As diferentes espécies de galhas induzidas por insetos em folhas

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As diferentes espécies de galhas induzidas por insetos em folhas no cerrado
ANDRÉA MORO CARICILLI1,3, CARLOS VINICIUS ALMEIDA DE ASSIS1,4, DÉBORA ZANINI DO
NASCIMENTO1,5, JOSÉ VITOR VIEIRA SALGADO2,6, MARINA MELO DUARTE1,7, NATHALIE GALBIATI
SILVA GIACHINI1,8 e FLAVIO ANTONIO MAËS DOS SANTOS9
Resumo: Galhas são estruturas formadas pela indução de insetos, fungos, vírus, aranhas entre outros
seres, podendo apresentar cores variadas. O objetivo do estudo foi determinar a freqüência de plantas
galhadas por insetos e quantas eram as espécies dessas galhas em uma amostra de 100 plantas em uma
área de cerrado em Mogi Guaçu, no Instituto Botânico de São Paulo (22º 15’ S, 47º 09’ O), a Fazenda
Campininha. A coleta de dados se deu em abril de 2004, em duas trilhas que compreendiam o Setor de
Ensino (primeira trilha) e o Setor de Pesquisa (segunda trilha). Ao longo das trilhas, observamos apenas os
indivíduos de plantas lenhosas com até dois metros de altura. A cada três passos, tomamos os indivíduos
mais próximos, a fim de verificar a presença de galhas foliares. Se o mesmo possuísse galhas, retirávamos
sua folha com a ajuda de uma tesoura de poda para que, posteriormente, fosse possível uma análise de
quantas espécies diferentes de galhas encontramos nessa área do cerrado. A freqüência de espécies de
plantas com uma espécie de galha foi maior do que a de espécies de plantas com várias espécies de
galhas. Do total de 100, 31 plantas eram galhadas. Sete tinham duas espécies de galhas ou mais e 24
tinham apenas uma espécie delas. Foram encontradas 18 espécies de galhas, sendo que duas foram mais
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Curso de Graduação em Ciências Biológicas, IB, UNICAMP
Curso de Graduação em Educação Física, FEF, UNICAMP
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Departamento de Botânica, IB, UNICAMP
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freqüentes ao longo das trilhas. Não houve diferença significativa em número e freqüência de espécies de
galhas entre o Setor de Ensino e o Setor de Pesquisa.
Palavras-chave: Cerrado, folhas, freqüência de plantas galhadas, galhas entomógenas, Mogi Guaçu
Introdução:
Galhas são produtos da associação entre uma planta e outro organismo, caracterizadas por um
crescimento anormal de regiões dos tecidos vegetais. Esse crescimento pode ser por hipertrofia ou
hiperplasia. O primeiro é definido como o aumento no número de células (divisões), o segundo caracteriza
um aumento nos volumes celulares. Podem ser causadas por nematelmintos, ácaros, aranhas, insetos,
algas, bactérias, fungos, vírus (Fernandes et al. 1988).
Essas estruturas podem ser encontradas ao longo de toda a planta, desde a extremidade da raiz
até a gema apical (Fernandes et al. 1988). O presente estudo considerou apenas galhas que ocorreram em
folhas, as quais, segundo Fernandes et al. (1988), representam aproximadamente 70% das galhas na
América do Sul. Além, foram consideradas apenas as galhas causadas pela oviposição de insetos.
Uma característica comum de insetos galhadores é sua especificidade de planta hospedeira e da
parte atacada da planta, sendo que uma determinada espécie de galha está associada unicamente com
uma espécie de planta e as galhas da mesma espécie surgem constantemente e exclusivamente sobre um
órgão da planta (Nieves-Aldrey & Abascal 1998).
As galhas formadas por insetos são bem características e fáceis de se distinguir, pois sempre são
simples e em forma de bolsas (abertas ou fechadas), povoadas geralmente por indivíduos solitários
(Nieves-Aldrey & Abascal 1998).
