Instituto Superior Técnico Departamento de Matemática Secção de Álgebra e Análise Exercı́cios Resolvidos Teorema da Divêrgencia. Teorema de Stokes Exercı́cio 1 Considere a superfı́cie S definida por S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 1 ; z > 0} e o campo vectorial F (x, y, z) = (−y, x, xz + y) Calcule o fluxo do rotacional do campo F através de S segundo a normal unitária cuja terceira componente é negativa, usando a) Teorema da divergência. b) Teorema de Stokes. Resolução: a) Para usar o teorema da divergência, consideremos o domı́nio regular D definido por D = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 < 1 ; z > 0} A fronteira de D contém as superfı́cies S e B, sendo B definida por B = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 0 ; x2 + y 2 < 1} Então, aplicando o teorema da divergência ao campo vectorial rot F e ao domı́nio D, obtemos Z Z Z Z Z rot F · ν div(rot F ) = ∂D D Z Z Z Z = rot F · ν + rot F · ν S S em que ν é a normal unitária e exterior em S e ν S B B B é a normal unitária e exterior em B. Dado que B é uma superfı́cie horizontal, temos ν = (0, 0, −1) B Por outro lado, div(rot F ) = 0 e, portanto, Z Z Z Z rot F · ν = − rot F · ν S S B B e, tendo em conta que, em B, rot F = (1, −z, 2) = (1, 0, 2) obtemos Z Z S rot F · ν S = − Z Z B (1, 0, 2) · (0, 0, −1) = 2 Vol2 (B) = 2π Dado que a normal ν é exterior a D em S, tem terceira componente positiva e, portanto, S o fluxo pretendido é o simétrico do que foi calculado através do teorema da divergência, ou seja, −2π. 1 b) Para usar op teorema de Stokes, notemos que a superfı́cie S é orientável por ser o gráfico da função z = 1 − x2 − y 2 , e a respectiva fronteira é a linha ∂S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 0 ; x2 + y 2 = 1} z 1 S PSfrag replacements ν B 1 y ∂S x Figura 1: Orientação de S e de ∂S Dado que a normal unitária ν a considerar tem terceira componente negativa, a fronteira ∂S deve ser descrita no sentido negativo, tal como se ilustra na figura 1, ou seja, ∂S deve ser parametrizada por γ(t) = (cos t, − sen t, 0) ; 0 < t < 2π Do teorema de Stokes, obtemos, Z Z Z rot F · ν = S = F · dγ ∂S Z 2π 0 (sen t, cos t, − sen t) · (− sen t, − cos t, 0)dt = −2π tal como na alı́nea anterior. 2 Exercı́cio 2 Um vaso de manjerico limita um volume da forma V = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 < z, 1 < z < 4}. a) Considere o campo vectorial f (x, y, z) = (xz 2 , yz 2 , z 3 ). Calcule o fluxo de f através da parede lateral do vaso, constituı́da pela superfı́cie S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = z, 1 < z < 4}, que faz parte da fronteira de V , no sentido da normal unitária com componente segundo z negativa, usando o teorema da divergência. b) Calcule o fluxo de rotf através de S, no sentido da normal da alı́nea anterior, usando o teorema de