transtornos de déficit de atenção hiperatividade (tdah

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TRANSTORNOS DE DÉFICIT DE ATENÇÃO HIPERATIVIDADE
(TDAH ): ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONTEXTO ESCOLAR
KLERING, Leniara Edinéia
[email protected]
PAULINO, Juliana Deoldoto
[email protected]
Universidade Estadual de Maringá
Psicologia da Educação
Introdução
O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno
neurobiológico, de caudas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o
indivíduo por toda a sua vida. O TDAH é caracterizado pela apresentação de frequências
inapropriadas, em termos de comportamento de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade
(APA, 2002 apud VIANA; CAMPOS; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2009). Essas duas
dimensões de comportamento levam a prejuízos nas atividades de vida diária, pois a criança
com TDAH demonstra dificuldades com o adiamento da resposta ao ambiente, o
desenvolvimento de autocontrole e a manutenção do desempenho constante no trabalho ao
longo do tempo. Tal comportamento influencia no desenvolvimento dessa criança no
ambiente escolar. Nos últimos anos, o número de crianças com esse quadro de desatenção,
agitadas e com baixo rendimento escolar tomou uma grande proporção dentro das escolas e
nos consultório médicos.
O TDAH pode ser considerado um transtorno de alta incidência, sendo mais frequente
em meninos do que em meninas. A proporção maior de meninos atendidos em clínicas
devido a esse transtorno pode ser uma função, em parte, da maior prevalência de
comportamentos disruptivos adicionais (por exemplo, desobediência, perturbação de conduta)
entre meninos com TDAH (FUNAYAMA, 2000).
Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012
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Esse trabalho se propõe a discutir o Transtorno de Déficit de Atenção com
Hiperatividade (TDAH), tecendo algumas contribuições acerca dos sintomas relacionados à
desatenção, hiperatividade/impulsividade e sobre os principais sintomas observados no
contexto escolar. A prática pedagógica tem papel fundamental para que esse transtorno seja
diagnosticado pelo professor de forma coerente. O professor como principal observador,
precisa conhecer o impacto que esses sintomas causam nas crianças em idade escolarização.
Breve histórico sobre transtornos de déficit de atenção
A primeira descrição oficial do que hoje chamamos de TDAH data de 1902, por meio
de um pediatra inglês, George Still, apresentou casos clínicos de crianças com hiperatividade
e outras alterações de comportamento, que em sua opinião não podiam ser explicadas por
falhas educacionais ou ambientais, mas que deveriam ser provocadas por algum transtorno
cerebral na época conhecido (ABDA, 2012).
Dados da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA, 2012) em maio de
2011, apontaram que aproximadamente 9 milhões de crianças com idade entre 0 a 14 anos
sofrem com o TDAH. O mais grave para a presidente da ABDA, Iane Kestelman, é a falta de
conhecimento da população sobre a doença. Muitas crianças sofrem com essa doença e os
pais ou as pessoas que convivem com eles são incapazes de identificar. Isso acontece por
causa da falta de informação sobre o TDAH.
Estudos realizados inclusive no Brasil demonstram que a incidência do TDAH é
semelhante em várias regiões do país, o que acaba o descaracterizando de um fator cultural,
ou de como os pais educam seus filhos ou até mesmo fatores relacionados a conflitos
psicológicos.
Dificilmente o diagnóstico desse transtorno é feito antes dos quatro ou cinco anos. O
problema é percebido gradativamente nos diversos ambientes em que a criança convive
(PHELAN, 2005).
Sintomas relacionados à desatenção
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Segundo Benczik (2010), os sintomas relacionados à desatenção são caracterizadas
por sinais simultâneos, dentre todos os sintomas, devemos ficar atentos a seis ou mais
sintomas, se estes persistirem por um prazo superior a seis meses, considerando a
inconsistência do processo de aprendizagem.
a) Frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em
atividades escolares, de trabalho ou outras;
b) Com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades
lúdicas;
c) Com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra
d) Normalmente não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas
domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou
incapacidade de compreender instruções);
e) Com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;
f) Com frequência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço
mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa);
g) Com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por ex.,
brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais);
h) É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa;
i) Com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias.
Sintomas relacionados à hiperatividade/ impulsividade
a) Frequentemente agita as mãos ou os pés;
b) Frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se
espera que permaneça sentado;
c) Frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é
inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de
inquietação);
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d) Com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em
atividades de lazer;
e) Está frequentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor";
f) Frequentemente fala em demasia;
g) Muitas vezes responde às perguntas antes de terem sido completadas;
h) Tem dificuldade de esperar sua vez;
i) Com frequência interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo,
intromete-se em conversas ou brincadeiras).