As causas e mecanismos exatos do processo de indução de galhas ainda não são bem conhecidos,
porém há hipóteses de que essas estruturas são formadas por indução de substâncias que o inseto injeta
na planta ao colocar a larva. Uma dessas substância seria o ácido indolacético, um estimulador de
crescimento vegetal (Nieves-Aldrey & Abascal 1998).
Atualmente se conhecem, aproximadamente, 1.300 espécies de insetos galhadores (Buhr 1964
apud Nieves-Aldrey & Abascal 1998) associados em 98% a angiospermas. Na América do Sul, galhas
ocorrem com maior freqüência em lenhosas (Nieves-Aldrey & Abascal 1998).
Este trabalho preocupou-se apenas em analisar galhas foliares de plantas lenhosas de cerrado com
até dois metros de altura, com o objetivo de determinar o número de espécies de galhas produzidas nelas
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por insetos e calcular a freqüência de sua ocorrência na Reserva Biológica de Mogi Guaçu.
Material e Métodos
O estudo foi desenvolvido na Reserva Biológica e Estação Experimental de Mogi Guaçu (22º15´S,
47º09´O, a 640 m de altitude). A reserva possui uma área de 470ha e é coberta predominantemente pelo
cerrado.
O cerrado é composto por dois componentes básicos, o herbáceo e o lenhoso, constituindo um
domínio não decíduo com duas estações bem definidas, seca e chuvosa. A área analisada possuía maior
domínio arbóreo.
As árvores desse domínio têm caules tortuosos, raízes profundas e resistência ao fogo, um elemento
importante e freqüente na paisagem do cerrado. O fogo altera os hábitos das plantas e a disponibilidade de
nutrientes, pois ele promove a mineralização da matéria orgânica. Ele ajuda na renovação mineral do solo.
As observações foram feitas dia 28/04/2004, no outono. As amostras começaram a ser coletadas a partir
da estrada de terra (22º15´14”S e 47º09´22” O). Seriam amostrados no total 100 indivíduos de plantas (50 no
Setor de Ensino e 50 na Setor de Pesquisa). Inicialmente partimos na trilha do Setor de Ensino. A cada três
passos (com cerca de um metro), era analisado o indivíduo de planta lenhoso com menos de dois metros de
altura, mais perto do local de parada, com o intuito de verificar a presença em suas folhas de galhas feitas por
insetos. A presença de galhas era registrada e numerada, assim como o indivíduo de planta, e uma amostra
de folha galhada era retirada com a ajuda de uma tesoura de poda, e etiquetada com o número da planta e o
número da espécie de galha para que posteriormente, fosse possível fazer comparações para determinar
quantas espécies diferentes havia no local.
Do mesmo modo, partiu-se para uma segunda trilha, Setor de Pesquisa, realizando os mesmos
procedimentos anteriormente descritos.
As amostras foram comparadas para poder analisar quantas espécies diferentes se encontravam na
área analisada do cerrado, e as plantas foram examinadas para saber se uma espécie de galha ocorre
somente em um indivíduo de planta.
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Resultados
Foram encontradas 18 espécies de galhas, distribuídas entre 31 dos 100 indivíduos de planta
observados. Isso demonstra que a proporção de indivíduos galhados no cerrado da Fazenda Campininha é
31%. A distribuição de galhas não se mostrou homogênea na área estudada.
O número de plantas galhadas encontradas no Setor de Ensino foi 19. Embora ele tenha sido
superior ao número delas no Setor de Pesquisa, que foi 12, não houve diferença significativa entre elas (χ²
= 1,581; GL = 1; p = 0,209).
O número de diferentes espécies de galhas presentes no Setor de Ensino foi 12, superior ao
número de espécies diferentes no Setor de Pesquisa, que foi 8. A diferença entre eles contudo, não pode
ser considerada significativa (χ² = 0,800; GL = 1; p = 0,371).
Ao norte das trilhas percorridas, 16 plantas apresentaram galhas. Ao sul, o número de plantas
galhadas foi 15. Não houve, portanto, diferença entre as amostras do norte e do sul.