Stokes. Resolução: a) Para aplicarmos o teorema da divergência temos de considerar todas as superfı́cies contidas na fronteira de V . Dessa fronteira fazem parte a parede lateral do vaso, que é o pedaço de parabolóide S, a “tampa” superior D1 = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 4, x2 + y 2 < 4} e a “tampa” inferior D2 = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 1, x2 + y 2 < 1} tal como se ilustra na figura 2. z D1 ∂D1 S PSfrag replacements ν D2 ∂D2 0 y x Figura 2: Orientação de S e de ∂S Então pelo teorema da divergência, Z Z Z divf = f · νS + V S 3 D1 f · ν1 + Z D2 f · ν2 . Sendo divf = z 2 + z 2 + 3z 2 = 5z 2 e utilizando coordenadas cilı́ndricas, obtemos Z 2π Z 4 Z √z Z 5(44 − 1) dz dθ divf = 5z 2 ρ dρ = π. 4 1 0 V 0 A normal exterior unitária em D1 é ν1 = (0, 0, 1), logo f (x, y, z) · ν1 = z 3 = 43 em D1 . Assim, temos Z D1 f · ν1 = 4 já que D1 é um disco de raio 2. 3 Z D1 1 = 43 · Área(D1 ) = 44 π Do mesmo modo, a normal exterior unitária em D2 é dada por ν2 = (0, 0, −1), e, portanto, temos f (x, y, z) · ν2 = −z 3 = −1 em D2 Então Z D2 f · ν2 = − Z D2 1 = −Área(D2 ) = −π Portanto, Z S f · νS = Z V divf − Z D1 f · ν1 − Z b) Pelo teorema de Stokes, vamos ter Z Z rotf · νS = S D2 f · ν2 = f+ ∂D1 Z 5((44 − 1) − 44 + 1) π. 4 f, ∂D2 onde ∂D1 está orientada no sentido anti-horário e ∂D2 está orientada no sentido horário de um observador que olha no sentido do semi-eixo positivo dos z, tal como se representa na figura 2. Para calcular os integrais de linha devemos parametrizar ∂D1 e ∂D2 – Parametrização de ∂D1 : g1 (θ) = (2 cos(θ), −2 sen(θ), 4) ; θ ∈]0, 2π[ – Parametrização de ∂D2 : g2 (θ) = (cos(θ), sen(θ), 1) ; θ ∈]0, 2π[ As derivadas das parametrizações são dadas por 0 = (−2 sen(θ), −2 cos(θ), 0) 0 = (− sen(θ), cos(θ), 0) g1 (θ) g2 (θ) Então obtemos Z f = ∂D1 Z e, portanto, f ∂D2 = Z Z 2π 0 (32 cos(θ), −32 sen(θ), 43 ) · (−2 sen(θ), −2 cos(θ), 0)dθ 2π 0 (cos(θ), sen(θ), 1) · (− sen(θ), cos(θ), 0)dθ Z S rotf · νS = Z 4 f+ ∂D1 Z f = 0. ∂D2 Exercı́cio 3 O filtro de uma máquina de lavar loiça cuja forma é aproximadamente a do conjunto p D = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 ≤ z ≤ 3}, está imerso numa corrente de água cujo campo de velocidades é dado pela fórmula F(x, y, z) = (2yz cos(y 2 ), 2xz cos(x2 ), 1). a) Mostre que a quantidade de água no interior do filtro se mantém constante, supondo que a densidade da água é constante igual a 1. b) Usando o teorema de Stokes, calcule o fluxo de água que entra através da parede curva do filtro. Resolução: a) Pelo teorema da divergência, o fluxo total de água através das paredes do filtro é Z Z ∇ · F. F·n= D ∂D Como ∇ · F = 0, o fluxo é nulo. Portanto a quantidade de água que entra no filtro é igual à que sai e a quantidade de água no interior do filtro mantém-se constante. b) Seja C a parede curva de D