, os interlocutores menosprezam suas capacidades, o que causa dificuldade de relacionamento interpessoal (BRAGA, 1996 apud SCHLÜNZEN, 2005). Um estudo sobre a aplicação da teoria de Piaget na análise do desenvolvimento de crianças com necessidades especiais, concluiu que os princípios gerais do desenvolvimento, ou seja, a sequência em que os conhecimentos são aprendidos, são semelhantes para crianças sem deficiência e com deficiência, considerando conceitos invariantes funcionais, operações mentais e estágios propostos por esse teórico, conforme as palavras de Inhelder citado por Braga (1996) apud Schlünzen (2005, p.198). Vygotsky (1993) apud Schlünzen (2005), por sua vez, acrescenta que a criança com deficiência tem seus próprios caminhos para processar o mundo, os quais, esse teórico define como caminhos isotrópicos. Significa que, a necessidade especial da criança faz com que a mesma se desenvolva por meio de um processo criativo, físico e psicológico, onde pode encontrar seus caminhos por rotas próprias e diferentes. Cada criança, em cada estágio do seu desenvolvimento, representa um ser “único”, do mesmo modo, uma criança com necessidade especial apresenta um desenvolvimento qualitativamente diferente e único, portanto, a alteração no desenvolvimento devido a uma deficiência, não implica que a pessoa seja inferior a seus pares, mas sim, que o sujeito vai progredir por um caminho diferente é o que afirma Braga (1996) apud Schlünzen (2005). A interação da criança, com necessidades especiais, com as pessoas e os fenômenos que a cercam possibilita o surgimento de caminhos, do ponto de vista neurológico e funcional e, viabiliza a “superação“ de obstáculos gerados por lesão cerebral, pois, o contato com o outro proporciona à criança um desenvolvimento intrapsicológico melhor e ainda, o meio interfere bastante nesse processo, conforme citado por diversos autores nas palavras de Schlünzen (2005). 64 A abordagem pedagógica para crianças com necessidades especiais deve trabalhar os conflitos enfrentados pela criança ao interagir com o mundo e não questionar a deficiência em si. Pois, como mostrou Vygotsky, o objetivo principal deve ser corrigir a ruptura da interação social através da utilização de outros caminhos é o que acentua Schlünzen (2005). De acordo com as exposições acima, uma ferramenta que auxilia pôr em prática as potencialidades e habilidades das pessoas com necessidades especiais na aprendizagem, é o computador. As tecnologias da informação e comunicação, de uma forma geral, proporcionam uma diversidade de recursos que servem para compensar as dificuldades de adaptação, cobrir déficits motor, bem como, de visão, audição, comunicação e compreensão, além de contribuir para a aquisição de autonomia. É um recurso de grande importância para a socialização, para o desenvolvimento cognitivo e para a avaliação. No próximo capítulo, será discutido o uso das tecnologias como ferramenta de desenvolvimento para pessoas com necessidades especiais. 65 CAPÍTULO 5 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO Há muito tempo já se fala da introdução do computador na educação, mas esta questão ainda é motivo de grandes discussões. Algumas escolas, com o propósito de modernização, aderiram à informatização, porém, muitas utilizam esta tecnologia apenas como versão computadorizada do método de ensino aplicado, imitando a atividade que acontece em sala de aula. Utilizam para tanto, softwares do estilo exercício e prática, tutoriais, jogos e simulação durante algumas horas semanais. Enquanto para muitos outros professores, o computador e os dispositivos tecnológicos de forma geral, continuam sendo “um bicho de sete cabeças”, em pleno século XXI, dificultando a inclusão do computador e da tecnologia na escola. Portanto, para a prática pedagógica é um grande avanço desmistificar a utilização das tecnologias da informação e comunicação e utilizá-las como ferramenta de ensino-aprendizagem, e, principalmente como recurso de potencialização para promover aprendizagem nas pessoas com necessidades especiais. 