1 ÉTICA, DEMOCRACIA E CORRUPÇÃO José DiêgoTabosa Felix Resumo: O presente artigo trata sobre a relação entre a ética, a democracia e a corrupção. Apresenta a diferenciação de ética e moral, o conceito de democracia e como a sociedade se afasta de sua aplicação, a existência de males na democracia, tendo como o expoente principal a corrupção causada pela falta de ética e compromisso com a sociedade, de forma prática apresentada pelo Mensalão e os escândalos mais recentes investigados pela Operação Lavajato. Palavras-Chave: Ética. Democracia. Corrupção. Moral. Mensalão. Introdução Corrupção - esta é uma das palavras mais usadas ultimamente em jornais, revistas, rádios, textos publicados online. Sempre que se houve tal termo, o pensamento logo se anima para pensar apenas nos atos políticos, não nos recordando, claro, que somos nós seres corruptos também, não como uma realidade intrínseca, mas a partir do momento em que o indivíduo busca o “jeitinho”, a fim de conseguir burlar as regras para conquistar o que deseja. O ser humano vive em sociedade, convive com outros seres humanos e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. O momento atual da política brasileira é permeado por grandes descobertas de corrupção. Estaatinge vários setores públicos e privados do país. Para compreender a prática é necessário entender o conceito de ética, moral, democracia e, por fim, de corrupção. 1. Ética e Moral Muito se fala em ética e em moral. Esses conceitos, normalmente, andam atrelado um ao outro. Inclusive, algumas vezes são confundidos de tal forma que um se enlaça com o outro de modo indissociável. Vásquez (1995) faz referência a questionamentos do cotidiano, tais como: dizer sempre a verdade é o melhor? O que, realmente, é o certo e o errado? Mentir a um amigo para o seu próprio bem era o correto? São questões que envolvem sentimentos, afetividade, julgamentos de ações que acontecem normalmente. Conforme o supracitado autor, [...] os indivíduos se defrontam com a necessidade de pautar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Estas normas são aceitas intimamente e reconhecidas como obrigatórias: de acordo com elas, os indivíduos compreendem que têm o dever de agir desta ou daquela maneira. Aluno do Curso de Bacharelado em Filosofia da Faculdade Católica de Fortaleza. 2 Nestes casos, dizemos que o homem age moralmente e que neste seu comportamento se evidenciam vários traços característicos que o diferenciam de outras formas de conduta humana. (VÁSQUEZ, 1995, p.1) Levando tal afirmativa em consideração, pode-se entender que existem linhas que dirigem a vida humana. Há sempre uma linha tênue entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira. A ética e a moral permeiam nesses pontos de modo profundo, pois é a elas que recorre quando se têm questões que se mostram conflituosas quanto a sua conduta. Stukart afirma que a ética é a ciência da moral. Para ele, “a moral é um conjunto de costumes, normas e regras de uma sociedade.” (STUKART, 2003, p. 14). Pode-se concluir, então, que a moral é subjetiva. Ou seja, os costumes, as regras e normas de uma determinada sociedade não são as mesmas que regem outras sociedades. Ainda segundo esse mesmo autor, A moral, então é a regra para um comportamento adequado, conforme os costumes que a ética deve definir em relação ao que é bom. A distinção entre o bem o mal é uma das características definidoras da humanidade, que nos separa dos outros seres vivos. (STUKART, 2003, p.15) A moral deve, deste modo, regulamentar as relações entre os indivíduos e entre estes e a comunidade, contribuindo para a estabilidade da ordem social. Nalini (2004, p. 27) afirma que “o objeto da Ética é a moral. A moral é um dos aspectos do comportamento humano. A expressão MORAL deriva da palavra romana mores, com o sentido de costumes, conjunto de normas adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática”. Ademais, a ética e a moral andam juntas. 