tal como se ilustra na figura 3. Note-se que F é um campo de divergência nula em R3 . Como R3 é um conjunto em estrela, podemos concluir que F é um rotacional, ou seja, existe um campo L tal que ∇ × L = F. Um campo L que satisfaça esta equação é um potencial vector para F. Para calcular o fluxo de F através de C, podemos começar por calcular um potencial vector L para F e depois aplicar o teorema de Stokes a L. Calcular L = (L1 , L2 , L3 ) consiste em resolver o sistema de equações ∇ × L = F, ou seja, ∂L3 ∂L2 = 2yz cos(y 2 ) ∂y − ∂z ∂L1 ∂L3 = 2xz cos(x2 ) ∂z − ∂x ∂L2 ∂L1 = 1 ∂x − ∂y A solução para este sistema não é única. Para encontrar uma solução particular, podemos procurar uma solução que satisfaça, por exemplo, L1 = 0. Obtemos, ∂L ∂L ∂L2 ∂L2 2 3 3 = 2yz cos(y 2 ) ∂y − ∂z ∂y − ∂z = 2yz cos(y ) 3 − ∂L L3 = −z sen(x2 ) + f (y, z) = 2xz cos(x2 ) ⇔ ∂x ∂L2 = 1 L2 = x + g(y, z) ∂x Mais uma vez, a solução não é única. Impondo a condição, g = 0, e substituindo na primeira equação, obtemos f (y, z) = z sen(y 2 ) e, portanto, L = (0, x, z sen(y 2 ) − z sen(x2 )). 5 z 3 ∂C ν C PSfrag replacements 0 y x Figura 3: Orientação de C e de ∂C Pelo teorema de Stokes, Z C F·n= Z ∂C L · dα, onde n é a normal unitária que aponta para dentro do filtro e consequentemente o caminho α percorre ∂C no sentido positivo tal como se mostra na figura 3. Assim, temos ∂C = {(x, y, z) ∈ R : x2 + y 2 = 9, z = 3}, pelo que o caminho definido por α(t) = (3 cos(t), 3 sen(t), 3) , t ∈ [0, 2π] percorre ∂C na direcção pretendida. Portanto, Z ∂C L · dα Z = Z = 2π L(α(t)) · α0 (t)dt 0 2π 9 cos2 (t)dt 0 = 9π, ou seja, a quantidade de água que entra através da parede curva do filtro é 9π. 6 Exercı́cio 4 Considere as superfı́cies definidas por S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = 4, −2 < z < 2} D− = {(x, y, z) ∈ R3 : z = −2, x2 + y 2 < 4} D+ = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 2, x2 + y 2 < 4} a) Calcule o fluxo do campo vectorial f (x, y, z) = (x cosh2 (z), y cosh2 (z), z − 21 sinh(2z)) através de S, segundo a normal exterior unitária ao cilindro x 2 + y 2 = 4, usando o teorema da divergência. b) Calcule o fluxo do campo h(x, y, z) = (xez , yez , −2ez ) através de S, segundo a normal da alı́nea anterior, usando o teorema de Stokes. Resolução: S é uma parte do cilindro vertical centrado no eixo dos z e com raio 2 e tal que −2 < z < 2. D− e D+ são as “tampas” inferior e superior contidas nos planos z = −2 e z = 2, respectivamente, tal como se ilustra na figura 4. a) Seja V o volume limitado por S, D− e D+ , e seja ν o campo vectorial normal exterior unitário à fronteira de V . Então, pelo teorema da divergência, Z Z Z Z f · ν. f ·ν+ f ·ν + divf = Dado que D− S V D+ divf = 2cosh2 (z) + 1 − cosh(2z) = 2 obtemos Z V divf = 2 Vol(V ) = 2 · 4 · 4π = 32π. A normal exterior unitária em D− é ν = (0, 0, −1) e, portanto, Z Z 1 (−z + sinh(2z)) f ·ν = 2 D− D− 1 sinh(−4)) · Área(D− ) 2 1 = 4π(2 − sinh(4)) 2 = (2 + Do mesmo modo, a normal exterior unitária em D+ é ν = (0, 0, 1). Logo Z Z 1 (z − sinh(2z)) f ·ν = 2 D+ D+ 1 sinh(4)) · Área(D+ ) 2 1 = 4π(2 − sinh(4)) 2 = (2 − Assim, teremos Z Z Z f ·ν = divf − S V D− f ·ν − 7 Z D+ f · ν = 32π − 8π(2 − 1 sinh(4)). 