5.1 UM BREVE HISTÓRICO Para iniciar, uma passagem sobre a história da informática na educação. A primeira vez em que uma máquina foi utilizada para auxiliar no processo de ensino foi em 1924 pelo Dr. Sidney Pressey, professor da Universidade Estadual de Ohio. Ele desenvolveu uma máquina que apresentava questões de múltipla escolha aos alunos, ele defendia a ideia de que o resultado instantâneo fornecido pela máquina, a qual confirmava as respostas corretas e negava as respostas erradas, apresentava um importante efeito educativo sobre a aprendizagem do conhecimento imediato do estudante e permitia ao mesmo progredir no seu próprio ritmo (SOUSA, 2008; VALENTE, 2002). Já em 1950, Burrhus Frederic Skinner, psicólogo, professor da Universidade de Harvard, apresentou sua mais importante aplicação educacional, uma máquina para ensinar usando o conceito de instrução programada. Este aparelho consistia em dividir o material a ser ensinado em módulos, cujos conceitos eram apresentados aos alunos de forma sequenciada, em seguida era solicitada a resposta ao aluno e 66 imediatamente o mesmo recebia um retorno. Este procedimento teve como base o condicionamento operante, um mecanismo que premia a resposta correta do indivíduo a uma determinada questão até ele ficar condicionado, ou seja, o hábito gerado por uma ação (SOUSA, 2008, VALENTE, 2002). Este princípio é uma expressão do behaviorismo, corrente que dominou o pensamento e a psicologia até os anos 50, que é o estudo do comportamento, ou seja, um conjunto de reações dos organismos aos estímulos externos, onde o aprendizado é um agente de mudança do comportamento. Em outras palavras, o condicionamento operante é um mecanismo de aprendizagem de novo comportamento, o qual o ambiente é modificado produzindo consequências que agem de novo sobre ele (SOUSA, 2008; VALENTE, 2002). A proposta de Skinner teve boa repercussão entre o final dos anos 50 e início dos anos 60, porém, a falta de padronização dos materiais utilizados e a dificuldade de produção dos mesmos tornaram difícil a continuidade do seu trabalho. Mas a chegada dos computadores tornou possível a implementação da instrução programada através de programas denominados CAI - computer-aided instruction ou “instrução auxiliada por computador” (SOUSA, 2008; VALENTE, 2002). O governo americano e diversos fabricantes investiram na produção de CAI, assim como, universidades americanas investiram em cursos ministrados pelo computador. Contudo, os computadores eram muito caros para serem adquiridos pelas escolas. Somente com o desenvolvimento dos microcomputadores foi possível para as escolas utilizarem os recursos computacionais, bem como, os programas educacionais que passaram a existir em grande escala (SOUZA, 2008, VALENTE, 2002). Entretanto, os computadores foram utilizados meramente como substituto do professor. Os laboratórios de informática eram empregados para produzir “mais do mesmo” do que era realizado em sala de aula, de acordo com o paradigma educacional instrucionista vigente, no qual, o professor apenas transfere o seu conhecimento para o aluno (SOUSA, 2008, VALENTE, 2002). Sobretudo, na segunda metade dos anos 60, o matemático e educador estadudinense nascido na África do Sul, Seymour Papert, desenvolveu a Linguagem 67 LOGO no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Boston, Estados Unidos (SOUSA, 2008, VALENTE, 2002). LOGO é uma linguagem de programação interpretada e interativa que apresenta uma “tartaruga”, uma espécie de robô, que responde aos comandos do usuário, mostrando imediatamente o resultado na tela do computador. Esta ferramenta incentiva o aprendizado porque proporciona ao aluno repassar seu conhecimento para o LOGO e vivenciar o resultado. Se alguma coisa no raciocínio do aluno não estiver correta, será demonstrado na tela através da interpretação da “tartaruga”, desta forma, o estudante pode repensar o procedimento e encontrar soluções para resolver o problema (SOUSA, 2008, VALENTE, 2002). Este programa incentiva o educando a aprender com seus erros numa perspectiva construtivista que é a corrente teórica seguida por Papert que trabalhou com Piaget e ainda encontrou fundamentação para seu trabalho na teoria socioconstrutivista e sociointeracionista de Vygotsky. A Linguagem LOGO foi muito utilizada em algumas escolas particulares, porém, ficou obsoleta (SOUSA, 2008; VALENTE, 2002). Atualmente, muitas escolas possuem laboratórios de informática que utilizam softwares do estilo exercício e prática, tutoriais, jogos, simulação, aplicativos, e dispõem também de recursos da Internet, conforme acentua Carrão, (2014), contudo, os critérios de utilização das tecnologias são de responsabilidade do professor, mediador do processo ensino-aprendizagem e facilitador do desenvolvimento intelectual do aluno. Função que coloca o professor numa perspectiva diferente dentro da sala de aula enfatizando a mudança de paradigma e o uso adequado e necessário da tecnologia da informação e comunicação (SOUSA, 2008; VALENTE, 2002). Paradigmas em educação são conceitos, crenças, normas e valores construídos pelos educadores e pelas pessoas como um todo ao longo dos tempos. Refletir sobre os paradigmas é fundamental, pois a cada ano surgem transformações que necessitam de novas formas de conceber a educação. Quando Papert criou a Linguagem LOGO em 1968 já se preocupava em formar sujeitos capazes de aprender, de construir seu próprio conhecimento, de provocar mudanças e pensava que as pessoas deveriam estar preparadas para a acelerada transformação da sociedade (SOUSA, 2008; VALENTE, 2002). 