Critérios para ambos
Em ambos os casos esses critérios também devem estar presentes:

Alguns sintomas de hiperatividade-impulsividade ou desatenção que causaram
prejuízo estavam presentes antes dos 7 anos de idade;

Algum prejuízo causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (por
ex., na escola [ou trabalho] e em casa);

Os sintomas de desatenção, hiperatividade ou impulsividade relacionados ao uso de
medicamentos
(como broncodilatadores, isoniazida eacatisia por neurolépticos)
em
crianças com menos de sete anos de idade não devem ser diagnosticados como TDAH.
Indivíduos que apresentam os sintomas de TDAH têm problemas para fixar sua
atenção em coisas por mais tempo do que outras. Interessantemente, crianças com TDAH não
tem problemas para filtrar informações. Elas parecem prestar atenção aos mesmos temas que
as crianças que não apresentam o TDAH prestariam.
Crianças com TDAH se sentem chateadas ou perdem o interesse por seu trabalho mais
rapidamente que outras crianças, parecem atraídas pelos aspectos mais recompensadores,
divertidos e reforçativos em qualquer situação, essas crianças também tendem a optar por
fazer pequenos trabalhos no presente momento em troca de uma recompensa menor, embora
mais imediata, ao invés de trabalhar mais por uma recompensa maior disponível apenas
adiante. Na realidade, reduzir a estimulação torna ainda mais difícil para uma criança com
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TDAH manter a atenção. Apresentam também dificuldades em controlar impulsos. Os
problemas de atenção e de controle de impulsos também se manifestam nos atalhos que essas
crianças utilizam, em seu trabalho. Elas aplicam menor quantidade de esforços e despendem
menor quantidade de tempo para realizar tarefas desagradáveis e enfadonhas (BENCZIK,
2012).
Subtipos de TDAH
Segundo Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM – IV, apud RODHE et al,
2000) existem três subtipos de TDAH, conforme exposto a seguir:
 Tipo predominantemente desatento:
Crianças que exibem seis (ou mais) sintomas de desatenção, mas menos que seis sintomas de
hiperatividade/impulsividade persistindo há pelo menos seis meses.
 Tipo predominantemente hiperativo:
Crianças que exibem seis (ou mais) sintomas de hiperatividade-impulsividades, mas menos
que seis sintomas de desatenção persistindo há pelo menos seis meses.
 Tipo combinado:
Crianças que exibem seis (ou mais) sintomas de desatenção e seis (ou mais) sintomas de
hiperatividade-impulsividade persistindo há pelo menos seis meses.
Sintomas observados no contexto escolar
O TDAH durante a infância frequentemente encontra-se vinculado às dificuldades na
escola e no relacionamento com os colegas, com os pais e professores (RODHE et al, 2000).
As características principais do TDAH (desatenção, impulsividade e hiperatividade)
podem levar a diversas dificuldades escolares. Uma vez que estas crianças muitas vezes têm
problemas para manter a atenção em tarefas que exigem concentração, a finalização de um
trabalho individual e que deve ser executado na carteira é um tanto quanto inconstante.
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Além disso, crianças com TDAH com frequência perturbam as atividades em sala de
aula, atrapalhando a aprendizagem dos colegas. Os comportamentos em sala de aula
relacionados à hiperatividade incluem: falar sem permissão, conversar com outros alunos em
momentos inadequados, ficar zangadas se repreendidas, sair da cadeira frequentemente e sem
permissão, brincar com objetos que não estão relacionados à tarefa em questão, batucar com
os dedos, bater os pés ritmicamente e se mexer na cadeira.
Devido a esse comportamento anormal, de inquietação e hiperatividade e
impulsividade, muitas vezes essa criança cumpre suspensões ou é até mesmo expulsa da
escola por seu comportamento, tem um índice de repetência elevado e muitas vezes não
conclui o ensino médio. Benczik (2010), é preciso que o professor:
 conheça o TDAH e reconheça seu impacto sobre as crianças da sala;
 saiba diferenciar problemas resultantes de incompetência de problemas resultantes de
desobediência;
 seja consistente e claro quanto a regras que devem ser expostas num cartaz;
 estabeleça uma rotina consistente e previsível da aula;
 faça exigências claras quanto a comportamentos específicos e quanto à produtividades;
 ofereça trabalhos escolares compatíveis com o nível de capacidade da criança;
 demonstre mais interesse no processo do que no produto; alterar atividades de alto e
bixo interesse durante toda a aula;
 se comunique continuamente com os pais; dar instruções curtas e diretas, no nível de
compreensão da criança;
 valorize as crianças pelo que são, e não pelo resultado de suas produção.