2 Note-se que teria sido um pouco mais complicado calcular directamente o fluxo de f através de S devido à dificuldade na integração em z. b) Usando a definição de rotacional podemos verificar que se tem h(x, y, z) = rot l(x, y, z) com l(x, y, z) = (yez , −xez , 0). De facto, temos ∂l2 ∂l3 − ∂y ∂z ∂l3 ∂l1 − ∂z ∂x ∂l2 ∂l1 − ∂x ∂y = h1 = h2 = h3 z D+ 2 S PSfrag replacements 2 y ν x D− −2 Figura 4: Orientação de S e de ∂S A solução deste sistema não é única e, para encontrar uma solução, devemos impôr condições, como por exemplo l3 = 0, consistentes com as equações mas que as simplifiquem de modo a podermos resolvê-las. Fazendo l3 = 0, obtemos ∂l2 ∂z ∂l1 ∂z ∂l1 ∂l2 − ∂x ∂y − = xez = yez = −2ez e, portanto, da primeira equação, obtemos l2 (x, y, z) = −xez + p(x, y) e da segunda l1 (x, y, z) = yez + q(x, y) 8 Fazendo p = 0 ; q = 0, obtemos, l(x, y, z) = (yez , −xez , 0). Pelo teorema de Stokes, teremos Z Z h·ν = S ∂D− l · dg− + Z ∂D+ l · dg+ , onde ∂D− está orientada no sentido horário e ∂D+ está orientada no sentido anti-horário de um observador que olha no sentido do semi-eixo positivo z, tal como se ilustra na figura 4. Para calcular os integrais de linha, consideremos as seguintes parametrizações para ∂D − e ∂D+ : – Parametrização para D− : g− (θ) = (2 cos(θ), 2 sen(θ), −2) ; θ ∈ ]0, 2π[ – Parametrização para D+ : g+ (θ) = (2 cos(θ), −2 sen(θ), 2) ; θ ∈ ]0, 2π[ e as respectivas derivadas 0 g− (θ) = (−2 sen(θ), 2 cos(θ), 0) 0 g+ (θ) = (−2 sen(θ), −2 cos(θ), 0) Portanto temos, Z ∂D− Z ∂D+ l · dg− = l · dg+ = Z Z 2π 0 l(g− (θ)) · g− (θ)dθ = −8πe−2 0 2π 0 0 l(g+ (θ)) · g+ (θ)dθ = 8πe2 ou seja Z S h·ν = Z ∂D− l · dg− + 9 Z ∂D+ l · dg+ = 8π(e2 − e−2 ). Exercı́cio 5 Considere as superfı́cies definidas por S = {(x, y, z) ∈ R3 : z = −2 + p x2 + y 2 , 0 < z < 1} D1 = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 1, (x2 + y 2 ) < 9} D0 = {(x, y, z) ∈ R3 : z = 0, (x2 + y 2 ) < 4} a) Calcule o fluxo do campo vectorial f (x, y, z) = (x, y, z) através de S, segundo a normal unitária cuja componente segundo z é negativa, usando o teorema da divergência. b) Calcule o fluxo do campo h(x, y, z) = (2x sinh(z), 2y sinh(z), −4 cosh(z)), através de S, segundo a normal da alı́nea anterior, usando o teorema de Stokes. p Resolução: S é a superfı́cie do tronco de cone vertical definido pela equação z = −2 + x2 + y 2 e limitado pelos planos z = 1 e z = 0. D0 é a “tampa” inferior definida por z = 0 e D1 é a “tampa” superior de S definida por z = 1. a) Seja V o