68 Hoje, vivemos num mundo dominado pela informação, os fatos acontecem e mudam rapidamente, tornando-se obsoletos em pouco tempo. Portanto, precisamos ensinar os alunos a buscar e a usar a informação. O computador pode então ser utilizado como ferramenta que proporciona condições aos estudantes de exercitarem a capacidade de procurar e selecionar informação, resolver problemas, produzir trabalhos e o professor fica com a responsabilidade de ser o criador de ambientes de aprendizagem e o facilitador do desenvolvimento intelectual do aluno. 5.2 AS TECNOLOGIAS FERRAMENTA DE DA INFORMAÇÃO DESENVOLVIMENTO E COMUNICAÇÃO PARA PESSOAS COMO COM NECESSIDADES ESPECIAIS As Tecnologias da Informação e Comunicação podem contribuir para corrigir a ruptura imposta pelas deficiências e serem instrumentos facilitadores na construção da aprendizagem, evidenciando as habilidades e potencialidades dos educandos e não suas dificuldades (SCHLÜNZEN, 2005). O computador pode ser usado como recurso para administrar as diferentes necessidades das pessoas com deficiência, pois, pode ser empregado como meio de comunicação, de produção, de construção, de diagnóstico, entre outros, portanto, favorecer no processo educacional com a criação de novos caminhos, tendo o professor como mediador do desenvolvimento (SCHLÜNZEN, 2005). Os recursos tecnológicos como os vocalizadores e softwares para criação de pranchas de comunicação podem ser utilizados como comunicador aumentativo e alternativo, como uma espécie de “prótese” para comunicação, permitindo assim, que as pessoas com deficiência na fala possam se comunicar com o mundo, possibilitando uma maior independência para o indivíduo ao interagir com o outro num processo de socialização (SARTORETTO, 2014, BERSCH, 2014). Os monitores especiais sensíveis ao toque, simuladores de teclado, softwares de varredura de tela, acionadores e o teclado expandido Intellikeys® podem ser as ferramentas com as quais as crianças deficientes físicas se utilizem para interagir com o mundo das pessoas e dos objetos, manipular o meio e realizar produções independentes (ASSISTIVA, 2013). 69 Com a tecnologia, o educando consegue executar tarefas como desenhar, escrever, criar, brincar e trabalhar de maneira independente, comandar o computador para resolver problemas, por meio de linguagem de programação ou de sistemas de autoria e buscar informações na Internet e nos mais diversos meios digitais de armazenagem de dados (SCHLÜNZEN, 2005). O computador também pode ser utilizado para fazer uma avaliação da cognição, ou seja, da capacidade intelectual da criança com deficiência. O processo de avaliação é de fundamental importância para a execução de qualquer trabalho realizado por um profissional, educador ou terapeuta. A avaliação pode ser realizada pela observação da interação do educando com a máquina, do registro do pensamento lógico e do desenvolvimento das atividades realizadas pela criança (SCHLÜNZEN, 2005). Abaixo, a classificação dos softwares educacionais que compreende modelos do tipo: Tutoriais, Exercício e Prática, Simulação, Jogos, Programação e Aplicativos, além dos recursos da Internet. Em seguida, de forma compactada, uma listagem dos softwares e hardwares disponíveis, além dos benefícios oferecidos pelo uso das tecnologias da informação e comunicação: Tutoriais: atua como um tutor instruindo o aluno passo a passo, dando-lhe informações, conduzindo-o dentro do sistema proposto. Alguns possibilitam ao aluno continuar novas lições ou repetir lições anteriores, entretanto, todas as atividades desenvolvidas já estão previamente determinadas por meio do software, não permitindo que o aluno busque informação fora (CARRÃO, 2014). Exercício e Prática: contém uma série de exercícios dentro de uma lógica linear em relação aos conteúdos. Apresentam uma série de problemas, soluções e registros das atividades dos alunos (CARRÃO, 2014). Simulação: propõe um trabalho em torno da noção de modelo e processo, apresenta conteúdo de forma dinâmica, sendo possível realizar experiências que não poderiam ser testadas em qualquer outro lugar. Utiliza recursos para as demonstrações tornando mais fácil a compreensão dos conceitos mais complexos (CARRÃO, 2014). Jogos: utilizam o lúdico na solução dos problemas com ajuda de regras lógicas. 