O número de vegetais lenhosos com galhas nas primeiras metades das trilhas, ou seja, mais
próximos à estrada que foi ponto de partida, foi 20. Tal valor é superior ao do número de indivíduos
galhados nas metades finais das trilhas, que foi 11. A diferença entre os valores não foi significativa (χ² =
2,613; GL = 1; p = 0,106).
O número de diferentes espécies de galhas nas metades iniciais das trilhas foi 14. Já nas metades
finais, o número de diferentes espécies foi 9. Tal diferença não pode ser considerada significativa (χ² =
1,087; GL = 1; p = 0,297).
Também foi observada a distribuição de galhas por plantas. Havia mais plantas que possuíam
apenas uma espécie de galha que aquelas que possuíam somente duas espécies de galhas. O número de
plantas com apenas duas espécies de galhas, por sua vez, foi superior ao daquelas que apresentavam três.
Não foram encontrados indivíduos de plantas com mais de três espécies de galha (tabela 1).
Houve duas espécies de galhas que ocorreram com maior freqüência que as demais. Elas
estiveram presentes em 13 dos 31 indivíduos analisados, muitas vezes simultaneamente.
Discussão
Segundo Nieves-Aldrey & Abascal 1998, uma espécie de inseto ovipõe em apenas uma espécie de
planta. A freqüência de plantas galhadas por apenas uma espécie distinta de galha foi bem maior do que
a freqüência de plantas galhadas por várias espécies de galhas distintas. Isto pode significar que o inseto
galhador tem preferência para ovipor em plantas não galhadas.
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De acordo com Fernandes et al 1988, existe uma tendência a haver maior riqueza de galhas em
ambientes mais perturbados (por queimadas, depredações e outras intervenções humanas). Por isso
esperava-se encontrar maior número de espécies de galhas e maior número de plantas galhadas no
Setor de Ensino, que conta com constantes visitas. No entanto, essa diferença não foi significativa
estatisticamente. Provavelmente, isso se deveu ao fato de o grupo não ter se distanciado da região
próxima à pista, além de ter prosseguido em uma única trilha.
Segundo os testes estatísticos efetuados, também não houve diferença significativa entre o número
de espécies de galhas da região da borda da pista e da região interior da mata. A explicação anterior para
tal fato, a inserção do grupo pouco distante da estrada, também mostra-se válida para esse resultado.
De acordo com Fernandes & Price 1988, o número de espécies de galhas numa área tropical, à
latitude 28º 30’, foi em torno de vinte e duas. Pelo gráfico construído nesse artigo, quanto menor a
latitude, menor é o número de galhas. Já o presente trabalho consistiu na coleta de galhas a uma latitude
de 22º15’ S, um pouco abaixo da do artigo acima citado. Em razão disto, esperava-se encontrar um
número maior de espécies de galhas. Foram encontradas 18 espécies de galhas em uma área restrita
pesquisada; por isso, o resultado aproximou-se da expectativa.
Bibliografia
FERNANDES, G.W., TAMEIRÃO-NETO E, & MARTINS R.P. 1988. Ocorrência e caracterização de
galhas entomógenas na vegetação do Campus da Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais.
Revista Brasileira de Zoologia 5: 11-29.
NIEVES-ALDREY, J.L. & ABASCAL, J.G. 1998. Insectos que inducen la formación de agallas en las plantas: una
fascinante interacción ecológica y evolutiva. Conferência pronunciada em 20 de outubro de 1998, em Madrid, no Museu
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Nacional de Ciências Naturais. O palestra oferecida por estes autores foi lida em rede no dia 11/05/04. INSTITUTO DE
BOTÂNICA, Unidades de Conservação. (www.ibot.sp.gov.br/UNIDADES/unidades.htm)
Anexos
TABELA 1: Número de espécies de galhas presentes em cada indivíduo
NÚMERO DE ESPÉCIES DE GALHAS
NÚMERO DE INDIVÍDUOS DE PLANTAS
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