volume limitado por S, D0 , D1 . Pelo teorema da divergência temos que Z Z Z Z divf = f ·ν+ f ·ν+ f · ν, V S D0 D1 onde ν é o campo vectorial das normais exteriores unitárias à fronteira de V . Note-se que em S a componente de ν, segundo z, é negativa. Sendo divf (x, y, z) = 3 utilizando coordenadas cilindricas, obtemos Z Z divf = 3 Vol(V ) = 3 V 2π 0 Z 1 0 Z z+2 ρdρdzdθ = 19π. 0 A normal exterior unitária a D0 é dada por ν = (0, 0, −1) e, então, Z Z f ·ν = (−z) = 0 D0 D0 porque z = 0 em D0 . A normal exterior unitária a D1 é dada por ν = (0, 0, 1). Logo Z Z f ·ν = (z) = 1 · Área(D1 ) = 9π D1 D1 Portanto, Z S f ·ν = Z V divf − Z D0 f ·ν− Z D1 f · ν = 19π − 9π = 10π. b) Para usar o teorema de Stokes, teremos de determinar um campo l(x, y, z) que verifique a equação h(x, y, z) = rotl(x, y, z) 10 ou seja, o campo l deverá ser solução do sistema ∂l3 ∂l2 − ∂y ∂z ∂l1 ∂l3 − ∂z ∂x ∂l1 ∂l2 − ∂x ∂y = h1 = h2 = h3 Este sistema não tem solução única e, portanto, fazendo l3 (x, y, z) = 0, obtemos da primeira equação l2 (x, y, z) = −2x cosh(z) + p(x, y) e da segunda equação l1 (x, y, z) = 2y cosh(z) + q(x, y) em que as funções p e q são arbitrárias. Fazendo p = 0 ; q = 0, obtemos o campo l(x, y, z) = (2y cosh(z), −2x cosh(z), 0) Pelo teorema de Stokes, Z h·ν = S Z S rot l · ν = Z l+ ∂D0 Z l, ∂D1 onde ∂D0 é percorrido no sentido horário e ∂D1 no sentido anti-horário de um observador que olha no sentido do semi-eixo positivo de z. Com θ ∈]0, 2π[, as parametrizações de ∂D0 e ∂D1 , respectivamente, são dadas por g0 (θ) = (2 cos(θ), 2 sen(θ), 0) g1 (θ) = (3 cos(θ), −3 sen(θ), 1) e as correspondentes derivadas, ou seja, os correspondentes vectores tangentes, são dadas por 0 = (−2 sen(θ), 2 cos(θ), 0) 0 = (−3 sen(θ), −3 cos(θ), 0) g0 (θ) g1 (θ) Dado que cosh(0) = 1 e sinh(0) = 0 temos então Z Z Z h·ν = l+ S ∂D0 = Z l ∂D1 2π [−8 + 18cosh(1)] dθ 0 = [−16 + 36cosh(1)] π 11 Exercı́cio 6 Considere um filtro de ar cuja forma é aproximadamente a do conjunto D = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 ≤ z ≤ 4}, imerso numa corrente de ar cujo campo de velocidades é dado pela fórmula 2 2 F(x, y, z) = (2yzey , 2xzex , −2 + xy). a) Mostre que a quantidade de ar no interior do filtro se mantém constante, supondo que a densidade do ar é constante igual a 1. b) Usando o teorema de Stokes, calcule o fluxo de ar que sai através da parede curva do filtro. Resolução: a) Pelo teorema da divergência, o fluxo total de ar através das paredes do filtro é Z Z ∇ · F. F·n= D ∂D Como ∇ · F = 0, o fluxo é zero. Portanto a quantidade de ar que entra no filtro é igual à que sai. b) Seja C a parede curva de D. Note-se que F é um campo de divergência nula em R 3 . Como R3 é um conjunto em estrela, podemos concluir que F é um rotacional, ou seja, existe um campo L tal que ∇ × L = F. Um campo L que satisfaça esta equação é um