70 Geralmente são desenvolvidos com a finalidade de desafiar e motivar o aprendiz, envolvendo-o em uma competição com a máquina e os colegas. Essa competição pode direcionar o interesse do aprendiz somente em ganhar o jogo como também promover reflexão sobre os processos e estratégias envolvidos no mesmo. Os jogos permitem interessantes usos educacionais, principalmente se integrados a outras atividades (CARRÃO, 2014). Programação: possibilitam por meio de linguagens de programação auxiliar no desenvolvimento do raciocínio lógico. O programa representa a ideia do programador e existe uma correspondência direta entre cada comando e o comportamento do computador (CARRÃO, 2014). Aplicativos: são processadores de textos, planilhas de cálculos, bancos de dados, apresentadores de multimídia que possibilitam criar, processar, organizar, armazenar, recuperar e transmitir informações dentro dos computadores (CARRÃO, 2014). Internet: pesquisas, bibliotecas virtuais, redes sociais, notícias que possibilitam informação e atualização em tempo real, promovendo a busca pelo conhecimento. Softwares: • Processadores de Textos, Apresentação de Slides, Editores Gráficos, Editores de Páginas Web – para produção de livros textuais, ilustrados e multimídia; • Navegadores, Bate-papo, Correio Eletrônico (e-mail), Programas de troca de arquivos e músicas – para promover a inclusão e interação com outras pessoas; • Gravador de Som, Jogos Educacionais – para promover a diversão e educação; • Softwares para criação de pranchas de comunicação; • Simuladores de teclado; • Softwares de varredura de tela; • DosVos / WinVox – software especializado para deficientes visuais, pois lê o 71 conteúdo da tela; • Via Voice – software especializado para deficientes motores, pois escreve o que a pessoa dita; • Programas para varredura de tela – para o cursor “varrer” a tela até que um acionador seja disparado para executar uma tarefa; • Padronização das ferramentas – permite a produção de trabalhos de forma independente em vários programas, pois todos seguem a mesma linha de organização; • Configurações de Acessibilidade – permite a configuração do teclado, mouse, vídeo, avisos sonoros e de texto, para quem tem dificuldade motora, visual ou auditiva; o Teclas de Aderência (pressionar uma tecla de cada vez); o Teclas de Filtragem e Taxa de Repetição (ignorar teclas pressionadas rápida ou repetidamente e diminuir a repetição das teclas); o Mostrar Sons (legendas para fala e sons emitidos); o Alto Contraste (cores e fontes que facilitam a leitura); o Teclas para Mouse (controlar o ponteiro do mouse com o teclado numérico e velocidade do ponteiro); o Teclas de Atalho – para dispensar o uso do mouse e controlar a formatação do trabalho pelo teclado (SOUZA, 2006). Hardwares: • Scanner – para copiar imagens; • Câmera digital – para produzir imagens; • Vocalizadores; • Impressora Braille – para imprimir textos para deficientes visuais; • Intellikeys – teclado especial para deficientes motores; • Acionadores – um tipo de mouse para deficientes motores; 72 • Monitores sensíveis ao toque; • Webcam – para interação com outras pessoas; • Microfone – para produção de textos orais e músicas; • Recursos multimídia intuitivos e de fácil uso – que despertam o interesse e prendem a atenção do aluno (SOUZA, 2006). Benefícios: • Raciocínio Lógico - com o uso de softwares educativos e a padronização das ferramentas; • Concentração – com a disponibilidade de recursos multimídia; • Criatividade – com a disponibilidade de softwares multimídia intuitivos e de ácil uso; • Comunicação – com recursos de interação e colaboração; • Expressão de ideias e sentimentos – com softwares, ferramentas de colaboração e recursos multimídia; • Desenvolvimento Motor – com softwares e hardwares especializados; • Auto-estima e autoconfiança – com a produção independente de trabalhos; Inclusão – na cultura e atualidades (SOUZA, 2006). Prancha de Comunicação Disponível em <http://www.assistiva.com.br/ca.html> Acesso em 10 nov 2013. 73 Vocalizador Disponível em <http://www.assistiva.com.br/ca.html> Acesso em 10 nov 2013. Acionadores Disponível em <http://www.assistiva.com.br/ca.html> Acesso em 10 nov 2013. Intellikeys Disponível em < http://www.clik.com.br/intelli_01.html#comprar> Acesso em 10 nov 2013. 