Enfim, essas são algumas sugestões que podem ajudar o professor a lidar com o
TDAH.
É necessário modificar vários aspectos no processo de ensino-aprendizagem do aluno
com TDAH, como o meio ambiente, a estrutura da aula, os métodos de ensino, os materiais
utilizados, as tarefas solicitadas, o nível de apoio, o tempo despendido, o tamanho e a
quantidade de tarefas. Algumas vezes, é preciso tentar inúmeras intervenções antes que algum
resultado positivo apareça, como afirma.
Infelizmente não existem escolas especializadas em TDAH no Brasil, o que
encontramos são vários profissionais de educação (sejam eles professores, coordenadores,
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diretores educacionais, psicólogas escolares, pedagogas e psicopedagogas) capacitados no
assunto e que lidam com as crianças portadoras do transtorno.
As técnicas utilizadas pelos professores com alunos que têm TDAH não visam
controlar os sintomas, mas sim adaptar o ensino às dificuldades que eles possuem (prestar
atenção muito tempo, copiar do quadro na velocidade dos demais, sentar-se por longo tempo
sem ter necessidade de levantar ou sair, etc.).
Muitas escolas recebem alunos com TDAH porque podem apresentar um atendimento
que atenda às necessidades específicas do portador. Em outros casos, a escola não tem
recursos pessoais para dar este atendimento, mas isto não significa que não seja uma boa
escola.
As famílias de crianças com TDAH devem previamente consultar as escolas em que
pretendem matricular seus filhos antes de fazerem a matrícula. Só assim será possível chegar
a um acordo mediante o interesse e condições de ambas as partes, segundo Associação
Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA, 2012).
Considerações finais
O TDAH não é um transtorno do tipo afeta de forma significativa a da criança. Ele
aparece em diferentes graus e intensidades. Assim, torna-se de fundamental relevância o
diagnóstico, considerando o comportamento da criança em diversos contextos e o relato de
diferentes pessoas ligadas diretamente à criança. No diagnóstico também devem ser
observados, além dos sintomas citados neste trabalho, se há comorbidades e quais são as
variáveis ambientais que estão contribuindo para a manutenção dos comportamentos ligados
ao TDAH.
O
diagnóstico
deve
ser
multidisciplinar,
englobando
médicos,
psicólogo,
psicopedagogo e, se houver necessidade, fonoaudiólogo. Os diferentes pontos de vista a
respeito da criança encaminhada, bem como a manifestação dos sintomas nos diferentes
contextos podem se suplementar e oferecer uma visão mais global da criança, contribuindo
para um diagnóstico efetivo.
Por fim, o engajamento dos pais e professores em fornecer informações é de suma
importância, já que os mesmos estão em contato direto na vida cotidiana da criança e,
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portanto, são peças fundamentais tanto no diagnóstico como no sucesso ou fracasso do
tratamento.
REFERÊNCIAS
ABDA. TDAH e Escolas. 2012. Disponível em:
<http://www.abda.org.br/br/textos/textos/item/320-tdah-e-escolas.html>. Acesso em: 18
setembro 2012.
BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade:
Atualizações Diagnósticas e Terapêuticas: um guia de orientação para profissionais. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.
FUNAYAMA, A.R. Carolina (org). Problemas de Aprendizagem: Enfoque
Multidisciplinar. Campinas, SP: Editora Alínea, 2000. 146p.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação e Transtornos mentais e de
Comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre:
Editora Artes Médicas,1993.
PHELAN, Thomas W. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade- Sintomas,
diagnósticos e tratamentos: crianças e adultos. Trad. Tatiana Kassner. São Paulo, SP: M.
Books do Brasil, 2005.
ROHDE, Luis Augusto; BARBOSA, Genário; TRAMONTINA, Silzá; POLANCZYK,
Guilherme. Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade. Revista Brasileira de
Psiquiatria. Vol. 22. s.2. São Paulo, Dez. 2000. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151644462000000600003&lng=en
&nrm=iso>. Acesso em 18 abr. 2011.
VIANNA, Renata Ribeiro Alves Barboza; CAMPOS, Angela Alfano; LANDEIRAFERNANDEZ, Jesus. Transtornos de ansiedade na infância e adolescência: uma revisão. Rev.
bras.ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, jun. 2009 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180856872009000100005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 25 set. 2012.
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