potencial vector para F. Para calcular o fluxo de F através de C, podemos começar por calcular um potencial vector L para F e depois aplicar o teorema de Stokes a L. Calcular L = (L1 , L2 , L3 ) consiste em resolver o seguinte sistema de equações ∂L3 2 2 − ∂L = 2yzey ∂y ∂z 2 ∂L1 ∂L3 = 2xzex ∂z − ∂x ∂L2 ∂L1 = −2 + xy ∂x − ∂y A solução para este sistema não é única. Para encontrar uma solução particular, podemos procurar uma solução que satisfaça, por exemplo, L1 = 0, e obtemos, ∂L ∂L 2 ∂L2 ∂L2 y2 3 3 = 2yzey ∂y − ∂z = 2yze ∂y − ∂z 2 x2 3 ⇔ − ∂L L3 = −zex + f (y, z) = 2xze ∂x ∂L2 L2 = −2x + 12 x2 y + g(y, z) = −2 + xy ∂x Mais uma vez, a solução não é única. Impondo g = 0 e substituindo na primeira equação, 2 vem f (y, z) = zey , logo 1 2 y2 x2 L = 0, −2x + x y, ze − ze . 2 12 Seja C a parede curva de D. Pelo teorema de Stokes, Z Z Z ∇×L·n= F·n = C C L ∂C onde n é a normal unitária que aponta para fora do filtro e consequentemente ∂C é percorrido no sentido negativo quando visto no sentido positivo do eixo z. Uma parametrização para ∂C = {(x, y, z) ∈ R : x2 + y 2 = 4, z = 4}, na direcção indicada é dada por g(t) = (2 cos(t), −2 sen(t), 4) ; t ∈ [0, 2π] e a respectiva derivada por g 0 (t) = (−2 sen(t), −2 cos(t), 0) Assim, Z L = ∂C = Z L · dg ∂C Z 2π 8 cos2 (t) + 8 cos3 (t) sen(t)dt 0 = 8π portanto a quantidade de ar que sai através da parede curva do filtro é 8π. 13 Exercı́cio 7 Considere a superfı́cie, constituı́da pela parte superior de um toro, definida por p M = {(x, y, z) ∈ R3 : z 2 + ( x2 + y 2 − 2)2 = 1, z > 0}. Seja n a normal unitária a M cuja componente segundo z é positiva. a) Calcule o fluxo do campo vectorial f (x, y, z) = (x + arcatn(y 2 + z 3 ), exp(z − x3 ), z 2 − z + 1) através de M segundo n. b) Utilizando o teorema de Stokes, calcule o fluxo do campo h(x, y, z) = (0, 0, 2) através de M no sentido de n. Resolução: a) Seja V o volume limitado por M e pelo plano z = 0, i.e. p V = {(x, y, z) ∈ R3 : z 2 + ( x2 + y 2 − 2)2 < 1, z > 0}. A fronteira de V é formada pela superfı́cie toroidal M e pela coroa circular D contida no plano xy entre as circunferências de raios 1 e 3 centradas na origem, i.e. p D = {(x, y, z) ∈ R3 : ( x2 + y 2 − 2)2 < 1, z = 0}. A normal n a M é exterior a V . A normal unitária a D que é exterior a V é simplesmente ν = (0, 0, −1) porque D é o plano z = 0. Assim, o teorema da divergência estabelece que Z Z div(f ) dxdydz = V Ora, div(f ) = ∂f1 ∂x Z + ∂f2 ∂y + ∂f3 ∂z Z D f · ν. = 2z e, portanto, em coordenadas cilı́ndricas, temos div(f ) dxdydz V M f ·n+ = Z 2π Z 0 = 2π Z 3 1 Z √1−(ρ−2)2 3 1 0 ! 