2. Democracia Além desses conceitos é importante que se compreenda o que é democracia. Muito se fala em democracia, mas pouco se aplica na prática o conceito. Conforme Chauí (2008), a democracia é a prática da liberdade individual, principalmente, quando se tratam de ações voltadas a economia e prática política. A discussão sobre a prática democrática se estende a todos os setores da vida pública e privada. Afinal, definir o que se pode ou não ser feito, até onde se viola o direito do outro permeiam, certamente, as questões humanas, pois são questões subjetivas e de discussão valorosa, uma vez que envolve ética, liberdade e moral. Deste modo, [...] democracia significa, em primeiro lugar, que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada “livre iniciativa” e à competição política entre partidos que disputam eleições; em segundo, que há uma redução da lei à potência judiciária para limitar o poder político, defendendo a sociedade contra a tirania, pois a lei garante os 3 governos escolhidos pela vontade da maioria; em terceiro, que há uma identificação entre a ordem e a potência dos poderes executivo e judiciário para conter os conflitos sociais, impedindo sua explicitação e desenvolvimento por meio da repressão; e, em quarto lugar, que, embora a democracia apareça justificada como “valor” ou como “bem”, é encarada, de fato, pelo critério da eficácia, medida, no plano legislativo, pela ação dos representantes, entendidos como políticos profissionais, e, no plano do poder executivo, pela atividade de uma elite de técnicos competentes aos quais cabe a direção do Estado. (CHAUI, 2008, p. 67) O significado de democracia por Chauí traz em sua definição a temática da política. Carvalho a torna mais específica ao afirmar que “democracia é o nome de um regime político definido pela vigência de certos direitos. Como tal, o termo só se aplica ao Estado” (CARVALHO, 2014, p. 105). Assim, é possível identificar os males da democracia de forma clara e precisa na política e no Estado, entre esses males inclui-se a corrupção. 3. Corrupção Quando se trata de tal assunto, o Brasil, no cenário mundial, vem chamando atenção. São casos de corrupção, lavagem de dinheiro, mentiras e falcatruas. O léxico “corrupção”, diferentemente da democracia, além de possuir significado real, têm ações realmente pautadas na falta de caráter e em ações concretas. Stukart (2003) explica que a corrupção nada mais é que uma violação à ética da comunidade em que ela acontece. O poeta e político Dante definiu a corrupção, de modo simples e eficaz, como a “situação em que o não se torna sim por dinheiro”. Ou seja, é por dinheiro que se ultrapassa os limites éticos e morais de uma sociedade. Crê-se que tal prática acontece por meio de duas ações principais: a falta de ética e o suborno. Stukart faz menção a um economista inglês chamado Peter Bauer e cita uma de suas falas com a ideia de que os países subdesenvolvidos são regidos pela “cleptocracia”, traduzindo, o ato de governar através do roubo efetuado pela classe política do que é do povo, do que é público. Ainda conforme Stukart existe sim uma corrupção planejada. Para ele, estas acontecem [...]em regimes autoritários, com o intuito de domesticar uma elite relativamente pequena, que se distancia de uma grande massa pobre e inculta. O dinheiro público é utilizado sem restrições e com desperdício, estimulando a cobiça das elites, que se mostra tão grande quanto a ignorância das massas. (STUKART, 2003, p. 46) Contradizendo a prática, a teoria diferencia-se do que realmente está acontecendo. Os governos, mesmo autodenominando-se livre ou totalitário, falam sobre a democracia como um ponto de chegada. O que não se percebe, entrando em confluência com Stukart, é que quanto mais fechado é o governo, maiores são as chances de ações corruptas. Até mesmo porque, a ideia democrática é considerada perdida no espaço, onde não se encontra a verdade 4 dentro de um universo pseudodemocrático. No momento atual, o Brasil encara uma crise financeira e política. A cada semana, novas atividades corruptas são descobertas. A Revista Época (nº 856/2016) afirma que isso é um produto de três vícios: arrogância, má gestão e erros políticos. Será que é só isso? Ou está se enfrentando uma crise nacional referenteà democracia? Afinal, o que se conhece por democracia desfaz tudo aquilo que se tem como corrupção. Conforme Rita Biason, os primeiros traços do Brasil nas atividades de corrupção aconteceram no século XVI, durante a colonização portuguesa. Inclusive, há quem diga que esse “mau-caratismo” do brasileiro seja fruto dessas ações colonizadoras. Eram casos dentro do funcionalismo público (fiscalização, por exemplo). Até mesmo porque Portugal por sua vez se furtava em resolver os assuntos ligados ao contrabando e a propina, pois estava mais interessado em manter os rendimentos significativos da camada aristocrática do que alimentar um sistema de empreendimentos produtivos através do controle dessas práticas. (BIASON, 2016) O Brasil chama a atenção mundial por sua beleza natural, mas também o faz por seus escândalos no setor político. Como exemplo, o ano de 2005 foi marcado pela divulgação de um escândalo chamado “Mensalão”. Tal expressão foi adotada pela mídia para se referir ao caso. Este, por sua vez, pode ser considerado um emaranhado de escândalos, de casos paralelos que se coligam uma hora ou outra. Em agosto de 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou o julgamento dos envolvidos no “Mensalão”. Tal fato marcou a história do país, de modo que a credibilidade no conjunto político ficou estremecida. No corrente ano, 2016, o desenrolar de novos golpes contra o povo brasileiro chama a atenção. A crise financeira vigente na atual conjuntura brasileira pode ser ligada diretamente ao escândalo da Petrobras, conhecido também pela expressão “Operação Lavajato”. O site A Folha de São Paulo afirma que A Operação Lava Jato é a maior investigação sobre corrupção conduzida até hoje no Brasil. Ela começou investigando uma rede de doleiros que atuavam em vários Estados e descobriu a existência de um vasto esquema de corrupção na Petrobras, envolvendo políticos de vários partidos e as maiores empreiteiras do país. 1 A lista de políticos envolvidos no esquema só aumenta. O montante, que foi desviado dos cofres da nação, possui valores astronômicos. São inúmeros membros da comissão de políticos brasileiros envolvidos na operação, ou seja, vários partidos envolvidos em mais um ato de corrupção brasileiro. Para Antonio Moser, essa corrupção é apenas “um 1 FOLHA DE SÃO PAULO. Operação Lava-jato. In: http://arte.folha.uol.com.br/poder/operacao-lavajato/#capitulo1 5 rosto horroroso que se apresenta no momento, mas não o único. Ela se esconde em inúmeras situações nas quais a palavra ÉTICA ou se tornou vazia ou mudou de sentido, consagrando-se uma inversão de valores”.2 Sob o aspecto ético, o Brasil está sendo “quebrado em pedaços”, baseado em uma ética, cujo princípio é uma falta de ética. Há quem diga que este é o momento para a reforma política brasileira. Porém, há quem afirme, de modo contundente, que é necessário uma reforma geral, iniciando na base educativa brasileira, a fim de desenvolver nos jovens uma preocupação com o bem público e a sociedade. A falta de ética, de moral e a má interpretação de democracia estão ligadas à educação falha que se tem no país. Conclusão Conclui-se, então, que ética, moral, democracia e corrupção são termos que andam lado a lado. A ética estuda a moral, que por sua vez rege o comportamento humano. A democracia está estritamente atrelada com a vida política e o Estado. Será que o comportamento humano mantém uma postura ética na vida política da Nação? Compreende-se, também, que corrupção não é apenas o uso inapropriado do dinheiro público. Aquela pode ser considerada como algo que fere a ética e a moral humana. Caminhamos para que essa realidade seja modificada? Seremos muito pretensiosos por pensar em tal saída. Como dito no texto, a corrupção é algo da gênese brasileira. Considera-se que aquela está em uma das bases da criação do Brasil. Teria como repensar tais bases? De que modo a corrupção poderá sair da constituição brasileira? Opinamos que o melhor caminho é o reforço da educação de base, a fim de formar uma consciência para o bem comum. Pois é nessa fase que a construção da personalidade, da ética e da moral pessoal é feita. A corrupção nos é ensinada por osmose, sempre aprendemos que devemos nos dar bem, mesmo que para tanto outra pessoa tenha que cair. Nossos atos de corrupção só não se igualam aos dos altos setores, porque nestes há o envolvimento de grandes quantias de dinheiro. A corrupção, por parte da sociedade, fere, certamente aos princípios éticos. 2 MOSER, Antonio. É Possível Vencer a Corrupção? Como? In: http://www.contracorrupcao.org/2013/03/epossivel-vencer-corrupcao-como.html 6 Bibliografia Livros CARVALHO, Olavo de. A metonímia democrática. O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota. 12. ed.Rio de Janeiro: Record, 2014. NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. STUKART, HebertLowe. Ética e corrupção. São Paulo: Nobel, 2003. VÁSQUEZ, A. S., Ética, Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1995. Artigos BIASON, Rita. Breve História da Corrupção no Brasil. Disponível: http://www.contracorrupcao.org/2013/10/breve-historia-da-corrupcao-no-brasil.html. Acesso em 26/04/2016 CHAUI, Marilena. Cultura e democracia.En: Crítica y emancipación: Revista latinoamericana de CienciasSociales. Año1, no. 1 (jun. 2008- ). Buenos Aires: CLACSO, 2008- . -- ISSN 1999-8104. MOSER, Frei Antonio. É possível vencer a corrupção? Como? http://www.contracorrupcao.org/2013/03/e-possivel-vencer-corrupcao-como.html. 26/04/2016 Disponível: Acesso em