74 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho discutiu as relações entre desenvolvimento e aprendizagem com foco nas pessoas com necessidades especiais, observando-se que esse processo envolve estruturas cerebrais como plasticidade e memória, bem como teorias de desenvolvimento e pode, ainda, ser auxiliado pelas tecnologias. O cérebro se desenvolve por toda a vida, é dotado de grande plasticidade, portanto, é capaz de aprender sempre. Assim sendo, evidencia-se que a aprendizagem pode induzir alterações morfológicas das terminações nervosas que resulta em uma modificação da eficiência das conexões entre os neurônios, significa dizer que a aprendizagem é capaz de modificar o cérebro e gerar conhecimento. Quanto à plasticidade do sistema nervoso, os especialistas defendem os fundamentos de que esta é formada por circuitos cerebrais que podem ser modificados ao longo da vida, consequentemente, funções peculiares do cérebro como a capacidade de aprendizagem e a memória implicam em remodelações estruturais contínuas com o crescimento de novas conexões sinápticas. Uma vez formadas as sinapses, a estabilidade da rede de junções é relativa e depende de quanto é usada, portanto, exercícios e estímulos promovem novos caminhos para novas comunicações neuronais e novos aprendizados, conforme os postulados teóricos analisados para esse estudo. A persistência do aprendizado ocorre em um estado que pode ser evidenciado posteriormente, o qual é chamado de memória. Existem diversos níveis de processamento da memória, porém, para que as informações permaneçam por períodos extensos e até indefinidamente, é necessário que cheguem à memória de longo prazo. Quanto mais significante for a informação e mais profundamente for tratada, esta informação será consolidada e armazenada na memória de longo prazo e o aprendizado adquirido poderá ser recuperado posteriormente para servir de base para novos conhecimentos e assim sucessivamente. Fica evidenciado assim, que a memória envolve diversos conteúdos, dos instintos enraizados ao conhecimento factual consciente que são associados a diferentes 75 áreas do cérebro, portanto, promover consistência expressiva às informações permite que estas informações trafeguem por diversas áreas cerebrais, nos diversos níveis de processamento da memória, como a memória sensorial e episódica, sendo armazenadas de várias formas, fato esse, que facilita posteriormente a sua evocação. Nesse sentido, quanto mais intensas forem as sensações, quanto mais emoção for dada à forma como a informação é transferida, bem como, relacionar as informações aos interesses pessoais e também relacionar as novas informações às antigas já armazenadas, maior a probabilidade de a experiência ser lembrada e o conteúdo se tornar aprendizado, pois, estas atitudes ajudam na consolidação da informação na memória de longo prazo. Além das características da neurociência, o aprendizado também envolve os aspectos das teorias do desenvolvimento. Nas análises realizadas por Piaget, observa-se que o desenvolvimento se dá mais de dentro para fora, tem um motor endógeno que impulsiona o desenvolvimento psicológico, ou seja, por desenvolver-se é que o sujeito pode aprender, então, para Piaget, a criança aprende porque ela está em determinado estágio de desenvolvimento. O trabalho desenvolvido por esse teórico, atribui grande importância à maturação orgânica, porém, não considera o indivíduo passivo sob a influência do meio e sim, defende que o desenvolvimento da inteligência se dá através de ações mútuas entre o indivíduo e o meio ambiente em que ele vive. Ele concluiu que o homem não nasce inteligente, porém, responde aos estímulos externos, agindo sobre o meio para construir e organizar o seu próprio conhecimento. Ele destaca ainda, que é através dos procedimentos pelos quais o indivíduo busca adaptar-se ao meio que se dá o desenvolvimento de sua inteligência, que a criança constrói o conhecimento a partir da realidade vivida por ela, no seu processo interativo com o objeto e com o meio. Quanto a Vygotsky, observou-se que o desenvolvimento se dá mais de fora para dentro, ou seja, a aprendizagem é que promove o desenvolvimento, portanto, para ele, a aprendizagem aparece como um ponto extremamente importante na definição de desenvolvimento do sujeito. 