2zdz ρdρ dθ 1 − (ρ − 2)2 ρdρ = 2π 4 − 4 3 Por outro lado para calcular o fluxo de f através de D, note-se que f · ν = −z 2 + z − 1 = −1 porque z = 0 em D. Assim, Z D f · ν = −Área(D) = −π(32 − 12 ) = −8π 14 ! e, portanto, Z M f ·n= 8 16 − 3 π. Note-se que teria sido substancialmente mais difı́cil fazer o mesmo cálculo directamente a partir da definição de fluxo de um campo. b) O teorema de Stokes relaciona o fluxo do rotacional de um campo através de uma superfı́cie com o trabalho desse campo na fronteira, ou bordo, da superfı́cie. Assim o primeiro passo é exprimir o campo h(x, y, z) como um rotacional de outro campo vectorial. Procuramos então determinar um campo vectorial g(x, y, z) tal que rot (g) = h ou seja ∂2 g3 − ∂ 3 g2 = h1 = 0 ∂3 g1 − ∂ 1 g3 = h2 = 0 ∂1 g2 − ∂ 2 g1 = h3 = 2 Diz-se que g é um “potencial vectorial” para h. Há muitas soluções para estas equações. Podemos, por exemplo, tentar encontrar uma solução com g2 = 0. Da terceira equação obtemos g1 = −2y + l(x, z) Fazendo l(x, z) = 0 vemos que é possı́vel satisfazer as equações restantes com g 3 = 0. Logo, podemos tomar g(x, y, z) = (−2y, 0, 0) A fronteira, ou bordo, de M é constituı́da por duas circunferências no plano xy e centradas na origem: A de raio 1 e B de raio 3, como se ilustra na figura 5. Quem está de pé, sobre o y B 1 A 3 x PSfrag replacements Figura 5: Orientação de A e de B plano xy, do lado em que z > 0, a orientação destas fronteiras que é consistente com a normal n, é para A no sentido horário e para B no sentido anti-horário. Deste modo, percorrendo 15 A ou B do lado em que z > 0, ou seja do lado para que aponta a normal n, tem a superfı́cie M do seu lado esquerdo. Então, pelo teorema de Stokes, temos Z Z h·n= M M rot (g) · n = Z g+ A Z g. B Temos de calcular o trabalho de g ao longo de A e o trabalho de g ao longo de B. Podemos parametrizar A através de α(θ) = (cos(θ), − sen(θ), 0) e B através de β(θ) = (3 cos(θ), 3 sen(θ), 0) fazendo 0 < θ < 2π. Então Z g = A = Z Z 2π g(α(θ) · α0 (θ)dθ 0 2π (2 sen(θ), 0, 0) · (− sen(θ), − cos(θ), 0)dθ 0 = − Z 2π 2 sen(θ)2 dθ 0 = −2π De modo semelhante temos Z g = B = Z Z 2π g(β(θ) · β 0 (θ)dθ 0 2π 18 sen2 (θ)dθ 0 = 18π Portanto Z M h · n = 18π − 2π = 16π Note-se que teria sido substancialmente mais difı́cil fazer o mesmo cálculo directamente a partir da definição. 16 Exercı́cio 8 Considere a superfı́cie S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = z 2 + 1, −1 < z < 3} e o campo vectorial F~ (x, y, z) = (x, y, −2z) Calcule o fluxo de F~ através de S no sentido da normal que aponta para fora (isto é no sentido contrário àquele em que fica o eixo dos zz), 1. pela definição de fluxo. 2. usando o teorema da divergência. 3. usando o teorema de Stokes. Resolução: √ 1. Em coordenadas cilı́ndricas (r, θ, z), S é definida por r 2 = z 2 + 1 ⇐⇒ r = z 2 + 1 com −1 < z < 3 logo S trata-se de uma hipérbole rodada em torno do eixo dos zz, ou seja de um hiperbolóide. Uma parametrização para S é dada por p p g(z, θ) = ( z 2 + 1 cos θ, z 2 + 1 sin θ, z), 0 < θ < 2π, −1 < z < 3. Temos i ∂g ∂g √ z cos θ × = z 2 +1 ∂z ∂θ √ − z 2 + 1 sin θ j √ z z 2 +1 sin θ √ z 2 + 1 cos θ k p p 1 = (− z 2 + 1 cos θ, − z 2 + 1 sin θ, z). 