Infecção por Hymenolepis diminuta em um paciente com Leptospirose: relato de caso SOUSA, VL¹; CALLEGARO, JF²; CURADO, LA¹. ¹Residente de Clínica Médica Hospital Alcides Carneiro; ²Acadêmica de Medicina Faculdade de Medicina de Petrópolis Introdução Hymenolepis diminuta é um parasita comum de ratos e camundongos (1). Nos seres humanos as infecções causadas por Hymenolepis nana são muito mais comuns do que as causadas por Hymenolepis diminuta. O parasitismo de acordo com diferentes levantamentos variam entre 0,001% e 5,5% (2). O homem se infecta acidentalmente pela ingestão de artrópodes contendo cisticercóides e os vermes adultos são encontrados no intestino delgado (3). Clinicamente apresenta-se assintomática na maioria dos casos, podendo manifestar-se com diarreia leve, dor abdominal, erupções cutâneas torácicas, prurido generalizado e irritabilidade (4). A maior parte dos casos são relatados em crianças (5). Apresentamos este caso devido sua raridade em adultos e a concomitância com um quadro de Leptospirose. Objetivos Relatar o caso de infecção por Hymenolepis diminuta como um achado laboratorial acidental em um paciente internado por Leptospirose grave. Métodos Revisão de prontuário e pesquisa bibliográfica nas bases Medscape e SciELO. Relato de caso Um paciente do sexo masculino, 72 anos, natural de Petrópolis-RJ, residente nesta cidade, casado, trabalhou durante a vida como pintor e há 5 anos aposentado. Apresentou história de mialgia progressiva há duas semanas acompanhada de diarreia volumosa de coloração escurecida e odor fétido. Negou náuseas, vômitos, febre e dispneia. Há 4 dias percebeu coloração amarelada de pele e mucosa conjuntival. Há 1 dia notou presença de enterorragia, motivo que o levou a procurar auxílio médico. Negou comorbidades. Anterior a esse quadro referiu ritmo intestinal regular. Reside em casa de alvenaria com saneamento básico. Possui um animal de estimação (cão) e refere presença de ratos em seu domicílio. Ao exame: paciente lúcido, orientado, desidratado, ictérico (3+/4+), corado, emagrecido; tônus e força reduzidos em MMII, reflexos profundos preservados; aparelho cardiovascular e respiratório sem alterações. Abdome escavado, peristáltico, doloroso a palpação superficial, sem sinais de irritação peritoneal, sem visceromegalias palpáveis. Genito-urinário: presença de urina escura em saco coletor; membros inferiores sem alterações. Resultados Exames complementares da admissão: ureia 234 mg/dL; creatinina 3,5 mg/dL; potássio 2,9 mEq/L; bilirrubina total 18,4 mg/dL; bilirrubina direta 16,8 mg/dL; TGO 60 U/L; TGP 34 U/L; GGT 15 U/L; fosfatase alcalina 112 U/L; TAP 10,7s; PTT 23,3; INR 1,04. Urina tipo I: amarelo citrino, aspecto turvo, nitrito negativo, bilirrubina presente (+++), hemoglobina presente (+++), leucócitos 6 a 8 por campo, hemácias 50 a 60 por campo, outros elementos: Hymenolepis diminuta. Hemograma apresentando leucograma de 10.570, hemoglobina 14,4 g/dL, hematócrito 38% e plaquetas 17.000. Ultrassonografia abdominal sem alterações. Sorologias para Hepatites A, B e C negativas. Radiografia de tórax apresentando derrame pleural pequeno a direita. O tratamento de escolha foi baseado no quadro clínico e história epidemiológica sugestivos de Leptospirose grave (Síndrome de Weil), sendo iniciado Ceftriaxone 2 gramas/dia por 9 dias e suporte clínico. O paciente evoluiu com melhora evolutiva do estado geral, recuperação da função renal e queda da bilirrubina direta. O caso foi confirmado por sorologia positiva para Leptospirose. O tratamento instituído para Hymenolepis diminuta foi Nitazoxanida (droga alternativa), não sendo utilizado Praziquantel (droga de escolha) devido a indisponibilidade deste medicamento no serviço. Discussão A infecção por Hymenolepis diminuta em humanos é rara (6). A maioria dos casos são documentados em crianças e nível socioeconômico mais baixo (3). No caso descrito, o diagnóstico foi feito por um achado acidental no exame de urina tipo I. Este fato pode ser justificado por contaminação fecal do material, visto que o paciente apresentava diarreia profusa no momento da coleta. O exame parasitológico de fezes detecta a presença de ovos do parasita e é o de escolha para o diagnóstico (7). Apesar de possuírem características epidemiológicas semelhantes, tendo nos roedores sua principal fonte de disseminação, não encontramos casos descritos na literatura de infecção concomitante por Hymenolepsis diminuta e Leptospirose. Em geral, as infecções por Hymenolepis diminuta são assintomáticas e tal fato poderia justificar o subdiagnóstico dessa condição clínica (8). A droga de escolha para tratamento é o Praziquantel, dose única, repetida após 10 dias (9). Referências bibliográficas 1- Karuna T, Khadanga S. A case of Hymenolepis diminuta in a young male from Odisha. Trop Parasitol 2013;3:145-7 2- Tena D, Pérez Simón M, Gimeno M, Pérez Pomata MT, Illescas S, Amondarain I, et al. Human infection with Hymenolepis diminuta: Case report from Spain. J Clin Microbiol 1998;36:2375-6. 3- Watwe S, Dardi CK. Hymenolepis diminuta in a child from rural area. Indian J Path Microbiol 2008;51:149-50. 4- Patamia I, Cappello E, Castellano-Chiodo D, Greco F, Nigro L, Cacopardo B. A human case of Hymenolepis diminuta in a child from eastern Sicily. Korean J Parasitol 2010;48:167-9. 5- Verghese SL, Sudha P, Padmaja P, Jaiswal PK, Kuruvilla T. Hymenolepis diminuta infestation in a child. J Commun Dis 1998;30:201-3. 6- Rohela M, Ngui R, Li, YAL, Kalaichelvan B, Wan Hafiz WI, Mohd Redzuan AN. A case report of Hymenolepis diminuta infection in a Malaysian child. Tropical Biomedicine. 2012; 29: 224–230. 7- Zeibig, EA. Parasitologia clínica: uma abordagem clínico-laboratorial. 2ª edição.Rio de Janeiro, 2014. p. 249. 8- Cohen IP. A case report of Hymenolepis diminuta infection in a child in St. James Parish, Jamaica. J La State Med Soc. 1989. 9- Lopes, AC. Diagnóstico e tratamento. 1ª edição. Barueri – SP, 2006. Volume 2. p. 1417. Vinícius Lúcio de Sousa – e-mail: [email protected]