76 A espécie do ser humano e a cultura definem, em grande medida, o rumo de desenvolvimento do sujeito, porém, ele considera que o caminho do desenvolvimento está em aberto e que as experiências do sujeito e seus procedimentos microgenéticos vão estabelecer o seu desenvolvimento. Outro aspecto a ser ressaltado nos fundamentos sobre a aprendizagem, é de que o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal define a distância entre o desenvolvimento atual de uma criança e o potencial que ela tem para aprender. Nesse sentido, a intervenção pedagógica mediada por uma pessoa mais experiente, o professor, aproxima o que a criança já consegue fazer sozinha do que ela está perto de conseguir fazer sozinha. Todas essas questões direcionam para a possibilidade de aprendizagem em pessoas com necessidades especiais, pois, a neurociência justifica a condição para aprender e as teorias de desenvolvimento apoiam as propostas pedagógicas. Após verificadas e analisadas as teorias do desenvolvimento de Piaget e Vygotsky, não se pode negar que estas mudam o conceito sobre as condições de aprendizagem das pessoas com necessidades especiais, porque se fosse trabalhar com essas pessoas levando em consideração somente o determinismo biológico, as possibilidades de desenvolvimento seriam muito limitadas. A compreensão do desenvolvimento humano e de sua relação com a educação é muito importante para uma prática educativa eficiente para pessoas com necessidades especiais. Então, para a realização do processo educativo, o educador deve atuar intencionalmente com atividades que potencializem as capacidades das crianças com necessidades especiais, proporcionar atividades lúdicas e prazerosas, ricas em estímulos, promover a interação com o objeto e o meio, estudado na teoria de Piaget, aproximar o que a criança consegue fazer sozinha do que ela está perto de conseguir fazer sozinha, estudado na teoria de Vygotsky e ajustar cada atividade às características individuais de cada criança com o que é significativo e interessante para cada uma delas e que possibilite a criação de novas rotas isotrópicas. Diante dessas afirmações, o futuro das pessoas com necessidades especiais depende muito das possibilidades proporcionadas a elas. Outrossim, não se pode de deixar de dizer, que o trabalho com a diversidade e o 77 convívio com a diferença permite a conscientização de que a realidade de cada um é apenas parte de um universo maior que oferece múltiplas escolhas. E compreender o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo como seres únicos em suas individualidades e diferenças e contribuir para a formação da pessoa é o grande desafio da educação e de seus profissionais. Por fim, a Tecnologia da Informação e Comunicação unifica a teoria construtivista de Piaget, que atribui a capacidade de aquisição de conhecimento aos processos internos, onde o aluno constrói seu conhecimento, neste caso, com o auxílio do computador, e a teoria sóciointeracionista de Vygotsky, que atribui a capacidade de aquisição de conhecimento aos processos interpessoais, onde o professor é o mediador do processo ensino-aprendizagem. O computador demonstra ser um instrumento versátil e ágil no processo de aprendizagem através de representações simbólicas e que contribui para uma tomada de consciência. As atividades desenvolvidas com o uso do computador podem ser planejadas com softwares que atenuam as dificuldades das pessoas com necessidades especiais ou aumentam a capacidade dessas pessoas, levando os mesmos a serem autônomos em suas produções e comunicarem-se melhor, permitindo uma avaliação fiel de seu potencial individual e coletivo. Os recursos tecnológicos são atrativos, fáceis de manusear e servem para potencializar a capacidade do educando com necessidades especiais ao criar estímulos para a superação das deficiências e gerar processos comutativos que desenvolvam outras capacidades, criando desta forma, diferentes rotas de desenvolvimento. Os recursos computacionais, como, por exemplo, a multimídia, geram estímulos por conter grande quantidade de informações sensoriais, como as cenas e o áudio das histórias, também promovem a interação da criança com a história através de exercícios, repetição, ensaio e erro das atividades que permitem que a informação se torne relevante e atingir níveis de processamento de memória como a sensorial, episódica e semântica para gerar aprendizado permanente na memória de longo prazo. 78 Foi possível verificar que a Tecnologia da Informação e Comunicação pode ser utilizada como ferramenta de desenvolvimento para aquisição de autonomia; atenuar as dificuldades de aprendizado; aumentar a capacidade de realizar produções independentes; desenvolver a comunicação, socialização e raciocínio lógico de pessoas com necessidades especiais. 79 REFERÊNCIAS Assistiva C. T. Clik Website, 1998-2013. Disponível em < http://www.clik.com.br/intelli_01.html#comprar> Acesso em 10 nov 2013. BRASIL. 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