0 ∂g × ∂g Quando z é positivo, a terceira componente de ∂z ∂θ é positiva portanto este vector tem o contrário ao da normal dada à superfı́cie. Conclui-se que Z Z F~ · ~ndS = S =− Z =− Z =− Z 2π 0 2π 0 2π 0 Z 3 −1 3 Z −1 Z −1 3 F~ ( p z 2 + 1 cos θ, p z 2 + 1 sin θ, z) · (− p p z 2 + 1 cos θ, − z 2 + 1 sin θ, z)dzdθ p p p p ( z 2 + 1 cos θ, z 2 + 1 sin θ, −2z) · (− z 2 + 1 cos θ, − z 2 + 1 sin θ, z)dzdθ −(z 2 + 1) − 2z 2 dzdθ = −2π(−4 − 28) = 64π. 2. F~ é um campo vectorial de classe C 1 em R3 logo podemos aplicar o teorema da divergência à região D = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 < z 2 + 1 , −1 < z < 3}. A fronteira de D, é formada por S e pelos dois discos S1 = {(x, y, 3) ∈ R3 : x2 + y 2 ≤ 10} 17 e S2 = {(x, y, −1) ∈ R3 : x2 + y 2 ≤ 2}. Uma vez que a normal a S dada, ~n, é a normal exterior a D, o teorema da divergência diz que Z Z Z Z Z Z Z Z Z ~ ~ ~ ∇ · F dxdydz = F · ~n + F · (0, 0, 1)dS + F~ · (0, 0, −1)dS. D S Como S1 S2 ∇ · F~ = 1 + 1 − 2 = 0 conclui-se que Z Z S F~ · ~ndS = − Z Z =− Z Z = Z Z S1 S1 S1 F~ · (0, 0, 1)dS − −2zdS − 6dS − Z Z Z Z S2 Z Z S2 F~ · (0, 0, −1)dS 2zdS S2 −2dS = 6área(S1 ) + 2área(S2 ) = 6π10 + 2π2 = 64π. 3. Uma vez que F~ é solenoidal (isto é ∇ · F~ = 0) e o domı́nio de F~ é R3 que é um conjunto ~ temos de em estrela, concluimos que F~ é um rotacional. Para achar um potencial vector A resolver o sistema i j k ∂ ∂ ~ = F~ ⇐⇒ ∂ ∇×A ∂x ∂y ∂z = (x, y, −2z) A1 A2 A3 ∂A3 ∂A2 ∂y − ∂z = x ∂A3 ∂A1 ⇐⇒ ∂z − ∂x = y ∂A2 ∂A1 ∂x − ∂y = −2z Fazendo, por exemplo, A3 = 0 obtemos, ∂A − ∂z2 = x ∂A1 ⇐⇒ ∂z = y ∂A2 − ∂A1 = −2z ∂x ∂y Substituindo na última equação obtemos −z + A2 (x, y, z) = −xz + C1 (x, y) A1 (x, y, z) = yz + C2 (x, y) ∂A2 − ∂A1 = −2z ∂x ∂y ∂C1 ∂C2 (x, y) − z − (x, y) = −2z ∂x ∂y pelo que podemos fazer C1 (x, y) = C2 (x, y) = 0. Conclui-se que um potencial vector para F~ é dado por ~ y, z) = (yz, −xz, 0). A(x, Pelo teorema de Stokes, Z Z S F~ · ~ndS = Z Z S ~ · ~ndS = (∇ × A) 18 I ∂S ~ · d~r. A O bordo de S é constituı́do por duas curvas: α1 = {(x, y, 3) ∈ R3 : x2 + y 2 = 10} e α2 = {(x, y, −1) ∈ R3 : x2 + y 2 = 2}. De acordo com a regra da mão direita, quando vistas de muito acima do plano xy, α 1 deve ser percorrida no sentido dos ponteiros do relógio e α2 no sentido directo. Uma parametrização de α1 é √ √ g1 (t) = ( 10 cos t, 10 sin t, 3) 0 < t < 2π que no entanto percorre a curva no sentido directo, enquanto que uma parametrização para α2 é √ √ g2 (t) = ( 2 cos t, 2 sin t, −1) 0 < t < 2π que percorre a curva α2 no sentido desejado. Assim, Z Z Z Z ~ ~ ~ · dg2 F · ~n = − A · dg1 + A S α1 =− + = Z Z Z α2 2π 0 2π 0 2π √ √ √ √ (3 10 sin t, −3 10 cos t, 0) · (− 10 sin t, 10 cos t, 0)dt √ √ √ √ (− 2 sin t, 2 cos t, 0) · (− 2 sin t, 2 cos t, 0)dt 30dt + 0 Z 2π 2dt = 64π. 0 19